O "Deus" do Futebol
© Rev. Bispo Hierotheos, Metropolita de Lepanto e S. Vlassios
Tradução © Fabio Lins Leite
Deus e o futebol, de Alireza Nosrati, Irã
O mês de junho foi marcado pela copa do mundo que ocorreu no Japão e na Coréia. Muitas pessoas assistiram aos jogos entre as seleções por muitas horas ao dia e sabiam tudo a respeito dos jogos.
O que me impressionou foi uma "oração" escrita por um "padre" anglicano chamado Fletcher na véspera do jogo decisivo entre a Inglaterra e o Brasil. A oração foi transmitida pela BBC de acordo com o jornal "Eleftherotypia" de 22 de june de 2002. A oração era a seguinte:
"Ergue-te ó Senhor e impede que o Brasil nos domine. Espalha o terror sobre eles, Senhor. Ergue-te e estende a Tua mão para suprimir a força de Rivaldo e Ronaldo. Faz descer sobre Ronaldinho a confusão e, ó Senhor Todo-Poderoso, se isto não funcionar também, pelo menos nos garanta um gol no último minuto, mesmo que de uma posição ruim. Socorre-nos, Senhor, para alcançarmos as finais, mesmo que ocorram em um domingo e ninguém vá a Igreja!".
De acordo com o "Eleftheros Typos" de 21 de junho de 2002, a oração ainda continha frases como "faça com que as traves deles sejam semelhantes... a corredores de aeroportos e seu goleiro pequeno como uma formiga". E o jornal comentou: "Piedade!"
A primeira vista, o conteúdo desta oração nos faz dar gargalhadas e cria a impressão que não deve se deve levar esse tipo de coisa a sério. Entretanto, o assunto também possui alguns aspectos interessantes.
Para muitas pessoas, o futebol é uma religião, um culto. Muitas das expressões utilizadas são retiradas da religião. O torcedores sentam-se e seus "deuses", os jogadores, competem como em um embate de deuses no campo por Vitória. Já que o futebol é considerado por muitos como um novo culto, há nele certamente seu próprio deus, o deus do futebol. Eles oram para este deus inexistente. De fato, existem expressões como "a lei do futebol", "a bola pune", "jogador mágico"(N.T.1).
Lemos no "Kathimerini": "Então testemunhamos este ano os iluminados do Ocidente quebrarem facilmente o recorde de superstições: um, o técnico da Itália, deixa cair ritualmente um pouco de água benta dada a ele por sua irmã freira; outro (o técnico da Espanha) beija apaixonada e secretamente (para não ser flagrado pelas ansiosas câmeras blasfemas) uma pequena imagem em sua bolsa, provavelmente de São José Goleador. Mas a medalha de ouro da superstição vai para os ingleses, que por muitos anos já vem idolatrando Becham como se fosse o décimo-terceiro apóstolo, e é por isto que construiram para ele uma estátua na praça Trafalgar, para adorá-lo sob sua sombra e orar." "Os fãs de todos os times respeitam os costumes das superstições - eles se benzem, murmuram hocus-pocus, cruzam os dedos e oram a Allah.
Mas qualquer que seja sua religião ou seu deus do futebol, no final das contas, continuam fiéias a sua doutrina de auto-idolatria" (30/06/2002, p.4). Depois da vitória do Brasil, surgiram as machetes: no alemão German Bild "Deus é brasileiro"; no francês Equipe: "Brasil pela Eternidade"; no Washington Post: "Um Carnaval Divino de Vitórias". A conquista da Copa do Mundo pelo Brasil foi uma oportunidade para a glorificação da religião do futebol" (Eleftherotypia, Tuesday 2-7-2002).
Voltando a oração do "padre" anglicano, deixem-me destacar que ela revela uma outra realidade também e que é que nós estragamos mesmo os momentos mais sagrados em nossas vidas. A oração é a mais santa comunicação com Deus, é uma "relação entre o homem e Deus". Mas nós pervertemos até mesmo este fato santo. Fazemos preces similares a esta quando pedimos a Deus para nos ajudar com nossos objetivos mesquinhos e com nossas piores paixões humanas, para ter sucesso profissional, para atrair a atenção ou o interesse, para multiplicar nosso dinheiro, para ver alguém "pagar" por algo, para satisfazer nossas ambições e prazeres imorais e ilegais.
Temos que entender que a oração deve ser feita principalmente para a terapia da nossa alma. Não podemos utilizar o nome de Deus para questões fúteis. De outro modo enganamos não a Deus, mas a nós mesmos.
(Nota do Tradutor: Estas são expressões típicas do grego que o autor menciona. No Brasil são diferentes, mas não há de se negar que as nossas também traem uma paixão excessiva pelo que não passa de um jogo.)
Andei sabendo que a Igreja Ortodoxa e seus filhos foram duramente massacrados durante a 2 guerra mundial na Croacia de Ante Pavelic. Mas a midia nao fala disso.
ResponderExcluirO culto ao futebol aqui é horrível, parabéns pela reportagem! Nem a mídia critica este exagero! Gostei do texto
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