quarta-feira, 7 de abril de 2010

PROCLAMAÇÃO PATRIARCAL PARA A PÁSCOA


Prot. No. 316

PROCLAMAÇÃO PATRIARCAL PARA A PÁSCOA

B A R T O L O M E U
Pela Graça de Deus,
Arcebispo de Constantinopla - Nova Roma
e Patriarca Ecumênico,
A todos os Fiéis da Igreja:
Graça, misericórdia, e paz de Cristo, o Salvador Ressurrecto em Glória

* * *

Amados irmãos e irmãs, caros filhos no Senhor,

Cristo Ressuscitou!

Alegre e radiante nasceu uma vez mais o dia da Santa Páscoa, dispensando alegrias, consolos, regozijos e a esperança de vida para todos os fiéis, a despeito da pesada atmosfera que prevalece em nosso mundo causada por uma crise multidimensional com todas as suas conhecidas e dolorosas conseqüências para nossa vida cotidiana.

Cristo ressuscitou do túmulo, o Deus-Homem, e a humanidade ergueu-se com Ele! A tirania da morte agora pertence ao passado. O desespero perante o cativeiro no mundo dos mortos está irrevogavelmente destruído. O Uno e Poderoso Vivificante, através de sua Encarnação, voluntariamente assumiu a miséria de nossa natureza e tudo que ela traz, isto é, a morte, e assim “trouxe morte ao Hades pelo relâmpago de Sua Divindade”[1], concedendo-nos a vida – e “vida em abundância.”(S. João 10:10)

Esta abundância de vida, que nos foi concedida pelo Senhor Ressuscitado, é incessantemente caluniada e atacada pelo demônio – de fato, tais ações são a origem do seu nome – embora ele esteja agora enfraquecido, completamente sem poder e inteiramente ridículo. O demônio calunia a Vida através da hubris[2] que ainda prevalece no mundo contra Deus, a humanidade e a criação. O demônio ataca a Vida através da tendência ao pecado que existe em nós como “ferrugem velha”, usando-a para enredar-nos seja em algum pecado tangível ou em alguma fé ilusória. A hubris é produto daquela “ferrugem”, e ambas compõem a sinistra dupla responsável pela perturbação dos relacionamentos conosco mesmo, com os outros, assim como com Deus e toda a Criação. Igualmente, é imperativo que purifiquemo-nos desta ferrugem com grande atenção e cuidado, para que brilhe intensamente em nossa mente, alma e corpo, a luz vivificadora do Cristo Ressuscitado, dispersando as trevas da hubris e vertendo a abundância da vida para todo o mundo.

Isto não pode ser alcançado através da filosofia, da ciência, da tecnologia, da arte ou de qualquer ideologia; só pode ser alcançado através da fé na Paixão, Crucificação, Sepultamento, descida ao mundo dos mortos e ressurreição dentre os adormecidos do Deus-Homem Jesus Cristo; fé esta expressa em uma vida imersa nos Mistérios da Igreja, assim como através de uma laboriosa e sistemática luta espiritual. A Igreja, sendo o Corpo de Cristo, vivencia incessantemente e através dos tempos o milagre da Ressurreição. Através dos sagrados Mistérios, de sua Teologia e de seus ensinos práticos, ela nos oferece a possibilidade de participar neste milagre, de compartilharmos da vitória sobre a morte, de nos tornarmos filhos moldados pela luz da Ressurreição e verdadeiramente “coparticipantes da natureza divina” (2 Pedro 1:4), assim como na vida de cada santo do passado e do presente. As ervas espinhosas das paixões crescendo nas profundezas de nosso coração, poluído pela ferrugem do “homem velho” (Efésios 4:22) devem ser definitivamente transformadas o quanto antes em buquês de virtudes, santidade e correção em Cristo, através de Cristo e por amor de Cristo e de suas imagens vivas que nos cercam – isto é, os demais seres humanos.

Assim sendo, o santo hinógrafo oportunamente canta: “Vistamos o manto de justiça, que é mais branco que a neve, e rejubilemos hoje no dia da Páscoa; pois Cristo, o Sol de Justiça que se ergue dos mortos, derramou sobre nós a luz da incorrupção”.  [3] A veste branca de justiça nos foi dada simbolicamente no dia do nosso Batismo; e nós somos convidados a mantê-la constantemente limpa através do contínuo arrependimento, controle dos nossos desejos, paciência diante das dores da vida, e incansável esforço no cumprimento dos mandamentos de Deus, e especialmente no mandamento supremo do amor. Deste modo, seremos capazes de participar no auto-esvaziamento da Cruz do Deus-Homem, e igualmente na alegria Pascal, na luz radiante e ditosa salvação que entrarão em nossa vida.

Escrevemos-vos esta carta desde o Fanar, onde experienciamos o sofrimento da Sexta-Feira Santa e a luz da Ressurreição, e expressamos-vos a afeição da Igreja Mãe, de todo o coração desejando a todos o dom salvífico e a benção Pascal do Senhor da Vida, que ressuscitou dos mortos.
Santa Páscoa de 2010.

Fervoroso suplicante por todos diante do Senhor Ressurecto,
Patriarca Bartolomeu de Constantinopla

Para ser lido nas igrejas durante a Divina Liturgia, depois do Santo Evangelho, na Festa da Páscoa.


[1] Apolitikion da Ressurreição – Tom 2
[2] Hubris: Orgulho presunçoso.
[3] Das Vésperas no Domingo de São Tomé

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