Governança e Questões Contemporâneas
Fundamentos
Igreja Católica Ortodoxa
A Fundação, a Cabeça Visível e Invisível da Igreja, seu Sumo-Sacerdote e Supremo Pastor é nosso Senhor Jesus Cristo. Bispos, padres e professores de toda ordem recebem esta vocação de Cristo para benefício da Igreja. O Guia e Condutor da Igreja é o Espírito Santo. Em questões de fé, doutrina e moral é Ele, e apenas Ele que nos ensina: "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito." (S. João 14:26). Este ensino não é através de êxtases místicos, nem de nenhuma linguagem incompreensível, mas através de atos da Providência que pode vir de qualquer fonte, pois o Espírito sopra onde quer (S. João 3:8). Por isso que a Igreja é chamada de "católica", palavra que vem da expressão grega "kata holos", ou "de acordo com o todo", pois o Espírito Santo se manifesta através de tudo e todos para ensinar e conduzir a Igreja.
O governo da Igreja é hierárquico. As maiores decisões da Igreja são tomadas através de concílios, também chamados sínodos. Decisões gerais dos concílios tomam a forma de credos, quando tratam de questões doutrinais, e cânones quando tratam de normas, regras. Estas regras são referentes à prática e à ética, não são leis no sentido usual da palavra. O símbolo visível da unidade é a própria fé ortodoxa.
Igreja Católica Romana
Tradicionalmente, a Igreja Católica Romana tem um estilo administrativo mais estruturado e hierárquico, com mais ênfase na lei e na obediência aos superiores que na Igreja Católica Ortodoxa. A Igreja Católica Romana entende que a palavra "católico" significa "universal", isto é, que está em todas as parte do mundo. O governo da igreja é centralizado. Toda autoridade depende da confirmação do Papa. Embora na prática o bispo local é que governe, pela lei canônica o Papa tem direito de sobrepor-se a qualquer bispo. O Papa é o símbolo visível da unidade da fé católica romana.
Bispos/Patriarcas
Igreja Católica Ortodoxa
Os Santos Apóstolos receberam de nosso Senhor Jesus Cristo igual poder espiritual. Todos os bispos são igualmente sucessores dos Apóstolos. Além disso, também os Patriarcas de Antioquia e Alexandria são sucessores de Pedro. O Patriarca de Antioquia é sucessor direto, e o de Alexandria através de Marcos, discípulo de Pedro. O lugar de "primeiro entre iguais" pertence ao Patriarca de Constantinopla desde que Roma desligou-se da comunhão católica ortodoxa. A liderança entre os patriarcas se dá por questões de tradição espiritual, histórica e canônica. Nenhum bispo, nem mesmo o Patriarca de Constantinopla é superior aos concílios ecumênicos, e nenhum bispo é considerado infalível, mesmo em questões restritas.
Igreja Católica Romana
O Papa é considerado o Cabeça Visível da Igreja e tem o chamado poder universal e ordinário de governo, isto é, ele pode não só escolher e detronar bispos como, ao menos em tese, suas ordens podem se sobrepor às do bispo local. A rigor ele é a única fonte de autoridade e unidade da Igreja na terra, e todos os demais membros do clero tem sua autoridade apenas como delegada dele, que os confirma em seus postos. Além disso, quando uma questão de moral ou doutrina fica sem definição, é possível que o Papa, após oração e jejum, faça um pronunciamento "ex cathedra", isto é, desde o trono e oficialmente, e esta declaração será infalível. Téologos e estudiosos das declarações do Papa discordam de quais e quantas declarações deste tipo já teriam ocorrido, havendo concordância apenas quanto ao dogma da Imaculada Conceição, que na visão de todas as Igrejas Católicas Ortodoxas é um erro doutrinário como visto na primeira parte desta série.
Apesar das aproximações e diálogos ecumênicos recentes, ainda são válidas as bulas papais que proclama a supremacia do papa. Entre estas bulas está Unam Sanctam, na qual consta a seguinte definição ainda válida para a Igreja Romana, embora quase nunca mencionada: "Além disto, declaramos, proclamamos, definimos que é absolutamente necessário para a salvação que cada criatura humana esteja sob a sujeição do Pontífice Romano."
Padres e Diáconos
Igreja Católica Ortodoxa
O presbitério foi instituído pelo próprio Cristo. Desde a era Apostólica, está organizada em três hierarquias: diácono, presbíteros (padres) e episcopos (bispos). Títulos como arquidiácono, arcipreste (de arqui-presbítero) e para bispos, arcebispo (de arqui-episcopos), metropolita ou patriarca representam funções, papéis, não novas hierarquias. O patriarca, o metropolita ou o arcebispo são tão bispos quanto seus pares, assim como o arcipreste é um padre que recebe uma ascendência de honra e dignidade, assim como alguns papéis administrativos diferenciados, mas continua padre como os demais, o mesmo valendo para o arquidiácono.
Embora o óleo do crisma seja abençoado apenas pelo bispo, os padres podem realizar o Crisma, como parte dos Ritos de Iniciação.
Seguindo a prática da Igreja desde o início, não se impõe o celibato a diáconos e padres. O padre ortodoxo não pode casar, mas o homem casado pode se tornar padre. Os bispos são escolhidos dentre os monges, os quais sempre fazem voto de celibato. Apenas homens podem fazer parte do clero.
Na Igreja Católica Ortodoxa, a graça do presbitério é natural da Igreja, isto é, um diácono, padre ou mesmo um bispo que abandone a Igreja *não* continua sendo bispo, padre ou diácono, pois esta ordem só existe enquanto participação na Igreja.
Igreja Católica Romana
Na Igreja Católica Romana o celibato é compulsório para o padre e o bispo, embora haja exceção para os padres de ritos bizantinos.
Na Igreja Católica Romana se crê no conceito de "marca indelável". Uma vez que a pessoa receba o sacramento da Ordenação e se torne padre ou bispo, mesmo que abandone a Igreja, continua sendo considerado padre ou bispo. Comparando com a Igreja Católica Ortodoxa, nesta, o sacramento da ordem é como um círculo de luz no palco. Quem sai do círculo de luz, já não a tem mais, e a luz não se move. Na Igreja Romana, o sacramento da ordem é visto como uma jóia que fica em posse do sujeito. Este pode partir e levar sua jóia consigo, até mesmo usando-a em público. Neste caso ele tem de fato a jóia mas a está utilizando de forma ilegítima. É assim que a Igreja Romana considera oficialmente o clero e a Eucaristia ortodoxos: válidos, porém ilegítimos.
Monasticismo
Igreja Católica Ortodoxa
Na Igreja Católica Ortodoxa não existem ordens monásticas. Todos os monastérios tem suas regras, buscando adaptar a sua realidade local as tradições ascéticas da Igreja.
Igreja Católica Romana
Na Igreja Católica Romana existem diversas ordens monásticas, cada uma com trajes, regras e devoções particulares, vistas como expressões diversas mas válidas da mesma fé.
Questões Morais Contemporâneas
Igreja Católica Ortodoxa
A Igreja Católica Ortodoxa mantém-se desde a era apostólica firmemente no campo pró-vida, recusando práticas contra a vida como o aborto e a eutanásia.
Quanto ao divórcio, a Igreja Católica Ortodoxa afirma veementemente o caráter pecaminoso e trágico do divórcio. Reconhe também, porém, que a condição quebrantada da alma humana faz com que pequemos até contra nossa vontade. E que existem situações em que um dos conjuges revela-se não um esposo ou esposa, mas um inimigo, um algoz. Condenando igualmente os casamentos e divórcios realizados por motivos frívolos, a Igreja atua com compaixão e permite um segundo e no máximo um terceiro casamento. Enquanto o rito do primeiro casamento é festivo e alegre, o rito do segundo casamento é penitencial, lembrando ao casal que um erro já foi cometido e que é pela misericórdia de Deus que recebem nova chance.
O Casamento tornam o homem e a muher uma só carne, uma só família. Divorciar-se é como realizar uma amputação. Ninguém deseja isso como primeira opção, pois é uma medida radical, séria e sempre com algum tipo de sequela que vai comprometer o modo de vida da pessoa. Mas como às vezes é necessário realizar a amputação para salvar a vida do paciente, a Igreja Ortodoxa age em espírito de perdão e amor, concedendo mais uma chance. Quando ocorrem divórcio e novo casamento é por concessão e exceção, não por regra.
Igreja Católica Romana
Os valores católicos romanos sobre aborto e eutanásia são os mesmos dos ortodoxos.
Quanto ao divórcio, na Igreja Romana é proibido em qualquer circunstância. Entretanto, a Igreja Romana reconhece que alguns casamentos foram "falseados" isto é, não continham todos os elementos de um casamento real, quando, por exemplo um dos noivos mente sobre algo de si para o outro, ou quando se reconhece a malícia ou má intenção de uma das partes na união. Nesse caso, o casamento é nulo, isto é, na prática nunca aconteceu porque uma das partes mentiu ou falseou as coisas de modo que a parte que aceitou não sabia o que estava fazendo.