domingo, 9 de dezembro de 2012

A Transfiguração da Criatividade


A transfiguração da criatividade não é apenas uma espera ou prelúdio da transfiguração vindoura; é em si mesma sua precedência, seu início real. E pela força desta criatividade, dentro das fronteiras da história, o supra-histórico é alcançado, quer dizer, aquilo que ultrapassa estas fronteiras da história. Isto aplica-se em primeiro lugar à alma do homem, e realiza-se mais vividamente na adoração divina, prementemente na adoração Eucarística, na qual o tempo misteriosamente dissolve-se na eternidade. Mas, de certa forma, isto também se aplica a toda criatividade do homem.

O resultado é uma certa justificação por um tipo de indiferença às coisas terrenas que não podem e não devem possuir dimensões eternas, e que, por consequência são "vãs" e "fúteis" na perspectiva escatológica. Nisto encontra-se a antinomia fundamental da atitude cristã para com a história e a cultura. Pois o Cristianismo é essencialmente histórico, e a história lhe é um process
o sagrado. E, ao mesmo tempo, o Cristianismo pronuncia um julgamento (uma condenação), sobre a história, é em si mesmo uma abolição da história. Pois a plenitude será alcançada na abolição de toda história, através do fim do tempo. Não como resultado de uma sequência de gerações, mas através da restauração de tudo o que morreu.

Tudo isso implica na abolição de toda cultura - pelo menos em tudo que nela há de histórico - não, porém, por rusticidade ou incultura, pois, se assim fosse, significaria uma perda de energia espiritual. A cultura é abolida pelo amor de algo maior e mais alto "que não pode ser contido por orlas terrenas". Portanto a cidade "terrena" perde seu significado pois "buscamos a que está por vir". Pois o Cristianismo é "boa nova" e uma expectativa do fim, consumação e recapitulação, anastasis e apokatastasis.

Pe. George Florovsky em "Asceticism and Culture in the Later Eastern Church (Fragments)"

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