quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Como é o Pedido de Casamento de um (futuro) Padre?

Glorificai comigo ao Senhor, juntos exaltemos o Seu nome.
Salmos 34:3


por Arcipreste Vladimir Berzonsky
Original: http://www.pravmir.com/the-girl-that-i-marry/

Na Rússia pré-revolucionária, quando um seminarista pedia em casamento a moça que esperava que fosse a companhia de sua vida, sua consorte ou "Matushka", ele enviava para ela uma nota com as seguintes palavras da Bíblia: "Glorificai comigo ao Senhor, juntos exaltemos o Seu nome". (Salmos 34:3) Vê o que elas sugerem? Você e eu com Deus para nos guiar através da vida com um propósito comum. Sim, casamento é sobre amor, mas também inclui a Fonte do amor, o maior modelo de afeto entre um homem e uma mulher, porque Ele dá sentido à própria vida. Que eles aumentem sua compreensão das ações poderosas de Deus na criação de modos que nem Adão e Eva poderiam ter alcançado. Glorificar o Senhor é aumentar nossas próprias almas e alargar suas perspectivas. Exaltar o Senhor é cantar-Lhe louvores ao Seu nome não apenas com nossas vozes, mas também com nossas ações. Nosso estilo de vida aumenta Sua glória muito além da canção de nossas orações.

Certamente a pessoa pode fazer tais coisas sozinha; entretanto, a oração "Pai Nosso" é fortificada quando dois ou mais pronunciam juntos a frase "santificado seja o Teu nome". Ela inclui toda a Igreja, não apenas globalmente, mas também todos os que nos precederam no descanso. A vida na paróquia e na comunidade em seu esforço conjunto para aumentar a consciência da presença de Deus em nossas vidas é uma forma gloriosa de "exaltarmos o Seu nome".

Essa bonita frase não é apenas para famílias de padres. Todo homem e mulher casados pode fazer dela seu lema. Quando duas pessoas escolhem casar-se na Igreja Ortodoxa, eles estão se comprometendo a receber o Espírito Santo em suas vidas. Ser coroado com honra e glória é assumir a responsabilidade por um reino que inclui o lar e os filhos. Pressupõe enfrentar os obstáculos que surgem de tempos em tempos para se opor e desafiar o casal real. 

É imperativo que o homem e a mulher cresçam juntos em respeito e apoio mútuos. Eles são como alpinistas amarrados um ao outro. Eles devem andar sempre para frente e para cima. Se um não se mantiver firme na sua ponta, o outro cairá com ele.

Mesmo quando eles compartilham as tarefas, exaltar o Senhor juntos significa que eles amadurecem para além do egoísmo. Tive muitos incidentes onde o casal agradecia o aconselhamento, elogiava o coral e a mim por um bonito casamento, e então deixavam de ir a Igreja, mesmo quando tinham sido membros formalmente ativos. De certa forma, eles prolongam a lua-de-mel para deixar todos os outros de fora. Quando o padrão de autossatisfação se torna a norma, somos separados da vida da Igreja e passamos a existir apenas na sociedade secular. Se o Senhor e a Igreja não têm mais lugar em seus lares e vidas, o que poderão esperar de seus filhos?

O marido deve lembrar que sua esposa é sempre sua melhor amiga. Você não deve nunca tratá-la como um objeto, ou, como nossa degradante cultura aprova, apenas uma bonita acompanhante para ficar expondo em eventos sociais. O motivo pelo qual OJ Simpson decaiu de herói do futebol americano para persona non grata em seu país não foi apena porque ele não foi condenado por assassinato, mas porque ele era incapaz de deixar a Nicole ser ela mesma. Para ele, ela era uma posse, não uma pessoa. E a esposa deve ter em mente: seu marido também é o seu próximo, na imagem que Jesus usou para explicar a definição da parábola do Bom Samaritano.

Nossa cultura é tão determinada em evitar o sacrifício e a dor que não faz praticamente nada para tentar restaurar a harmonia no lar - mas o Terceiro Parceiro do casal - Deus - nunca falha. O marido e a mulher são abençoados por Jesus Cristo, Ele que estava em seu casamento, assim como esteve em Caná da Galiléia, Ele que ouve todas as orações e escuta todo pedido de corações sinceros.



sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Intercomunhão com Roma IV: Pronunciamento do Patriarca Bartolomeu em 29 de Agosto de 2015

Caso restasse alguma dúvida sobre a questão de intercomunhão com Roma, vejam o pronunciamento do Patriarca Bartolomeu logo depois do meu comentário abaixo.

Todos são bem-vindos para assistir a Divina Liturgia, e fazem bem os Ortodoxos que vão conhecer a missa romana.

Mas não importa à Igreja Católica Ortodoxa o que Roma permite ou não permite no que tange à comunhão posto que separada da Igreja perdeu todas as prerrogativas de autoridade e não pertence mais a nossa comunhão. Apostolicidade não é apenas sequência ininterrupta, mas também fidelidade à fé dos apóstolos e é exatamente essa fidelidade que Roma e a Ortodoxia questionam mutuamente uma na outra.

Do lado da Ortodoxia, não é permitido sob circunstância alguma ao ortodoxo comungar em nenhuma outra igreja, nem mesmo romana, por semelhante que seja à nossa, assim como é vedado ao ortodoxo dar a comunhão a qualquer um que não seja ortodoxo, romanos inclusive. É inapropriado que ortodoxo ou romano se coloque na fila de comunhão da outra igreja, obrigando o padre ou bispo a ficar na "saia curta" de ou negar a comunhão na frente de todos ou cometer um pecado de concedê-la a quem não é permitido.

A permissão que o Papa deu para seu rebanho de que seria possível comungar na Igreja Ortodoxa é na melhor das hipóteses, uma medida mal-pensada e "entrona" como se eu dissesse ao meu filho que no caso de ficar muito distante ou sem acesso a esposa dele, ele pode beijar a *sua* esposa. E ainda te acusasse de "radical" e "hostil ao diálogo" por não deixar.

De nossa parte, o nosso dever é testemunhar que quem deseja o maior e mais íntimo dos sacramentos ortodoxos, deve desejar toda a fé ortodoxa e todos os sacramentos, inclusive o batismo e/ou crisma. Se for romano, nossa esperança e desejo ardoroso é que complete sua conversão tornando-se católico ortodoxo antes de mais nada, e partilhando assim da plenitude da fé conforme foi entregue por Cristo aos Apóstolos de uma vez para sempre, sem prejuízo de nossa esperança mais ampla a respeito da Sé Romana de ver a realização da oração sacerdotal de Jesus, onde Ele roga ao Pai que "Todos sejam um" (Jo 17:21) que se realizará com o retorno de todos os cristãos à Igreja Católica Ortodoxa.



Trecho do Pronunciamento de Sua Santidade Patriarca Ecumênico Bartolomeu à Sinaxis dos Hierarcas do Trono
(Sobre como interagir com as heterodoxias nas terras não-ortodoxas)

Somos obrigados a reconhecer que a era de comunidades e nações religiosas puras já passou e as pessoas são chamadas a receber a alteridade como um elemento constitutivo de nossas sociedades se não desejam caminhar na direção do conflito e do tumulto.
A coexistência dos ortodoxos com outros cristãos hoje em dia compõe uma realidade inevitável na área da diáspora e espalha-se rapidamente mesmo dentro de nações e sociedades que era anteriormente exclusivamente ortodoxas. Isso obriga nossa Igreja a adaptar toda sua vida pastoral com o princípio de economia. 
Portanto, por exemplo, o aumento do número de casamentos mistos é agora uma realidade que compele a a Igreja a aceitar orações e cultos comuns com os não-ortodoxos, o que já é feito em todas as igrejas ortodoxas. 
Isso de nenhuma forma é um desvio do elemento fundamental que continua a dividir os ortodoxos dos outros cristão, que se trata da comunhão da Santa Eucaristia e pressupõe concordância completa com a fé de nossa Igreja. Nesse último ponto, não pode haver exercício de economia.