sexta-feira, 31 de outubro de 2008

São Pedro, o Papa e os Protestantes

Olá amigos!


Acabei de postar este texto na comunidade "Apologética Ortodoxa" do Orkut, em uma discussão sobre o papismo, e achei interessante compartilhar.

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O "fundamento" Escritural do papado está em S. Mateus 16:18 ("Tu é Pedro...te darei as chaves...etc. etc) e João 21:15ss (Pedro, tu me amas? ... Apascenta minhas ovelhas...). Tudo o mais roda em torno da interpretação destas passagens, são leituras subordinadas a elas.


Na obra patrística são notórias três interpretações:


1) a rocha a que Cristo se referia em S. Mateus 16:18 é o próprio Cristo;

2) é a confissão de Pedro;

3) é o próprio Pedro.


Esta tríplice interpretação é um fato que ninguém pode negar. Naturalmente os papistas hierarquizam-nas e entendem 1 e 2 subordinadas a 3.


O ponto, porém, é que os Pais *não* hierarquizam. Apenas logo antes e após o advento do papado como o conhecemos é que surgem "pais" que lêem desta forma.


Fica evidente, portanto que perante os Santos Pais da Igreja essas três leituras não possuem prescedência e que o destaque da terceira foi e é, puramente discurso ideológico. Tanto é assim que os Pais não raram observavam que logo em seguida Pedro é chamado de Satã também e é um trecho só.


Oras, Cristo elogia a fé de Pedro e logo depois reprova sua fraqueza. Afirma com todas as palavras que só o Espírito Santo poderia ter feito S. Pedro dizer aquilo e, a despeito disso, S. Pedro comete um erro em seguida.


Tudo que está no trecho é verdade sobre S. Pedro. Tanto sua fé, quanto sua falibilidade.


De todo modo, a dúvida perante as três interpretações, o ideal seria se pudéssemos perguntar a Cristo ou a S. Pedro diretamente o que aquelas palavras queriam dizer exatamente.


E, de fato podemos. O trecho abaixo é um exercício estilístico, mas a despeito da forma, o argumento central, como verão ao final, permanece.


Entrevista com São Pedro.


Ancião Pedro, sua benção.


A graça e a paz vos sejam dadas em abundância. Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! I Pedro 1 2:3


Ancião Pedro, tu sabes a polêmica que se formou sobre a tua abençoada confissão naquele dia em que Nosso Senhor perguntou para os apóstolos quem pensavam que Ele era e tu respondestes: "O Cristo, o Filho do Deus vivo".


Muitos dizem que então Cristo afirmou que tu mesmo, Pai Pedro, seria a pedra que fundamenta a Igreja e que portanto ninguém poderia ser Igreja sem estar achegado aos "bispos" de Roma que se proclamam seus sucessores. Foi isso que Ele quis dizer?


Por isso lê-se na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida, preciosa: quem nela puser sua confiança não será confundido (Is 28,16). Para vós, portanto, que tendes crido, cabe a honra. Mas, para os incrédulos, a pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a pedra angular, uma pedra de tropeço, uma pedra de escândalo (Sl 117,22; Is 8,14). Achegai-vos a Ele, pedra viva que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus;

I S. Pedro 2:6.7 e 4


Mas há presbíteros que dizem que tu és presbítero acima deles, aliás, acima de todos!


Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles.

I S. Pedro 5:1


Seus "sucessores" dizem que em seu nome têm o direito de governar toda Igreja. Por um tempo chegaram a dizer que é uma doutrina de duas espadas, o "líder" da Igreja precisando também da dominação secular para exercer seu ministério.


Supondo que apenas em Roma houvessem bispos ordenados por ti, quais foram tuas instruções para eles?


Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende cuidado dele, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de interesse sórdido, mas com dedicação, não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos.

I S. Pedro 5:2,3


Eles dizem que o homem que se proclama bispo de Roma é o Supremo Pastor da Igreja...


Quando aparecer o Supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível de glória.

I Pedro 5:4


E dizem também que esse mesmo homem tem a palavra final sobre o significado das Escrituras.


Princípio esse, aliás, que os grupos chamados protestantes aplicam mais "democraticamente" a cada um de seus membros.


Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal.

II S. Pedro 1:20


Eles dizem que têm santos e grandes doutores da fé...


Assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina. II S. Pedro 2:1


Essa ruína repentina tem alguma coisa a ver com a imagem ruim que o caminho de Cristo possui hoje?


Muitos os seguirão nas suas desordens e serão deste modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado.

II S. Pedro 2:1


E quanto àqueles grupos, os tais protestantes, que prometem a liberdade da Tradição e dos ritos para uma relação "pessoal" com Deus e uma livre interpretação das Santas Escrituras?


Prometem-lhes a liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois o homem é feito escravo daquele que o venceu.

II S. Pedro 2:19


Obrigado Pai Pedro! Alguma benção final para os cristãos ortodoxos de todo o mundo?


Vós, pois, caríssimos, advertidos de antemão, tomai cuidado para que não caiais da vossa firmeza, levados pelo erro destes homens ímpios. Mas crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele a glória agora e eternamente.

II Pedro 3:17,18


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Recursos estílisticos a parte, eis aí: S. Pedro, que foi quem participou da conversa, entendia que a pedra era o próprio Cristo.


Nós vemos S. Paulo, em suas epístolas, com humildade, admoestar os seus filhos espirituais a imitá-lo. Se S. Pedro tivesse alguma proeminência secular na Igreja, suas espístolas seriam o lugar de dizê-lo e não seria falta de humildade dizê-lo. Ao contrário, ele reafirma que a Pedra Angular da Igreja, seu único Supremo Sacerdote é o próprio Cristo. Amém!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Estudo quebra estereótipos sobre cristãos ortodoxos




A maioria dos americanos sabe muito pouco a respeito do Cristianismo Ortodoxo. Para os que estão familiarizados com esta fé histórica, a associação comum é com as culturas russa ou grega.

Ter, 21 de Outubro Postado: 17:48 EDT

http://www.christianpost.com/article/20081021/study-breaks-stereotypes-of-orthodox-christians.htm


A maioria dos americanos sabe muito pouco a respeito do Cristianismo Ortodoxo. Para os que estão familiarizados com esta fé histórica, a associação comum é com as culturas russa ou grega.

Um novo estudo, entretanto, está quebrando estereótipos e trazendo novos insights sobre estes que estão entre os menos conhecidos cristãos do país.

Com um número estimado de mais de 1.2 milhões de aderentes nos EUA, as igrejas ortodoxas estão crescendo em número de membros e alcançando a visibilidade perante os americanos.

Embora as igrejas tenham sido historicamente comunidades étnicas e tenham se mantido distantes da cultura americana oficial, o primeiro estudo baseado em uma pesquisa nacional dos paroquianos ortodoxos mostra que eles são sim uma parte importante dos Estados Unidos.

Muitos paroquianos não estão buscando preservar sua herança étnica, de acordo com a pesquisa "Igreja Ortodoxa Hoje", recentemente lançado pelo Instituto Ortodoxo Patriarca Atenágoras - um membro associado da União Teológica de Graduação que existe para educar, comunicar e promover as tradições e culturas do Cristianismo Ortodoxo.

Entre os membros da segunda maior igreja ortodoxa dos EUA - a O.C.A. (Orthodox Church in America - Igreja Ortodoxa na América) - apenas 22% dos paroquianos disseram que sua paróquia possuía uma forte herança étnica que eles estariam tentando preservar; 37% disse que tal afirmação era "mais ou menos verdadeira", enquanto 41% disseram que "não é verdadeira".

Membros da Arquidiocese Ortodoxa Grega da America ( em inglês "Greek Archdiocese of America" - GOA) - a maior igreja ortodoxa no país - permanecem alinhados com sua herança com 59% dizendo que estão tentando preservar sua forte herança étnica e 10% indicando que não estão.

Ainda assim, o estudo destaca que nove em cada dez dos paroquianos das duas maiores igrejas ortodoxas no país são americanos nativos.

Os cristãos ortodoxos que são americanos nativos não se compõe apenas das gerações mais jovens cujos avós ou bisavós imigraram, mas uma porção significativa dos que participam das estatísticas são convertidos de outras fés cristãs. De acordo com o estudo, mais da metade do clero e dos leigos da OCA converteram-se de igrejas protestantes ou católico-romana. Nas igrejas ortodoxas gregas, 29% dos leigos são convertidos, assim como 12% do clero.

Alexei Krindatch, diretor de pesquisas do Instituto, acredita que muitos evangélicos estão passando para igrejas ortodoxas porque buscam por uma igreja não apenas com fortes crenças mas também com profundas raízes históricas. E uma das maiores razões para a conversão dos católico-romanos é seu descontentamento com as modernizações que a igreja tem feito para atingir os mais jovens, Krindatch destacou.

Além da quebra do estereótipo da igreja étnica, o estudo também descobriu que nem todos os cristãos ortodoxos são igualmente "ortodoxos", pois 41% dos membros da igreja descreveram sua posição teológica como "tradicional" enquanto facções consideráveis se indentificaram como "conservadores" (28%) ou "moderado-liberal" (31%).

Também encontram-se divididos sobre evolução e criacionismo no que se refere à educação pública, já que 33% apóiam o ensino do criacionismo ao invés da evolução nas escolas públicas americanas, 35% rejeitam essa idéia e 32% não têm posicionamento sobre a questão. Porém, 41% concordam que "a teoria da evolução é compatível com a idéia de Deus como Criador" enquanto 38% discordam.

Além da diversidade teológica e aumento dos fiéis americanos, Krindatch reforçou que os cristãos ortodoxos não comprometeram suas crenças e tradições.
"Eles não se ajustam à sociedade padrão", ele comentou.

Um indicador da convicção dos ortodoxos, destacou Krindatch, é sua visão consistente contra a ordenação de mulheres. O estudo mostra que apenas três em cada dez paroquianos apoiariam mulheres como acólitas ou diaconisas, e apenas um em cada dez acham que mulheres deve ser elegíveis ao clero ortodoxo. O estudo também mostrou que homens e mulheres expressaram a mesma opinião sobre a ordenação de mulheres.

Além disso, mais que dois-terços dos paroquianos dizem que preferem uma paróquia que exija uniformidade de crença e prática. Apenas um em cada quatro preferem paróquias que toleram a diversidade de crenças e práticas, nas quais as pessoas possuem visões diferentes e discutem abertamente seus desacordos.

A maioria, tanto na Igreja Ortodoxa Grega, quanto na Igreja Ortodoxa na América estão satisfeitos com onde estão agora, com quase a metade dizendo que estão "mantendo fielmente" suas tradições e que devem continuar a fazê-lo.

Ao mesmo tempo, 17% dos membros da Igreja Ortodoxa Grega e 25% dos membros da Igreja Ortodoxa na América sentem que estão "excessivamente apegados" ao seu passado e precisam repensar onde estão agora e decidir sobre novas direções.

Lilian Kwon
Repórter do Christian Post

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Mais sobre os Dias da Rússia no Brasil


Mais excelentes notícias sobre os dias de festa da Igreja Ortodoxa Russa no Brasil, trazidas pelo amigo Felipe Ortiz:

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Prezados amigos,


Gostaria de deixá-los a par de uma notícia adicional envolvendo os "Dias da Rússia" no Brasil. Além do Ícone da Deípara (Nossa Senhora) da Raiz e de Kursk, será trazido ao Brasil também um outro importantíssimo ícone milagroso russo: o Ícone da Deípara Soberana de Kolomenskoye.

Este ícone tem uma história que merece ser mais conhecida. Em 13 de fevereiro de 1917, uma camponesa, Evdokia Adrianovna, teve em sonhos uma visão da Mãe de Deus dizendo-lhe: "Na aldeia de Kolomenskoye, há um grande ícone negro. Ele tem que ser recuperado, para que as pessoas rezem perante ele." Menos de duas semanas depois, em 26 de fevereiro, a mesma camponesa teve em sonhos uma outra visão de uma igreja branca, dentro da qual uma mulher majestosa estava sentada num trono. Muito impressionada, Evdokia decidiu ir a Kolomenskoye (uma aldeia de veraneio dos imperadores russos, próxima de Moscou) tentar encontrar o ícone com que sonhara. Em 2 de março, Evdokia chegou a Kolomenskoye e reconheceu que a Igreja da Ascensão do Senhor, construída no século XVI, era exatamente a igreja que vira em seu segundo sonho.

(Aqui está uma foto dessa Igreja da Ascensão: http://upload. wikimedia. org/wikipedia/ commons/7/ 71/Kolomen00. jpg)

Evdokia entrou na igreja, encontrou o pároco e contou-lhe sobre seus sonhos. O padre, igualmente impressionado, resolveu ajudá-la a vasculhar a igreja em busca de algum ícone que se parecesse com aquele que a camponesa procurava descrever. Uma longa busca não revelou nada de notável. Revirando o porão da igreja, que estava em grande desordem, os dois acabaram encontrando um enorme ícone velho, já bastante escuro, no qual Nossa Senhora estava sentada sobre um trono, exatamente como na visão de Evdokia:


A Mãe de Deus é representada como uma rainha: veste o manto vermelho real, uma coroa, o cetro e o globo dos imperadores russos, e está sentada sobre um trono. Por isso, nesse ícone ela é chamada de "Soberana".

Nesse mesmo dia, 2 de março de 1917, o Tsar São Nicolau II foi obrigado a renunciar ao trono. Era o fim da monarquia cristã ortodoxa russa.

A conexão providencial entre os dois eventos ficou imediatamente evidente para o povo ortodoxo russo: sem mais Tsares ungidos por Deus, era a própria Deípara quem assumia a liderança e a proteção da nação russa.

Rapidamente, o ícone se tornou muito famoso em todo o país e começou a operar incontáveis milagres. São Ticônio, Patriarca de Moscou, colaborou na composição de um ofício litúrgico em honra ao ícone. Em pouco tempo, porém, os revolucionários comunistas chegaram a Kolomenskoye, fecharam a Igreja da Ascensão e confiscaram o ícone. Durante todo o período soviético, ele ficou armazenado num depósito do Museu Histórico Estatal, fora do alcance de seus visitantes e dos fiéis em geral. No final da década de 1980, o ícone foi secretamente restituído à Igreja, com a colaboração clandestina do diretor do Museu. Em 1990, a posse do ícone pela Igreja foi legalizada e ele foi solenemente reconduzido a Kolomenskoye, onde desde então é conservado na Igreja do Ícone da Deípara de Kazan'.

Para esta viagem pela América Latina, o Metropolita Cirilo de Smolensk trará consigo esse Ícone, a fim de que os fiéis ortodoxos latino-americanos possam venerá-lo também. Dessa forma, nas cerimônias religiosas a ser realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, estarão presentes, juntos, à vista dos fiéis, dois dos ícones miraculosos mais preciosos da história da Igreja Russa: o da Deípara Soberana de Kolomenskoye, protetora da Igreja que sofreu dentro da Rússia depois da Revolução de 1917, e o da Deípara da Raiz e de Kursk, que é a protetora da diáspora dos russos exilados por essa mesma Revolução desde 1920 (pois nesse ano o Bispo Teófanes de Kursk, ao partir para o exílio, levou o ícone consigo, para salvá-lo dos comunistas que pretendiam se apoderar dele, e desde então ele tem sido conservado pela Igreja Russa no Exterior). Estará assim simbolicamente representada, de um modo muito significativo, a unidade restabelecida entre as duas partes da Igreja Russa.

Reforço o convite a todos, portanto, para que compareçam às celebrações marcadas para os Dias da Rússia no Brasil e apresentem as suas orações à Mãe de Deus perante esses seus ícones tão especiais, que já foram venerados por incontáveis santos e produziram inumeráveis milagres -- dos quais o maior, talvez, seja a preservação da Igreja Ortodoxa Russa, dentro e fora do país, ao longo do século XX, apesar de todas as provações suscitadas quer pela perseguição do regime comunista, quer pela difícil sobrevivência como minoria exilada em terras estrangeiras e heterodoxas. As orações da Virgem Maria, que sustentaram continuamente o povo ortodoxo russo, podem dar força espiritual à Ortodoxia brasileira também.


Em Cristo,

Felipe Ortiz

domingo, 12 de outubro de 2008

Dias da Igreja Russa no Brasil

Amigos,


estou partilhando com vocês a excelente notícia que nos traz o amigo Felipe Ortiz. O ícone abaixo é dos Santos Novos Mártires da Rússia, homens e mulheres que foram martirizados pelo comunismo, o socialismo internacionalista. Para explicações detalhadas sobre ele, basta clicar no ícone e serão dirigidos a detalhes de cada figura no site da Igreja Russa de Todos os Santos da América do Norte, na Virgínia. Uma vez no site, basta clicar em cada quadro, que surgirá a explicação.




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Prezados amigos,

A Igreja Ortodoxa Russa, cruelmente perseguida durante a era soviética, vem passando por um processo miraculoso de recuperação desde o final dos anos 1980. Em 1987, havia menos de sete mil paróquias em funcionamento em todo o país e o número total de mosteiros não chegava a vinte. Apenas vinte anos depois, já são quase trinta mil as paróquias em atividade, enquanto os
mosteiros são mais de setecentos.

Essa ressurreição da Igreja Ortodoxa na Rússia foi recentemente acompanhada por um outro evento não menos admirável: a reconciliação entre o Patriarcado de Moscou, que atua principalmente dentro do território russo, e a Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, formada pelas comunidades da diáspora russa espalhada principalmente pela Europa Ocidental, Américas e Oceania. As duas partes da Igreja Russa, que não mantinham relações uma com a outra desde a
década de 1920, voltaram a se reconhecer mutuamente em 2007. Nessa ocasião, a Igreja Ortodoxa Russa no Exterior reintegrou-se ao Patriarcado de Moscou, como uma parte autônoma da Igreja Ortodoxa Russa.

A fim de celebrar esses eventos e, ao mesmo tempo, tornar a Ortodoxia russa mais conhecida e forte na América Latina, a Igreja Ortodoxa Russa, com o apoio do governo da Rússia (que atualmente colabora com a Igreja, em vez de persegui-la), realizará o evento Dias da Rússia nos Países da América Latina. Trata-se da excursão de uma grande comitiva de representantes da Igreja e da cultura russa, durante um mês (17 de outubro a 17 de novembro), por vários países latino-americanos.

Entre eles está o Brasil, que será visitado de 24 de outubro a 31 de outubro. De 24 a 26 de outubro, a delegação estará no Rio de Janeiro; em 27 e 28 de outubro, em São Paulo; e de 29 a 31 de outubro, em Brasília.

Os integrantes da comitiva incluirão: o Bispo João de Caracas, titular da Diocese Sul-Americana da Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, consagrado recentemente (em junho) e que fará, nessa ocasião, a sua primeira viagem pastoral pela sua diocese; o Metropolita Platão de Buenos Aires, titular da Diocese Sul-Americana do Patriarcado de Moscou, que também aproveitará a mesma ocasião para uma nova viagem pastoral pela sua diocese; o Metropolita Hilarião de Nova York, primaz da Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, em sua primeira visita à América do Sul depois de sua entronização como Metropolita, em maio deste ano; o Metropolita Cirilo de Smolensk, chefe do Departamento de Relações Eclesiásticas Externas do Patriarcado de Moscou, representando o Patriarca Aleixo II; e outros.

A programação incluirá diversas atividades:

a) Celebrações religiosas nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, com a participação de todos os hierarcas acima referidos, bem como de clérigos locais. Haverá uma Divina Liturgia na manhã de sábado, 25 de outubro, na Paróquia Russa de Santa Zenaide, no Rio de Janeiro; no anoitecer deste mesmo dia, haverá uma Vigília no mesmo local. Na manhã de domingo, 26 de outubro, ainda no Rio, haverá uma nova Divina Liturgia. Na manhã de terça-feira, 28 de outubro, já em São Paulo, mais uma Divina Liturgia, provavelmente na Catedral Antioquina de São Paulo. Todas essas cerimônias contarão com a presença de ícones e relíquias sagradas, trazidas da Rússia e dos EUA para a veneração dos fiéis brasileiros. Entre elas, o Ícone da Deípara (Nossa
Senhora) da Raiz e de Kursk, um ícone milagroso encontrado por um caçador em 1295 numa floresta próxima de Kursk, na Rússia, junto à raiz de uma árvore. O ícone verte bálsamo permanentemente e tem um odor que só pode ser descrito como celestial. Além desse milagre contínuo, inumeráveis outros milagres já foram operados pelo ícone. (Mais informações podem ser encontradas aqui: http://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/icon_kursk_p.htm)

Atualmente, o ícone é conservado na Catedral do Ícone da Deípara da Raiz e de Kursk, em Nova York, a sé diocesana do Metropolita Hilarião, que o trará consigo durante esta viagem pela América Latina.

b) A parte musical das cerimônias religiosas mencionadas acima ficará a cargo do Coral do Mosteiro do Encontro (em russo, Sretenskiy Monastyr'), que acompanhará a comitiva russa durante essa jornada latino-americana. Esse mosteiro fica em Moscou e foi fundado em 1397. Tem esse nome porque foi construído no local onde dois anos antes havia sido encontrado o Ícone
miraculoso da Deípara de Vladimir, que impediu a invasão da cidade pelos mongóis. Durante mais de quinhentos anos, o mosteiro foi um dos centros da vida monástica e espiritual moscovita, até ser fechado pelos comunistas em 1925 e ter a maior parte de suas dependências destruída pelo governo da URSS entre 1928 e 1930. Foi poupada apenas a histórica Catedral do Encontro do Ícone da Deípara de Vladimir; porém, esse edifício era utilizado com finalidades seculares. Em 1991, a Catedral foi devolvida à Igreja e retomaram-se as atividades religiosas ali. Em 1994, começou a reconstrução do mosteiro ao seu redor. Hoje o Mosteiro de Sretenskiy, novamente povoado de monges, é mais uma vez um notável centro espiritual para a cidade de Moscou e é, ele próprio, um testemunho vivo da história da ressurreição da Igreja na Rússia. O Coral desse Mosteiro, composto por fiéis leigos, é um dos melhores da Rússia e tem renome mundial. Além de cantar música sacra ortodoxa russa durante as cerimônias diárias do Mosteiro, o Coral tem
realizado apresentações em várias salas de concerto em todo o mundo; nesses concertos seculares, seu repertório compõe-se sobretudo de clássicos da música folclórica russa. Durante os "Dias da Rússia nos Países da América Latina", o público brasileiro terá a oportunidade não apenas de rezar ao som do Coro do Mosteiro durante as cerimônias religiosas mencionadas acima, mas também de apreciar as apresentações seculares do Coro durante três noites:

- domingo, 26 de outubro, no Rio de Janeiro, na Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo (a Antiga Sé);

- terça-feira, 28 de outubro, em São Paulo, no Teatro São Bento (Largo de São Bento);

- quinta-feira, 30 de outubro, em Brasília, no Teatro Nacional Cláudio Santoro, Sala Villa Lobos, às 21h.

Pelas notícias de que disponho até o momento, todas essas apresentações terão entrada franca.

Algumas amostras do que aguarda os ouvintes brasileiros podem ser encontradas no site oficial do Coro do Mosteiro:

http://choir.pravoslavie.ru/page1007_0.htm

(Clique em cada um dos ícones em forma de capa de CD ou de botão roxo, e, na tela que aparecerá a seguir, procure e clique em um dos pequenos botões verdes. Quando terminar a música, clique no botão verde seguinte, e assim por diante. Quando terminar tudo, volte para a tela anterior e repita o processo com outro ícone, e assim por diante.)

c) Em todas as três cidades brasileiras que serão visitadas pela comitiva russa, serão realizadas as exposições "Rússia Ortodoxa" e "Rússia Moderna", que exibirão diversas fotografias e objetos que documentam o renascimento espiritual e cultural da Rússia após o fim do regime comunista. A reconstrução das igrejas e o retorno do povo à fé depois da queda do regime ateu será um dos principais temas dessas mostras. Será também realizada uma exposição de livros publicados recentemente pela Igreja Ortodoxa Russa. Se há apenas vinte anos a publicação de literatura religiosa era praticamente proibida na URSS e a quase totalidade dos livros espirituais que circulavam por ali ou era de produção clandestina ou vinha contrabandeada do exterior,
hoje a Rússia é de longe o maior centro editorial de literatura cristã ortodoxa no mundo e exporta seus livros para as comunidades ortodoxas do mundo inteiro.

d) Em Brasília, será promovido ainda um Festival de Filmes Russos, com longa-metragens de ficção, documentários e desenhos animados contemporâneos de origem russa, que também dão testemunho do renascimento da cultura naquele país. De um modo geral, esses filmes inspiram-se, direta ou indiretamente, nos valores da fé cristã ortodoxa. Na programação inclui-se a obra-prima "A Ilha" (Ostrov), de Pavel Lungin, filmado em 2006. Esse filme,
elogiado pelo Patriarca Aleixo II e amado pela audiência ortodoxa do mundo inteiro, conta a história (fictícia, mas essencialmente semelhante a diversas histórias reais) de um monge asceta da época soviética que correspondia a um tipo particular de santo, o "louco por Cristo" --
indivíduo que, sob inspiração do Espírito Santo, assume uma conduta aparentemente bizarra ou extravagante. Serão apresentadas também várias outras preciosidades que dificilmente chegarão às telas dos cinemas brasileiros, incluindo documentários sobre a vida monástica na Rússia. O Festival será realizado de 29 de outubro a 3 de novembro, no Espaço Cultural
Marcantônio Vilaça do Tribunal de Contas da União. Todas as sessões terão entrada franca. Todos os espectadores ganharão como brinde um DVD com um dos filmes programados. A sessão de abertura contará ainda com a presença dos diretores e atores principais dos filmes do festival, que virão da Rússia para uma conversa com o público.

Para vários desses eventos, os horários e os locais exatos ainda não foram definidos ou divulgados. Convido todos os interessados, porém, a se programar desde já. Divulguem o evento entre seus amigos cristãos ortodoxos, bem como entre os amigos não-ortodoxos que desejam conhecer melhor a Ortodoxia. Será uma grande oportunidade de nos familiarizarmos melhor com a Ortodoxia Russa e travarmos ou reforçarmos o contato com os seus bispos diretamente encarregados da América Latina. Será também uma ocasião para testemunharmos em primeira mão alguns frutos da ressurreição da Igreja e da cultura espiritual ortodoxa na Rússia. Numa época na qual em quase todos os países do Ocidente (inclusive o Brasil) a influência do Cristianismo declina cada vez mais, enquanto cresce o materialismo e a irreligiosidade, é um
grande alento conhecermos melhor a experiência de uma nação que, pela graça de Deus e contra todas as expectativas humanas, está gradualmente passando pela experiência oposta.

Espero encontrar vocês em alguns desses eventos!
Em Cristo,
Felipe Ortiz

P.S.: Para obter informações sobre horários e locais exatos dos eventos, sugiro o contato com as seguintes entidades:

a) No Rio de Janeiro:

- Paróquia Ortodoxa Russa de Santa Zenaide
Rua Monte Alegre, 210
Santa Teresa
Tel.: (21) 2252-1471

- Consulado Geral da Rússia
Rua Professor Azevedo Marques, 50
Leblon
Tel.: (21) 2274-0097

b) Em São Paulo:

- Consulado Geral da Rússia
Avenida Lineu de Paula Machado, 1366
Jardim Everest
Tel.: (11) 3814-4100 ou 3814-1246

c) Em Brasília:

- Embaixada da Rússia
Avenida das Nações
SES, Quadra 801, Lote A
Tel.: (61) 3223-3094 ou 3223-4094

domingo, 14 de setembro de 2008

A Santa Cruz


A Santa Cruz é a nova Árvore da Vida em paralelo com aquela do Paraíso pois nela estava o Fruto da Vida.

Lembremos da passagem em Gênesis 3:22:
"Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente"

Quando o Homem quebrou o primeiro mandamento, de jejum da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, afastou-se de Deus pela desobediência, trazendo sobre si a doença, o pecado e a morte.

Caso tomasse da Árvore da Vida nessa condição, seria eternamente doente, pecador e...espiritualmente morto, pois o fruto da Árvore da Vida o tornaria eterno na condição em que estivesse.

Esse foi o motivo da expulsão de Adão e Eva: a infinita misericórdia de Deus que não queria que nos tornássemos eternos em um estado de decadência sem fim. E foi também por esta ilimitada misericórdia que Deus nos enviou Seu próprio Filho, Ele mesmo o Fruto da Vida, o Pão da Vida (Eu sou o Caminho, a Verdade e A VIDA). Vejamos as Santas Escrituras em São João, capítulo 6:

32 Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu

Quem é que o Pai nos deus senão seu Filho? Ele é o Pão do céu como ele confirma em seguida:

33 Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.


Que também concorda com São João, capítulo 3:13:

Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.


Aquele que desceu do céu, Aquele que o Pai nos deu é ele a Vida, Nosso Senhor Jesus Cristo, o que Ele diz de forma explícita em São João 6:51:

"Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo."

Sendo assim o madeiro da cruz torna-se o tronco árvore de onde o Pai nos concede o Fruto da Vida que outrora nos proibira. A ação redentora de Nosso Senhor tudo transfigura, tudo renova e um instrumento de morte se transforma em doador da Vida.

Sabemos também, através da última bem-aventurança em São Mateus 5

Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

e de São João 15:20

Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.

Que a energia da Cruz é componente essencial da redenção, isto é como disse São Paulo ao Romanos (repare a condicional):

Ora, *se* já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos.

Ou seja, que *se* "morremos" com Cristo, ressuscitaremos em Cristo. Deixando morrer o "homem velho", carnal, das paixões, "crucificando-o", fazemos como São João Batista: "É necessário que *Ele* cresça e *eu* diminua" (S. João 3:30).

E de fato aí está a energia da Santa e Vivificante Cruz; a diminuição constante do nosso eu, da nossa vontade para que a Dele seja plena em nós e possamos dizer com o Filho para o Pai:
"Que se faça a Tua Vontade e não a Minha" (S. Lucas 22:42);

e como São Paulo:
"Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim;" (Gálatas 2:20).

No dia da Liturgia são lidos os Salmos 22, 74 e 99 que profetizam a crucificação de Nosso Senhor. Isso demonstra que a Cruz faz parte da Salvação desde o início.

De fato, tramite-nos a Santa Tradição que o sacrifício redentor de Nosso Senhor é figurativamente mencionado já no proto-Evangelho do Gênesis (3:15) quando Deus diz à serpente: "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e *tu lhe ferirás o calcanhar*."

Finalmente, Nosso Senhor explica para Nicodemos de que modo esta Vida Eterna nos foi dada:

E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
(S. João 3:14-15)

A leitura da epístola do dia é 1 Coríntios 1:18:24 e o Evangelho é S. João 19:6-11, 13-20, 25-28 e 30-35, todos relacionados à Santa Cruz.

sábado, 13 de setembro de 2008

Realeza Monástica

Olá!

Traduzi a divulgação deste livro para a Comunidade Monarquia Parlamentar Legítima e quis publicar aqui também. :)

Realeza Monástica

A vida de uma princesa não é apenas glamour, belos príncipes e bonitas roupas. Também é devoção ao dever, sacrifício pelo seu povo e simplesmente trabalhar muito duro. E se o seu país tiver passado por duas guerras mundiais e uma dominação comunista durante seu tempo de vida, isso signfica perigo e sofrimento, exílio e amargor.

A princesa Ileana da Romênia suportou tudo isto e mais. Mas sua fé ortodoxa profundamente arraigada lhe deu chão firme, e acabou levando-a na terceira idade ao repouso sereno do monasticismo.

Mas esta vida também significava sacrifício e trabalho duro, pois como Mãe Alexandra ela fora chamada a construir o primeiro monastério feminino de língua inglesa nos Estados Unidos: o Monastério da Transfiguração em Ellwood City, Pensilvânia. A história da Princesa Ileana é um conto empolgante de amor e perda, perigo e resgate, sacrifício e recompensa. Sua inspiradora vida é como um farol de fé e santidade para moças de todas as épocas e nações.

" Royal Monastic é uma leitura completa e prazerosa para qualquer idade. Os leitores irão ficar admirados com a mulher que viveu em três continentes ao longo do período mais conturbado da história moderna - uma mulher que de algum modo conseguia se identificar com todos que encontrava, e de outros não era como ninguém no mundo."
- Mãe Cristófora, Abadessa do Monastério Ortodoxo da Transfiguração

" Royal Monastic é uma excelente e envolvente biografia de uma princesa verdadeiramente notável que se torna uma monástica. Mãe Alexandra é um exemplo das virtudes cristãs ortodoxas do amor, sofrimento e auto-sacrifício."
Chrissi Hart, autor de Under the Grapevine: A Miracle by Saint Kendeas (Sob a Vinha: Um Milagre de São Kendeas) e The Hermit, The Icon and The Emperor: The Holy Virgin Comes to Cyprus (O Eremita, O Ícone e O Imperador: A Santa Virgem Vem ao Chipre)

http://www.conciliarpress.com/products/Royal_Monastic_Princess_Ileana_of_Romania_The_Story_of_Mother_Alexandra-497-0.html


Clique aqui para uma análise de Mãe Alexandra sobre o Pai Nosso e sobre a Oração de Jesus (em inglês)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A Cidade e as Estrelas


No século 20, vimos surgir um sub-estilo de ficção que trata exclusivamente de explorações de novas descrições do mito da Caverna de Platão.

São estórias que descrevem seus personagens completamente imersos em mundos que de alguma forma foram planejados para aprisionar seus habitantes, tolhindo sua própria humanidade, ou que ao menos, ainda que inadvertidamente, acabam por fazê-lo.

São livros como 1984, Admirável Mundo Novo, A Cidade e as Estrelas, filmes como Matrix, O Show de Truman, seriados como Lost, Arquivo X. O que todos estas obras têm em comum é o mote principal do personagem imerso em uma rede de mentiras, às vezes tão radical, que o mundo em si é uma mentira.

Eu posso estar enganado, mas a primeira obra que aponta nesta direção é Othelo de Shakespeare. Ali, Othelo é enredado em uma teia de falsidades engedrada por Iago. Iago domina completamente o mundo subjetivo de Othelo, que passa a viver em uma realidade virtual primitiva.

Depois temos As Viagens de Gulliver, na qual não existe uma rede de mentiras propriamente ditas, mas os habitantes de cada país são absolutamente provincianos em sua perspectiva de vida, o que não deixa de ser uma prisão subjetiva virtual.

Em todas estas obras, quando há um planejador da mentira, ele é, ainda que bem intencionado, representado como profundamente maligno ou, ao menos, um sociopata. Se o responsável for a sociedade inteira, esta é apresentada como doente e auto-destrutiva, digna de reprovação.

A tentação, o pecado fundamental que tais obras expõem é talvez um dos mais antigos da humanidade. No primeiro milênio do Cristianismo foi exercitado principalmente pelos gnósticos. Trata-se da soberba de um ou de muitos em tentar imprimir no mundo real o mundo de sua imaginação e pensamento.

Para tais pessoas, o mundo real é detestável e igualmente detestáveis são os elementos da realidade que porventura encontram.

Iago detesteva a felicidade de Otelo e a ascenção de Cássio. Por isso cria seu mundo particular com o fim exclusivo de destruí-los. Os provincianos detestam o mundo exterior. O ódio ao mundo tal como ele é caracteriza e justifica a criação do mundo virtual que deve substituí-lo na subjetividade das pessoas dado que mudar o próprio mundo real em si é impossível. O estado de queda, ao invés de gerar maior vontade de redenção projeta sobre inocentes sua própria condição descendente e, acentuando-a, busca detê-la através da destruição do falso causador.

Nossa época viu a ascensão de tais obras simplesmente porque foi o século no qual a realidade foi mais detestável para todos os envolvidos nela.

A prosperidade de muitos países que pela primeira vez tiraram o homem da miséria foi um dos mais destestados elementos do século.

As conquistas da ciência, os ápices espirituais da religião...nossa época detestou de tudo um pouco e muitos foram os que resolveram que "outro mundo é possível" - nazistas, fascistas, comunistas, socialistas - e não hesitaram em matar em nome desse sonho sufocante.

Cada nova geração, ao contemplar as mortes geradas pela anterior, e julgando-se naturalmente mais genial, sonha então um novo mundo e joga-o sobre nós, através de milhões de Iagos recitando para si mesmos sua cantilena " And what's he then that says I play the villain? When this advice is free I give and honest," (Quem dirá pois que faço o papel de vilão? Posto que meus conselhos são gratuitos e honestos)

Pois nada há mais detestável do que o excelente sempre tomado pelos que o desconhecem como vil. A humanidade matou e mata seus melhores homens e o mesmo faz com suas perspectivas.

Ser bom é tolerável, ser excelente é insuportável. Vemos isso acontecer não apenas nas grandes coisas. Também nas pequenas o fenômeno é comum. São "superiores" e "amigos" que sabotam o crescimento do próximo , colegas que sequer teriam algo a perder com o crescimento do outro e ainda assim o derrubam.

Tudo por vaidade, diria o velho Salomão. Não sei. Sei porém que o que me atrai nas estórias que mencionei é a possibilidade de fuga dessa pseudo-realidade abissal.

É bem verdade que nem todas a tem, mas a simples escrita dela já pressupõe uma mente que não se deixa enredar. Existe uma porta no céu artificial de Truman. Existe uma saída.

Não como os gnósticos pensavam, uma saída do mundo mal falso que seria o mundo material para um bom mundo espiritual que seria o verdadeiro. Existe a saída do falso mundo da nossa subjetividade pessoal e coletiva, controlado por ilusões, para o bom mundo real e objetivo. Tal é a liberdade verdadeira e, creio, o primeiro passo de nossa parta na salvação.

O Caminho, a Verdade e a Vida

Todos nós já ouvimos, se é que não lemos, a famosa frase de Jesus em São João 14:6 "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim." A segunda sentença foi e tem sido sistematicamente abusada por intolerantes de todos os matizes. É importante notar que embora eu critique esses exageros de fideísmo, existem outras passagens como a famosa de São João, na qual Jesus ora para que todos sejam um que tem sido, mais recentemente, abusada pelos para instaurar uma espécie de relativismo que não poderia ser mais exógeno ao Evangelho. Mas o objetivo deste texto é, na verdade, deter-se sobre a primeira sentença do trecho citado.

Um Pouco de Lógica

É certo ver aí uma das frases nas quais Jesus Cristo alega ser Deus. No entanto não é este o aspecto que gostaria de trabalhar e sim o de uma revelação implícita aí. Todos nós já vimos na escola a famosa relação "Se a=b e b=c então a=c". Tenho certeza que os avançados em matemática e lógica poderiam tecer alguns comentários sobre essa formulação bem simples, mas ela descreve um bom número de eventos e, no contexto comunicativo, não foi direcionada para especialistas, mas para leigos em lógica - quando muito para diletantes se considerarmos o público de S. João e não o que ouvia ao Cristo quando ele enunciou a frase.

O ponto é que o texto nos diz que se Caminho=Jesus, Verdade=Jesus e Vida=Jesus, então Caminho, Verdade e Vida são todos o mesmo elemento. Pensemos nisso por um instante: a Verdade e a Vida são o mesmo objeto, a mesma coisa. Se afastar da Vida é viver em falsidade, viver em falsidade é se afastar da Vida, morrer um pouco. Não de forma metafórica, mas literal.

Vidas Falsas

Tal conceito é assombroso. Quando eu minto, eu morro um pouco. Quando sou falso para com os outros ou até para comigo mesmo, estou cultivando minha própria morte de uma forma mais intensa do que se fumasse 30 pacotes de cigarro por dia. Aliás, muito pior do que isso. Quando eu sou falso, eu estou fora da Verdade. Só que a Verdade e a Vida são a mesma coisa. Quando eu sou falso, eu estou fora da Vida. Já estou morto. Não é por outro motivo que Jesus também disse "Deixe que os mortos enterrem seus mortos" em São Lucas 9:60 e São Mateus 8:22.

Ele sabe que a imensa maioria das pessoas levam vidas falsas, cheias de insinceridade para consigo mesmas, para com o próximo e para com Deus. É o sujeito que seria bom advogado, mas seduzido pelo glamour do poeta boêmio, passa a querer viver de sua poesia ruim. Ou o contrário, o excelente poeta que ambicionando o status do advogado torna-se um defensor medíocre. É a pessoa que acha que tem que ser campeã em tudo e sempre, quando no fundo tudo que ela queria é um pouco de paz. É o político que se ilude dizendo para si mesmo que a vida cercada de mentiras e desonestidade é que é "vida" só porque está em meio a riquezas e cercado de pessoas-parasitas que querem partilhar disso. É a pessoa que sacrifica sua liberdade por segurança. É o escravo de suas compulsões e impulsos mórbidos sejam sexuais ou não que mente para si mesmo dizendo que isso é "viver intensamente cada segundo", que ser mais "mulher" ou mais "homem" é tratar o sexo oposto como lixo. Enfim é construir significados para si ao invés de simplesmente se deixar tomar pelO Significado da Vida.

"Eu quero ser um Menino de Verdade"

De forma geral, as pessoas subestimam os contos infantis. Pensam que são apenas estórias bonitinhas, cujo valor está exclusivamente nisso mesmo: são bonitinhas. Têm o mesmo valor da decoração de palhaços ou florzinhas do quarto da criança, desprovidos de sentido mais profundo do que marcar aquele serzinho como uma criança. Penso que estão errados quanto a isso. De forma geral o "conto infantil" nada mais é que o antigo conto fantástico pasteurizado. A presença do mágico é tida como "coisa de criança", mas na verdade o que ocorre é que esses contos expressam questões profundas através de uma realidade flexível. Como disse Chesterton contamos estórias de rios em que corre ouro líqüido apenas para nos lembrar de como nos maravilhamos quando vimos um rio de água pela primeira vez e como a fluidez da água, então, nos parecia tão estranha e maravilhosa quanto uma suposta fluidez do ouro. Falamos de dragões porque isso nos lembra a primeira vez que vimos elefantes e leões. Esse estupor maravilhado diante da realidade é sufocado e soterrado com o passar dos anos pelas banalidades do dia-a-dia. Mas foi o próprio Cristo quem disse: "Se não vos tornades como criancinhas, não entrarão no Reino". Recuperar esse sentimento é fundamental para a salvação. E nada melhor que os contos fantásticos para isso.

Todo o parágrafo anterior foi para explicar porque o conto do Pinóquio representa o que falava sobre "vidas falsas". Pinóquio não é "de verdade". Ele não tem vida, ele vive na mentira, ele não segue o caminho para o qual é constantemente reconvocado pelo Grilo. A maioria de nós segue o caminho oposto do Pinóquio. Nascemos "de verdade" e vamos nos tornando marionetes ao longo da vida, deixando que outras pessoas carismáticas ou não, governos e políticas guiem nossos movimentos. Nos vendemos barato. E assim nos tornamos, ainda por cima, marionetes com orelhas de burro. Mas deixarmos de ser "meninos e meninas de verdade" para nos tornarmos marionetes significa também deixarmos de ser seres vivos para nos tornarmos algo semelhante a um pedaço morto de madeira, apenas esculpido em forma humana. Nos afastamos da Verdade de nossas vidas e assim nos afastamos da Vida em si mesma. Nos tornamos mentirosos. E morremos com isso, nosso corpo animado, nada além de uma carcaça de carne, com um espírito que não se destrói mas também não morre. Zumbis. E se nos tornamos aquele tipo especial de cadáver ambulante que ainda é capaz de destruir a Vida dos que A possuem, aí somos a própria expressão do mito do vampiro. Somos uma marionete especialista em transformar "meninos de verdade" em marionetes também.

O Chifre Falso do Unicórnio Real

No desenho "O Último Unicórnio", baseado no livro de mesmo nome, a último unicórnio do mundo sofre com o fato de que ninguém mais é capaz de vê-la. Todos que olham para ela a vêem sem chifre. Vêem um cavalo normal. São cegos para tudo que ela possui de particular, único, belo, mágico e maravilhoso. As pessoas nessa estória são igualitários, filhos da Revolução Francesa e da época moderna apesar da estória se passar em mundo medieval. Olham para um ser mítico e não conseguem enxergar nada além do que ele possui de cotidiano, banal e de comum, igual aos demais. Um dos momentos mais comoventes do filme é quando uma bruxa velha captura a unicórnio e lhe aplica um chifre falso para expô-la em seu circo de bizarrices. As pessoas vêm, olham para "um cavalo com chifre de papelão" e, acreditando no embuste, pensam ver um unicórnio. É um momento denso. A menina chora de emoção ao ser enganada pelo chifre falso, por causa da incapacidade dela de ver o unicórnio de verdade que está a sua frente. É uma síntese de nossa era: cegos para a verdade, nos emocionamos com os simulacros de verdade pelo amor natural que sentimos pela verdade. Revelado o simulacro, nossa raiva nos torna ainda mais cegos para a verdade que continua a nossa volta e em nós, e mais vulneráveis a novos simulacros. A unicórnio encontra então um aliado no mago Schmendrick que lhe diz: "Eu posso vê-la, porque eu também sou de verdade. Como você." É a explicação para o problema. As pessoas não vêem nada que seja verdadeiro, porque elas mesmas não são de verdade, porque não estão na Verdade, estão afastadas. São os "mortos" de Jesus, os "bonecos de madeira" do conto do Pinóquio, os "robôs" dos contos de ficção-científica, os homens de lata sem coração, os zumbis modernos vagando em busca do "cérebro" que eles mesmos já não possuem. É impressionante como algumas pessoas imaginam uma vida "espiritual" como algo insosso. Jesus mesmo disse "Vocês são o sal da terra. Se o sal não dá sabor não serve para nada". A vida espiritual nada mais é que o processo, precisamente de abandonar a condição de ser sem vida, sem sabor, para se tornar o "tempero do mundo" o que dá sabor à vida. Temos todos que nos tornar homens e mulheres "de verdade".

"Caminhante, o caminho se faz ao caminhar"

É aí que entra, penso, a primeira parte da afirmação e que, por muito tempo, foi a mais misteriosa para mim. O que é "O Caminho"? Ora, o Caminho é nossa história pessoal rumo à plenitude e a Deus. É nossa vocação (todos temos uma, não apenas sacerdotes e ministros), nosso chamamento, aquilo que Deus nos criou para sermos e fazer. É nosso Verdadeiro eu, nossa sintonia no Universo. Diversos filmes, livros e estórias falam do "Caminho". Temos o herói ou heroína normalmente dedicados a alguma atividade que ou consideram perfeitamente insossa, ou, se gostam, gostam apenas porque nunca experimentaram nada melhor ou estão acomodados. Surge então algum personagem ou evento que representa, por assim dizer, a "Voz"., algo que os tira daquela "normalidade" e os chama para a "aventura" que não precisa ser uma aventura propriamente dita; vide o filme baseado em fatos reais "Óleos de Lorenzo", no qual os pais do menino que dá nome ao filme descobrem que ele possui uma grave doença degenerativa do sistema nervoso. A partir daí inicia-se a luta dos pais para a busca de uma cura. Os médicos, no entanto, logo os desencantam explicando, repetidas vezes que a doença age rapidamente e que certamente não há cura com a tecnologia atual. O pai do rapaz então, que não possuía nenhuma formação científica, passa a estudar biomedicina e bioquímica por si só. Não descobre a cura mas descobre um remédio que paralisa o progresso da doença. Era tarde demais para Lorenzo, mas para centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo, o remédio tornou-se a garantia de uma vida normal, pois detectando-se a doença em seus estágios iniciais, o remédio impede que ela progrida levando à morte. Os pais de Lorenzo são os heróis. A tragédia que se lhes abateu é a "Voz". A doença era o "dragão", o "monstro", que arrebatou-lhes o filho, mas foi detido, salvando a vida de milhares, e, contando todos que serão ainda salvos ao longo da história da humanidade, milhões de pessoas. Seu Caminho era a luta para destruir o poder letal do "monstro". E foi cumprido.

Felizmente nem todo Caminho possui tais contornos de tragédia. E, no contexto deste artigo, aprendemos que esse Caminho é ele mesmo a própria Verdade. E é a Vida. Quem se afasta do seu próprio Caminho, está longe da Verdade, da Vida, de Deus, das pessoas e de si mesmo. A novidade Cristã, neste contexto é precisamente que este Caminho-Verdade-Vida que se expressa de forma única em cada um de nós, nasceu de uma mulher, viveu como nós e, se chocando de frente com a Morte, destruiu-a por ser mais forte, libertando-nos do jugo dela. Agora cabe a nós escolhermos como passaremos o resto da Eternidade que nos foi concedida e na qual, de certa forma, já vivemos. Viveremos buscando O Caminho universal para que possamos vivenciar sua expressão particular em nossas vidas, buscando viver A Vida para usufruir a expressão particular Dela em nós, buscando A Verdade, para que nós mesmos sejamos "pessoas de Verdade" ou seremos bonecos de madeira, mortos, máquinas de carne que se movimentam por aí da mesma forma que robôs? A escolha é toda e só nossa.

O Brasil na História do Ocidente

O Brasil na História do Ocidente
Fabio Lins

A história do Ocidente, desde antes de Roma, pode ser descrita nos seguintes termos fundamentais: um império, e uma miríade de forças bárbaras. São papéis que foram interpretados por muitos atores ao longo dos milênios mas permaneceram os mesmos. Estes dois elementos sucedessem-se, coexistem, combatem-se e geram um ao outro. Dizer quem veio primeiro é praticamente como querer dizer se quem nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha.

Com certeza, Roma é o marco inicial dessa dinâmica. Fica também a questão se ela não teria sido gerada pelos conflitos bárbaros anteriores, mas com certeza é a partir do Império que essa dinâmica fica clara e determinante. Todo o resto da história do Ocidente depois da queda de Roma até hoje é uma grande disputa para ver quem vai ficar com o papel que outrora foi da cidade italiana. O "resumo da história ocidental abaixo" demonstra o que alego.

Com a formação do Império romano, alcança-se um veículo no qual as diversas tribos bárbaras encontram ponto comum para diálogos e mesmo para regras comuns para guerra, conflitos e etc. O mundo, outrora fragmentado nas tribos, está finalmente unificado.

O centro do Império romano passa para Constantinopla. O Império, para desespero dos ocidentais migrara para o Oriente abandonando-os. O mundo ocidental fragmenta-se novamente. Cada rei local, cada tribo bárbara clama para seus líderes o titulo de "rei dos romanos", "imperador dos romanos" nas suas tentativas de conquistar os vizinhos. A Igreja, que preservou a burocracia imperial em sua organização, mesmo sem ser estado, é ainda um improviso de unidade. É uma era de "caos" na sociedade ocidental porque está só é estável se houver bárbaros *e* império em tensão dinâmica, seja construtiva ou combativa. Daí a idéia de que o ocidente seria mais "dinâmico" que o Oriente, que, de fato, fundamenta suas outras civilizações em principíos unitários e não dísticos.

Com o tempo, algumas tribos alcançam poder e influencia para tentar preencher o vácuo deixado pela ausência do império e começam a ensaiar a idéia deles mesmos serem esse império. A primeira tentativa de realce é, naturalmente, o reinado carolíngeo. É principalmente a partir daí que a Igreja ocidental começará a ter o papel estatal que acostumamo-nos a atribuir a ela. Antes disso era apenas a religião local de províncias abandonadas do império, a mercê dos líderes tribais. Foi para dispensar a "proteção" inexistente do Imperador Romano em Constantinopla que os papas passaram a dar apoio aos reis carolíngeos. É a partir daí também que começam a surgir as primeiras falsificações, exercidas pelos carolíngeos, para "reescrever" a história, alegando que o papa recebera o poder secular de Constantino e portanto podia repassá-lo a eles, francos-carolíngeos. É também aí que surge a teoria de "desenvolvimento do dogma" pois os bárbaros francos consideravam o entendimento particular deles do Cristianismo superior ao dos orientais. Criaram então a idéia de que se podiam "acrescentar" coisas aos ensinamentos do Cristo pois eles era uma raça superior, com entendimento superior e portanto livres para ditar
inclusive coisas novas. Os francos eram uma tribo gêrmanica, são os inventores da tese do "sangue azul" e sua crenças racistas deram no que deram no século XX. Passaram a colocar papas dos seus em Roma, provocando a cisão do Cristianismo ocidental de sua matriz oriental. É
a partir daí que o Ocidente começa a achar que o Cristianismo é uma religião ocidental e o resto é "variante" oriental, quando é o preciso contrário.

O Império Carolíngeo foi um esforço adiante de seu tempo porém. Foi uma espécie de primeiro vôo de uma máquina que seria aperfeiçoada ao longo do segundo milênio. Na medida em que os reinos locais iam se fortalecendo, cada um tendia a cultivar as sementes de império que continham em si. É assim que as monarquias medievais vão se tornando as monarquias absolutistas da Renascença. As monarquias absolutistas nada mais são que tribos bárbaras ricas e francas candidatas ao posto de Império e vêem no desenvolvimento das navegações e da descoberta do Novo Mundo o instrumento perfeito de suas ambições. É durante a Renascença e o Iluminismo em que os intelectuais desvinculados da igreja ocidental irão abertamente expor suas teses de formação de uma "paz universal" que nada mais é que o novo império. Essas idéias "revolucionárias" serão a fonte da nova ideologia. Enquanto isso, Holanda, Inglaterra, Espanha e França principalmente lutam desesperadamente para se tornar esse império. Essa disputa será, no século XVIII e XIX, finalmente polarizada por Inglaterra e França que estabelecerão aí dois modelos de império: o império mercantil global, fundamentado no comércio internacional, representado pela Inglaterra; e o Império continental, mais tradicionalista, representado pela França e Napoleão. O primeiro é fundamentado na capacidade de produção mercantil, o segundo em relações aprimoradas de vassalagem entre "nobres" e "servos" que também serão papéis representados por muitos atores a partir daí em todas as variantes e aprimoramentos do modelo
francês a partir daí, dentre eles principalmente o movimento socialista que defende um estado forte, guiado por uma elite de vanguarda que irá prover aos servos. Se são nobres por sangue, por afiliação partidária ou ideológica, não importa. O modelo francês continental sempre crê em um grupo de pessoas nobres guiando a massa.

Se o filhote do modelo francês são os modelos socialistas, o filhote do modelo inglês é, evidentemente, os impérios capitalistas liberais, notadamente os EUA. Foram necessárias duas guerras mundiais para destruir o domínio das forças tradicionais da Europa, dando abertura para os EUA herdarem o poderio inglês e a URSS o ideal revolucionário. Com a queda da URSS, entidades globais como a ONU são as novas herdeiras, além do difuso movimento "progressista".

Temos assim, hoje, a ocidentalização total do mundo. Duas grandes forças representam dois candidatos a império: o modelo comercial americano (que quanto mais se torna império, menos liberal fica, pois são contradições em termos) e no qual o poder é maior para quem mais produz para a sociedade, e o modelo de francês de "massa guiada pelos nobres", quaisquer que sejam os critérios de nobreza ora instituídos. Nem um nem outro é, realmente honesto no sentido estrito do termo. Ambos servem de fachadas para planos pessoais de ambição e poder, mas são dinâmicas sociais com vida própria. Os bárbaros, as tribos menores e com menos recursos, hoje, é todo o resto do mundo e é precisamente porque esse conflito cresceu tanto a ponto de recontextualizar os demais é que se pode falar de ocidentalização mundial.

O Brasil, aqui na América do Sul, nunca quis realmente entrar na disputa para sermos império e esse é o motivo único e exclusivo pelo qual continuamos na condição de "bárbaros" a serem conquistados e pacificados. A tal "mentalidade de colônia" é precisamente a recusa em ser e agir como império. Não é que queiramos ser dominados. Mas é que, sem compreender que na selva internacional só existem dominadores e dominados, recusamos ser dominadores achando que é possível com isso não cair automaticamente na condição de dominados. Daí que quando estamos em uma geração, como a atual, que recusa veementemente o modelo imperial americano, caímos automaticamente na condição de dominados pelo modelo alternativo de dominados pelo império que já foi Francês, Soviético e hoje é "globalista" existente em uma rede de meta-milionários, ONU e associados de nobreza-vassalagem. Quando encontramos força para recusar isso também, nos tornamos entreguistas ao modelo americano. O ciclo só vai terminar quando pararmos de pensar em "com quem vamos nos aliar" para nos apropriarmos das tecnologias sócio-culturais e materiais propriamente ditas de império e nos tornarmos nós mesmos uma força imperialista. Isso ou esperamos a tensão global se acirrar até que aconteça algo, provavelmente uma guerra, que encerre esse ciclo "ocidental" da organização mundial. Mas
aí, podem ter certeza de que o que sobrar depois, não será mais o "nós" que conhecemos. Já não haverá Brasil nem nada, mas alguma outra coisa.

O Brasil, porém, está embarcado nessa bobagem de bloco socialistóide na América do Sul exatamente seguindo a dinâmica descrita. Vamos nos tornar colônias do "império globalista" precisamente porque não juntamos à recusa do império comercial ações e vontade de sermos um
império. Por isso nenhuma retração do gigante colonial Brasil perante gritos de anões com pretensões de serem capatazes regionais do imperialismo globalista me surpreende. Estamos tendo exatamente o que plantamos.

Jesus e as Riquezas Mundanas

Jesus e as Riquezas Mundanas

A relação do Cristianismo com as riquezas mundanas gera diversas polêmicas históricas, políticas e sociológicas. Gostaria porém de fazer alguns comentários exegéticos e teológicos sobre o assunto. Creio que essa questão se encontra muito bem definida no evento em que o jovem rico encontra Jesus (Mc 10, 17:31; Mt 19, 16:30; Lc 18, 18:30). Para quem não lembra, eis o trecho segundo São Lucas:

São Lucas 18

18 E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?

19 Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus.

20 Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe.

21 E disse ele: Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade.

22 E quando Jesus ouviu isto, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me.

23 Mas, ouvindo ele isto, ficou muito triste, porque era muito rico.

24 E, vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: Quão
dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!

25 Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.

26 E os que ouviram isto disseram: Logo quem pode salvar-se?

27 Mas ele respondeu: As coisas que são impossíveis aos homens são possíveis a Deus.

28 E disse Pedro: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.

29 E ele lhes disse: Na verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus,

30 Que não haja de receber muito mais neste mundo, e na idade vindoura a vida eterna.

As riquezas, em si, não levam nem à salvação, nem à perdição. São neutras. Um homem pode inclusive ser chamado Justo mesmo sendo rico. A natureza humana, porém, é tal que é difícil para nós mantermo-nos longe das tentações uma vez que tenhamos os meios para obtê-las, seja através do poder financeiro ou político, e por isso Jesus nos alerta para os perigos inerentes a esse caminho, sem com isso reprovar taxativamente os que porventura o trilhem como veremos a seguir.

A leitura mais estimulante, parece-me, é esta que vemos em São Lucas pois logo depois daquele encontro com o mau rico, São Lucas nos apresenta um encontro de Jesus com São Zaqueu, um bom rico (veja o ícone ortodoxo em http://www.thehtm.org/images/a-312.jpg ):
São Lucas 19

1 E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando.

2 E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico.

3 E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura.

4 E, correndo adiante, subiu a um sicômoro para o ver; porque havia de passar por ali.

5 E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa.

6 E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente.

7 E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.

8 E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.

9 E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.

10 Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.

Enquanto o “príncipe” hesita em ser fonte de benesses, São Zaqueu utiliza sua riqueza para auxiliar o próximo sem deixar de desfrutá-la. Fica bem claro que se despojar das riquezas é algo bem mais profundo do que simplesmente doar tudo materialmente. Já dizia S. João Crisóstomo que o pobre que vive ardendo de desejo pela riqueza peca mais gravemente do que muitos ricos. Daí que certas ideologias que vivem de cultivar a inveja da riqueza serem tão tipicamente anti-
cristãs apesar de se apresentarem com pretensões de motivações bondosas.

É apenas com tal entendimento que vamos compreender o Sermão do Monte: Bem-aventurados os *pobres de coração* porque *deles* é o Reino dos Céus. Muitos pobres materiais não são pobres de coração. Vivem desejando a queda da classe dos ricos, sonhando com a ruína alheia e com a fortuna por ela mesma, com o fracasso do vizinho melhor de vida, seja uma pessoa ou um país, do parente afortunado, enfim de todos que estão melhor financeiramente que eles, consumidos por inveja, ganância e ressentimento. Igualmente, alguns po ucos ricos não poderiam fazer menor caso da fortuna que têm em mãos.

Não importa, para nossa salvação espiritual, se temos dinheiro nas mãos ou não. Importa se ele está em nosso coração ou não. O dinheiro *nunca* deve estar em nosso coração, pois este é templo sagrado de Deus. Infelizmente parece que nosso povo é mais “dinheirista” do que cristão. Choca-se mais com crimes de roubo de dinheiro na política do que com milhares de assassinados todos os anos. Ter dinheiro no coração não é simplesmente desejar o dinheiro ardentemente mas achar que o dinheiro vai solucionar tudo, que bastará dar ou ter dinheiro para que os problemas desapareçam. O dinheiro não tem esse poder. Ter dinheiro no coração é também se indignar com roubos e corrupções e ficar indiferente aos atentados contra a vida. Não por outro motivo no capítulo 11 de São Marcos, logo depois do encontro com o mau rico, temos o episódio da expulsão dos vendedores do Templo. Jesus faz externamente aquilo que devemos fazer internamente, isto é, expulsar do templo de Deus em nossas almas o dinheiro, pois Deus se deu a nós de graça para que existindo em nós possamos ofertá-Lo a Ele mesmo, como é dito durante a Anamnese (Rememoração) na Divina Liturgia ortodoxa: “O que é Teu, recebendo-o de Ti, nós Te oferecemos em tudo e por tudo“. Nada temos a ofertar, nem ao próprio Deus, que não tenha sido dado por Ele mesmo anteriormente. Dele provém toda virtude, bondade, graça e alegria.

Aquele que não tem riquezas materiais no coração é que é o “pobre de coração”, mesmo que seja “rico de bolso”. E é importante que mantenhamos isso na cabeça para não cultivarmos determinadas neuras de que se tivermos uma boa condição financeira então estaremos condenados ao inferno, pensamento pernicioso que é talvez responsável por boa parte das mazelas do Brasil em um tipo de auto-sabotagem subconsciente. De fato, no Brasil pensamos que o dinheiro é algo sujo e se vemos alguém rico logo ficamos pensando que “sujeiras” ele deve ter cometido para chegar a tal estado. Isto se dá porque subconscientemente, achamos a riqueza mundana algo sujo e que só pode ser obtida pela sujeira. E assim, apenas os desonestos se interessam por ela e desfrutam o poder de influenciar a sociedade que ela proporciona. Se os bons e os justos brasileiros tirarem essa imagem da riqueza da cabeça poderão eles mesmos obtê-la, permanecendo pobres de coração, e ser a fonte de boa influência nas altas rodas. Já é um ditado popular, e bastante sábio, a sentença que diz que a culpa do mal no mundo não da ação dos maus, mas da omissão dos bons.

Tanto a obtenção da riqueza é algo neutro em si que uma das parábolas mais marcantes de Jesus traz uma imagem praticamente capitalista. E está ligada também ao ciclo “Mau rico-Bom rico” para nos mostrar a dinâmica da relação do homem com a riqueza mundana. Vejamos o trecho, ainda em São Lucas 18, seguindo logo o que foi mencionado por último:

11 E, ouvindo eles estas coisas, ele prosseguiu, e contou uma parábola; porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo se havia de manifestar o reino de Deus.

12 Disse pois: Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois.

13 E, chamando dez servos seus, deu-lhes dez moedas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha.

14 Mas os seus concidadãos odiavam-no, e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós.

15 E aconteceu que, voltando ele, depois de ter tomado o reino, disse que lhe chamassem aqueles servos, a quem tinha dado o dinheiro, para saber o que cada um tinha ganhado, negociando.

16 E veio o primeiro, dizendo: Senhor, a tua moeda rendeu dez moedas.

17 E ele lhe disse: Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás autoridade.

18 E veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua moeda rendeu cinco moedas.

19 E a este disse também: Sê tu também sobre cinco cidades.

20 E veio outro, dizendo: Senhor, aqui está a tua moeda, que guardei num lenço;

21 Porque tive medo de ti, que és homem rigoroso, que tomas o que não puseste, e colhes o que não semeaste.

22 Porém, ele lhe disse: Mau servo, pela tua boca te julgarei. Sabias que eu sou homem rigoroso, que tomo o que não pus, e colho o que não semeei;

23 Por que não puseste, pois, o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros?

24 E disse aos que estavam com ele: Tirai-lhe a moeda, e dai-a ao que tem dez moedas.

25 (E disseram-lhe eles: Senhor, ele tem dez moedas.)

26 Pois eu vos digo que a qualquer que tiver ser-lhe-á dado, mas ao que não tiver, até o que tem lhe será tirado.

Esta passagem se refere a todas as graças de Deus de forma geral. Quer dizer que Deus nos confere dons que devemos utilizar e desenvolver e que aquele que não desenvolve acabará perdendo o dom. Não é possível porém, deixar de considerar a imagem quase capitalista e “especuladora” que Jesus utilizou nessa passagem para dar o ensinamento.

Houve por bastante tempo uma discussão sobre se o casamento seria algo bom. Isso se devia a heresias que pregavam que apenas o ser humano celibatário vivia de acordo com a vontade de Deus. Aqueles que defendiam o casamento apontavam que a união do homem e da mulher
é usada diversas vezes nas Santas Escrituras como imagem da união de Deus com a Igreja. Destacavam, a partir daí, que não poderia ser utilizado algo ruim como imagem de algo bom. Pode-se também dizer que se o lucro, o investimento capitalista e mesmo a especulação financeira fossem algo mal em neles mesmos, Deus não os utilizaria como imagem de algo tão bom e maravilhoso como a ação de Sua Graça sobre a humanidade.

O homem das dez moedas, assim como o das cinco moedas, eram pobres de coração e por isso herdaram as cidades, símbolos do Reino; enquanto o que não investiu e não multiplicou sua riqueza era o que era de fato “rico de coração” apesar de ter permanecido “pobre de bolso”.
Sua moeda foi dada ao mais sábio que por sua vez saberia transformar aquele pequeno investimento inicial em dons. Seja a graça de Deus a inteligência, o dom da palavra, o dom da oração, do entendimento ou mesmo a riqueza mundana, temos o dever santo e sagrado de multiplicá-lo e compartilhá-lo com os nossos próximos.

No desenho animado “José: Rei dos Sonhos”, que conta a história deste personagem do Antigo Testamento*, tem uma música “à la Disney”** cujo refrão resume bem o espírito dessa mensagem:

“Você tem que dar um pouco mais do que recebeu, tem que deixar um pouco mais do que estava aqui. É a própria medida da sua alma que está em jogo. Você tem que dar um pouco mais do que recebeu”.

Tal é a mensagem da parábola do Mau Investidor, que é tambem o Mau Pobre e a imagem que se deve seguir, personificada em São Zaqueu e no Patriarca José, que representam o Bom Rico, para que se dê bom uso à riqueza, de modo que na fortuna ou na miséria, mantenhamos sempre Deus, e unicamente Ele, no templo de nosso coração. Viver desejando sempre a Deus e o bem do próximo e não a riqueza, qualquer que seja nossa condição material.

Abraços, que Jesus Cristo na Santíssima Trindade e sua Santa Mãe nos abençõe! Peçamos pelas orações de São Zaqueu e do Patriarca José, para nos iluminar nesse tópico.
Fabio Lins

* Vejam ícones ortodoxos do Patriarca José:
http://www.comeandseeicons.com/j/inp109.jpg e
http://www.thehtm.org/images/a-77.jpg

** Vejam o clipe em: http://youtube.com/watch?v=6WDXCEmpuYI

O Verdadeiro Significado de "Todos Sejam Um"

Congregação Episcopal Retorna à Ortodoxia

9 de Julho, 2007 (Daily Oklahoman)

Uma nova igreja ortodoxa está em formação no norte de Oklahoma City.

Mark Wallace, um ex padre carismático da Igreja Episcopal, está liderando suas antigas congregações em sua transformação para cristãos ortodoxos. Wallace e muitos membros da antiga Igreja Episcopal Carismática da Santa Trindade, estão assistindo a aulas e frequentando os ofícios na Igreja Ortodoxa Antioquina de Santo Elias.

"Não tenho dúvidas em minha mente de que a Ortodoxia tem algo a oferecer à vida americana. É um segredo bem mantido," ele disse.

Wallace diz que sua jornada para o Cristianismo Ortodoxo começou ano passado quando ele ficou perturbado pelos eventos na Comunhão Internacional de Igrejas Episcopais Carismáticas, uma denominação formada em 1992 e que agora conta com perto de 1.000 igrejas em 20 países.

O ex-padre Mark, 53, formado pela Universidade Oral Roberts, disse que iniciou a paróquia de Santa Trindade em 1996 como uma Igreja Episcopal Carismática e que discordava do bispo em questões doutrinais.

Wallace também disse que em dezembro de 2006 contatou o pastor da Santo Elias, o reverendo Constantine Nasr, com fins de explorar a possibilidade de se tornar parte da comunidade cristã ortodoxa.

Padre Nasr, 62, disse estar feliz por ajudar Wallace e sua congregação a aprender mais sobre o Cristianismo Ortodoxo., mas que não estava surpreso pelo interesse dele.

"Desde da ascenção e da queda do evangelismo pela TV, desde de todo o liberalismo em algumas denominações, a Igreja se esfacelou," ele disse.

"As pessoas querem consistência. Querem tradição. Querem os sacramentos. Através da Internet, eles descobriram a Igreja Mãe e por muitas razões estão decidindo retornar ao lar da antiga fé."

Wallace comentou que foi atraído para a Igreja Cristã Ortodoxa por sua estabilidade no que concerne doutrina, liturgia e governo da igreja.

"Estou convicto que a Igreja Ortodoxa é a Igreja que Jesus fundou. Não existe isso de re-inventar a roda, que era o que eu fazia na outra igreja. Estávamos sempre mudando," ele disse.

Inicialmente, Wallace convocou uma reunião para discutir seus pensamentos sobre tornarem-se parte da comunidade da fé Cristã Ortodoxa. A congregação de Santa Trindade se encontrou na Igreja Comunitária de Nosso Senhor. Ele disse que sua idéia encarou um certo ceticismo saudável de alguns membros de sua congregação, e que esperava isso. No fim, cerca de 52 dos 65 membros da paróquia resolveram seguir com ele na jornada para a Ortodoxia. Começaram a freqüentar as aulas na Santo Elias para aprender as Santas Tradições e Sacramentos da Igreja Ortodoxa.

O último ofício sob a igreja episcopal carismática ocorreu no fim de março.

Padre Nasr estava presente no ofício e disse que comoveu-se quando Wallace foi retirando suas vestes episcopais carismáticas simbolizando que não era mais do clero.

"Ele foi retirando as vestes peça por peça," Nasr disse. "Estávamos todos chorando porque era como morte para esta comunidade."

Nasr disse que Wallace é leigo para a Igreja Ortodoxa, mas que continua com sua congregação como pastor ou líder. Wallace está matriculado nos cursos livres da St. Stephen's House of Studies e esperar ser ordenado diácono e padre na Igreja Ortodoxa. Nasr disse que o caminho de Wallace para o clero ortodoxo não será tão longo quanto normalmente seria porque ele já possui treino de seminário.

Nasr disse que espera ver a congregação, que será chamada de Igreja Cristã Ortodoxa Santo André, ser crismada na Igreja Ortodoxa até o Natal. Wallace disse que antigos membros da Santa Trindade participam nos serviços de matina da Santo Elias, um ofício de oração matinal. Nasr disse que após esta crisma poderão receber comunhão na Igreja Ortodoxa.

"Isto será um presente de natal," ele disse.

Wallace afirma que sente que encontrou o que muitos estão buscando.

"Um dos maiores problemas que vemos é a falta de raízes dos cristãos. Eles saem de uma igreja para outra. Ficam procurando por algo, e acho que procuram por suas raízes espirituais," ele comentou.

"Tudo que eles tentam possui algo de bom, mas eu diria que a Igreja Ortodoxa fornece uma expressão total da fé cristã."

http://www.serbianna.com/news/2007/01966.shtml

Patriarca Alexei II convida a Europa à Moralidade

http://english.pravda.ru/world/europe/98211-orthodox_church-0

Europa se revolta contra lição de moral da Igreja Ortodoxa Russa

04-10-2007

A mídia russa e de outros países lançaram diversos comentários sobre a recente aparição do líder da Igreja Ortodoxa Russa, Patriarca Alexei II, na seção da Assembléia Parlamentar do Conselho da Europa em Strasbourg.

Foi a primeira vez na história que um alto líder religioso da maior confissão da Rússia apareceu perante delegados da Assembléia. Mais importante ainda, foi a primeira visita de Alexei II a um país católico.

O Jornal Novye Izvestia relata que a aparição de Alexei II perante os delegados deu origem a um grande debate antes mesmo de sua visita à França. Jornalistas conjeturavam se o Patriarca iria falar no tom do "pregador bonzinho" ou como um "duro acusador". Em Abril, Alexei II dissera que durante uma aparição planejada perante o Conselho da Europa ele iria falar sobre valores cristãos que a Europa ocidental estava, infelizmente, perdendo enquanto propagandea o pecado.

Em entrevista para o jornal La Vie o Patriarca disse que os russos criados segundo a tradição ortodoxa cristã tinham sua própria visão sobre muitos dos problemas modernos. Uma verdadeira cooperação Pan-Européia não pode ser estabelecida se esta visão não for levada em consideração, disse Alexei II.

O discurso do Patriarca no Conselho da Europa foi tratado de modo semelhante ao de um político de alto nível. O jornal Le Figaro chama a Igreja Ortodoxa Russa "a única instituição estável em uma Rússia instável". O modo de Alexei de falar é sempre suave a não-agressivo, exatamente ao estilo dos políticos peso-pesados.

Em seu discurso na Assembléia, o Patriarca não falou abertamente que a menção ao "código singular", os valores cristãos, não foi inclusa no rascunho da constituição da União Européia a despeito do fato de que representantes da Espanha e Polônia católicas haviam insistido que devessem ser incluídos no documento. O Patriarca russo enfatizou que a lacuna que há hoje em dia entre os direitos humanos e a moral era desastrosa para a Civilização Européia. Ele disse que esta lacuna era agravada pela "aparição de uma nova geração de direitos que contradizem a moralidade e buscam justificar atos imorais com direitos humanos". Alexei II pensa que quando a moralidade não é aplicada para avaliar os atos das autoridades, os problemas sociais se tornam ainda mais insolúveis.

Entretanto, o Patriarca russo revelou uma atitude categórica da Igreja Ortodoxa Russa quanto a paradas gays e minorias sexuais. Alexei II disse que a Igreja Ortodoxa Russa tratava as tentativas de organizar paradas de orgulho gay em Moscou como manipulação e propaganda do pecado. Ele disse que o homossexualismo é uma doença e uma distorção da personalidade humana assim como a cleptomania e perguntou: "Por que não fazemos propaganda da cleptomania?" Mas, ao mesmo tempo, Alexei II acrescentou que sua religião o ensinava a amar os pecadores a despeito dos seus pecados. A comparação do Patriarca entre a homossexualidade e a cleptomania recebeu uma tempestade de aplausos de seus delegados russos enquanto os outros abstiveram-se de comentários demonstrativos sobre a questão.

O Patriarca alertou o Conselho de delegados da Europa de que um rompimento entre os direitos humanos e a moralidade ameaçava a civilização Européia. Continuou enfatizando que as pessoas devem combater o pecado e não os pecadores e respeitar os ensinamentos morais da Bíblia.

Mas o Patriarca russo acrescentou que o governo não deve interferir com a vida privada já que é uma escolha livre do indivíduo ser moral ou imoral.

O jornal Rossiiskaya Gazeta afirma que a aparição do Patriarca perante o Conselho foi o primeiro de um tão alto nível. A Igreja Ortodoxa Russa é a primeira e única confissão representada no Conselho da Europa como um estado. Em 2005, o Patriarca aprovou a abertura de um escritório representativo da Igreja no Conselho da Europa para o estabelecimento de um diálogo regular e constante.

De acordo com o Patriarca russo, nenhuma ideologia, incluindo a secular, pode ter o monopólio da Europa ou do mundo. E é por isso que ele pensa que a religião não pode ser posta para fora do espaço público. É hora de assumir que pode existir também uma motivação religiosa na esfera pública, disse Alexei II.

Um dos delegados perguntou ao Patriarca qual era sua atitude quanto a pena de morte e Alexei II respondeu que a Igreja sempre defendeu a proteção da vida tanto dos bebês não nascidos quanto dos criminosos. Neste discurso em particular, seu discurso foi altamente emocionado.

Como disse o Patriarca, o progresso tecnológico provê uma nova interpretação dos direitos humanos. Os fiéis possuem sua própria opinião sobre bioética, identificação eletrônica e outros ramos do progresso tecnológico que deixam muitas pessoas ansiosas. O jornal Kommersant cita o Patriarca afirmando que um ser humano deve sempre permanecer um ser humano e não um artigo sob o controle de sistemas eletrônicos sempre a disposição de experimentos.

Os europeus acharam que Alexei II foi mais crítico quando tocou na muito popular religião européia do politicamente correto.

Ontem, a Gazeta GZT.ru relatou a aparição do Patriarca no Conselho em uma publicação intitulada "Rússia desconsidera envolvimento no Conselho da Europa mas Patriarca Alexei II ensina moralidade a Europa".


A Rússia é a principal ré na Corte Européia de Direitos Humanos mas a corte não está satisfeita com a cooperação deste país. Delegados do Conselho da Assembléia Parlamentar da Europa adotaram uma resolução que requer que os países membros devam manter cooperação em todos os níveis do procedimento judicial. De acordo com a Assembléia, a violação da lei no norte do Cáucaso é a mais escandalosa.

Source: agencies

Traduzido para o inglês por Maria Gousseva
Traduzido do inglês para o português por Fabio Lins
Pravda.ru

Vídeo do discurso: http://www.russiatoday.ru/news/news/15010/video

A Alma Portuguesa

A Alma Portuguesa

Autoria: Padre Andrew Phillips

Tradução: Fabio Lins

As Nações dos homens existem pelo que há de melhor no homem, e são destruídas pelo que há de demoníaco nele.

John Masefield, Gallipoli

Toda terra passa por períodos de grandeza e períodos de declínio. Os períodos de grandeza expressam o entusiasmo da terra e seu povo por algum ideal e insight espirituais, por alguma grande idéia. Nestes momentos a essência espiritual de um país, a alma de seu povo, se torna aparente. Períodos de declínio expressam a traição e a perda desse ideal em favor de uma atração fatal e decadente por uma paixão mundana por riquezas terrenas, terra e poder, e obscurecimento daquela alma nacional e sua essência espiritual. Deste modo muitos grandes impérios, tanto antigos quanto novos, ergueram-se e caíram, seja o Babilônio, o Egípcio, o Macedônio, o Romano Ocidental, o Persa, o Romano Oriental, o Zimbabwense, o Mongol, o Asteca, o Inca, o Português, o Espanhol, o Mogol, o Chinês, o Otomano, o Austro-Húngaro, o Francês, o Britânico ou o Soviético. Iremos aqui analisar a grande idéia e o ideal espiritual que flamejava na alma de Portugal e seu povo.

O primeiro período da história de Portugal, o período Ortodoxo, começa antes mesmo de Portugal como o conhecemos hoje existisse, com a missão de São Tiago Apóstolo, filho de Zebedeu e irmão de São João, aos habitantes romanizados da Península Ibérica. Até hoje sua memória é lembrada na Galícia, ao norte das atuais fronteiras de Portugal, na grande cidade de peregrinação de São Tiago - Santiago de Compostela, na qual suas santas relíquias ainda são veneradas. Tal era a fama deste lucar que em 1049 o Bispo de Compostela foi excomungado pelo recém-reformado papado por dizer a verdade: que ele também, como o Bispo de Roma, era bispo de uma Sé Apostólica. Embora hoje Santiago esteja fora das fronteiras portuguesas na Galícia – que fala um dialeto próximo ao português – a peregrinação à cidade do Santo Apóstolo Tiago marcou, como veremos, a alma portuguesa por toda a sua história.

O primeiro santo da Lusitânia e da Galícia, como Portugal era então conhecido, é do primeiro século. Trata-se de S. Basílio (23 de maio), o primeiro Bispo de Braga, aquela cidade no norte de Portugal que se tornou o coração espiritual do país, dando origem ao ditado português, “tão velho como a sé de Braga”. A ele seguiram os mártires S. Paulo, Heracleus, Secondilla e Januarius do Porto (02 de março). S. Veríssimo, Máxima e Júlia de Lisboa (01 de outubro) foram todos martirizados por volta do ano 300, e S. Vítor de Braga (12 de abril) foi batizado em seu próprio sangue recusando-se a adorar os ídolos em 303.

No quinto século, depois da invasão da Península Ibérica pelas tribos germânicas dos Suevos e dos Visigodod que adotaram o arianismo, outro mártir viria a adornar a Igreja Portuguesa: S.Pedro, Arcebispo de Braga (26 de abril). E ainda S. Mancius, Bispo de Évora (15 de março) também foi martirizado no século V d.C. . Depois destes veio o grande santo português e pai monástico, S. Martinho, Arcebispo de Braga (579), comemorado no dia 20 de março e conhecido como Apóstolo da Galícia, que converteu o rei dos suevos do arianismo para a Ortodoxia e que, junto com seus discípulo Pascanius, traduziu os Ditos dos Padres do Deserto do grego. E não podemos deixar de mencionar o nome de um outro grande pai monástico, S. Frutuoso de Braga (665), comemorado no dia 16 de abril, o qual, iluminando os visigodos, escreveu uma regra monástica. Deste período existem ainda as igrejas do século sétimo de S. Frutuoso em Montélios, perto de Braga, construída para as relíquias de S. Frutuoso na forma de uma cruz grega e de S. Pedro em Balsamão e de Santo Amaro em Beja.

Este primeiro período da história e de prosperidade espiritual portuguesa terminou em 711 com a invasão dos mouros vindos do norte da África. Eles iriam tomar a maior parte da Península Ibérica e mesmo ameaçarem os povos vivendo no território do sul da França, onde foram detidos apenas na Batalha de Poitiers em 732. É desta época que vem a famosa lenda ibérica de sete bispos que fugiram através do Atlântico para “Antilia”, a Ilha de Sete Cidades, uma lenda que iria assombrar a consciência portuguesa, como veremos, por muitos séculos. As invasões mouras provocaram um movimento de resistência cristão nos séculos 9 e 10, que lutavam para libertar o norte e o centro da Portugal atual do jugo muçulmano. Dois santos destacam-se neste período: S. Rosendus de Dume (967), santo bispo e restaurador do monasticismo na Galícia, celebrado no dia 01 de março, e sua parente, a santa abadessa Senhorinha de Basto (982), celebrada no dia 22 de abril. A época também pertencem as outras únicas igrejas Pré-Romanescas, ou Ortodoxas, de Portugal, em Lourosa, fundada em 913.

Este segundo período da história portuguesa, o do Jugo Muçulmano, começa então em 711 e irá durar na maior parte do centro de Portugal até 1064. Foi neste ano que uma reconquista iniciou-se do norte, da região livre do Porto, a qual em 1139 iria determinar as fronteiras de um novo estado independente de nome inspirado em si – Portugal. Esta Reconquista não estaria completa até o século XIII no sul de Portugal, onde a presença árabe ainda é muito lembrada pelos nomes de muitos lugares, como ‘Algarve’, o qual em árabe significa ‘o ocidente’.

Gradualmente então, depois de 600 anos, o Jugo Muçulmano fora rechaçado. Mas depois disto Portugal teria que enfrentar uma nova tragédia, pois a Reconquista de 1064 fora patrocinada por uma nova ideologia estrangeira – o Catolicismo Romano. Por volta de 1080 esta ideologia, desenvolvida pelo agressivo Papa Hildebrando e utilizando influência francesa, já havia quase que completamente suprimido o muito amado rito litúrgico Moçárabe ou Hispânico que havia conservado a antiga liturgia romana e ocidental dos primeiros séculos. Em torno de 1147, quando Lisboa finalmente foi retomada dos mouros, estava claro que a conquista litúrgica de Portugal e de toda Ibéria estava completa: a antiga espiritualidade Ortodoxa Romana-Moçárabe dos primeiros dez séculos de histórica ibérica havia desaparecido. A era do Jugo Muçulmano havia acabado, mas também a era de grandeza espiritual portuguesa. Esta fora substituída por uma nova ideologia papal disseminada por uma elite na França, uma ideologia que se tornou cada vez mais forte ao longo da Idade Média. Os fiéis portugueses se encontravam privados da fé de seus ancestrais, naquele estado de privação espiritual que tem sido a amarga herança e doença da Europa Ocidental durante todos estes longos anos desde o século XI.

No século XIII, portanto, a alma e a história de Portugal haviam sido capturadas por uma nova ideologia e surgia no povo português uma saudade por um Espírito Santo ausente, por um Paraíso perdido que seus ancestrais haviam conhecido. Assim, com o fim do Jugu Muçulmano, inciou-se o terceiro período da história portuguesa, e que atingiu seu apogeu nos séculos XV e XVI. Este é o período dos grandes exploradores, como Henrique, o Navegador, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Alfonso de Albuquerque, Pedro Álvares Cabral e Fernão Magalhães, quando a influência portuguesa se espalhava não apenas da África ao Brasil, mas também até a China e o Japão. Este período de grandes descobertas iria terminar no século XVI quando Portugal inicia seu súbito e enigmático declínio, o quarto de sua história. O enigma do quarto período, seu declínio, só pode ser compreendido em contraste com o seu terceiro período, o de grandeza mundana. O que é que movera os exploradores portugueses e mesmo não-portugueses envoltos neste mesmo espírito, a navegar de Portugal em busca do desconhecido e assim lançar os fundamentos de um império colonial? Para compreender o espírito destes exploradores e porque partiram, não podemos fazer melhor senão observarmos o mais famoso exemplo, o de um não-português, que partiu com apoio espanhol: Cristóvão Colombo.

Nascido em 1451 em Gênova mas quase certamente de origens ibero-judaicas, Colombo ou Colón como preferia ser chamado, conhecia o Mediterrâneo muito bem como marinheiro e era um reconhecido cartógrafo. Com a idade de 25, iniciou morada em Portugal, casou-se com uma portuguesa e viveu por algum tempo na recém-descoberta ilha de Madeira, em cujas praias ele comumente encontrava plantas e madeiras que vinham flutuando de algum país misterioso ao oeste. De Madeira e Portugal ele navegou para África, Inglaterra, onde os navegantes lhe falavam de Newfoundland e para Irlanda e Islândia, onde mais uma vez ouvia falar de terras ao oeste. De 1480 em diante, Colombo torna-se fascinado pela idéia de explorar o oeste, convencendo-se que não apenas encontraria uma nova terra, mas um Novo Mundo, a Jerusalém Terrena. De caráter instável, às vezes beirando a insanidade, este homem de origem judaica, se sentia escolhido por Deus como Messias para a missão de descobrir um Novo Mundo. Nisto ele era guiado por uma profecia do Livro de Isaías (11:10-12), que diz:

“Naquele dia a raiz de Jessé será posta por estandarte dos povos, à qual recorrerão as nações; gloriosas lhe serão as suas moradas.

Naquele dia o Senhor tornará a estender a sua mão para adquirir outra vez e resto do seu povo, que for deixado, da Assíria, do Egito, de Patros, da Etiópia, de Elão, de Sinar, de Hamate, e das ilhas de mar.

Levantará um pendão entre as nações e ajuntará os desterrados de Israel, e es dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra.”

Colombo foi ainda inspirado por muitos escritos e tradições, algumas das quais vinham da Grécia Antiga. Além das mais antigas, havia a bem conhecida lenda do sexto século da vida do irlandês S. Brandão, o Navegador, que havia navegado para uma terra além do Atântico, uma entrada para o Paraíso terrestre. Esta terra era chamada “Brasil”, significando em Gaélico “grande ilha”. Em segundo lugar, Colombo conhecia bem de Portugal a história de Antilia, a Ilha das Sete Cidades, para onde haviam fugido sete bispos depois da invasão dos mouros em 711. Por fim, havia o fato de quem em 1492 ( o simbólico ano de 7000 desde a Criação do Mundo, e que Colombo entendia literal e não simbolicamente), a Reconquista da Península Ibérica tinha se completado e muitos desejavam levar a Reconquista além tomando Jerusalém e assim iniciar o oitavo e último milênio no qual o mundo iria acabar.

De fato, no ano de 1492, o primeiro ano do oitavo milênio, Colombo partiu para encontrar o “Novo Mundo”, descobrindo o que hoje chamamos de Índias Ocidentais. Em 1493-4 ele retornou ao local com sete navios e mais de mil colonistas. Colombo estava convecido de que havia encontrado naquelas ilhas não apenas “Antilia”, a Ilha das Sete Cidades, mas também ‘Cipango’ (Japão) e Índia.

Foi por causa destes erros que o nome de “Índias Ocidentais” foi dado a estas ilhas e que o nome “índios” foi usado para todos os habitantes das Américas e que as Índias Ocidentais também eram conhecidas como Antilhas. Em uma terceira expedição, em 1498, Colombo descobriu a América do Sul. Tendo encontrado um enorme golfo de água doce na boca do Orinoco, ele decidiu que este seria um dos quatro rios que fluem do Paraíso, como descrito no Gênese, capítulo 02:

10. Um rio saía do Éden para regar o jardim, e dividia-se em seguida em quatro braços: 11. O nome do primeiro é Fison, e é aquele que contorna toda a região de Evilat, onde se encontra o ouro. 12. O ouro dessa região é puro;”

Retornando a Espanha, de 1500 em diante Colombo se tornou mais e mais obcecado em encontrar este Paraíso, a Jerusalém terrena, a cuja descoberta seguir-se-ia o fim do mundo. Em 1502, ele partiu em uma quarta expedição, buscando a não-existente passagem através do que é hoje o Panamá para o que haveria depois – o Paraíso. Em 1504 Colombo iria retornar, exausto e amargamente decepcionado, sem ter encontrado o tal Paraíso. Os colonizdores que viajaram com ele revoltaram-se contra o navegador, por não terem encontrado ouro o suficiente, trucidando e explorando os povos indígenas primitivos. Colombo não viveu à altura de seu nome: Cristóforo Colón – O Colonizador Portador de Cristo.

Mesmo sem que ele mesmo tenha nascido em Portugal, Colombo ilustra bem a tragédia histórica de Portugal, o resultado de inúmeros fatores específicos. Primeiramente, como resultado da perda de sua fé Ortodoxa, Portugal perdeu o Espírito Santo, o Espírito que havia sido trazido ao território português por S. Tiago, o Apóstolo. Em segundo lugar, Portugal teve suas ambições frustradas por séculos pelo Jugo Muçulmano. E em terceiro lugar, sua posição geográfica era tal na extremidade da Europa que Portugal sempre contemplava com curiosidade o sol poente através do misterioso Oceano Atlântico, fonte de tantas lendas.

E não menor entre estas lendas é a de que a Antiga Fé de Portugal poderia ser ainda encontrada além-mar, entre os sete bispos da Ilha das Sete Cidades. A idéia nacional e o ideal espiritual da alma de Portugal, uma alma peregrina desde a época de São Tiago Apóstolo, chegou a fruir no século XV quando partiram em na jornada pelo Espírito Santo, por Jerusalém, pelo Paraíso. No entanto, privados da orientação espiritual e sem guias, confundiu o terreno e o celestial, e os que partiram não encontraram o Paraíso, mas ouro, poder e as terras de povos primitivos. Não encontraram Jerusalém, mas a Babilônia, encontraram não um Império da alma, tal como S. Martinho de Braga uma vez lhes descrevera, mas um Império da terra.

Apenas este veneno pode explicar porque, depois de dois séculos de explorações heróicas entre 1384 e 1580, Portugal entrou em rápido declínio. Portugal não encontrou o Espírito Santo, mas ouro, poder e território; encontrou não o espiritual, mas o material e assim esqueceu e abandonou sua alma peregrina, traindo sua essência e ideal espirituais, sua peregrinação celestial, tornando-se apenas um agregado material. Portugal deixou de se desenvolver, deixou de trabalhar a si mesmo, perdendo seu grande ideal, seu destino espiritual e seu insight e decaiu, tornando-se uma nação esquecida pela Europa.

E hoje, tudo isso é lembrado não apenas pela palavra portuguesa ‘saudade’, que significa um desejar nostálgico e um anseio triste de um povo cuja alma peregrina está capturada entre o céu e a terra sem o Espírito Santo, mas também no lamento melancólico e assombrado da música tradicional portuguesa, o ‘fado’. E ainda assim temos certeza que quando a alma Portuguesa despertar para sua Antiga Fé, então grande será a festa de seus peregrinos ao reencontrar a fé de S. Tiago Apóstolo e dos sete bispos da Ilha das Sete Cidades.

Todos os santos da Terra Portuguesa, orem a Deus por nós!

Original aqui.