terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ENCÍCLICA PASTORAL por ocasião da celebração do Nascimento, na Carne, de Nosso Senhor Jesus Cristo, nascido em um Presépio, para a salvação do mundo



PROT. Nº 1663
† TARASIOS
PELA MISERICÓRDIA DE DEUS,
ARCEBISPO METROPOLITANO DE BUENOS AIRES,
PRIMAZ E EXARCA DA AMÉRICA DO SUL
A TODO O CLERO E A TODA GREI DA SACRA ARQUIDIOCESE
DE BUENOS AIRES E AMÉRICA DO SUL:
Que a Graça, a misericórdia e o amor de Cristo Salvador,
nascido em Belém, estejam com todos vós.


«Preparai um plano, e ele malogrará; dai ordens e elas não serão executadas, porque Deus está conosco. » (Is. 8,10)
PROÊMIO
A realidade deste tempo, destes santos doze dias, se dá a conhecer de maneira clara pelo Nome daquele Menino nascido em Belém; “Emanuel”, Deus conosco. Com efeito, toda a realidade deste mistério salvífico que comemoramos nestes dias se condensa no nome de seu homenageado, Jesus Cristo: Deus que se faz homem para que os homens possam ser libertos da maldição do pecado dos primeiros pais.
AS CRISES COMO CONSEQÜÊNCIAS DA QUEDA
Assim, queridos filhos, desejamos interpretar todos os eventos que envolvem a Natividade, pela ótica de seu Nome. Estamos vivendo tempos complexos, tempos de crise, tempos de incertezas, tempos de conflitos nos quais, em muitos lugares deste mundo, torna-se até mesmo difícil visualizar um futuro promissor. A crise está generalizada, mas em alguns lugares da Europa, tão caros a nós como a Grécia, ela se apresenta mais aguda, ganhando dimensões desafiadoras. A crise econômica gera outras crises de diversas naturezas, transformando o cenário em um complexo quebra-cabeça, em fatores e vicissitudes de difíceis resoluções. Não obstante, por causa da globalização, esta crise chega até nós e nos influencia em nossa realidade, direta ou indiretamente.
Como bem sabemos, as crises existem tanto quanto os homens. As crises, em todos os âmbitos, são conseqüências dos processos involutivos ou evolutivos, marcando hiatos na história do homem que oscila entre a evolução e a involução, entre a perfeição e a perdição, entre a salvação e o nada. As crises são realidades próprias do homem caído, do homem afastado de Deus, resultado da ação dos primeiros pais Adão e Eva. Desde então, a humanidade, mergulhada na profunda ambivalência, se encontra transitando em crises de toda espécie, interior e exterior, espiritual, religiosa, ética e moral; crise social e cultural, econômica, enfim, em todas as facetas da existência.
As crises refletem determinados sintomas e apontam para certas patologias. A patologia do homem é o afastamento de Deus. Quando a criação se distancia de maneira consciente e voluntária de seu Criador, as conseqüências são o pecado, a corrupção e a morte. Nós, filhos dessa humanidade, suportamos as conseqüências do pecado dos primeiros pais e, conseqüentemente, estamos submersos na voraz crise, própria do homem nesta situação. Este distanciamento adâmico adquire dimensões que repercutem em toda natureza do homem. Não é apenas uma falta moral, não se trata de um simples erro provocado por uma tentação de caráter ético; é muito mais grave. Desde aquele momento, o homem começou a conhecer e a experimentar em sua própria existência, a dor, o sofrimento, o pecado, a solidão e, por fim, a morte. A queda de Adão é o início de todas as crises do homem. É o hiato que marca um antes e um depois na história da relação do homem com Deus na História da Divina Providência. A partir deste momento, o homem afastado de Deus começa uma história de dramas e tragédias, um desterro em sua própria terra.
UM MENINO: A PROMESSA QUE PÕE FIM À CRISE DO HOMEM
Contudo, Deus em sua imensa misericórdia, promete a sua humanidade que sofre crises entre crise por causa da maldição de Adão:


«Então o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão juntos, e um menino pequeno os conduzirá». (Is. 11,6)
A promessa é um Menino «Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor. {Sua alegria se encontrará no temor ao Senhor.} Ele não julgará pelas aparências, e não decidirá pelo que ouvir dizer; mas julgará os fracos com eqüidade, fará justiça aos pobres da terra, ferirá o homem impetuoso com uma sentença de sua boca, e com o sopro dos seus lábios fará morrer o ímpio. A justiça será como o cinto de seus rins, e a lealdade circundará seus flancos» (Is.11, 2-5). Este Menino é Deus feito homem, é o Emanuel, Deus conosco.
Com efeito, Deus ad-viene “vem até nós”, desce até nossa fragilidade e a toma em sua carne para poder curá-la em sua natureza divina. Deus está pois conosco. Mais ainda, Deus está em nós.
Emanuel é o nome de Deus que “desce até nós” e se faz visível, pobre e quase imperceptível para que nós não permaneçamos mais  nesta crise perene que produz outros desajustes em todo ambito da vida. Emanuel é o Deus que vem curar, libertar, desatar, pacificar, unir, perdoar, salvar, redimir. Emanuel é o Deus que ama e que se faz vitima por amor a sua Criação que sofre.
Este Menino é o enviado que tornar-se-á o Mediador entre o Criador e os homens; Ele é o princípio do diálogo; é a promessa de salvação feita realidade; a ponte que nos leva a Deus; a boca de Deus; o perdão e a remissão encarnada; a saúde do gênero humano realizada na carne da própria condecendência divina; o autor  e ator de nossa perfeição, paradigma, exemplo e axioma da vida reconstituída, elevada e unida à natureza divina.
Este é o Emanuel, o Menino-Promessa; é o Deus conosco!
EXORTAÇÃO FINAL E DESPEDIDA
Queridos Filhos,
Enviamos a todos esta mensagem de esperança neste tempo de graça: Sim, Deus está conosco! Não temamos os planos dos poderosos da terra; não temamos as circustâncias que nos cercam; não temamos o futuro incerto; não temamos a nada e nem a ninguém, porque Deus está conosco!
Assim, exortamo-vos do fundo de nosso coração: voltemos a Deus, voltemos a nosso Pai, como  o filho pródigo, arrependidos, compungidos, com plena certeza do perdão. Não temamos retornar, não temamos revelar e confessar nossas faltas, não temamos o castigo; ao contrário, esperemos em sua misericórdia, em seu perdão, em seu auxílio, em seu amor.
Conclamamo-vos fervorosa e intensamente que a Natividade seja festejada de maneira austera, simples, com devoção e arrependimento: nada disso tirará o clima festivo da ocasião, ao contrário, marcará profundamente o quanto estaremos colocando em prática o mandato de Quem festejamos o nascimento.
Assim mesmo, pedimos que a oração seja o centro destes doces dias; rezemos para que Deus mostre sua misericórdia por nossas faltas, por nossos erros e conceda-nos o dom do arrependimento, a paz na alma, a pacificação das nações, e que faça justiça a todos e, em última instância, se revele uma vez mais e nos mostre o caminho que devemos seguir e que se cumpra outra vez a profecia:
«Naquele tempo, o rebento de Jessé, posto como estandarte para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será a sua morada». (Is 11,10)
Com esta mensagem de esperança e de plena certeza de que Deus de amor uma vez mais nos visitará em sua comiseração, nos despedimos de todos vós, filhos amados no Senhor, invocando sobre todos a Misericórdia, a Graça e o amor de Jesus Cristo, Deus e Homem, nascido segundo a carne em Belém da Judéia; a Ele sejam dadas a glória,a honra e a adoração, pelos séculos dos séculos.

Da Sede Arquidiocesana, Natividade de 2010.
O METROPOLITA
† T A R A S I O S
Arcebispo de Buenos Aires
Primaz e Exarca da América do Sul

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