sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Um Debate entre um Cristão e três Muçulmanos no século XII

Medieval Sourcebook:
Um Debate entre um Cristão e três Muçulmanos no século XII


Traduzido para o inglês por Karim Hakkoum e Pe. Dale A. Johnson em 1989

Traduzido do inglês para o português por Fabio Lins em 2006

Tradução inglesa copiada com permissão de
http://www.teleport.com/~hamarabi/posts.html, dalej@colubs.com

Tradução em português feita a partir da inglesa que se encontra em:
http://www.fordham.edu/halsall/source/christ-muslim-debate.html

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Este documento notável é parte de um gênero mais amplo de literatura cristã. Embora datado de 1165, o documento está nas mãos da família do falecido Karim Hakkoum de Portland, Oregon, foi obtido e aparentemente copiado por seu pai em 1914 em Aleppo, Síria.

Publicamos a primeira das três seções deste registro de um debate entre o abade cristão Jorge e os clérigos muçulmanos sob a proteção de Saladino.

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Introdução

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, um só Deus, amém. Com o auxílio de Deus, começamos a registrar o debate que ocorreu entre o monge Jorge e três teólogos muçulmanos, na presença do príncipe Al-Khana, Al-Mushar Abul-Mulk, Gazi Al-Zaher Usef Ibn Ayub Al-Salah, o rei muçulmano de Alepo e Síria, e durante o reinado de Leão, o Armeno, filho de Etienne, Rei da Tribo Armênia, em outubro de 6615 do nosso Pai Adão e 1165 do ano do Senhor. Que Deus nos ajude! A história conta que o abade do convento de "S. Simão Pescador" fez uma visita ao rei de Alepo em sua moradia. O abade estava acompanhado de alguns monges. O rei lhes deu boas-vindas e ordenou que se lhes providenciassem todas as necessidades e permitiu que ficassem na tenda de seu pai. Entre os seguidores do abade estava um velho monge muito versado em conhecimento. Falava bem também. Todos gostavam dele. Entrara para o
convento na infância e aproveitara os livros de lá, adqüirindo as virtudes e boas maneiras dos monges. Tinha sido o abade por muitos anos até ficar velho e chamava-se monge Jorge. Quando encontrou com o príncipe, invocou Deus sobre ele.

O príncipe ficou agradecido e pediu-lhe que sentasse. Quando o abade foi convocado pelo rei para realizar suas ordens, o príncipe pediu ao monge Jorge para ficar e continuou a conversar com ele, perguntando sobre o convento e o modo de vida dos monges. Vamos relatar agora as perguntas do príncipe:

Debate sobre a natureza da vida monástica

O príncipe – Ó monge, vocês não comem carne nunca?

O monge – Não. Não comemos nenhuma carne.

O príncipe – Vocês não se casam?

O monge – Não, príncipe; ao contrário, evitamos as mulheres.

O príncipe – Por que? Isso é de Deus? Mas ele criou a humanidade como homem e mulher. Ele disse também: "....tenham carne para comer". Você pode comer a carne.

O monge – Não proibimos a carne. Mas tencionamos ter uma vida leve, não material, com objetivo de estarmos próximos de Deus deixando nossos corpos mais leves. O ferro é purificado de suas impurezas ficando perto do fogo. E assim como a água se torna mais clara, a água
permite que os raios do sol a penetrem – Não percebe que os raios permitem que a luz atravesse desde que seja leve e transparente? A razão, Ó príncipe, que está dentro de nós é de Deus, e torna-se escura com uma vida de luxos, e nos mantém distantes de Deus na proporção de
sua escuridão. E com a distância de Deus, nos apegamos às coisas materiais e à vida presente. Não evitamos apenas carne e mulheres, mas todo tipo de deleite corporal e todas as seduções dos cinco sentidos.

Esperamos, pelo uso de tais privações, obter a Graça de Deus em Seu reino eterno. Ele disse "você não obterá a alegria no mundo eterno, se não suportar as tristezas e dificuldades do mundo perecível."

O príncipe – Ó monge, você está bem certo. Mas, Deus nos concedeu este e aqueles.

O monge – Nosso Deus permitiu-te que faças como quiserdes e deu-te a liberdade de desfrutar as felicidades corporais quando Ele disse: "Irei dar-te no Céu um rio de leite, um rio de mel e mulheres bonitas".

O príncipe e o monge assim falavam quando três teólogos vieram ao príncipe e o saudaram. Ele ordenou que se sentassem. E quando viram o monge, eles falaram com o príncipe em turco, dizendo "De onde é este monge? Com que propósito está em vossa presença?"

O príncipe: Este monge é do convento de São Simão e veio até nós com outros monges para resolver alguns problemas com o Sultão. O que acham da aparência dele?

Um deles, chamado Abu-Zaher, de Bagdá, disse: "Que eu seja vosso resgate, Ó príncipe, pois ele possui uma boca sorridente e um belo rosto. Que lástima que seja cristão."

O príncipe: Vocês gostariam de ter um debate com ele sobre religião?

Eles responderam que sim.

Debate sobre a natureza salvífica de Deus

Então, eles se entreolharam. Um deles, chamado Abu-Salamah Ibn Saad, de Mossul disse:

Abu-Salamah --"Ó monge, reverenciamos e honramos vosso Cristo e O colocamos acima de todos os profetas exceto Maomé, profeta e apóstolo de Deus. Mas vós, cristãos, o menosprezam e não o honram, enquanto Deus o honrou e inspirou com o Corão, como uma luz e misericórdia. Não concordais que ele é o Profeta de Deus; por isso ele os irá confrontar na Ressurreição.

O monge – Abu-Salamah, toda pergunta tem resposta. Mas não viemos à vossa casa para ter um debate religioso convosco, mas como pedintes. Não precisamos conversar convosco senão sobre o que vos agrada; porque sabemos que a fúria é vossa e que contais vantagem sobre tal fato. Um
homem sábio disse: "Seja cuidadoso com eles enquanto viver na casa deles".

O muçulmano – Temei a Deus, ó monge, por causa do que falastes. Somos um povo de lei e justiça; e ninguém aqui deseja discutir contigo com má-fé.

Então, o príncipe olhou para o monge e disse: "Ó monge, sou nascido de uma mulher grega (N.T. significando cristã). Então, respondas como quiser, sem medo.

Então ele tirou seu próprio selo do dedo e o pôs no dedo do monge.

O monge – Abu-Salamah, não queremos falar mentiras ao invés da verdade. Mas tememos que tragas mentiras seguindo a grosseria da tua natureza. Não disseste tu que nós não everenciamos Maomé, nem confessamos que ele é Apóstolo de Deus? Pois bem, pois iremos dar-te
provas de Deus claras disto.

O muçulmano – Tu jamais terias sucesso algum nisto, mesmo que tentasses tais tarefas impossíveis.

O monge – A verdade irá aparecer. Abu-Salamah, não confessas que Deus criou todas as criaturas?

O muçulmano – Sim todas as que existem no céu e na terra, tudo que é visível e invisível foi criado por Deus, por Sua vontade.

O monge – Há algum povo criado por Deus e algum povo criado por outro Deus?

O muçulmano – Não! O criador os criou, Ele é o Único Deus que adoro e não há outro Deus!

O monge – Pensas que Deus deseja a salvação de todo o mundo ou que Ele quer salvar apenas um povo específico entre as Suas criaturas e destruir o resto? Não confessas que Deus é rico, generoso e magnânimo? Se não, então atribuis avareza a Deus; como o homem que preparasse
comida para cem pessoas mas quando elas chegassem, ele as expulsasse dizendo: "Vão embora, não tenho comida para vós!", deste modo demonstrando sua avareza.

O muçulmano – Confesso que Deus é rico, generoso, magnânimo e o Criador de todas as criaturas e que Ele deseja a salvação de todas.

O monge – Se Deus quer a salvação de todo o mundo, Seus mensageiros devem ser enviados ao mundo todo, também. E qualquer um que pretenda ser um mensageiro de Deus precisa corroborar esta asserção; ele precisa de um poder de Deus para confirmar sua mensagem.

O muçulmano – Qual é este poder e sinal?

O monge – Aqueles que possuíam os Apóstolos de Cristo

O muçulmano – Qual é esse poder?

O monge – São três: fazer milagres, falar várias línguas e evitar as coisas mundanas. Vós porém possuís as três características opostas.

O muçulmano – Como o quê?

O monge – A ameaça com a espada, os tributos e a culpabilidade. Estes traços podem ser vistos em Maomé. A evidência da autoridade de Deus está nos Apóstolos.

Então, o monge virou-se para o príncipe e disse: "Por Deus, Ó príncipe, se alguém viesse a ti agora fingindo ser um mensageiro do Rei perante ti com tal e tal propósito, e não encontrasses nele nem carta nem selo do Rei, acreditarias que ele é o mensageiro do Rei?"

O príncipe – Por Deus, não! Ao contrário, eu o consideraria como um mentiroso e um traidor.

O muçulmano – Quais são os sinais e provas dos Apóstolos de Cristo atestando sua aquisição do poder de fazer milagres, de falar várias línguas e de pregar para o mundo inteiro?

O monge – O sinal está perante vós e a prova é evidente: em qualquer direção em que olhardes, leste, oeste, sul ou norte, encontrarás a devoção ao Cristo nas regiões mais longínquas do mundo. Nenhuma região está sem tal devoção. Isto é uma prova evidente de que os Apóstolos de
Cristo viajaram através do mundo inteiro e falavam todas as línguas.
Não podeis encontrar um povo, uma língua ou boca sem o conhecimento de Cristo. O profeta Davi predisse isto quando disse "Eles foram por todo o mundo e suas falas cresceram nas regiões do mundo". Isto também é uma prova evidente de que os Apóstolos falavam todas as línguas.
Tendes vós, Abu-Salamah, alguma dúvida sobre estas duas coisas?

Abu-Salamah – Isto é evidente, sem dúvida. O sermão do Poder e do Sinal.

O monge – Provarei, agora, que faziam milagres, não pela força de suas palavras, mas pelo poder dO que os enviou, a partir da submissão dos povos bárbaros a eles. A pregação deles não era dependente da tolerância, nem da ameaça, nem da espada. Eles não tomavam dinheiro.
Eram, na maioria, pescadores analfabetos e fazedores de tendas. Mas os poderes recebidos de Cristo os ajudaram a governar este mundo. Quando o Cristo os enviou para pregar ao mundo, Ele entrou na sala onde se encontravam após Sua Ressurreição, enquanto as portas estavam
fechadas.Ele lhes deu a paz, primeiro porque estavam temendo os judeus. Então ele assoprou neles e disse, "recebam o Espírito Santo.
Este Espírito será a sua voz. Por esta voz, irão levantar os mortos, curar os doentes e derrotar reis. Se remirdes os pecados do povo, eles serão perdoados, mas se os renegarem, eles o serão. Dêem de graça o que de graça recebestes". Ele lhes disse também "Não levem cajado, nem
sacola, nem comida, nem tenham duas roupas ou dois sapatos. Não levem cobre em sua bolsa" Agora, digam-me o que é mais forte do que tais sinais? Se me disserdes que as ordens deles foram suaves demais, responderei que não foram deles, mas de Cristo, seu Mestre e aqui
estão: "Quando lhe baterem na face direita, oferecei também a esquerda" e "se alguém quiser sua roupa, dê o casaco também"; e " se alguém vos fizer andar uma milha, vá com ele duas milhas. Amem vossos inimigos. Abençoem os que os perseguem. Façam o bem aos que vos
afligem". Diga-me, quem poderia escutar tais ordens e aceitá-las, se milagres não assombrassem o mundo inteiro? Então, eles acreditaram nos Apóstolos e confiaram na sua pregação. Vede, Ó Muçulmanos, na pregação dos Apóstolos, como pregavam para os oradores, sábios e reis dizendo:
"acreditem em Deus. Ele nasceu de uma mulher; Ele comia comida e bebia água; foi surrado e chicoteado; as pessoas debochavam Dele e cuspiam na face Dele; eles O esbofetearam e colocaram em Sua cabeça uma coroa de espinhos; Ele foi crucificado e enterrado; mas levantou-se dos mortos". Ninguém acreditava neles. As pessoas debochavam deles,
negavam o que diziam, batiam neles e os expulsavam. O Apóstolo disse: "Povo, se negais nossa pregação, iremos provar a verdade. De fato, levem-nos aos aleijados, cegos e leprosos, e também aos loucos, perturbados e mortos". Eles diziam. "Em nome de Jesus Cristo de Nazaré, levanta-te, ó falecido!" E a pessoa levantava dos mortos. Assim como outras doenças, que também eram curadas. Então, o povo acreditava neles e adoravam ao Deus deles, pois seus atos testemunhavam por eles. Alguns fechavam os olhos e os ouvidos, como a cobra que fecha a audição para evitar escutar a voz do mágico. Mas os que adoravam a Satã, através do adultério, da voluptuosidade, do vício, da avidez e cujo objetivo era satisfazerem os desejos de seus
corpos, todos estes tornaram-se como fumaça e suas adorações idólatras se acabaram. Os céus, a terra, Deus e seus anjos testemunham que os Apóstolos eram os mensageiros de Cristo e que a religião deles é a correta. E vosso profeta, Maomé também testemunhou por eles, dizendo
no Corão: "Nós inspiramos o Corão como uma luz e uma orientação e confirmando o que está nas mãos deles (cristãos) da Bíblia e do Evangelho". Então, se vosso profeta e vosso livro confirmam o Evangelho, vós também deveis fazer o mesmo, ou estarão tratando vosso profeta e vosso livro como mentirosos.

Debate sobre a integridade dos Evangelhos

O Muçulmano – Eu confio no Evangelho e no seu conteúdo, mas vós o alteraram de conformidade com vossos interesses.

O monge – Não digam algo que não podem provar, porque, no fim, ficarão envergonhados, como aquele que prefere cobrir a luz do sol. Diga-me, Abu-Salamah, quantos anos se passaram de Cristo até Maomé?

O muçulmano – Não sei.

O monge – Eu respondo: de Cristo até Maomé, seiscentos e alguns anos se passaram.

O príncipe – Estás certo monge. É o que encontramos na história.

O monge – Haviam, então, Cristãos em todo o mundo?

O muçulmano – Sim, haviam.

O monge – Assim como hoje?

O muçulmano – Sim e mais do que hoje.

O monge – Poderíeis vós contar o número de Evangelhos que existiam naquela época no mundo nas várias línguas?

O muçulmano – Não poderíamos.

O monge – Vamos supor que algumas pessoas no Ocidente tenham alterado seus Evangelhos. Então, como eles poderiam comunicar-se com os que estavam no fim do mundo no Oriente? O mesmo serve para os que estavam no Norte em relação ao Sul. É impossível. Se tal fosse possível, estaríeis defrontando-vos com os Evangelhos apócrifos de parte dos cristãos. Porém, se fizerdes uma viagem ao redor do mundo, encontrarás os Evangelhos em vários lugares análogos aos que foram recebidos dos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sem diferença nenhuma entre eles, nem mesmo em uma letra, a não ser pelas particularidades de cada língua. Presto-vos, então, um exemplo que permitirá que acrediteis em mim: Se alguém vos mostrasse um Corão diferente do que conheceis, e dissesse, "este é o Corão inspirado pelo Profeta", sem sê-lo, vós o aceitarias?

O príncipe – Não, ao contrário, nós o mataríamos e queimaríamos o seu livro.

O monge – Como podeis comparar o Mestre e o servo, o Criador e a criatura ou Deus e o homem?


Debate sobre a integridade de Maomé

O muçulmano – Não sabeis, monge, que Maomé governou os árabes e que é o Profeta e Mensageiro de Deus, porque guiou os descendentes de Ismael e os converteu da idolatria à adoração do Deus Vivo, como fez o Cristo e seus Apóstolos?

O monge – Eu sei que Maomé governou os árabes e os passou da idolatria tendo-os feito ouvir falar de Deus, mas não ao verdadeiro conhecimento, porque seu objetivo era governa-los para possuí-los sob sua jurisdição, muito mais do que lhes dar informações sobre o Criador. Se puderdes ser um pouco pacientes e acalmar-vos, dar-vos-ei um testemunho em meu nome e de todos os cristãos a respeito do seu profeta Maomé, para deixar-vos sabe porque não o honramos, nem o chamamos de Profeta ou Mensageiro.

O muçulmano – Já que o príncipe permitiu que falásseis como quiserdes e vos deu proteção e permissão para falardes do Islã, podeis dizer o que quiserdes.

O príncipe – Abu-Salamah, o monge falou em acordo com a verdade e como aceitável pela razão.

Abu-Salamah – Diga-nos o que tendes sobre Maomé.

O monge – Deveis saber, Abu-Salamah, que Maomé era da tribo dos Coraixitas e descedente de Ismael, filho de Hagar, a egípcia, escrava de Sara e esposa de Abraão. Ele era um árabe nômade e mercador de camelos. Em suas viagens, veio a Jerusalém onde foi bem recebido por um cristão nestoriano chamado Buheira. Quando perguntou a Maomé sobre sua religião, descobriu que ele era um pagão. Estes eram os filhos de Ismael. Eles idolatravam um ídolo chamado Al-Akbar (o maior). Costumavam por em volta dele poemas de desejo e amor escritos em tabuinhas que suspendiam em volta do ídolo. Eles serviam de preces e foram chamados de os sete "usudallakat" (suspensos). Quando Buheira descobriu que Maomé era daquela tribo, teve simpatia por ele, devido a similaridade das línguas, a amizade e o desejo de conhecimento. Então leu para ele alguns capítulos do Evangelho, da Bíblia e dos Salmos. Quando voltou para casa, ele disse para os amigos: " Ai de vós! Estais em grande erro e vossa adoração é nada e sem objetivo". Eles lhe
disseram: "Qual seu problema, Maomé?" Ele respondeu: "Encontrei o verdadeiro Deus". Eles perguntaram: "Qual o nome dele?" Ele respondeu "Seu nome é Allah(A Divindade). Ele criou o céu e a terra e todas as criaturas entre eles. Ele me enviou a vós como uma luz e sinal de compaixão". Eles disseram: "Poderias mostra-lo a nós para sabermos onde Ele está?" Ele disse"Ele mora no céu e vê tudo, mas é invisível".

Eles lhe responderam: "Temos uma divindade que adoramos e honramos. Herdamos esse culto de nossos ancestrais que nos deram a liberdade de satisfazer nossos desejos com tudo que possuímos". Então Maomé lhes disse: "O que me enviou a vós disse-me que concede-vos o que é melhor e maior do que o que dizes". Eles perguntaram: "O que é?" Ele disse "É um paraíso para onde Ele vos leva após a morte. Lá há comida, bebida e mulheres". Eles perguntaram: "Qual é a forma dessa bebida, comida e mulheres?" Ele respondeu: "Rios de mel, leite e vinho, com lindas
mulheres; lá não sentireis sede nem tereis lágrimas". Eles disseram "Sois o Mensageiro de Deus?" Ele respondeu "Sou." Eles disseram "Tememos nosso deus Al-Akbar" Ele disse "Adorem a Deus e honrem Al-Akbar". Alguns deles disseram: "Acreditamos em Deus, dissestes a
verdade." Então ele passou para outro grupo de coraixitas, a tribo de Maomé. Ele, mais tarde encontrou outro grupo. Tais pessoas deixavam que seus homens casassem com as filhas. Tais eram seus costumes, antes de conhecer a Deus. Maomé escreveu a Buheira tudo que lhe tinha
ocorido. Buheira proibiu aqueles costumes e, com grandes esforços, teve sucesso em leva-los às primas. Quando obteve aderentes suficientes dos árabes e de sua aristocracia, alguns continuaram reticentes. Ele então desejou a monarquia para si e formou um destacamento armado para lutar com quem o contradizia e disse : "Os que entrarem no Islã estarão seguros" e disse "Os habitantes do céu e da terra entrarão no Islã por vontade própria e alguns pela força."
Então, atacou um grupo, convenceu o outro com palavras adornadas e argumentos. Seu objetivo era governá-los e apressá-los a alcançar as mulheres, pois ele era muito ávido delas. Ele as desejava intensamente. Confirmando isto, ele não se sentia satisfeito com suas numerosas mulheres, mas desejou a esposa de Zeid quando a viu e a tomou dele pela força, fingindo que Deus a deu a ele por esposa e não a Zeid. Ele falou a seus seguidores sobre isto assim " Depois que Zeid atingiu seus desejos com ela, Nós (Deus) a demos a ti como esposa, Maomé". Ele fingiu que Deus o inspirou a fazê-lo. Mas seus seguidores disseram: "Mensageiro de Deus, o que Deus vos concedeu não é permitido a mais ninguém".

O muçulmano – Maldição sobre tu, incircunciso! Zeid pedira a ele que a tomasse e jurou que ela seria desleal por ele.

O monge – Ele fora obrigado, ou teria o mesmo destino que outros.

O muçulmano – O que ocorreu então?

O monge – Não ouvistes sobre o beduíno assassinado por seu profeta, na cama, enquanto Deus proíbe até que matemos os pássaros em seus ninhos? E quando perguntado por seus seguidores "Quem matou o escravo?" respondeu "Minha espada".

O muçulmano – Se encontras alguns defeitos na vida de Maomé para acusá-lo, então deveis confessar que ele teve a maior e mais importante honra e o maior crédito perante Deus pelo que fez aos descendentes de Ismael.

O monge – Ele os guiou seguindo sua vontade própria, não como Deus gostaria. E Maomé não ignorava que ele e vós estão longe da verdade e do caminho correto, dizendo "Eu não sei o que é de mim ou de vós. Estamos na claridade ou na escuridão?" Ele disse também: "Temam Deus o
mais que puderdes, talvez alcançareis sucesso". E ele determinou que em cada oração vós peçais que sejam guiados ao caminho correto, "Guia-nos, Ó Deus, ao caminho correto". Então, se estais corretos, não precisais pedirdes pela correção. Mas ele pede a Deus por ajuda. Mas desconsideremos o que foi dito. Vejam este exemplo. Suponha, Ó príncipe, que eu deixasse vossa presença em busca de sem sair do caminho para a pátria-mãe. Não precisarei de orientação mas de ajuda para chegar na Pátria-Mãe.

O príncipe – Certamente.

O monge – Se Maomé sabia que vós estáveis caminhando no caminho correto, não vos ordenaria pedir a Deus orientação e maturidade. Além disto, sabendo que sua oração não era aceita por Deus, ele ordenou a vós que orásseis por ele, e vos disse, "Vós, crentes, orai por ele, e lhe garantam a salvação".

O muçulmano – Não sabeis vós que Deus e Seus anjos oram por Maomé? Não teríamos nós que orar por ele também?

O monge – Deveríeis preferencialmente orar por vós mesmos e pedirdes perdão para vós mesmos para não serdes como o que tem fome e pede comida para outros; ou como o que sofre um ferimento e pede medicina para outra pessoa. Então, se vós, com Deus e Seus anjos, oram por
Maomé, quem irá aceitar vossas orações? Se tal é vossa opinião, igualais Deus e os anjos com a humanidade.

O muçulmano – A oração de Deus é uma graça concedida aos seus adoradores.

O monge – Quem se beneficiou da graça de Deus e de seus anjos não precisa de orações. Fazeis melhor em orar por vós mesmos.

O muçulmano –Não oram vós, Cristãos, pelo vosso Cristo?

O monge – Absolutamente não! –Ao contrário, oramos para Ele, porque ele é nosso Deus e Criador, e Ele aceita nossas orações como Seus servos se eles as fazem, e perdoa nossas faltas.

O muçulmano – Mas que blasfêmia mais evidente e péssima idéia! Vós adorais a um homem criado, nascido de mulher, que sofreu ignomínia. Tal é o que vós confessais, e tu, monge, não o negas. Debochais com insolência de nosso Profeta Maomé, o Escolhido.

O monge – Sobre minha vida, não falei de nada de mim mesmo, mas de vosso Livro e vosso Corão. Não confessais que Maomé era beduíno e coraxaíta?

O muçulmano – Sim.

O monge – Não sabeis que ele possuía muitas mulheres, algumas contra e algumas concubinas? Não concordais que ele era desejoso de mulheres e que usava a espada para matar os que o desobedeciam, e que tomou a esposa de Zeid?

O muçulmano – Sim, era a ordem de Deus, pois Deus o inspirara a fazê-lo.

O monge – Não confessais que ele morreu e que foi enterrado com trinta membros com ele sob o solo? Mencionamos apenas alguns dos atributos do vosso Profeta, os quais admitis. Por que contestais então?

O muçulmano – Maldito sejas! Contestamos que fazeis de Deus uma criança, e que Cristo é filho de Deus e que ele seja o Deus Eterno e Criador das criaturas enquanto ele é humano e nascido de uma mulher e Deus o considera como Adão a quem disse: "Seja!" e ele foi.

O monge – Então, Abu-Salamah, acreditais em tudo que vosso Profeta mencionou em vosso livro e que foi inspirado por Deus?

O muçulmano – Sim, tudo escrito no Corão foi inspirado a Maomé.

O monge – O Corão não menciona que Cristo é o Espírito de Deus e Sua Palavra dada por Deus à Maria?

O muçulmano – Mas não palavra eterna e sim criada.

O monge – Já foi Deus, em algum tempo, mudo, surdo ou vazio de qualquer palavra ou espírito?

O muçulmano – Deus me livre! Deus, sua Palavra e Espírito sempre foram presentes.

O monge – É a palavra de Deus Criadora ou criada?

O muçulmano – Criadora.

O monge – Vós adorais a Deus junto com seu Espírito e Palavra, não é?

O muçulmano – Eu adoro Deus, Sua Palavra e Seu Espírito.

O monge – Diga agora, então, "Eu acredito em Deus, em Seu Espírito e
em Sua Palavra".

O muçulmano – Eu acredito em Deus e em Seu Espírito e em Sua Palavra. Mas eu não faço deles três, mas um Deus.

O monge – Tal é minha opinião também; e minha crença e aquela de todos os cristãos de fé Ortodoxa. Eu gostaria agora de explicar os significados da Santa Eternidade: o Pai é Deus; o Filho é Sua Palavra; e o terceiro é o Santo Espírito.

O príncipe estava deitado. Então levantou-se, olhou o muçulmano, deu uma gargalhada e disse: "Abu-Salamah, o monge o cristianizou e o introduziu na religião cristã; és então um cristão!"

Abu-Salamah estava furioso. Então, um jurisprudente chamado Abul-Fadl Al-Halabi, disse a seus amigos: Se tivésseis me permitido desde o início, eu teria dialogado com o monge e vos mostrado sua derrota.

Então, ele olhou para o príncipe e disse: "Estejais informado, Ó príncipe, que os não-crentes estão no fogo do inferno e que quem quer que se lhes aproxime queima a si mesmo e Satã, que é o espírito da tirania, fala pelas bocas deles".

O monge – Por que nos insultais? Por que atribuís a nós o que vos é próprio e ao vosso profeta? Não falamos e provamos que Cristo é o Espírito de Deus e Sua Palavra a partir de vosso Corão e vosso Profeta? Se tendes certeza que o que mencionamos é satânico, é de vosso Profeta e Livro que falamos.

O príncipe – Que vergonha, Abul-Fadl! Teu silêncio era melhor e mais produtivo que tua fala. Desejara eu que Deus o provesse de mudez e silêncio; então estaríamos mais à vontade.

Então Abdul-Fadl, envergonhado, partiu.




Medieval Sourcebook
Paul Halsall November 1996
halsall@murray.fordham.edu

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