quarta-feira, 11 de maio de 2011

Encíclica Pascal 2011

Encíclica Pascal 2011

fonte:http://www.ortodoxia.com/contenido/arzobizpo/mensajes_es.php?mensaje=91
(tradução não-oficial)

Tarásios, pela misericórdia de Deus, Arcebispo Metropolitano de Buenos Aires, Primaz e Exarca da América do Sul, a todo o pleroma da Igreja,

Que a Graça, a Misericórdia, a Remissão, a Reconstituição, o Amor e a Comunhão Divina de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, Ressuscitado dentre os mortos, sejam com todos vós.


"Com efeito, se não há ressurreição, comamos e bebamos, busquemos uma vida de gozos e prazeres. Se não existe ressurreição, no que somos diferentes dos seres irracionais? Se não há ressurreição, consideremos como ditosos os animais do campo que levam uma vida livre de pesares. Se não há ressurreição, tampouco há Deus ou Providência". (São João Damasceno, Exposição Exata da Fé Ortodoxa, IV, 27)

A Ressurreição de Cristo - e a nossa - constituem o centro de nossa vida nesta dimensão. É o evento principal da vida terrena do Senhor, e constitui um marco na história da humanidade em função das consequências que provoca na vida dos homens e em toda a criação. A Ressurreição de Cristo é o zênite do amor de Deus pelos homens, e sua prova mais tangível. Nossa vida se relaciona e se relativiza na dEle.

Queridos filhos e filhas no Senhor, Cristo ao ressuscitar inaugura uma nova dimensão em nossas vidas, aqui e agora. A Ressurreição de Cristo é um evento que marca um antes e um depois na linha histórica dos homens e em toda a criação. Cristo renova todas as coisas, pois o Teoantropo, o Filho de Deus feito homem que vem resgatar-nos da maldição do pecado e da antiga lei. Agora tudo é novo e devemos nos adequar a essa realidade.

Como disse o santo Damasceno, se Cristo ressuscitou, também nós iremos ressuscitar no fim dos tempos. A ressurreição de Cristo também é um dom que Deus compartilha com os homens, e por isso é justo que tudo seja feito em Cristo, com Cristo e por Cristo. Esta ressurreição que teve lugar na história se desdobra na realidade pessoal de cada homem, já, aqui e agora, e no futuro, quando aprouver a Deus que tudo seja concluído e expresso na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

Festejamos a Páscoa todos os anos, mas devemos transcender a mera tradição festiva, devemos ter um evento eminentemente espiritual que nos leve a considerar as implicações que tem em nossa vida este fato que representa o advento iminente do Reino de Deus e sua justiça. Com efeito, o Reino de Deus está entre nós, foi inaugurado com o advento do Messias e permanece até sua Parusia. Que tenho eu a ver, enquanto homem, com este reino? Qual é meu papel neste projeto salvífico?

Como posso responder a estas perguntas em um clima que não conduza à contemplação do mistério e suas implicações com a minha vida? Como podo refletir sobre o mistério, adotá-lo e assimilá-lo em um clima mundano e festivo alheio até mesmo à mensagem de Cristo? Não é possível. A Páscoa não é uma festa para descansarmos e nos prepararmos para o ano que começa. A Páscoa não é uma festa pagã, não é uma tradição étnica, não é uma festa para afogarmos os sentidos bebendo e comendo, como se celebrássemos o fim de um jejum auto-mortificante e sem sentido. A Páscoa não é uma efeméride mais, porém uma entrada do mistério em minha vida, hoje, nesta dimensão, em minha comunidade, no mundo e no cosmos.


A Páscoa, queridos filhos, não é um mero fato histórico. É uma realidade atual e futura. Foi, é hoje e será até que se cumpra o desígnio de Deus nos Últimos Dias. Finda-se o jejum, mas não o exercício e a responsabilidade que temos como cristãos. Com efeito, celebramos porque cremos, e porque cremos, devemos viver esta fé com obras, pois como disse o apóstolo, a "fé sem obras está morta". E nossa fé depende deste fato vivificante e transcendente, e assim também nossas obras.

Se nossas obras contradizem o fato da ressurreição, então vã e morta é a nossa fé. Se realizamos a festa para atender nossos prazeres, então é tudo vão, então em nada somos diferentes dos gentios e nem, como disse o santo de Damasco, dos seres irracionais.

O festejo é justo, a alegria é justificada, sempre e quando provenha desde os sentidos e reflexos da alma e com estes se identifiquem os do corpo. De nada serve o banquete, os cantos e as danças, se nossa alma não compreendeu nem vislumbrou o grande e transcedente mistério hoje. Se nossa natureza humana e pecadora não se fez receptiva das primícias deste evento que se manifestam em amor, perdão, comiseração, compreensão e identificação com o outro, meu próximo, então que ressurreição festejamos? Que ressurreição esperamos? Como esperamos vencer a morte e os desvios de nossa natureza? Como esperamos continuar utilizando o nome de cristãos e ortodoxos?


Queridos filhos e filhas no Senhor, vivemos em um mundo em crise, vivemos em uma época complexa e perigosa na qual Deus nos pede que demos testemunho. E nosso testemunho depende do evento da ressurreição, que é o evento máximo do amor de Deus à criatura. Deus quer que demos testemunho de nossa fé, e esta fé está baseada na ressurreição de Cristo, pois como disse o apóstolo "porque se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele" (I Ts. 4,14). Nosso triunfo sobre as coisas deste século, sobre a corrupção e a morte, dependem dessa fé.

Com estas reflexõs vos desejo uma feliz Páscoa, festejemos a sobriedade do espírito, com prudência espiritual, com moderação e em reflexão. Afastemo-nos das impurezas deste mundo, transcedemos o que nos é oferecido por esta realidade, ainda esta noite, tratemos de poder viver o amor de Deus que se derrama abundantemente, e que a Graça do Ressuscitado seja com todos vós, e com todos os vossos entes queridos, agora, sempre e pela era das eras. Amém.

Da Sede Metropolitana
Páscoa 2011
Arquipastor Tarásios de Buenos Aires, Primaz e Exarca da América do Sul

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