sexta-feira, 13 de março de 2015

Breve Catecismo da Igreja Católica Ortodoxa - Vida Ortodoxa na Prática - 06/09


A vida cristã ortodoxa é toda sacramental. Isto significa que ao nos tornarmos membros do Corpo de Cristo *tudo* que fazemos, inclusive no dia-a-dia, é um mistério e um sacramento, pois ou é preparação para dar expressão ao Espírito Santo que habita em nós caso façamos parte da Igreja Ortodoxa, ou é expressão do Espírito Santo através de nós, especialmente entre aqueles de vida espiritual desenvolvida.

A verdade é que se nosso coração for pequeno, se estiver escurecido e fechado, pouca ou nenhuma diferença existirá entre nós e os perversos. Como com nosso corpo, para melhorarmos nosso coração espiritual, precisamos nos exercitar para ficarmos mais fortes e saudáveis. Este exercício espiritual é chamado ascese. A vida dedicada ao exercício espiritual é chamada de vida ascética. A vida cristã ortodoxa é sempre ascética.

E que exercícios são esses? Fundamentalmente quatro: arrependimento e jejum, amor e oração.

O arrependimento e o jejum são a arte de dizer não para as coisas que devemos afastar de nossa vida.

Arrependimento

Você já reparou como para manter uma casa limpa temos que: encontrar onde estão as sujeiras, mesmo as que ficam escondidas atrás de móveis, embaixo de tapetes ou nos pelos do tapete? Depois, temos que reunir essa sujeira toda em um só lugar. Para isso usamos ou uma vassoura ou um aspirador de pó. Depois que a sujeira está reunida, colocamos em um saco e finalmente, colocamos o saco em algum lugar para ser recolhido pelos lixeiros que recebem autorização para fazê-lo das autoridades superiores, e que irão leva-lo ao seu destino final, destruindo-o ou reciclando-o, conforme tenha sido determinado pela autoridade municipal.

O arrependimento é semelhante a esse processo. Buscamos nossos pecados nos recantos mais escondidos de nossas mentes e corações. Eles ficam escondidos embaixo de desculpas, racionalizações, ilusões, hábitos, paixões, visões e valores de mundo equivocados, medos, mágoas, ressentimentos, raivas e ódios. Normalmente o mais escondido deles é o ódio a Deus, a Quem culpamos por as coisas serem como são. O auto-exame espiritual é esse momento de busca interior. Depois nós os “juntamos” encontrando palavras que os expressem, mantendo-os na memória. Finalmente, levamos nossos pecados e faltas até o padre, que recebeu a autoridade de Deus, para o sacramento de ouvir a confissão e proclamar perdoados os pecados. 

Quem perdoa é Deus, mas o faz através das palavras do padre. Deus então destrói nossos pecados se forem coisas exclusivamente ruins, e se forem coisas boas que tinham sido mal-usadas, irá “recicla-los”, transformando-os em bons novamente.  O arrependimento deve ser emocional e racional, isto é, não basta a gente “deixar pra lá” o mal que fizemos. Temos que sentir a culpa e a vergonha de tê-lo feito, a inteligência e a honradez de admiti-lo, e a bravura de lidar com as consequências confessando e buscando uma nova vida.

O arrependimento nada tem a ver com a culpa paralisante, que apenas nos deixa deprimidos mas não muda nada. Também não tem nada a ver com a atitude bem moderna de justificar termos ferido a Deus, outras pessoas e a nós mesmos dizendo que era “necessário para o aprendizado, eu não tinha como fazer diferente naquela situação”. Esta é apenas um daqueles tapete-desculpas debaixo do qual escondemos nossa baixeza. No arrependimento real teremos vergonha de nós mesmos e não orgulho. Um homem que se “arrependa” e “confesse” dizendo “Roubei 100 mil da empresa em que trabalho, padre! Mas prometo que não vou fazer de novo” não está confessando nada. Está é contando vantagem de forma indireta, vangloriando-se do seu pecado, agravando o crime que cometeu e ainda tenta vender uma promessa de não repetir o mal como troca para não sofrer as consequências do mal já cometido. Uma real confissão seria algo como “Sou pior que um bicho padre! Agi como um animal age, minha dignidade de homem foi atropelada por meus impulsos que eu não soube controlar, traí quem confiou em mim, prejudiquei várias pessoas que sofreram as consequências do meu ato sem nem compreender a origem do mal que caiu sobre elas. Fui vil, vil no pior sentido da palavra”. Sabemos que estamos nos arrependendo de verdade quando sentimos verdadeira culpa e vergonha e quando essa vergonha *passa* com a confissão. A vergonha ou culpa que não passam normalmente não estão relacionadas com pecados verdadeiros, mas com pecados imaginados, ou exagerados. Ficar sentindo-a e ressentindo-a é uma forma precisamente de não encarar os verdadeiros pecados, como se ao limparmos a casa ficássemos passando o aspirador na parte mais fácil da casa para não ter que iniciar a limpeza pesada do banheiro.

Jejum

Se o arrependimento constitui o remédio, o jejum é a prevenção da doença. O jejum consiste em dizer não para as coisas, estilos de vida, valores, situações, locais e pessoas que podem nos levar ao pecado. O jejum de comida propriamente dito é um exercício para o jejum das coisas espirituais, mas nem por isso é menos importante. Lembre-se que o primeiro pecado da humanidade foi desobedecer o jejum de comida. Adão e Eva tinham todo um jardim com frutas deliciosas e nutritivas a sua disposição, oferecidas por seu Pai. O jejum deles era muito simples: podiam comer de tudo, menos uma fruta em particular. Mas pela influência da serpente quebraram este jejum e a morte entrou no mundo. Reparem também que o jejum que Nosso Senhor Jesus Cristo fez no deserto por 40 dias era de comida, mas foi concluído com um jejum espiritual, quando ele diz não para as três tentações do diabo: resolver todos os problemas com um passe de mágica (transformar pedra em pão), ficar desafiando Deus a fazer mágica como se isso fosse fé (“não tentarás o Senhor Teu Deus”), e finalmente tentar criar um mundo perfeito neste mundo mesmo, antes do Juízo Final, através do poder político (o diabo disse a Cristo que era o rei do mundo e que colocaria os reinos do mundo aos pés pacíficos de Cristo se apenas se ajoelhasse e o adorasse). Cristo jejuou espiritualmente, disse não para tais coisas e assim concluiu o jejum que se iniciara apenas com comida.

Vivemos em uma sociedade que é cristã apenas no nome. Nossa cultura, que foi posta em nós até em nível subconsciente desde criancinha, nos ensina apenas coisas que fazem chorar o Cristo e Nossa Senhora. Quando vemos os miraculosos ícones que choram, alguns choram até sangue, saiba que é por causa do nosso estilo de vida imerso onde aprendemos a amar o pecado que eles choram. Somos ensinados a odiar a Deus, considerar Seus caminhos antiquados, promotores de ódio, supersticiosos, selvagens, ignorantes, superados, intolerantes e nem mesmo consideramos a hipótese de que aqueles que nos ensinaram isso é que estivessem errados. Colocamos autoridades humanas e pecadoras como dignas de nossa credulidade e Deus como uma ideologia mais ou menos boa e, mesmo assim, boa apenas na medida em que repita aquilo que acreditam os ‘grandes’ desse mundo material e grosseiro. Novelas cheias dos piores valores, filmes onde o grotesco é engradecido e o amor é tratado como mera desculpa para o sexo, livros que incentivam o orgulho e a vaidade intelectuais, ritmos musicais, estilos de dança, peças de teatro, estátuas, pinturas, arquitetura e até mesmo “missas” e “cultos” religiosos que deformam nosso senso estético e agridem nossa alma tratando o vulgar, baixo, grotesco, caótico, barulhento, o desespero, a agonia,  o alucinante, o histérico, o blasfemo, o depressivo e  vazio de sentido  como se fossem belos e desejáveis; políticos e ideologias que valorizam as forças da morte e da desordem e zombam das forças da vida e da ordem, achando que irão trazer o paraíso através da destruição. Nossa cultura está semelhante à nossa alimentação: cheia de “junk food” (“comida lixo”, esses lanches rápidos, engordativos, sem valor nutritivo e até ruins para a saúde). O cristão ortodoxo não tem nada contra a cultura em si, mas a cultura de nossa época é sim algo a ser evitado e devemos jejuar dela, buscando os resquícios da alta cultura secular espalhados aqui e ali e a tradicional cultura religiosa, nas liturgias, arquitetura e nos ícones em estilo tradicional e na música bizantina ou gregoriana.

Devemos também jejuar de nossas próprias tendências e gostos excessivos ou deturpados, que nos consomem diariamente, quaisquer que sejam eles, e essa é a luta mais difícil de todas. É incessante e perene, nos acompanhando até o último suspiro.

O jejum de comida, como podem ver, é apenas um exercício simples que disciplina nossa vontade e nossa atenção.

Na Igreja Católica Ortodoxa, temos três tipos de jejuns de comida (nota: essa denominação é sugerida por esta apostila, para fins didáticos. Ela não é normativa na Igreja Ortodoxa):

1.      O Jejum Rigoroso, no qual nenhum tipo de sólido ou líquido é ingerido; é o mais raro de todos e normalmente dura apenas um dia.
2.      O Jejum Completo, no qual jejuamos de óleos, álcool, e proteína animal (carnes vermelha e branca, ovos e laticínios);
3.      O Jejum Parcial, no qual alguns dos alimentos do Jejum Completo são liberados

Períodos de Jejum

  • ·         na Quaresma de Páscoa (40 dias antes da Páscoa) – Dias da Semana: Jejum Completo / Fim-de-Semana: Vinho e óleos são permitidos / Dia da Anunciação, caso caia na Quaresma e outros dias de santos importantes: Peixe, vinho e óleos são permitidos / Sexta-Feira da Paixão: Jejum Rigoroso
  • ·    no Jejum da Dormição de Nossa Senhora (1 de agosto a 14 de agosto) – Dias da Semana: Jejum Completo / Fim-de-Semana: Vinho e óleo são permitidos;
  • ·      na Quaresma de Natal (40 dias antes do Natal)- Segundas, Quartas e Sextas-Feiras: Jejum Completo / Terças e Quintas: Vinhos e óleos são permitidos / Fins-de-Semana e dias de santos: Peixe, vinho e óleos são permitidos ;
  • ·       no Jejum dos Santos Apóstolos (2ª segunda-feira depois do Pentecostes até o dia de São Pedro e São Paulo, 29 de junho) – Quartas e Sextas-Feiras: Jejum Completo / Todos os outros dias da semana: Peixe, vinho e óleos são permitidos;
  • ·    Todas as Quartas e Sextas-Feiras do ano (exceto nas semanas após o Natal e a Páscoa): Jejum Completo / Se cair algum dia de santo importante no dia: Peixe, vinho e óleos são permitidos.

Quando Podemos aliviar ou estamos isentos do jejum?

O jejum não é uma regra moralista, mas um exercício espiritual. Ninguém é melhor ou mais amado por Deus simplesmente por jejuar.  Sendo assim, se a pessoa percebe que o jejum está tão rigoroso que está lhe fazendo mal fisicamente – alterando pressão, criando problemas digestivos, deixando fraca demais, ela deve retornar a alimentação normal, se fortalecer e tentar um jejum menos rigoroso dali para frente – por exemplo abster-se apenas de carne vermelha, ou apenas de laticínios, ou apenas de álcool. Idealmente deve fazer isso com orientação do padre ou um pai espiritual, mas se não tiver nenhum disponível, deve buscar fazer o jejum o mais próximo possível da regra sem que isso se torne uma agressão ao corpo. O Jejum *não* é uma forma de auto-castigo! É um exercício, feito para melhorar sua vida espiritual, não para te deixar doente! Exagerar no jejum é um grande pecado de vaidade espiritual.

De forma geral são completamente isentos de jejuar: as crianças muitos pequenas, bebês, gestantes, mães em período de amamentação, idosos, pessoas com doenças temporárias ou permanentes, pessoas com algum tipo de dieta ou restrição alimentar especial por questões médicas, seja temporária ou permanente, viajantes que estejam em uma situação na qual a única comida a disposição seja fora do jejum, pessoas que estejam em uma situação na qual recusar uma refeição fora de jejum seria cometer um pecado maior contra o amor ao próximo, por exemplo, fazendo desfeita de uma refeição oferecida amorosamente por um parente ou amigo que não conhece a regra do jejum. Neste último caso, se surgir um momento oportuno, pode-se explicar a pessoa que em determinadas ocasiões você jejua e que você mesmo se responsabilizará de avisá-la com antecedência caso te convide de novo.

Amor

Já dizia o Apóstolo que sem o Amor, nada mais adianta.

Apesar disso, existe muita confusão em nossa cultura sobre o que é o amor.  Ele não consiste em se deixar agredir desnecessariamente, em se deixar vulnerável às más intenções dos perversos, não consiste em tratar os perigosos como se fossem inofensivos, os injustos como justos, o feio como belo, o errado como certo, o mal como bom, não é perdoar o que não se arrepende (embora deixar para trás o não-arrependido obstinado possa ser amor sim), não é tratar o vício como um “detalhe” da personalidade da pessoa, premiar o que não foi merecido, reagir ao indigno como se fosse digno ou em permanecer perto de quem nos odeia e deseja nos ferir, amar não é proteger o culpado não-arrependido das consequências dos seus atos; às vezes não é proteger nem mesmo o arrependido das consequências dos seus atos. O amor não é uma vida morna, nem uma vida de barulho e agitação. Não é paixão, não é sonho, não é fantasia , não é apego, não é ficar implicando ou ofendendo um ao outro “de brincadeira”, não é sexo “selvagem”; Infelizmente, muitos filmes, novelas, músicas e livros chamam todas essas coisas de amor sem que o sejam.

O amor consiste em desejar o bem da pessoa amada (que nem sempre é o que vai deixa-la feliz!) e, na medida em que esteja dentro de nossas forças e que essa pessoa esteja em condições de desejar e permitir, sermos parte desse bem de alguma forma. O perdão é a aceitação do arrependimento e é um componente do amor.

Mas estejamos atentos. Se amamos o que não devia ser amado, incorremos em grande mal. Em nossa cultura contemporânea costumamos dizer ser “justa toda forma de amor”, independente do seu objeto e da forma como realizamos esse amor. Jesus Cristo ensinou que jogar pérolas aos “porcos” também é um pecado. Nossa mais preciosa pérola é o nosso amor e oferece-lo a uma causa, grupo, atividade ou pessoa indigna, ou vive-lo de uma forma indigna e proibida por Deus, é atirar pérolas aos porcos. Assim como Deus concede uma vocação a cada um de nós, está incluso nessa vocação os objetos e modos de nosso amor. Não, nem toda forma de amor é justa, pois existem amores de perdição e amores de salvação. O amor é o maior dos bens quando é direcionado a algo ou alguém digno dele e direcionado na forma e modo igualmente dignos. Porque Deus é o mais digno de ser amado temos o primeiro mandamento: Amar a Deus acima de todas as outras coisas. Apenas quando corretamente amamos Deus acima de qualquer pessoa, causa ou coisa, conseguimos colocar tudo no seu devido lugar e proporção. Amar sim, mas amor de salvação, começando com Deus e nos termos de Deus, que apenas deseja o nosso bem.

Outro grande equívoco de nossa época é o mito do “amor incondicional”. Este termo é uma forma suave, infelizmente, de dizer “direito de desrespeitar” seja de uma das partes ou de todas envolvidas umas às outras. O amor verdadeiro é necessariamente condicional. Naturalmente, Deus potencialmente ama a todos nós. Mas este amor só se expressa em nós sob condições bem específicas. Em todas as Santas Escrituras temos vários exemplos de algo como “se agires desta forma, então terás a graça do Senhor”, “quando fizeres deste modo, então o Senhor se compadecerá” e, de forma oposta, mais de uma aviso para que não caiamos na “ira” do Senhor.  É verdade que Deus não faz distinção de cor, sexo, classe social ou nacionalidade. Mas ele *faz* distinção de caráter. É verdade também que Ele está disposto a receber o mau arrependido, mas Ele não trata o mau como o bom e não ama os dois. Basta ver como ele se dirige aos bons nas bem-aventuranças e o tom oposto entre irado e decepcionado para com os hipócritas e perversos, nos “ais” ou na expulsão dos vendilhões do Templo. Podemos dizer que Deus ama a todos apenas se compreendermos que a ira contra os maus é uma forma de amá-los, impedindo-os de praticar o mal contra si mesmos e contra o próximo. Assim também em nossas relações pessoais. Nosso amor *deve* ser condicional, exigindo condições diferentes a depender do tipo de relação que temos: na relação de pais e filhos, os pais têm o direito de exigir o devido respeito e os filhos, na medida em que amadurecem, de exigir espaço para viverem como adultos; na relação entre professores e alunos, igualmente, o professor tem o direito de exigir respeito e comprometimento do aluno, e o aluno de que o professor demonstre conhecer o que ensina e estar comprometido em ensinar; nos relacionamentos amoroso que haja respeito e admiração mútua, sem jogos de poder ou exigências tóxicas; entre a pessoa que pratica e a que recebe caridade deve a primeira exigir uma contraparte que mostre que não está desperdiçando recursos que outro necessitado poderia estar utilizando, e o que recebe tem o direito de exigir ser tratado como alguém capaz e que logo irá cuidar de si mesmo e não ser tratado como criança ou dependente.

Quem quer que exija, de forma direta ou indireta, ser amado incondicionalmente e até contra o nosso bem, está, normalmente, desejando o nosso mal. Nem mesmo Deus exige amor incondicional. Ele mesmo nos convida a experimentar: “Vem e experimenta que o Senhor é bom”.

Oração

Orar é conversar com Deus e mais. Orar é se colocar na presença dEle espiritualmente. Deus está em toda parte, mas quase nunca nós estamos com Ele, porque nosso coração está definhado, murcho, quase morto.
A oração é a vida do coração. Mas como pode um coração doente orar corretamente, olhar para o “lado” que Deus está se não vê nada na escuridão em que se encontra? Por isso existem as orações prontas da Igreja Católica Ortodoxa, nascidas de corações santos, constantemente na presença de Deus.

Claro que Deus escuta nossa prece mesmo quando a fazemos com palavras simples. Mas se usarmos essas “vitaminas” que a Igreja oferece, Deus ficará cada vez mais claro para nosso coração, sentiremos Sua presença de forma cada vez mais nítida. É como se estivéssemos aprendendo música. Nosso ouvido já é capaz de ouvir os sons do jeito que eles aparecem. Mas se estudarmos as músicas prontas por outros músicos, especialmente se nós mesmos as repetimos prestando atenção nos seus detalhes, nosso ouvido vai se apurando, aprendendo a perceber sutilezas que antes não percebia e até mesmo ouvindo o que antes não ouvia.

Assim é com o nosso coração, a orações da Igreja e Deus. Existem muitas formas de orar na Igreja. Podemos orar com palavras, mas também podemos orar com todo o nosso corpo e é por isso que fazemos o sinal da cruz, nos curvamos, nos ajoelhamos, beijamos ícones. Cada gesto desses é uma oração que fazemos com nosso corpo. É por isso que oramos juntos na Divina Liturgia. Estarmos juntos é uma forma de oração.  Finalmente, existe a chamada oração do coração. Quando uma pessoa atinge um certo grau de abertura do coração e a luz do Espírito Santo verte dele como mirra abençoada iluminando o mundo, então aquilo a que as palavras da oração se referiam está acontecendo de fato no coração deste santo. O Espírito Santo habita na pessoa e seu coração ora incessantemente, pois a presença de Deus já faz parte do seu ser. A grande meta da vida do cristão ortodoxa deve inclusive ser essa: alcançar a oração incessante e se tornar Templo Vivo do Espírito Santo. Quando isso acontece, é um prelúdio do céu na Terra.

Nós que somos crianças na vida espiritual muitas vezes até pensamos que sabemos orar. Deus certamente nos ouve sempre, mas seria bom que nós também ouvíssemos o que Ele ouve quando estamos orando, pois a verdadeira oração, a que Deus ouve, é a que está lá no nosso coração e nem sempre a que está nos nossos lábios. As orações que a Igreja oferece ensinam nossos corações a falar com Deus e nossos pensamentos e palavras a refletirem o que está em nossos corações. Com o tempo, quando falamos com Deus, nosso coração fala com sinceridade, verdade e fé.

Para começar, o ideal é que tenhamos uma “Regra de Oração”, ou seja, uma rotina diária de orações que fazemos de modo regular. É essa repetição que vai fortalecer nosso coração para que um dia ele possa “orar sem cessar” que é uma das metas da vida do cristão, pois quem não quer estar constantemente na presença da pessoa que ama? E, como dito, a oração é colocar-se na presença de Deus. Você encontrará  no final da apostila uma regra de oração simplificada, que deverá servir provisoriamente até que você encontre um padre ou pai ou mãe espiritual que lhe indique uma mais adequada para seu caso particular.

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