terça-feira, 17 de julho de 2012

Sínodos Ecumênicos Ortodoxos





História Resumida dos Sínodos Ecumênicos Ortodoxos
Leitor Fabio L. Leite
(Ícone do I Sínodo Ecumênico - São Nicolau surpreende Ário quando um milagre explica o mistério da Trindade)
Apesar dos termos técnicos, todos os sínodos da Igreja Católica Ortodoxa versam sobre o tema "Quem é Deus?" e "Como Ele é?". Deus é um, em três pessoas. E como qualquer pessoa, tem características próprias. Temos que amá-lO como Ele é, e não como imaginamos que Ele seja. Esse é um segredo do amor entre as pessoas também. Temos que amar as pessoas como são, e não como achamos que elas deveriam ser. O amor real é assim, e por isso também se aplica a Deus. Todos os termos técnicos, toda a discussão, no fim das contas é apenas para proteger isso: o amor a Deus como Ele verdadeiramente é.
Era Apostólica

Ano 33 ou 34 DC

Primeira Reunião Apostólica
Os Apóstolos se reúnem para decidir quem tomaria o lugar de Judas. O escolhido foi Matias. Atos 1.

Entre os anos 34DC e 56DC

Segunda Reunião Apostólica
Os Apóstolos se reúnem para decidir sobre a administração financeira das doações para a Igreja (Atos 4:31-37)

Terceira Reunião Apostólica
Os Apóstolos se reúnem para decidir quem seriam os primeiros diáconos da história. (Atos 6:2)

Quarta Reunião Apostólica
Os Apóstolos se reúnem para discutir o batismo do centurião romano Cornélio e sua família. Primeira controvérsia sobre a conversão de não-judeus. Atos 11

Quinta Reunião Apostólica, Sínodo de Jerusalém
Considerado o primeiro grande sínodo da Igreja.Combateu a heresia judaizante, que defendia que os gregos que se tornassem cristãos deveriam ser circuncidados e se tornarem judeus antes de serem batizados. Presidido por São Tiago. Atos 15. Prova que um sínodo não precisa ter o nome de ecumênico para ter autoridade sobre toda a Igreja.

56DC ou 58DC

Sexta Reunião Apostólica
Reunião pastoral sobre as atividades de São Paulo, pedindo para não chocar os cristãos judeus.
Atos 21:17-16

Era Imperial

I Sínodo Ecumênico – Nicéia I – Ano 325 DC - 318 Pais – Convocado pelo imperador Constantino. Combateu Ário que negava que Cristo é consubstancial com o Pai e também os melecianos que não aceitavam o retorno para a Igreja dos que haviam renegado a fé por força de tortura; Criou a primeira metade do Símbolo da Fé (o Credo). Padronizou a data da Páscoa, utilizada até hoje pela Igreja Ortodoxa. Proclamou a primazia das Sés de Roma, Antioquia e Alexandria (todas com bispos sucessores diretos de S. Pedro). Figuras de relevo: Santo Hósio, Santo Atanásio, o Grande, São Basílio, o Grande, São Gregório de Nissa e São Gregório de Nazianzus.

II Sínodo Ecumênico – Constantinopla I – Ano 381 – 150 Pais – Convocado pelo imperador Teodósio. Combateu o Arianismo e os macedonianos, que não criam que o Espírito Santo é Deus – por isso foi acrescentada toda a parte do Símbolo da Fé sobre o Espírito Santo ("Creio no Espírito Santo..."); e combateu o milenialismo, a crença de que Jesus reinaria por mil anos na terra e adotada por alguns grupos protestantes hoje – por isso foi acrescentada no Símbolo da Fé a expressão “e Seu reino não terá fim”. Proclamou Constantinopla com a segunda em honra entre as sés patriarcais. Roma não participou deste Sínodo Ecumênico.

III Sínodo Ecumênico – Éfeso – Ano 431 – 250 Pais – Convocado pelo imperador Teodósio II. O Sínodo declarou ilegal alterar o Credo definido em Nicéia e Constantinopla. Combateu o Nestorianismo, que não aceitava o uso do termo “Theotokos” para referir-se à Virgem Maria. O Nestorianismo equivocadamente cria uma diferença radical entre o homem Jesus de Nazaré, e o Logos Divino, dizendo que Maria deu à luz a Jesus apenas e não a Deus. A Igreja percebeu o erro desta visão e insistiu no uso do termo “Theotokos”, parturiente de Deus. Além de algumas igrejas protestantes que resgataram a heresia nestoriana, as igrejas Assíria do Oriente, Siriana Caldeia e Malankara da Índia são descedentes diretas dos nestorianos, que se expandiram para a Pérsia (atual Irã), China e Índia. Também combateu a heresia pelagiana, que diz que o pecado é apenas uma questão de ordem moral, que o homem é capaz de escolher entre o bem e o mal e o papel de Cristo é apenas de ser um bom exemplo e professor, como defendido por inteletuais e e pelo Kardecismo nos dias de hoje.Agostinho partiria para o lado oposto criando a doutrina da depravação total, adotada pelos Calvinistas e alguns protestantes, e também errada e que diz que a vontade humana é absolutamente incapaz de escolher o bem. A Ortodoxia Católica foi defendida por São João Cassiano, a salvação se dá pela ação conjunta e simultânea entre homens e Deus, sendo que apenas a Graça de Deus que tem papel ativo em todo o processo. É como vemos na parábola do filho pródigo: é o pai quem vai encontrar o filho no meio do caminho, que dá novas roupas, quem prepara o banquete e recebe o filho, mas o filho teve que se arrepender, sair do meio dos porcos e andar de volta até a casa do pai. Nesta parábola o pai representa Deus e o filho, cada um de nós, pecadores.

IV Sínodo Ecumênico – Calcedônia – Ano 451 – Convocado pelo imperador Marciano. Condenou o erro do monofisitismo (uma só natureza), que acreditava que Cristo não era homem e Deus, mas apenas Deus. Além disso confirmou a posição de Constantinopla como segunda em honra, fato que Roma só aceitou com protestos em 453, e criou o sistema da Pentarquia, no qual a Igreja era governada pelas quatro cidades imperiais mais importantes Roma, Constantinopla, Alexandria e Antioquia, às quais somava-se Jerusalém por seu valor tradicional e que neste mesmo sínodo foi elevada à condição de Patriarcado. Este sínodo foi rejeitado pela Igreja Copta do Egito, pela Igreja Siriana, pela Igreja Armênia, e pela Igreja Eritreia da Etiópia, as quais equivocadamente utilizam o nome “Igreja Ortodoxa” aqui no Brasil. Juntas elas formam as chamadas “Igrejas Orientais”, ou, melhor dizendo “Igrejas Não-Calcedonianas”. Hoje, alguns alegam que tudo não passou de um problema de palavras, pois o que eles entendiam como “natureza”, é o que entendemos como “pessoa”, ou seja, Jesus é uma só pessoa. Neste caso, eles mantém-se separados apenas por se recusarem a um procedimento normal de padronização de terminologia técnica. Digno de nota é o fato que o Papa Leão I enviou um livro, conhecido como Tomo de Leão, que teve que ser examinado e aprovado antes de ser aceito, já que sua primazia nunca implicara em governo ou autoridade infalível de ensino.

V Sínodo Ecumênico – Constantinopla II – Ano 553 – 164 Pais – Convocado pelo imperador Justiniano. Reafirmou a condenação do Nestorianismo e apontou o erro do ensino de Orígenes de que todos os seres humanos serão salvos no dia do Juízo Final. O Papa Vigilius, primeiro do longo período de papas gregos aprovados pelo imperador, então residente em Constantinopla, foi convidado, mas recusou-se a participar, além de ter requisitado que o Sínodo não ocorresse. Dado que era membro do Sínodo com honras especiais, mas nenhum poder de governo, o Sínodo aconteceu mesmo assim, vindo o papa a acatar suas decisões.

VI Sínodo Ecumênico – Constantinopla III – Anos 680/681 – 151 pais - Convocado pelo imperador Constantino, o Novo, combateu as heresias do Monotelismo e Monoenergismo, que alegam erroneamente que apesar de Jesus ser Deus e homem, não existem duas vontades e duas energias nele, mas apenas uma vontade e uma energia. Se fosse assim, Jesus não seria completamente homem e completamente Deus. Nele existem a vontade humana e a vontade divina, a energia humana e a energia divina, agindo em sinergia como defendera séculos antes São João Cassiano. O sínodo condenou como herege o papa Honório I por ensinar o monotelismo.

VII Sìnodo Ecumênico – Nicéia II – Ano 787 – 350 Pais – Convocado pela imperatriz Irene, a Ateniense. Combateu a heresia iconoclasta, que ensinava o erro de que não há diferença entre veneração de ícones e adoração de ídolos, defendida por todas as igrejas protestantes hoje em dia.

Sínodos Pan-Ortodoxos Posteriores
Constantinopla IV (Considerado por alguns como VIII Sìnodo Ecumênico) – Ano 879-880 – Condenou toda alteração do Símbolo da Fé, o Credo, inclusive a adição do termo “Filioque”, que o imperador franco Carlos Magno havia forçado na Igreja Ocidental com oposição do papa. Esta expressão corrompe seriamente o entendimento sobre o Espírito Santo, sendo uma forma de semi-macedonianismo, já condenado no II Sínodo Ecumênico, pois diz que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Isto vai contra o que Jesus explicou diretamente: “o Espírito de Verdade, que procede do Pai.” Jo 15:26. Além disso, só existem dois tipos de características em Deus: as que são comuns a todas as três Pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo), e as que só existem em cada uma das pessoas para que sejam diferentes. Quando alguém diz que o Espírito procede do Pai e do Filho passa a existir uma característica que o Pai e o Filho tem a mais que o Espírito Santo, que é exatamente dar-lhe origem. Assim o Espírito seria menor, “mais fraco”, pois dEle nada procede. E o Pai e o Filho ficam absolutamente idênticos, sem distinção; se o Filioque fosse verdade, Deus não seria três, mas apenas dois: uma massa indistinta e poderosa da mistura de Pai e Filho e um fraco Espírito Santo. Como o Espírito Santo é que guia a Igreja e nos ensina a verdade (“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” Jo 14:26), ensinar, mesmo sem querer, que Ele é mais fraco, gera a necessidade de ter algo em seu lugar que ensine a verdade e nos lembre as palavras de Jesus de forma infalível e inerrante. Esta é a fonte tanto dos ensinos da infalibilidade papal dos romanos, quanto da inerrância bíblica dos protestantes, e por isso este sínodo condenou tal ensino. O sínodo também confirmou o retorno do patriarca São Fócio ao trono de Constantinopla, de onde fora tirado por questões políticas. O próprio papa da época reconheceu este sínodo como o VIII Ecumênico, bem como os Patriarcas Ortodoxos do século XIX. Roma renegou este sínodo apenas séculos depois, quando já decidira separar-se da Igreja Católica Ortodoxa.

Constantinopla V (Considerado por alguns como IX Sínodo Ecumênico) – Anos 1341-1351 – Defendeu o hesicasmo, a vivência da Paz de Cristo mencionada em diversas partes do Novo Testamento e praticada pela oração cristão ortodoxa, especialmente entre os monges. O monge racionalista Barlaam, apoiando-se no conceito de que a razão e a filosofia podem servir para fazer teologia e inspirado por Tomás de Aquino defendia que a filosofia podia levar à visão e entendimento de Deus, criticava a vida de oração dos monges que defendiam a realidade: que a vida cristã é oração e jejum e não filosofias. Além disso, o sínodo afirmou ainda: as energias de Deus, condenando o ensino errôneo de que Deus é ato puro; afirmou que a luz vista por santos e orantes é a própria luz de Deus e não uma coisa criada por Ele como sinal. O grande campeão deste Sínodo foi São Gregório Palamás, bispo de Tessalônica. A defesa de São Gregório Palamás no sínodo concedeu-lhe o título de “Pilar da Ortodoxia” e o privilégio de ser comemorado nas festas pré-pascais.
Era Moderna
Sínodo de Jerusalém – 1672 – Convocado pelo Patriarca de Jerusalém Dositheos Notaras, com participação de bispos e patriarcas de todas as Igrejas Ortodoxas. Aponta os erros das doutrinas protestantes e romanas, reconhecidas como hereges, como por exemplo, salvação apenas pela fé, uso da Bíblia como fonte única da fé, purgatório, autoridade papal, filioque e várias outras. Este foi o primeiro e único sínodo pan-ortodoxo a ocorrer depois da queda do Império Greco-Romano de Constantinopla. Não é chamado de ecumênico simplesmente porque a palavra "ecumênico" era usada para leis ou instituições que afetassem toda a "ecumene" do Império Greco-Romano. Como o Império Greco-Romano caiu no século XV com a tomada de Constantinopla, a palavra "ecumênico" caiu em desuso e retornou apenas no século XIX com significado diferente: as igrejas protestantes dos Estados Unidos, percebendo suas teologias divergentes começaram a buscar tentativas de união que colocasse a doutrina e a correção da fé em segundo plano em favor da união. Ao longo do século XX tanto Roma quanto a Igreja Católica Ortodoxa acabaram entrando em diálogo com o chamado "movimento ecumênico". No caso da Igreja Ortodoxa, sempre dando testemunho da plenitude da fé para os seguidores de Cristo fora de sua comunhão e sem tergiversar sobre fé reta herdada dos Apóstolos.

Outros documentos doutrinais ortodoxos de caráter ecumênico:
  1. Encíclica de São Fócio (867)
  2. Carta do Patriarca Miguel Cerulário para Pedro de Antioquia (1054)
  3. Encíclica de São Marco de Éfeso (1440-1441), outro que é um dos poucos que foi chamado de “Pilar da Ortodoxia”
  4. Confissão de Fé de Gennadius, Patriarca de Constantinopla (1455-1456)
  5. Respostas do Patriarca Jeremias de Constantinopla aos Luteranos (1573-1581)
  6. Confissão de Fé de Metrophanes Kritopoulos (1625)
  7. Confissão Revisada de Fé de Pedro Moghila e ratificada pelo Sínodo de Jassy (1642)
  8. Confissão de Fé de Dositheus (1672)
  9. Resposta dos Patriarcas Ortodoxos aos protestantes Non-Jurors (1718-1723)
  10. Resposta dos Patriarcas Ortodoxos ao Papa Pio IX (1848)
  11. Resposta do Sínodo de Constantinopla ao Papa Leo XIII (1895)
  12. Encíclicas do Patriarcado de Constantinopla sobre Unidade Cristã e o Movimento Ecumênico (1920,1952)

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