O Cântico dos Cânticos
Mal passara por eles, encontrei aquele que meu coração ama. Segurei-o, e não o largarei antes que o tenha introduzido na casa de minha mãe, no quarto daquela que me concebeu. Can. 3:4
Também as mulheres devem ter em mente que o melhor para os dois, para a maturidade pessoal dela e do marido, é que ele vá viver no mundo dela.
No livro Cântico dos Cânticos a mulher está plenamente consciente que o destino do esposo é que ele vá para a casa da mãe dela, uma vez mais, que ele viva o mundo dela, da forma mais profunda possível, simbolizada por um dia eles dois dormirem juntos no quarto que um dia foi dos pais dela. Como símbolo, guarda outro ensinamento. Nossa época valoriza muito a tal da "adolescência estendida", que invade a vida adulta até os 30 anos e às vezes até passa. Mas isso é extremamente prejudicial para a mente e o espírito. Que o menino se torne o pai e patriarca da casa, que a menina se torne a mãe e matriarca, se tornando responsáveis por suas famílias, tanto os mais velhos quanto os mais novos, é o natural, e não uma vida de diversões adolescentes sem fim. "Entrar no quarto dos pais" é "tornarem-se os pais". Claro que existem casos de pais perversos, nos quais todo um trabalho na alma das pessoas tem que ser feito para que elas se tornem pais diferentes dos seus próprios, mas é antes exceção do que regra.
O livro ensina também que a mulher deve ter cuidado ao escolher. Veja que ela conhece vários homens (não sexualmente!), mas segura apenas aquele que sabe que irá para a sua própria casa. Ela deve evitar o homem que não deseja fazer isso. Ele ou tem más intenções, querendo encurralá-la em um ambiente ou situação em que ela se fragiliza sem sua rede de proteção, ou é imaturo e egoísta, ainda não está preparado para de fato ser marido e pai. Ainda age como um menino mimado que deseja ser agradado, servido e protegido, ao invés de assumir o papel de homem que protege, ama, se expõe e se sacrifica pela mulher que ama e deseja.
O livro Cântico dos Cânticos costuma ser descaracterizado do seu sentido imediato de um poema de amor esposal, para ser ensinado exclusivamente como um símbolo da relação de Deus com a Igreja. A questão é que ele é um símbolo desta relação precisamente porque fala do casamento, e ensina não apenas como um esposo deve tratar sua esposa, mas até sobre como olhar para ela e vice-versa.
Toda a conversa sobre o homem ser “o cabeça” da esposa, e ela ser “obediente” a ele, está exemplificada ali, e se tem algo que não está presente são relações de subserviência, de submissão, de apagamento de qualquer um dos dois. Nem o esposo nem a esposa são empregados um do outro. O esposo se doa completamente a esposa, olha para ela com absoluto encantamento, em uma mistura de carinho, desejo sexual, amor, respeito, amizade e admiração, tudo ao mesmo tempo e também ela olha para ele dessa forma. A “obediência” dela é antes gratidão natural pelo tanto que ele a ama em sentimentos *E* em ações. Veja como a esposa fala de seu esposo nesta Santa Escritura:
3.Como a macieira entre as árvores da floresta, assim é o meu amado entre os jovens; gosto de sentar-me à sua sombra, e seu fruto é doce à minha boca. 4. Ele introduziu-me num celeiro, e o estandarte, que levanta sobre mim, é o amor. 5. Restaurou-me com tortas de uvas, fortaleceu-me com maçãs, porque estou enferma de amor. 6. Sua mão esquerda está sob minha cabeça, e sua direita abraça-me.
10. Meu bem-amado disse-me: Levanta-te, minha amiga, vem, formosa minha.
O esposo é para ela como a macieira que a acolhe no dia de sol, e os seus frutos, as ações que ele realiza por ela, são todos doces, bons. Não há aí agressão, inveja, exigências esdrúxulas, apenas o desejo do bem dela. Ele estava frágil e cansada e ele a colocou em um celeiro, mais uma vez protegendo-a, e o estandarte que levanta sobre ela não é o de um rei cruel e exigente, sempre a desejar o sacrifício de seus servos, mas o estandarte do amor que se doa. Ele não a fere, ele a restaura. Ele não a enfraquece, ele a fortalece. Com sua mão esquerda a protege, com a direita a ama carinhosamente. Finalmente, o esposo não diz “curva-te”, mas diz “levanta-te”, chama-a não de “serva”, alguém que vive para o bem dele, mas de “minha amiga”, alguém que é igual a ele. Quando diz “vem”, é para enfatizar o “levanta-te”, pois nas horas de queda, ele está lá para ajuda-la a lembrar-se que é capaz. E acima de tudo, ela é a beleza da vida dele, “formosa minha”.
Não existe livro melhor no mundo para educar os esposos no trato e sentir um com outro do que Cântico dos Cânticos. Vale ler o livro inteiro.
Adão
Nas Santas Escrituras vemos a recomendação de o homem entrar no mundo da mulher desde o Gênese. Vejam a passagem:
E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. - Gênesis 2:22-24
Reparem que assim que Deus forma a mulher, antes mesmo da Queda, Deus já define o papel do homem conforme explicamos aqui: o homem deixará o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher. Vejam que Adão nem tinha pai e mãe, mas o papel futuro de todos os homens já está definido nele: é o homem que tem que deixar sua família para ficar com sua mulher. Ele é que tem que sair “da barra da saia da mãe” e ir viver a vida e o mundo social e familiar da sua esposa, como Deus deixou os céus para viver em nosso mundo. Nunca o contrário. Já ali vemos uma prefiguração da Encarnação e da Salvação, na descrição do papel de homem no casamento.
Jacó
E Isaque chamou a Jacó, e abençoou-o, e ordenou-lhe, e disse-lhe: Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã; Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher das filhas de Labão, irmão de tua mãe; E Deus Todo-Poderoso te abençoe, e te faça frutificar, e te multiplique, para que sejas uma multidão de povos; E te dê a bênção de Abraão, a ti e à tua descendência contigo, para que em herança possuas a terra de tuas peregrinações, que Deus deu a Abraão. - Gênesis 28:1-4
Isaque ordena que Jacó se vá para evitar futuras brigas com seu irmão Esaú. Mas não apenas isso. Ele especificamente ordena que ele vá para a casa de sua futura esposa. No caso, por hábitos culturais da região e da época, o pai ordena a Jacó que ele vá se casar com uma de suas primas e more na casa de seu sogro e tio.
Hoje em dia, não só a relação entre primos é reconhecida como inapropriada, mas dificilmente o homem vai morar com os pais de sua esposa, e nem seria isso conveniente. O importante é aplicarmos o princípio da coisa, o “espírito” da lei: o homem é que sai de seu “ambiente” para participar mais do ambiente familiar e social da esposa, mesmo que morem em casa própria. Além de ser a correta ordem espiritual, tem inúmeras vantagens psicológicas e sociais. Primeiramente defende a mulher. Dificilmente um homem cometerá algum tipo de injustiça ou violência sob as vistas dos pais, irmãos, parentes e amigos da mulher. De fato, estudos mostram que homens egoístas ou até francamente agressivos, tendem a afastar a mulher o máximo possível do seu ambiente de segurança. Ele exige que ela frequente mais seus amigos que os dela, não raro ao ponto que ela conviva mais com os círculos dele do que com os dela. Isso, claro, apenas a deixa vulnerável, pois os familiares, amigos e colegas dele tenderão a ficar do lado dele nas disputas, infelizmente até nas traições e violências, jogando todas as culpas sobre ela.
Quando Deus pede que o homem O imite e saia do seu círculo para o círculo da mulher, está cuidando também da saúde, segurança e bem-estar dela. Do ponto de vista psicológico, é mais comum que as mulheres tenham a sua realização pessoal mais ligada à família do que os homens. Inclusive é por isso que ele pode fazer essa transição com alguma tranquilidade, pois boa parte da realização pessoal do homem inclui, mas não depende tão fortemente do contato físico e constante com o círculo familiar. Um homem que saia de seu círculo familiar e de amigos para entrar no da mulher, consegue manter-se melhor, porque isso não constitui sua identidade de forma tão intensa quanto a dela. Repare que é muito mais comum para mulheres sofrerem do trauma do “ninho desfeito”, quando ela vê ser desfeita sua família original, ou a família que formou. Naturalmente que isso também abala os homens, mas o impacto na alma feminina tende a ser mais profundo e mais grave, podendo até refletir-se em doenças físicas.
Ao ordenar aos homens que convivam com a família de sua esposa, Ele protege o coração da mulher, que verá de forma bem próxima ambos os núcleos familiares, o que ela nasceu e o que ela está formando. E quando, pela ordem natural das coisas, o núcleo familiar em que ela nasceu for desaparecendo por morte dos pais, ela terá a sensação de dever cumprido por ter estado perto deles, e terá ainda o novo núcleo ao seu lado dando apoio.
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