em vista do 3o Domingo da Quaresma, o Domingo da Veneração da Santa Cruz, reescrevi e expandi um artigo mais antigo sobre a Santa e Vivificante Cruz. Espero que a Graça de Deus complete em inspiração na sua leitura o muito que me faltou na escrita.
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A Santa Cruz
A Santa Cruz é a nova Árvore da Vida em paralelo com aquela do Paraíso pois nela estava o Fruto da Vida.
Lembremos da passagem em Gênesis 3:22:
"Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente"
O primeiro mandamento de Deus para o homem foi o jejum. O homem devia jejuar não comendo do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Quando o Homem quebrou este primeiro mandamento afastou-se de Deus pela desobediência, trazendo sobre si a doença, o pecado e a morte.
Caso tomasse da Árvore da Vida nessa condição, tornaria-se imortal e seria eternamente doente, pecador e...espiritualmente morto. O fruto da Árvore da Vida o tornaria eterno na condição em que estivesse.
Esse foi o motivo da expulsão de Adão e Eva: a infinita misericórdia de Deus que não queria que nos tornássemos eternos em um estado de decadência sem fim. E foi também por esta ilimitada misericórdia que Deus nos enviou Seu próprio Filho, Ele mesmo o Fruto da Vida, o Pão da Vida (Eu sou o Caminho, a Verdade e A VIDA). Vejamos as Santas Escrituras em São João, capítulo 6:
32 Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu
Quem é que o Pai nos deus senão seu Filho? Ele é o Pão do céu como ele confirma em seguida:
33 Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.
Que também concorda com São João, capítulo 3:13:
Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.
Aquele que desceu do céu, Aquele que o Pai nos deu é ele a Vida, Nosso Senhor Jesus Cristo, o que Ele diz de forma explícita em São João 6:51:
"Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo."
Sendo assim o madeiro da cruz torna-se o tronco árvore de onde o Pai nos concede o Fruto da Vida que outrora nos proibira. A ação redentora de Nosso Senhor tudo transfigura, tudo renova e um instrumento de morte se transforma em doador da Vida.
Sabemos também, através da última bem-aventurança em São Mateus 5
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
e de São João 15:20
Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.
Que a energia da Cruz é componente essencial da redenção, isto é como disse São Paulo ao Romanos 6:8 (repare a condicional):
Ora, *se* já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos.
Ou seja, que *se* "morremos" com Cristo, ressuscitaremos em Cristo.
Reparem que há os que crêem que Deus veio sofrer em nosso lugar, isto é, que tendo padecido todas aquelas dores, nós devemos minimizar nossos sofrimentos, dores e frustrações. Que podemos buscar uma "vida boa", com confortos e seguranças e ainda assim estarmos com o Cristo.
Não é isso que ensinam as Santas Escrituras. Como vemos acima *se* morremos com Cristo, apenas então ressuscitaremos em Cristo. Ai daqueles que não padecem sofrimentos e vivem no fausto ou buscando sempre "alegria", "felicidade" e "bem-estar". Ai dos que acham que Jesus veio nos ajudar a ter uma vida confortável, ter festas e adeqüação social. Estes passam pela porta do Reino dos Céus e a desprezam, se riem dela e até mesmo a temem.
O cristão ortodoxo não é apegado aos conceitos mundanos da busca da felicidade, da auto-realização, do "meu bem-estar primeiro". A cruz, o sofrimento, são a porta de entrada para ressurreição. É na dor que o pecador morre e o novo ser ressuscita "três dias depois". Não a buscamos como um masoquista, mas assim como o Cristo subiu voluntariamente à Cruz, nós também aceitamos obedientemente, em lágrimas consoladas pelo Espírito Santo e pelas orações da Santa Mãe de Deus, muitos dos problemas que encontramos em nossas vidas. Não digo com isto, irmãos, que o doente não irá buscar tratamento. Digo sim que mesmo enquanto busca o tratamento, ele vai moldando o coração para compreender que a dor é um dom também. Todos um dia adormeceremos em Cristo. Como o Cristo, não buscamos a Cruz. Mas quando ela vem, aceitamos. São nas dores e sofrimentos da vida que o ser egoísta, que pensa em si em primeiro lugar morre.
Deixando morrer o "homem velho", carnal, das paixões, "crucificando-o", fazemos como São João Batista: "É necessário que *Ele* cresça e *eu* diminua" (S. João 3:30).
É o nosso "eu" que deve morrer - ego-ísmo, vem do grego, no qual ego significa "eu" e "egoísmo" é o culto do "eu". Que é a "felicidade" moderna, senão o "meu" bem-estar primeiro, a "minha" carreira, a "minha" vida, a "minha" educação, o "meu" espaço, o "meu" prazer? Tudo em torno do "eu". Casais se separam porque cada um sente seu "eu" insatisfeito ou "sufocado". Pequenas crueldades são cometidadas até no lar e no emprego para satisfazer nossos "eus". Perversões são legitimadas por constituírem satisfação do "eu". Vidas são sacrificadas para que não atrapalhem o estilo de vida que um "eu" sente ser seu por direito.
É o nosso "eu" que deve morrer - ego-ísmo, vem do grego, no qual ego significa "eu" e "egoísmo" é o culto do "eu". Que é a "felicidade" moderna, senão o "meu" bem-estar primeiro, a "minha" carreira, a "minha" vida, a "minha" educação, o "meu" espaço, o "meu" prazer? Tudo em torno do "eu". Casais se separam porque cada um sente seu "eu" insatisfeito ou "sufocado". Pequenas crueldades são cometidadas até no lar e no emprego para satisfazer nossos "eus". Perversões são legitimadas por constituírem satisfação do "eu". Vidas são sacrificadas para que não atrapalhem o estilo de vida que um "eu" sente ser seu por direito.
E de fato, na morte precisamente de todos estes "eus" está a energia da Santa e Vivificante Cruz; a aceitação do sofrimento e da dor ao invés de fugir deles, a diminuição constante do nosso eu, da nossa vontade para que a Dele seja plena em nós e possamos dizer com o Filho para o Pai:
"Que se faça a Tua Vontade e não a Minha" (S. Lucas 22:42);
e como São Paulo:
"Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim;" (Gálatas 2:20).
No dia da Liturgia são lidos os Salmos 22, 74 e 99 que profetizam a crucificação de Nosso Senhor. Isso demonstra que a Cruz faz parte da Salvação desde o início.
De fato, transmite-nos a Santa Tradição que o sacrifício redentor de Nosso Senhor é figurativamente mencionado já no proto-Evangelho do Gênesis (3:15) quando Deus diz à serpente: "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e *tu lhe ferirás o calcanhar." Este ferir o calcanhar é uma alusão ao sofrimento, mesmo físico que Jesus iria passar milênios depois. Mas veja que o demônio causa um ferimento menor, apenas no calcanhar, enquanto o Cristo, "a semente" de Eva, fere a cabeça da serpente, o que a impede de agir e é ferida letal.
Finalmente, Nosso Senhor explica para Nicodemos de que modo esta Vida Eterna nos foi dada:
E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
(S. João 3:14-15)
"Que se faça a Tua Vontade e não a Minha" (S. Lucas 22:42);
e como São Paulo:
"Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim;" (Gálatas 2:20).
No dia da Liturgia são lidos os Salmos 22, 74 e 99 que profetizam a crucificação de Nosso Senhor. Isso demonstra que a Cruz faz parte da Salvação desde o início.
De fato, transmite-nos a Santa Tradição que o sacrifício redentor de Nosso Senhor é figurativamente mencionado já no proto-Evangelho do Gênesis (3:15) quando Deus diz à serpente: "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e *tu lhe ferirás o calcanhar." Este ferir o calcanhar é uma alusão ao sofrimento, mesmo físico que Jesus iria passar milênios depois. Mas veja que o demônio causa um ferimento menor, apenas no calcanhar, enquanto o Cristo, "a semente" de Eva, fere a cabeça da serpente, o que a impede de agir e é ferida letal.
Finalmente, Nosso Senhor explica para Nicodemos de que modo esta Vida Eterna nos foi dada:
E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
(S. João 3:14-15)
As nossas cruzes pessoais são manifestações da Cruz de Cristo na vida do cristão. Sejamos como a Virgem Maria, Sta. Maria Madalena, S. João e a outra Maria e permaneçamos, na dor, ao pé da Cruz, sem fugir como fizeram os Apóstolos na ocasião. Diante dos obstáculos e das dores, peçamos a Deus a força para suportá-los com mais intensidade do que pedimos para que eles desapareçam. Muitas vezes, assim como a Cruz foi o instrumento que permitiu a Ressurreição, serão nossas cruzes que nos unirão a Deus. Diante da dor e do sofrimento, da injusta condenação, do fracasso inesperado e imerecido, das calúnias, digamos com o Cristo em S. Lc 22:42 "Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua". E sendo crucificados com o Cristo, ressuscitaremos nEle.