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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Intercomunhão com Roma IV: Pronunciamento do Patriarca Bartolomeu em 29 de Agosto de 2015

Caso restasse alguma dúvida sobre a questão de intercomunhão com Roma, vejam o pronunciamento do Patriarca Bartolomeu logo depois do meu comentário abaixo.

Todos são bem-vindos para assistir a Divina Liturgia, e fazem bem os Ortodoxos que vão conhecer a missa romana.

Mas não importa à Igreja Católica Ortodoxa o que Roma permite ou não permite no que tange à comunhão posto que separada da Igreja perdeu todas as prerrogativas de autoridade e não pertence mais a nossa comunhão. Apostolicidade não é apenas sequência ininterrupta, mas também fidelidade à fé dos apóstolos e é exatamente essa fidelidade que Roma e a Ortodoxia questionam mutuamente uma na outra.

Do lado da Ortodoxia, não é permitido sob circunstância alguma ao ortodoxo comungar em nenhuma outra igreja, nem mesmo romana, por semelhante que seja à nossa, assim como é vedado ao ortodoxo dar a comunhão a qualquer um que não seja ortodoxo, romanos inclusive. É inapropriado que ortodoxo ou romano se coloque na fila de comunhão da outra igreja, obrigando o padre ou bispo a ficar na "saia curta" de ou negar a comunhão na frente de todos ou cometer um pecado de concedê-la a quem não é permitido.

A permissão que o Papa deu para seu rebanho de que seria possível comungar na Igreja Ortodoxa é na melhor das hipóteses, uma medida mal-pensada e "entrona" como se eu dissesse ao meu filho que no caso de ficar muito distante ou sem acesso a esposa dele, ele pode beijar a *sua* esposa. E ainda te acusasse de "radical" e "hostil ao diálogo" por não deixar.

De nossa parte, o nosso dever é testemunhar que quem deseja o maior e mais íntimo dos sacramentos ortodoxos, deve desejar toda a fé ortodoxa e todos os sacramentos, inclusive o batismo e/ou crisma. Se for romano, nossa esperança e desejo ardoroso é que complete sua conversão tornando-se católico ortodoxo antes de mais nada, e partilhando assim da plenitude da fé conforme foi entregue por Cristo aos Apóstolos de uma vez para sempre, sem prejuízo de nossa esperança mais ampla a respeito da Sé Romana de ver a realização da oração sacerdotal de Jesus, onde Ele roga ao Pai que "Todos sejam um" (Jo 17:21) que se realizará com o retorno de todos os cristãos à Igreja Católica Ortodoxa.



Trecho do Pronunciamento de Sua Santidade Patriarca Ecumênico Bartolomeu à Sinaxis dos Hierarcas do Trono
(Sobre como interagir com as heterodoxias nas terras não-ortodoxas)

Somos obrigados a reconhecer que a era de comunidades e nações religiosas puras já passou e as pessoas são chamadas a receber a alteridade como um elemento constitutivo de nossas sociedades se não desejam caminhar na direção do conflito e do tumulto.
A coexistência dos ortodoxos com outros cristãos hoje em dia compõe uma realidade inevitável na área da diáspora e espalha-se rapidamente mesmo dentro de nações e sociedades que era anteriormente exclusivamente ortodoxas. Isso obriga nossa Igreja a adaptar toda sua vida pastoral com o princípio de economia. 
Portanto, por exemplo, o aumento do número de casamentos mistos é agora uma realidade que compele a a Igreja a aceitar orações e cultos comuns com os não-ortodoxos, o que já é feito em todas as igrejas ortodoxas. 
Isso de nenhuma forma é um desvio do elemento fundamental que continua a dividir os ortodoxos dos outros cristão, que se trata da comunhão da Santa Eucaristia e pressupõe concordância completa com a fé de nossa Igreja. Nesse último ponto, não pode haver exercício de economia.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Intercomunhão com Roma III: O que precisaria mudar para poder haver intercomunhão?

Este artigo foi escrito a convite pelo Pe. Thomas Hopko, para uma conferência que ocorreu em Washington, D.C., em 2005, realizada pela Igreja Católica Romana, pelo Instituto Teológico de Woodstock e a Universidade de Georgetown sobre "o que os não-católicos exigiriam da Igreja de Roma e do Papa de Roma para entrar em comunhão sacramental com a Igreja Católica Romana".
Pe. Thomas Hopko

Notem que a conferência inteira é fundada no conhecimento elementar de que é errada a intercomunhão antes da união da fé, que todos estão cientes de que existem diferenças significativas das fés entre suas igrejas e Roma – inclusive entre a Igreja Católica Ortodoxa e a Igreja Católica Romana, e que portanto é necessário delinearmos quais as mudanças necessárias para que a intercomunhão seja possível.

Essa conferência contava ainda com várias igrejas não-romanas: episcopais, luteranos, metodistas, batistas, calvinistas, sociedade dos amigos, e quakers, além claro, dos ortodoxos. O Pe. Thomas Hopko fora convidado por ser teólogo, professor de teologia dogmática e reitor-emérito do Seminário Teológico Ortodoxo de S. Vladimir, tendo sido reitor entre os anos de 1992 e 2002.

Outras autoridades poderiam compilar listas um pouco diferentes de ações práticas requeridas para que ortodoxos e romanos pudessem tomar comunhão na igreja um do outro, entretanto nenhuma negaria que as diferenças correntemente existentes na fé, nas estruturas eclesiásticas e de autoridade episcopal são impendimentos sérios para a intercomunhão. De todo modo, fiquemos com a análise do Pe. Thomas Hopko. 



O que Roma Precisaria Fazer para restaurarmos a Comunhão Sacramental? 
 
Por Pe. Thomas Hopko (1939-2015+)
http://www.ancientfaith.com/podcasts/hopko/what_does_rome_need_to_do_part_2

Primeiro de tudo, acredito que os ortodoxos insistiriam – ou deveriam insistir – que o bispo de Roma confesse a fé ortodoxa preservada pela Igreja Católica através da história e ensine e defenda a verdadeira doutrina cristã. Isso significa que o Papa teria que fazer várias coisas específicas, principalmente, em minha opinião, as seguintes. Isto é o que creio que os ortodoxos pediriam: 

Primeiro, o bispo de Roma teria que confirmar o texto original do Símbolo de Fé Niceno-Constantinopolitano e defender seu uso em todas as igrejas, a começar com a sua própria. Pelo menos, caso por questões pastorais algumas igrejas recebessem a permissão de manter o filioque no seu Credo, o bispo de Roma teria que insistir que se explicasse o filioque de modo a deixar claro que o Espírito Santo “procede do Filho” apenas em relação a dispensação salvífica de Deus no mundo, em economia, por outras palavras, o Espírito Santo que procede eternamente do Pai é dado ao mundo através do Filho, para que se preserve o entendimento próprio das relações entre as Pessoas da Trindade. O Papa teria que garantir que nenhum cristão seria tentado a acreditar que o Espírito Santo procede em essência do Pai e do Filho juntamente, e certamente não “de ambos como de um – ab utroque sicut ab uno” a qual é uma posição tradicional da Igreja Romana a partir de uma época posterior, quando o filioque foi discutido entre o Oriente e o Ocidente. 

Em outras palavras, o Credo sem o filioque teria que ser subscrito. Se por alguma razão, em alguns lugares, a Igreja Romana mantivesse o filioque no Credo, teria que deixar claro aos que quisessem entender que isso não significa uma processão eterna do Espírito Santo desde o Pai e o Filho, e nem mesmo do Pai e do Filho “como que de um”; isso não seria aceitável pela Ortodoxia. 

Também, o bispo de Roma, o Papa, teria que ensinar que o Pai e o Filho e o Espírito Santo são três pessoas ou hipóstases distintas e não simplesmente “relações subsistentes” dentro do Deus uno, o qual é identificado com a una natureza divina. Ele teria que insistir e garantir que o Verdadeiro e Um Deus da fé cristã não é a Santíssima Trindade entendida como um sujeito quase unipessoal que se revela como Pai, Filho e Espírito, o que, para o cristianismo tradicional, é inaceitável e de fato seria entendido como uma versão do modalismo, ou seja, que há um Deus, que é Pai, que é Filho e que é Espírito Santo – não! 

Há um que é o Pai, um que é o Filho, Um que é o Espírito Santo. Sua unidade é perfeita, Sua divindade é perfeita, mas a divindade do Filho e do Espírito deriva eternamente, antes da fundação do mundo, antes do tempo e do espaço, da Pessoa do Pai. O Pai comunica toda sua divindade ao Seu Filho desde toda a Eternidade e Deus, para os Cristãos, é tri-Pessoal, tri-hipostáticamente divindade, tri-hipostaticamente divino. 

O Papa também teria que insistir que os seres humanos podem ter comunhão real com Deus através das divinas ações e energias incriadas em relação com as criaturas, as quais vêm do Pai, através do Filho e no Espírito Santo. Esse pequeno parágrafo significa que o palamismo teria que ser aceito, pois foi conciliarmente recebido por todas as igrejas Ortodoxas, de que realmente existe uma distinção entre a essência e as energias de Deus: a Divinidade incogniscível e supra-essencial que é oculta, e as atividades de Deus nas quais nós criaturas realmente participamos através da revelação do Pai, através do Filho no Espírito Santo. 

O bispo de Roma, o Papa, teria que dizer oficialmente que a imaculada conceição da Mãe de Deus, Maria, desde seus pais, e a glorificação total de Maria em Cristo ressuscitado à direita do Pai, foi explicada de modo impróprio nas bulas papais que acompanharam originalmente os dogmas ex cathedra da Igreja Romana sobre esses dois artigos da fé. O papa precisaria explicar que a concepção de Maria por seus pais foi pura e santa, sem necessidade de que Deus aplique extraordinariamente “os méritos de Cristo” ao ato sexual de Joaquim e Ana para conceber sua filha com o fim de libertá-la “da mancha do pecado original”. O Papa também deveria deixar claro que Maria realmente morreu e não foi assunta corporalmente aos céus antes de aniquilar a morte com sua própria morte, por fé em seu Filho, Jesus Cristo. 

Eis o que quero dizer: a Igreja Ortodoxa afirma que Maria foi concebida imaculadamente de seus pais, Joaquim e Ana, mas isso não precisou de nenhum ato excepcional ou especial da parte de Deus para mantê-la livre da mancha do pecado original desde a concepção. Devemos notar que algumas igrejas Ortodoxas, que são bem anti-romanas, ainda têm uma versão deste ensinamento, e elas diriam que a mancha do pecado original foi retirada na Anunciação, e não na concepção de Joaquim e Ana. Em todo caso, deveria haver uma explicação da Imaculada Conceição, e da Dormição, da Assunção de Maria, corporalmente, à presença de Deus, que se conformasse com a prática litúrgica e com a doutrina Ortodoxa. 

Além disso, o Papa também deveria dizer oficialmente, afirmando de modo claro, que, embora haja uma purificação e limpeza do pecado no processo da morte humana, não há um estado ou condição de purgatório depois da morte onde o pecador paga a punição temporária que alegadamente ele deveria a Deus por seus pecados. O Papa cessaria também a prática de indulgências através das quais, através de certas atividades piedosas, os cristãos supostamente reduziriam os “dias” de sofrimento purgatorial para eles mesmos e para outros. 

Aqui, claro, isso significa que a alegoria dos pedágios da tradição Ortodoxa, a qual creio ser um ensino ortodoxo tradicional, não diz que os pecadores tem que ser punidos pelos pegados que cometeram na terra antes de morrer, nos 22 pedágios que foram formulados no segundo século em Constantinopla, mas que eles devem libertar-se das paixões e purificados delas com o fim de entrar no reino de Deus, e portanto a oração pelos mortos, rogando a misericórdia de Deus, assim como a graça de que as pessoas aceitem Cristo, e portanto libertas de seus pecados. Esse é que seria, creio, o entendimento que deveria ser compartilhado por Roma sobre essa questão. 

O Papa deveria deixar claro que a crucificação de Cristo não foi um pagamento do débito de punição que os homens supostamente devem a Deus por seus pecados. O bispo de Roma iria ensinar, ao invés, com seus co-bispos do patriarcado ocidental, que o auto-sacrifício de Cristo ao Seu Pai foi o pagamento salvífico, redentor e reparador de uma dívida de amor perfeito, justiça, obediência, gratidão e glória perfeitas que os seres humanos devem a Deus, que Deus deve receber dos seres humanos para nossa salvação do pecado e libertação da morte e que agora, realmente obtivemos por causa da morte redentora, em total amor a Deus e a humanidade, de Jesus, o Cristo crucificado, que é o novo e último Adão. 

Em outras palavras, teria que haver uma explicação de porque a morte de Cristo na Cruz é reparadora, e a explicação não poderia ser que os humanos têm que ser punidos e Cristo recebe essa punição. Ao invés, é que os humanos precisam ser bons e santos e guardar a lei de Deus, o que apenas Cristo consegue fazer, e portanto pela fé nEle podemos ter nossos próprios pecados perdoados e nosso caminho para a restauração e o paraíso garantidos. 

O Papa teria que garantir a todos os cristãos que o bispo de Roma nunca fará ou ensinará nada de sua própria autoridade, por si mesmo, ou de si mesmo e sem o consenso da Igreja. “Ex sese et non ex consenso ecclesiae,” em latim. O bispo de Roma teria que prometer servir em sua presidência unicamente como porta-voz de todos os bispos em sucessão apostólica, que governam comunidades de crentes que os escolheram para servir como bispos, e cuja validade e legitimidade como bispos depende unicamente na sua fidelidade ao Evangelho e a fé de uma vez por toda entregue aos santos, em comunhão com seus predescessores no ofício arquisacerdotal e arquipastoral e um com o outro. 

Claro que isso significa que a doutrina da infalibilidade do papa, conforme formulada no Vaticano I e defendida no Vaticano II, teria que ser rejeitada ou radicalmente modificada para que os Ortodoxos ficassem comunhão com Roma. 

Creio também que em questões doutrinárias e morais não decididas – questões abertas, por assim dizer – o Papa de Roma teria que usar sua autoridade presidencial para garantir que todos, clero e leigos, seria encorajado a livremente apresentar seus argumentos concernentes ao ensino e prática cristã, conforme testemunhado nos documentos formais de testemunhos da fé e vida cristã, isto é, as escrituras canônicas (a Bíblia), as liturgias tradicionais, os concílios e cânones cristãos universalmente recebidos, e o testemunho e escritos dos santos canonizados – não por tudo que os santos tenham dito e feito, mas especificamente pelas razões que esses santos foram glorificados na Igreja e seu ensino foi aceito pela Igreja universal. 

Então, o dever do Papa é garantir que a devida atividade sinodal e conciliar ocorra entre os bispos e o povo com o fim de a Igreja alcançar uma decisão sobre questões doutrinais e morais. 

Finalmente, o Papa de Roma utilizaria sua autoridade presidencial para garantir um espírito de liberdade, abertura, respeito e amor nas e entre todas as igrejas e todos os Cristãos e, de fato, todos os seres humanos, de modo que o Espírito Santo, o único “Vigário de Cristo na terra”, possa nos relembrar o que Cristo disse e guia o povo até toda a verdade (Jo. 14:25, 16:13). O Papa seria dessa forma verdadeiramente o grande construtor de pontes, o pontifex maximus. 

O ponto é que o Papa garantiria, asseguraria, promoveria, defenderia e pastorearia um espírito de liberdade, abertura, respeito e amor entre todas as igrejas, cristãos e todo o povo, de modo que o Espírito Santo, que é o único “vigário de Cristo na terra”, possa trazer a lembrança do que Cristo disse, com atos, então, através de todo o corpo junto. 

Continuo agora falando da Liturgia. Para que o Papa de Roma possa exercitar sua “presidência em amor” entre as igrejas e a liderança cristã no mundo, sua igreja, a Igreja de Roma, teria que dar o exemplo de uma correta adoração cristã. Também isso significaria para os ortodoxos algumas coisas bem específicas. Primeiro de tudo, creio, o bispo de Roma teria que insistir que, exceto por razões pastorais extraordinárias, o batismo deve ser feito por imersão na água em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. 

E ele também afirmaria que os recém-batizados fossem imediatamente crismados com o selo do dom do Espírito Santo e trazidos à comunhão com Cristo por participação na Santa Eucaristia. Isso inclui os infantes que entram na vida sacramental da Igreja por virtude da fé dos adultos que cuidam deles. A prática de uma ação posterior com o bispo impondo suas mãos para confirmar a fé do batizado – que hoje é chamada de Crisma - poderia ser permitida em igrejas que desejassem continuar com essa prática piedosa por razões de costumes. 

Sobre a participação na Santa Eucaristia, o papa também deveria insistir que os fiéis recebam a Santa Comunhão dos Dons – isto é, o pão e o vinho – que são oferecidos na Liturgia Eucarística que estão celebrando. Os fiéis não receberiam a Comunhão em Liturgias Eucarísticas a partir de Dons que são guardados exclusivamente para os que estão incapacitados de participar na Liturgia por boas razões (normalmente doença ou enfermidade, ou porque estão envolvidos em serviços ao próximo e portanto perdem a Liturgia da Igreja). 

O ponto aqui é que não tem como você ter a Missa e comungar o povo com o sacramento de reserva que é mantido no cibório do altar. O pão tem que ser oferecido e consagrado e erguido no altar da Liturgia para a comunhão do povo presente, que participa junto da Liturgia. 

O ponto seguinte é que o Papa também teria que garantir que os fiéis também participem do vinho consagrado, o sangue de Cristo, durante a Santa Comunhão. Como isso será feito na prática pode variar em diferentes igrejas, mas deve ser feito sem exceção. Quanto ao pão, biscoitos não fermentados poderiam ser usados por razões pastorais em igrejas com essa prática pastoral, mas o papa afirmar o pão fermentado, o artos, como normativo para a Eucaristia Cristã. 

O Papa deveria insistir na celebração da Santa Eucaristia com os salmos, leituras das Escrituras e sermões exegéticos de acordo com as práticas eclesiásticas locais como forma normativa de culto conjunto para cristãos no domingo e nas festas litúrgicas de Igreja. Ele, com seus colegas bispos, proibiria celebrações eucarísticas privadas para celebrar intenções particulares e para fins pietísticos particulares, políticos ou ideológicos. Ele apoiaria a celebração também das orações das horas: vésperas, completas, matinas e horas – nas igrejas. Ele restauraria a prática de ter o celebrante sacerdotal voltado para o altar – em outras palavras, voltado para o Oriente – junto com os fiéis durante as orações e ofertas Eucarísticas na Divina Liturgia. Ele também consideraria resgatar a antiga prática ascética e penitencial de proibir a celebração da Santa Eucaristia em igrejas cristãs nos dias da semana da Grande Quaresma, exceto na festa da Anunciação. 

Os ortodoxos defenderiam que mudanças estruturais e administrativas devem ocorrer se o Papa de Roma quiser ser aceito e reconhecido como o bispo que exerce sua presidência em amor entre as igrejas, sendo o bispo da Igreja de Roma, igreja que preside em amor – não o homem, mas a Igreja tem a presidência em amor – e que o bispo dessa igreja, o Papa de Roma, serviria como o líder mundial do Cristianismo. 

Um “colégio de cardeais” constituído de homens de todo o mundo, e designado pelo papa e tendo ministérios nominais em Roma, simplesmente não existiria mais. Em outras palavras, não seriam cardeais apontados pelo papa que elegeriam o próximo papa, mas seriam os líderes das igrejas ortodoxas afirmando e confirmando o que a própria Igreja Romana fez ao eleger seu próprio bispo. Assim a eleição seria pela Igreja de Roma, a confirmação seria pelos primazes das outras igrejas regionais da Terra. 

O Papa não selecionaria nem designaria os bispos em quaisquer igrejas, como ele faz hoje. Ele iria, ao invés, confirmá-los em seus ministérios, e poderia fazê-lo até de alguma maneira formal, já que cada bispo é chamado a confirmar seus irmãos com quem ele exerce o episcopado uno in solidum. Essa é uma referência a S. Cipriano de Cartago, que disse, “Episcopatus unus est, o espicopado é um e todos os bispos o exercem in solidum, juntos em unidade”. 

O Papa certamente teria o direito e o dever de questionar a escolha do candidato para o episcopado, especialmente de uma presidência regional (isso significa os primazes das igrejas locais) que ele considere inadequados ou indignos da cátedra. Ele pode até ter a oportunidade de avaliar os candidatos e oferecer sua opinião antes que a eleição ocorra, especialmente a de um bispo presidente de uma igreja territorial. Mas o papa faria isso como qualquer outro bispo ou primaz de uma igreja regional. Ele não teria o direito ou o poder de interferir nas questões internas de qualquer igreja ou diocese, além das suas próprias. 

O Papa, o bispo de Roma, iria designer comissões e departamentos compostos por homens e mulheres competentes vindos de todas as igrejas em comunhão com Roma para assisti-lo em suas atividades como líder mundial e principal porta-voz da Cristandade. Ele também organizaria encontros regulares dos primazes das igrejas do mundo para apoiá-lo na sua missão global como o líder universal da Igreja Cristã na terra. O Papa teria uma comissão para tratar da doutrina da igreja, a doutrina cristã, e do pensamento teológico nas várias igrejas do mundo, mas não haveria nenhum departamento com a autoridade de tomar ação disciplinadora em questões doutrinais, as quais, quando necessárias, seriam tratadas pelo bispo local. Os bispos da Igreja, e não uma equipe de teólogos em Roma, designados pelo papa e falando em seu nome – é que constituiriam o magistério formal da Igreja. Obviamente, isso significa que estamos falando do fim do Santo Ofício, e mesmo da Cúria, de que haja corpos conciliares em Roma, vivendo lá, representando todas as igrejas do mundo e trabalhando juntos nessas áreas. 

Cada bispo supervisionaria os membros de seu rebanho. Ele teria que prestar especial atenção aos membros intelectuais, carismáticos e ativistas da sua igreja, e teria que exercitar orientação, direcionamento e disciplina pastorais adequadas. O bispo local proibiria a Santa Comunhão para membros que neguem as doutrinas e/ou práticas cristãs que ele e seus irmãos-bispos, com o papa Romano como seu líder, são chamados e consagrados para proclamar e defender. 

Caso um bispo seja acusado de ensinar doutrinas falsas (heresias) ou de se envolver em comportamento imoral, ou de permitir que aqueles sob seus cuidados o façam, ele deve ser julgado pelo sínodo de bispos ao qual ele pertence, isto é, o sínodo regional que irá discipliná-lo ou depô-lo. Em outras palavras, ele não seria julgado diretamente pelo Vaticano ou Roma; a questão será tratada pelo sínodo a que pertence, mesmo que ele seja o presidente do mesmo. Se for culpado do mal-feito, seu próprio sínodo irá discipliná-lo ou depô-lo. Se ele quiser apelar seu caso, ele pode buscar o bispo que exerce a presidência entre as igrejas da sua região, e como último recurso, ele pode apelar ao bispo de Roma, como o mais alto presidente da Igreja, o tribunal de última instância por assim dizer. 

O Papa não teria poder de tomar decisões jurídicas ou jurisdicionais autoritativas, mas exerceria o ministério de intercessão e reconciliação. O mesmo direito de apelação às presidências regionais e mesmo ao bispo de Roma estaria, naturalmente, disponível a todo membro da igreja, clero ou leigo, que fosse acusado de ensino errado ou algum mal-feito. 

O bispo de Roma também deixaria de ser um chefe de estado oficial. Como líder global do Cristianismo, entretanto, ele teria que viver em um lugar com o mínimo de riscos de interferências governamentais e políticas em seu ministério. E isso é muito importante para os ortodoxos, cujos bispos estão sempre sofrendo algum tipo de controle ou tentativa de controle por parte dos países em que vivem. Então diríamos que seria bom se ele não fosse um chefe de estado e vivesse em um lugar com riscos mínimos de interferência governamental e política no seu ministério. O local onde o Papa viveria, e onde as comissões intereclesiásticas e departamentos também estariam localizados, seriam governados por um leigo, designado pela Igreja Romana. Os chefes de estado se relacionariam com o papa apenas enquanto bispo e líder espiritual, e não como chefe de estado. Em outras palavras, ainda existiria um lugar como a Cidade do Vaticano, mas seu líder político e secular seria um leigo, escolhido pela Igreja. Não seria o Papa, que teria uma função especificamente eclesiástica, espiritual, pastoral e doutrinal. 

Como líder dos cristãos do mundo, o papa viajaria bastante. Ele tiraria o máximo proveito dos meios de transporte e comunicação contemporâneos. Ele dominaria a mídia eletrônica para servir seu ministério em proclamar o Evangelho de Cristo, propagando a fé cristã, promovendo o comportamento ético, protegendo os direitos humanos e buscando a justiça e a paz para todos os povos. Ele seria o servo da unidade entre todos os seres humanos, e o primeiro de todos os seus irmãos cristão, não como um episcopus espiscoporum singular (essa é uma expressão de S. Cipriano), não como um bispo de outros bispos, pois não existe um bispo de bispos, como foi decretado no Concílio de Cartago no terceiro século, mas como um igual a todos os bispos. Ele não seria um bispo de bispos, mas seria o primeiro bispo, aquele que o Papa S. Gregório Magno chamou de servus servorum Dei, o servo dos servos de Deus, entre todos os bispos cristãos do mundo. 

Agora, grande boa-vontade, energia e tempo seriam necessários para remodelar o papado para que o Papa de Roma se tornasse o líder mundial do Cristianismo como o bispo cuja igreja preside em amor entre todas as igrejas católicas do mundo que preservam e ensinam a fé ortodoxa. Como papas recentes insistiram, um arrependimento radical também seria necessário, começando por Roma, cujo chamado como primeira entre as igrejas cristãs é de dar o exemplo. 

Certamente também as igrejas ortodoxas deveriam sujeitar-se a muitas mudanças humildantes nas suas atitudes, estrutura e comportamento para entrar em comunhão sacramental com a Igreja Romana e reconhecer sua presidência entre as igrejas na pessoa do papa, seu bispo. Mudanças tremendas também deveriam acontecer na Ortodoxia. 

Os ortodoxos certamente teriam que superar suas querelas internas, a despeito e contra privilégios e poderes eclesiásticos, porque os bispos ortodoxos de hoje mal podem concordar onde devem sentar-se em uma mesa se realizassem um concílio. É um escândalo, de verdade. E os ortodoxos teriam que candidamente admitir suas contribuições pecaminosas para as divisões e falta de união cristãs ao longo da história, e se arrepender sinceramente dessas coisas. Também teriam que abandonar todo desejo e exigência de que outras igrejas se arrependam publicamente de seus erros e pecados passados. Eles teria que estar dispostos a permitir que Deus coloque tudo no passado e no esquecimento pelo amor da realização da reconciliação e reunião dos cristãos no tempo presente. 

Aqui devemos mencionar também a prática de termos igrejas organizadas de acordo com etnias e culturas, como gregos, russos, sírios. Isso teria que ser radicalmente alterado, para ser entendido de forma apropriada. 

Em outras palavras, os ortodoxos teriam que sacrificar tudo exceto a própria fé por amor de construir um futuro comum com cristãos que estejam dispostos e capazes de fazê-lo com eles sob a liderança de um Papa Ortodoxo de Roma. O que precisamos é um Papa Ortodoxo de Roma. Como os católicos romanos e os protestantes, os ortodoxos teriam que estar dispostos a morrer com Cristo para si mesmos em seus interesses pessoais, culturais, étnicos, eclesiásticos e políticos por amor de uma plena unidade com todos que desejam ser salvos pelo Senhor crucificado e dentro da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, a qual é, de acordo com as Escrituras, o Corpo de Cristo, a plenitude dele que completa tudo em todos (Ef. 1:23). A Igreja que é “casa de Deus”, a Igreja do Deus Vivo, o pilar e sustentáculo da Verdade (I Tim 3:15) 

Com a firme convicção de que com Deus todas as coisas são possíveis, podemos ousar imaginar, talvez até fantasiar, com uma unidade global dos cristãos na fé que foi de uma vez por todas entregue aos santos sob a presidência de Igreja Ortodoxa de Roma. 

Era isso que tinha para dizer nesse artigo e o apresento para discussão sobre o que nós ortodoxos gostaríamos de ver na Igreja de Roma ou que precisaríamos ver para poder haver comunhão sacramental. 

Que Deus abençoe nosso caminho, o Deus para Quem todas as coisas são possíveis.

Veja o artigo anterior na série aqui: http://vidaortodoxa.blogspot.com/2015/08/intercomunhao-com-roma-ii-relacao.html

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Intercomunhão com Roma II: A relação melquita-antioquena


Continuando o trabalho do último artigo, daremos voz aos documentos e autoridades eclesiais de ambas as igrejas sobre o problema de intercomunhão Roma-Ortodoxia através das igrejas melquita e antioquena, buscando focar no que trata diretamente do assunto em pauta.

Da parte de Roma

Carta da Congregação para as Igrejas Orientais Prot. No. 251/75
11 de Junho de 1997
Sua Beatitude Máximos V Hakim
Patriarca Católico Greco-Melquita de Antioquia e todo o Oriente, Alexandria e Jerusalém
Sua Beatitude
As novidades do projeto de "reaproximação" entre o Patriarcado Católico Greco-Melquita e o Patriarcado Ortodoxo de Antioquia deu margem a vários ecos e comentários na opinião pública.
A Congregação para Doutrina da Fé, a Congregação para Igrejas Orientais, e o  Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos realizaram um esforço para estudar e examinar de perto as áreas que enquadram-se em suas competências nesse domínio; e os líderes desses Dicastérios foram incumbidos pelo Santo Padre de expressar algumas considerações a Sua Beatitude.
(...)
Os Discatérios envolvidos apreciam muitíssimo as iniciativas pastorais comuns que são tomadas por católicos e ortodoxos, de acordo com as instruções encontradas no Diretório para aplicação dos princípios e normas para o Ecumenismo, especialmente nas áreas de formação cristã, de educação, um esforço comum na caridade e de compartilhar oração quando possível.
Quanto a experiências de natureza teológica, é necessário laborar pacientemente e prudentemente, sem precipitação, com o fim de auxiliar ambos os lados a viajarem na mesma estrada.
O primeiro nível neste partilhar trata da linguagem e das categorias empregadas no diálogo: deve-se ter muito cuidado para que o uso da mesma palavra ou do mesmo conceito não seja usado para expressar diferentes pontos de vista e interpretações de uma natureza histórica e doutrinal, nem que se prestem a simplificações excessivas.
Um segundo nível de envolvimento requer que o partilhar de conteúdo no diálogo não seja limitado apenas aos dois participantes: os Patriarcados dos Católicos Greco-Melquitas e os Ortodoxos de Antioquia, mas que envolva as confissões com quem os dois patriarcados estão em plena comunhão, a comunhão católica para o primeiro e a ortodoxa para o segundo. Mesmo as autoridades eclesiásticas ortodoxas do Patriarcado de Antioquia levantaram uma preocupação semelhante. Esse envolvimento global também permitirá evitar o risco de que algumas iniciativas, que buscam promover a plena comunhão no nível local, dêem margem a uma falta de compreensão ou suspeitas além da generosidade das intenções.
Consideremos agora os elementos contidos na profissão de fé de sua Excelência Kyr Elias Zoghby, Arcebispo Emérito dos Católicos Greco-Melquitas de Baalbek, e assinada em fevereiro de 1995, e a qual numerosos hierarcas do Sínodo Católico Greco-Melquita aderiram.
É claro que esse Patriarcado é uma parte integral do Oriente Cristão cujo patrimônio ele compartilha. Quanto aos Católicos Greco-Melquitas que declaram sua completa adesão ao ensino da Igreja Ortodoxa, é necessário considerar o fato de que ela não está hoje em plena comunhão com a Igreja de Roma, e que essa adesão, portanto, não é possível enquanto não houver uma plena correspondência na profissão e exercício da fé pelos dois grupos. Além disso, a correta formulação da fé necessita de uma referência não apenas a uma Igreja particular, mas a toda Igreja de Cristo, que não conhece fronteira, nem no espaço, nem no tempo.
Na questão da comunhão com os Bispos de Roma, sabemos que a doutrina concernente ao primado do Pontífice Romano passou por desenvolvimentos ao longo do tempo dentro do quadro de explicação da fé da Igreja, e ele tem que ser preservado integralmente, o que significa de sua origem até nossos dias. Basta pensar sobre o que afirmou o Concílio Vaticano I e o que o Concílio Vaticano II declarou, particularmente a Constituição Dogmática Lumen Gentium Num. 22 e 23, e no Decreto sobre ecumenismo Unitatis Redintegratio Número 2.
Quanto as modalidades para o exercício do ministério Petrino em nosso tempo, uma questão que é diferente do aspecto doutrinal, é verdade que o Santo Padre recentemente quis lembrar-nos de como "podemos buscar - juntos, naturalmente - as formas nas quais este ministério pode realizar um serviço de amor reconhecido por todos os envolvidos" (Ut unum sint, 95); entretanto, se é legítimo lidar com isso também no nível local, é também um dever fazê-lo sempre em harmonia com uma visão da Igreja universal. Tocando nessa questão, é apropriado lembrar que em todo caso, "A Igreja Católica, tanto na sua práxis, quanto em seus documentos solenes afirma que a comunhão das igrejas particulares com a Igreja de Roma, e de seus Bispos com o Bispo de Roma, é - no plano de Deus - um requisito essencial da plena e visível comunhão" (Ut unum sint, 97).
Quanto aos vários aspectos da communicatio in sacris, é necessário afirmar um diálogo constante com o fim de compreender o significado da regulamentação correntemente vigente, sob a luz de pressuposições teológicas subjacentes; iniciativas unilaterais e prematuras devem ser evitadas, onde os resultados eventuais podem não ter sido suficientemente considerados, podendo produzir consequências sérias para outros católicos orientais, especialmente os que vivem na mesma região.
Em resumo, o diálogo fraternal realizado pelo Patriarcado Católico Greco-Melquita servirá melhor ao diálogo ecumênico na media em que busque envolver toda a Igreja Católica, a qual pertence, no amadurecimento de novas sensibilidades. Existem bons motivos para crer que os ortodoxos em geral partilham das mesmas preocupações, devido também às obrigações de comunhão dentro de seu próprio corpo.
Os Discastérios envolvidos estão prontos para colaborar com o fim de aprofundar a troca de verificações e ecos; eles expressam sua satisfação por esses encontros que ocorreram sobre o assunto com os representantes da Igreja Católica Greco-Melquita, e esperam e desejam que esses encontros continuem e se intensifiquem no futuro. 
Sem duvidar que Sua Beatitude desejaria partilhar essas ideias, imploramos que aceite a expressão de nossas saudações cordiais e fraternais. 
Joseph Card. Ratzinger (posteriormente SS Papa Bento XVI)
Achille Card. Silvestrini
Edward Card. Cassidy

Do lado da Igreja Ortodoxa de Antioquia, temos:

Em outubro de 1996, o Santo Sínodo do Patriarcado Ortodoxo Antioqueno emitiu uma declaração que incluía as questões com a proposta melquita:

"Sobre esse assunto, nossa Igreja questiona a unidade da fé que os católicos melquitas acham que se tornou possível. Nossa Igreja crê que a discussão dessa unidade com Roma ainda está em seu estágio primitivo. O primeiro passo para a união no nível doutrinal, é não considerar como ecumênicos os concílios ocidentais locais que a Igreja de Roma convocou, separadamente, incluindo o Concílio Vaticano I.
Em segundo lugar, os católicos melquitas não deveriam ser obrigados a aceitar tais concílios. Sobre a intercomunhão agora, nosso Sínodo crê que a intercomunhão não pode ser separada da unidade da fé. Além disso, a intercomunhão é o último passo na jornada para unidade, e não o primeiro."

Além disso, o eminente Metropolita Philip Saliba (1931-+2014) da Arquidiocese Antioquena da América do Norte, subscrevendo o Sínodo Antioqueno, também emitiu o seguinte comunicado:

Por favor, estejam avisados que, enquanto oramos pela unidade de todos os Cristãos, não podemos e não iremos realizar comunhão com os não-ortodoxos até que antes alcancemos a unidade da fé. Enquanto essa unidade da fé não for realizada, não pode haver intercomunhão. Pedimos a todos que adiram às instruções que receberam de nosso escritório e de nossos hierarcas".
Ambos os comunicados estão registrados no site melquita:

https://web.archive.org/web/20111205203202/http://www.melkite.org/bishopQA.htm

Nesse mesmo site o Bispo melquita John, na área de perguntas e respostas, resume de forma muito sábia a questão:

Pergunta sobre participação nos ofícios ortodoxos: "Como católicos melquitas, podemos participar nos ofícios de oração (como o de Vésperas) de nossos colegas ortodoxos antioquenos? O que eu queria saber é: Quais são as regras?"

Resposta do Bispo João: Muito obrigado por sua pergunta sobre a participação nos ofícios com os ortodoxos antioquenos. O Vaticano II chama todos os católicos a familiarizarem-se com os cristãos ortodoxos orientais, já que existe tão pouco que os separa. O atual Santo Padre está bastante disposto a trabalhar por uma reunião dos católicos romanos e dos ortodoxos. Para nós como melquitas, a questão é ainda mais urgente, pois temos raízes familiares comuns - muitas de nossas famílias são inter-relacionadas, e temos tanto em comum. Você provavelmente reparou que a música e os ofícios são muito parecidos. Por isso, sim, por favor, participe dos ofícios com os ortodoxos antioquenos e ore com eles, assim como convidando-os aos ofícios em nossas igrejas melquitas. Entretanto, não restabelecemos a comunhão plena com eles ainda. No momento, nós nos abstemos de receber a Comunhão nas igrejas uns dos outros... não porque sejamos melhores do que eles, nem porque eles sejam melhores do que nós... nos abstemos como um reconhecimento de que ambos os lados tem que trabalhar mais duro pela reunião para que um dia possamos todos intercomungar e desfrutar aquela unidade pela qual Cristo Deus orou tão fervorosamente em Sua Última Ceia com os Apóstolos, quando ele nos deu a Divina Liturgia como uma celebração da comunhão plena com o Pai e uns com os outros através dEle no Espírito Santo.

Vale lembrar que se a proibição é efetiva entre melquitas e ortodoxos, é ainda mais forte entre ortodoxos e católicos latinos.

Veja o primeiro artigo da série: http://vidaortodoxa.blogspot.com.br/2015/08/intercomunhao-com-roma-o-elefante-na.html

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Intercomunhão com Roma: O Elefante na Sala da Ortodoxia Brasileira


No que diz respeito a artigos recentemente publicados anunciando que alegadamente Sua Santidade, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu acreditaria que é possível para os Católicos de Rito Bizantino (Uniatas) terem uma "união dupla", em outras palavras, plena comunhão com Roma e ao mesmo tempo com Constantinopla, o Patriarcado Ecumênico refuta tal sentença incorreta e afirma que ela jamais foi pronunciada. O Patriarca Ecumênico reitera sua posição de que uma união plena da fé é um pré-requisito para a comunhão sacramental.
No Patriarcado, 5 de julho de 2008
Do Secretário-Chefe do Santo Sínodo (Ênfase minha)
Fonte: http://www.ec-patr.org/docdisplay.php?lang=gr&id=952&tla=en


A expressão "elefante na sala" se refere a um problema que todo mundo sabe existir, mas sobre o qual ninguém fala porque ninguém sabe como lidar com ele. Como tirar ele dali sem quebrar nada? Como foi que ele parou ali? Como a coisa é insólita e a solução é complicada, melhor agir como se ele não existisse, ou até encontrando justificativas e racionalizações para ele continuar na sala, mesmo que esbarrando em tudo o tempo todo.

No meio ortodoxo brasileiro, a intercomunhão com Roma é esse elefante na sala. Todos sabem que é errado, e mesmo assim acontece de forma cotidiana, sem questionamento ou justificativa. Aos olhos e ouvidos dos fiéis, não é sequer algo que necessite de explicação, é o "normal" do dia-a-dia. O que soa "estranho" é exatamente a prática normal da Igreja Ortodoxa em todo o mundo, a de não comungar não-ortodoxos, ao ponto que alguns locais até se escandalizam ao ser-lhes sugeridos que é assim.

A maioria sabe que a intercomunhão com Roma é uma prática condenada pela igreja - até alguns de seus defensores. Mesmo assim, as pessoas se calam para não "criar confusão", para "não escandalizar" ou começam a cair naquilo que o bispo romano Fulton Sheen dizia: "Se você não praticar o que acredita, acabará acreditando no que pratica".

Mesmo entre os mais proeminentes defensores no meio ortodoxo por uma possível reunião da Sé Romana com a Igreja Católica Ortodoxa , a intercomunhão é um objetivo final, o resultado dos esforços e diálogos, e não um meio de obter a união. Como dizemos aqui no Brasil, intercomunhão antes de haver união seria como pôr "o carro na frente dos bois".

A resposta mais comum que se ouve, é que se trataria de um ato de "economia", de misericórdia, sugerindo que negar a comunhão a um romano que se aproxima do cálice ortodoxo seria um "radicalismo", adjetivo que poderia ser utilizado também contra o ortodoxo que deixasse de comungar em uma igreja romana. Infelizmente, por tal conceituação, até mesmo um dos maiores promotores dos diálogos com Roma, o Patriarca Ecumênico, seria um "radical".

"A união plena da fé é um pré-requisito para a comunhão sacramental". 

Como a nota do Patriarcado Ecumênico aponta, não faz sentido, e é até profano, imitar o sinal visível da união, sem que esteja presente a substância invisível dela, a comunhão plena de fé. A nota foi dada em resposta precisamente a um artigo que erroneamente sugeria que seria lícito aos católicos de rito bizantino unirem-se eucaristicamente tanto a Roma quanto a Constantinopla, o que levaria a poderem comungar em ambas as igrejas. A resposta do Primeiro-Entre-Iguais é sucinta, em primeiro lugar porque intercomunhão com Roma não é uma questão em debate, ambígua. É conhecimento elementar e comum: é algo que não deve ser feito antes que Roma comungue da fé ortodoxa e o Papa reconheça a autoridade do Sínodo. Em segundo lugar, a nota é breve para não ir além do devido limite de reiterar esse misericordioso ensino, falando em um âmbito diplomático global de coisas bem-sabidas no mundo ortodoxo e que devem ser ensinadas aos visitantes e catecúmenos num ambiente que potencialize o entendimento. Vale ressaltar que se a nota diz que a intercomunhão não é aceitável com católicos de rito bizantino que seguem o mesmo rito litúrgico que nós, quanto mais vale para os católicos latinos.

Sua Eminência, bispo Kallistos Ware, ele mesmo um reconhecido apoiador do diálogo com Roma, escreveu um livro exclusivamente sobre o assunto, e que chama-se "Communion and Intercommunion". Uma das igrejas sob o Patriarcado de Constantinopla, a Igreja Grega de São Jorge, em Chicago, faz um resumo bastante claro da exposição da fé ortodoxa que o bispo Kallistos Ware escreveu em seu livro:
"A unidade da Igreja na Eucaristia não pode ser verdadeiramente manifesta e realizada a menos que estejam presentes, ao mesmo tempo, duas outras formas de unidade: unidade na fé, e unidade no bispo local. Essas três formas de unidades são complementares e interdependentes. Cada uma perde seu significado se divorciada das outras duas. A unidade eucarística, então, pressupõe, em primeiro lugar, a unidade na fé. Isso demonstra-se concretamente em cada Divina Liturgia pelo fato de que o Credo, a exposição da crença, é recitado pelos fiéis logo antes da recepção da Comunhão
Concernente a unidade no bispo, S. Inácio escreveu no início do século II, "Que ninguém pratique as coisas concernentes a Igreja sem o bispo". Ainda hoje, onde quer que o padre presida a Liturgia, ele o faz não por si mesmo, mas como delegado do bispo. É por isso que ele comemora o nome do seu bispo - não como um gesto de cortesia, mas como uma necessidade eclesiológica.
A eclesiologia eucarística implica, portanto, uma unidade tríplice: unidade eucarística, isto é a unidade em um pão e um cálice da Santa Comunhão; unidade dogmática, isto é, unidade em uma só fé; e unidade eclesial, isto é, unidade no bispo.
Portanto, a intercomunhão, ou o partilhamento dos sacramentos entre igrejas que não partilham da mesma fé e/ou bispo é virtualmente impossível. A Bíblia, os Pais da Igreja, e os Santos Cânones só conhecem duas alternativas: comunhão ou não-comunhão. É tudo ou nada. Admitir alguém à comunhão e aceitar a pessoa como membro da igreja são coisas idênticas. A igreja a que pertencemos é conhecida pelo local onde tomamos comunhão, ou onde somos admitidos na comunhão."
Fonte: http://stgeorgegoc.org/pastors-corner/communion-inter-communion

Estas afirmações são confirmadas no documento da Comissão Conjunta Internacional de Diálogo Teológico entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa: "Consequências Eclesiológicas e Canônicas da Natureza Sacramental da Igreja. Comunhão, Conciliaridade e Autoridade Eclesiástica" do encontro de 13 de outubro de 2007 em Ravena, o qual afirma:

"Portanto, assim como a comunhão nos sacramentos pressupõe comunhão na mesma fé (cfr. Documento de Bari, nn.29-33), também, para que haja plena comunhão eclesial, deve haver, entre nossas igrejas, recíproco reconhecimento das legislações canônicas nas suas legítimas diversidades"


Lembrando que esse trecho foi ali colocado para ressaltar que não existem ainda a comunhão na mesma fé, nem o "recíproco conhecimento das legislações canônicas nas suas legítimas diversidades", os quais são pré-requisitos para a comunhão eucarística.

Já o documento de Bari citado ali trata especificamente da questão sacramental. Escrito pela mesma Comissão, mas em 1987, após ressaltar a necessidade de não limitar a fé a repetição mecânica de chavões teológicos, diz: 

"Essa questão* deve ser levantada para evitar uma abordagem deficiente do problema da fé como condição para unidade. Essa questão, porém, não deve ser usada para obscurecer o fato de que a fé é de fato condição, e que não há comunhão sacramental sem comunhão na fé, tanto no sentido mais amplo da palavra, quanto no sentido da formulação dogmática".
* De que a fé é mais do que apego a slogans teológicos.

Fonte: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/ch_orthodox_docs/rc_pc_chrstuni_doc_19870616_bari_en.html

O documento segue falando sobre a necessidade da união da fé e fazendo comparações de práticas sacramentais, mas sem entrar no mérito de se as igrejas católicas ortodoxa e romana possuem ou não fés diferentes, até porque a própria existência e necessidade de uma comissão de diálogo teológico é efeito e fruto da realidade dessas fés diferentes. Se as fés fossem as mesmas, não haveriam comissões para reunião e diálogos.

Lembremos também o exemplo prático dos hierarcas que subscrevem esses documentos: nas Liturgias e Missas realizadas durante tais encontros, embora membros de cada igreja assistam o ofício de seus colegas, eles *nunca* tomam a comunhão no ofício do outro, porque sabem que suas palavras são declarações de intenção para uma futura reunião de fé, mas não são uma declaração de união de fé. Que contradição haveria se, tendo acabado de dizer que a intercomunhão só pode ocorrer pela união de fé, eles não comungassem juntos depois de escrever o que alguns maus leitores parecem entender como uma confissão de fé conjunta.

São documentos como esse que são usados para acusar de "legalista" precisamente quem, muitas vezes sem nem utilizar documento ou cânone algum, afirmam a tradição da Igreja de que podemos conviver em amor e fraternidade com nossos amigos de outras igrejas, e com eles vivenciar tudo que de fato temos em comum, especialmente a ética cristã em questões como o aborto, eutanásia, drogas, sexualidade, mas que a única coisa que não podemos fazer juntos é precisamente a comunhão eucarística. Não podemos ser aqueles que querem separar-se naquilo em que estamos unidos (questões éticas  e sociais) e profanar símbolos de união naquilo em que não estamos unidos (comunhão eucarística).

Não Chorar, Mas Limpar o Leite Derramado

Existe, porém, o problema do "fato consumado". A intercomunhão com Roma é um fato consumado na Ortodoxia brasileira, ao arrepio do amor aos catecúmenos em passar-lhes a tradição da Igreja ao invés de opiniões teológicas do nosso grupo, ao arrepio dos ensinos dos santos como S. Justino Popovich e S. Paisios, dos documentos dos diálogos intercristãos que reiteram que não existem condições para intercomunhão entre igrejas diferentes por semelhantes que sejam, dos cânones, das admoestações diretas de bispos e dos patriarcas como na nota inicial deste artigo, ao arrepio da misericórdia cristã para com ortodoxos e heterodoxos, mas acima de tudo pela suprema falta de caridade de colocar o nosso clero diante do dilema de ou parecerem "antipáticos" por terem que recusar comunhão a um romano que tenha chegado até o cálice por má-orientação, ou então cometerem o que sabem ser um desvio do terno ensino da Igreja, só para não escandalizar a comunidade que acha que a comunhão é um direito exigível de qualquer um que pertença a Ortodoxia ou Roma. 

Não é um problema fácil, nem rápido de resolver. Certamente não passa por retornar à prática ortodoxa da comunhão apenas para os ortodoxos de forma grosseira e antipática, sem dar explicações. Será um trabalho pelo menos de médio prazo, onde as pessoas primeiro devem ser educadas e informadas de que aceitar a comunhão ortodoxa (ou romana!) significa aceitar todo o ensino daquela igreja, aceitar a autoridade dos bispos daquela Igreja e que, a despeito das nossas muitas identidades e semelhanças, ainda somos igrejas diferentes e que as diferenças de crença sobre as relações das Pessoas e Energias de Deus e da ordem da Igreja são grandes, assim como as de autoridade episcopal ainda são bastante grandes e sérias, que apostolicidade não é pedigree passando "geneticamente" de um para outro pela mera imposição de mãos, mas também é fidelidade a fé ortodoxa, o que falta na Igreja Romana segundo os ortodoxos e falta na Igreja Ortodoxa segundo os romanos. Se a pessoa quer a comunhão ortodoxa, deve lembrar-se que ela é inseparável do batismo e/ou crisma ortodoxos, o mesmo valendo para a comunhão romana, que é inseparável do batismo e/ou crisma romanos. Querer um desses é querer todos.

Já o leigo que visita uma igreja que não é a sua, prática que aliás considero muito salutar, deve ter *respeito* pelo sacerdote e pela tradição daquela igreja não se colocando na fila da comunhão e se impondo ao sacerdote - em alguns casos até mesmo ao bispo - para receber uma comunhão que, se você quisesse de verdade, deveria ser complementada pelo batismo ou crisma naquela igreja. Quando você quer comunhão com uma igreja, tem que se entregar a ela por inteiro e não profanamente frequentar seus sacramentos como quem vai num supermercado pegar apenas o que lhe interessa.

Se já existem os problemas teológicos, consideremos também a questão ética e humana: comungar em uma igreja da qual não somos parte é um grande desrespeito para com essa igreja. Se a pessoa for tentada por um mal aconselhamento de um bom amigo, ou pior, até chamada pelo sacerdote ou bispo da outra igreja a comungar, sem pertencer a essa igreja, também não há cabimento em fazer escândalo ou ser ríspido. Agradeça com um sorriso, fazendo sinal que "dessa vez não, obrigado". Você *pode* e *deve* conjugar sua fidelidade com o respeito humano.

No caso dos ortodoxos que vivem onde não há nenhuma igreja ortodoxa, a prática ortodoxa não é de forma alguma passar a frequentar, ou pior, comungar, em uma igreja romana, mas montar um "cantinho dos ícones" e adotar uma regra de oração, com horários e dias determinados, se possível com orientação de um pai espiritual ortodoxo. E, mesmo que apenas uma vez por ano, peregrinar até a paróquia ortodoxa mais próxima para comungar lá, e apenas lá.

Normalmente, é um pecado não frequentar a comunhão se estiver preparado e houver uma igreja acessível. Mas, por economia, não se utiliza o mesmo rigor no caso de uma pessoa que more em um local sem igrejas. Inclusive, se for realmente inviável, Deus não terá sua falta em conta de pecado. Isso sim é que é economia, e não desvirtuar a pessoa para uma prática não ortodoxa. De nossa parte, se queremos ajudar essas pessoas, temos que providenciar traduções de regras de oração feitas para pessoas que não tem acesso a liturgia e facilitar e baratear o acesso a ícones, incensos e demais objetos de devoção doméstica.

Akrivia (Regra seguida de forma rigorosa)Comungar sempre que preparado através da oração, jejum e confissão. 
Economia (Flexibilização da regra em face de circunstâncias de exceção)
Na falta de paróquias ortodoxas acessíveis, regra de oração doméstica e peregrinação quando possível a uma igreja ortodoxa mais próxima. Assim como em outros casos similarmente excepcionais, a não participação no sacramento não é tida em conta de pecado simplesmente porque está além das possibilidades do fiel fazê-lo. Em caso de morte sem nenhum padre ortodoxo para ministrar os sacramentos, temos algo similar aos catecúmenos que morriam nas arenas sem receber o batismo. Seu martírio era considerado seu batizado, mas nenhum deles pediria o batismo de um sacerdote ariano ou nestoriano que estivesse ali do lado. Da mesma forma, na falta de um sacerdote ortodoxo para ministrar o sacramento e diante da morte imediata e de um desejo sincero pelo sacramento, Deus certamente terá a pessoa em conta como se o tivesse recebido em vida.
Desvio (Abandono ou distorção da regra)Na falta de igrejas ortodoxas ou sacerdotes ortodoxos intercomunhão com Roma ou outras heterodoxias. Roma emitiu unilateralmente uma permissão de que seus fiéis, no caso excepcional de falta de acesso a uma igreja romana, possam comungar em igrejas ortodoxas. A Igreja Ortodoxa, por outro lado, como mostra esta série de artigos, jamais assinou algum acordo ou produziu algum testemunho de que ela concordava com isso ou que dava permissão a romanos de comungarem nela. Ao contrário, a intercomunhão é reiteradamente denunciada como o pecado que é quando praticada antes da união das igrejas.



Quanto aos romanos que se aproximam do cálice, uma comunidade que venha ao longo dos anos sendo bem informada na prática ortodoxa do respeito à própria comunhão e à comunhão das outras igrejas, será a melhor educadora desses bem-vindos visitantes. As expectativas deles são geradas pelo que eles ouvem dos seus amigos e parentes ortodoxos, o que por sua vez depende o que eles (que somos nós) fazemos e aplicamos na nossa vida.

Posso garantir, por minha própria experiência com catecúmenos e muitas orientações que dei ao longo dos anos que 1) ninguém desiste de tornar-se ortodoxo por causa das explicações acima. Não precisamos sacrificar a verdade para manter as pessoas na igreja; 2) a pessoa se torna um ortodoxo mais firme na fé, aprende a respeitar e até a crescer espiritualmente com o que há de bom nas igrejas heterodoxas (e é muita coisa!), trabalhando com elas naquilo que de fato temos em comum (ética por exemplo) quando necessário, sem desrespeitar as outras igrejas, nem a sua própria; 3) pessoas que amam pertencer a igreja romana agradecem por alguém ter-lhes explicado a diferença, evitando assim que sem querer, abandonassem a igreja de sua fé. E continuam visitando a igreja ortodoxa mesmo assim. 

Para finalizar, acrescento que a maioria que pratica intercomunhão o faz simplesmente porque "sempre foi assim" aqui no Brasil. Não existe uma substancial revolta contra o ensino da Igreja, ou algum tipo de má-intenção. Quando muito, uma compreensão bastante "abrasileirada" do conceito de economia e misericórdia, onde a nossa tendência natural a sermos inclusivos, fraternais e adaptáveis acaba por nos levar ao excesso de zelo para não escandalizar as pessoas. 

Aos que temem que afirmar tais divergências são um problema para o esforço do retorno de Roma à comunhão Ortodoxa, concluo como iniciei, com as palavras de Sua Santidade Patriarca Ecumênico Bartolomeu:

"Até mesmo a descoberta de discordâncias nos impele à busca da concordância".

Pronunciamento de Sua Santidade Patriarca Ecumênico Bartolomeu à Delegação da Igreja de Roma na Festa Tronal do Patriarcado Ecumênico, Fanar, 30 de novembr de 2012

Ao que reitero: é apenas tendo clara consciência de como e onde estamos separados, e expressando isso  de forma sincera e respeitosa em atos, é que haverá qualquer esperança de reunião.