Olá amigos!
Acabei de postar este texto na comunidade "Apologética Ortodoxa" do Orkut, em uma discussão sobre o papismo, e achei interessante compartilhar.
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O "fundamento" Escritural do papado está em S. Mateus 16:18 ("Tu é Pedro...te darei as chaves...etc. etc) e João 21:15ss (Pedro, tu me amas? ... Apascenta minhas ovelhas...). Tudo o mais roda em torno da interpretação destas passagens, são leituras subordinadas a elas.
Na obra patrística são notórias três interpretações:
1) a rocha a que Cristo se referia em S. Mateus 16:18 é o próprio Cristo;
2) é a confissão de Pedro;
3) é o próprio Pedro.
Esta tríplice interpretação é um fato que ninguém pode negar. Naturalmente os papistas hierarquizam-nas e entendem 1 e 2 subordinadas a 3.
O ponto, porém, é que os Pais *não* hierarquizam. Apenas logo antes e após o advento do papado como o conhecemos é que surgem "pais" que lêem desta forma.
Fica evidente, portanto que perante os Santos Pais da Igreja essas três leituras não possuem prescedência e que o destaque da terceira foi e é, puramente discurso ideológico. Tanto é assim que os Pais não raram observavam que logo em seguida Pedro é chamado de Satã também e é um trecho só.
Oras, Cristo elogia a fé de Pedro e logo depois reprova sua fraqueza. Afirma com todas as palavras que só o Espírito Santo poderia ter feito S. Pedro dizer aquilo e, a despeito disso, S. Pedro comete um erro em seguida.
Tudo que está no trecho é verdade sobre S. Pedro. Tanto sua fé, quanto sua falibilidade.
De todo modo, a dúvida perante as três interpretações, o ideal seria se pudéssemos perguntar a Cristo ou a S. Pedro diretamente o que aquelas palavras queriam dizer exatamente.
E, de fato podemos. O trecho abaixo é um exercício estilístico, mas a despeito da forma, o argumento central, como verão ao final, permanece.
Entrevista com São Pedro.
Ancião Pedro, sua benção.
A graça e a paz vos sejam dadas em abundância. Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! I Pedro 1 2:3
Ancião Pedro, tu sabes a polêmica que se formou sobre a tua abençoada confissão naquele dia em que Nosso Senhor perguntou para os apóstolos quem pensavam que Ele era e tu respondestes: "O Cristo, o Filho do Deus vivo".
Muitos dizem que então Cristo afirmou que tu mesmo, Pai Pedro, seria a pedra que fundamenta a Igreja e que portanto ninguém poderia ser Igreja sem estar achegado aos "bispos" de Roma que se proclamam seus sucessores. Foi isso que Ele quis dizer?
Por isso lê-se na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida, preciosa: quem nela puser sua confiança não será confundido (Is 28,16). Para vós, portanto, que tendes crido, cabe a honra. Mas, para os incrédulos, a pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a pedra angular, uma pedra de tropeço, uma pedra de escândalo (Sl 117,22; Is 8,14). Achegai-vos a Ele, pedra viva que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus;
I S. Pedro 2:6.7 e 4
Mas há presbíteros que dizem que tu és presbítero acima deles, aliás, acima de todos!
Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles.
I S. Pedro 5:1
Seus "sucessores" dizem que em seu nome têm o direito de governar toda Igreja. Por um tempo chegaram a dizer que é uma doutrina de duas espadas, o "líder" da Igreja precisando também da dominação secular para exercer seu ministério.
Supondo que apenas em Roma houvessem bispos ordenados por ti, quais foram tuas instruções para eles?
Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende cuidado dele, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de interesse sórdido, mas com dedicação, não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos.
I S. Pedro 5:2,3
Eles dizem que o homem que se proclama bispo de Roma é o Supremo Pastor da Igreja...
Quando aparecer o Supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível de glória.
I Pedro 5:4
E dizem também que esse mesmo homem tem a palavra final sobre o significado das Escrituras.
Princípio esse, aliás, que os grupos chamados protestantes aplicam mais "democraticamente" a cada um de seus membros.
Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal.
II S. Pedro 1:20
Eles dizem que têm santos e grandes doutores da fé...
Assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina. II S. Pedro 2:1
Essa ruína repentina tem alguma coisa a ver com a imagem ruim que o caminho de Cristo possui hoje?
Muitos os seguirão nas suas desordens e serão deste modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado.
II S. Pedro 2:1
E quanto àqueles grupos, os tais protestantes, que prometem a liberdade da Tradição e dos ritos para uma relação "pessoal" com Deus e uma livre interpretação das Santas Escrituras?
Prometem-lhes a liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois o homem é feito escravo daquele que o venceu.
II S. Pedro 2:19
Obrigado Pai Pedro! Alguma benção final para os cristãos ortodoxos de todo o mundo?
Vós, pois, caríssimos, advertidos de antemão, tomai cuidado para que não caiais da vossa firmeza, levados pelo erro destes homens ímpios. Mas crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele a glória agora e eternamente.
II Pedro 3:17,18
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Recursos estílisticos a parte, eis aí: S. Pedro, que foi quem participou da conversa, entendia que a pedra era o próprio Cristo.
Nós vemos S. Paulo, em suas epístolas, com humildade, admoestar os seus filhos espirituais a imitá-lo. Se S. Pedro tivesse alguma proeminência secular na Igreja, suas espístolas seriam o lugar de dizê-lo e não seria falta de humildade dizê-lo. Ao contrário, ele reafirma que a Pedra Angular da Igreja, seu único Supremo Sacerdote é o próprio Cristo. Amém!
Paz do Senhor a todos. O conteúdo do site é muito bom. Mas confesso que a utilização do texto de 2 Pedro 2.19 para se referir a não observância da Tradição pelos protestantes é frustrante, ainda mais tratando-se de artigo escrito por estudiosos das Escrituras. No contexto Pedro se refere aos homens que andam segundo a carne (verso 10 em diante), os quais embora tenham conhecido a Cristo, foram vencidos pelas concupiscências relatadas em 1 João 2.16. Ou seja, amam mais os prazeres do que a Deus. A liberdade mencionada pelo Apóstolo é concernente à "liberdade" para fazer o que apraz ao homem e desagrada a Deus. Acreditam estar livres, mas são escravos do pecado (João 8.34). No demais, Cristo é a pedra fundamental da Igreja e nisso concordamos.
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