segunda-feira, 25 de abril de 2016

Monte Athos e o Concílio Pan-Ortodoxo 2016


Entre as muitas reações, entre elas da Igreja da Geórgia, da Bulgária, de padres, bispos e teólogos da Grécia, do clero da Moldávia e tantos outros, contra os excessos ecumenistas dos documentos pré-conciliares, temos agora acesso às cartas do Monte Athos para os patriarcas repudiando inúmeras crenças não ortodoxas contidas nos documentos.

Os Santos Mosteiros do Monte Atos responderam aos documentos e metodologias pré-conciliares do Concílio Pan-Ortodoxo com reações pontuais e agudas. As Cartas dos Mosteiros Atonitas, enviadas à Santa Comunidade do Monte Athos, foram liberadas para o público. Foram escritas como uma resposta aos documentos Pan-Ortodoxos enviados aos mosteiros pelo Patriarca de Constantinopla. 

Por conta da seriedade da matéria, foi unanimemente decidido que os textos preparados para aprovação no Concílio sejam examinados em uma reunião extraordinária chamada Reunião dos Representantes e Abades dos Santos Mosteiros, que deve ocorrer na Semana Luminosa após a Páscoa. 

Os Pais Atonitas chamam atenção para o perigo representado pelo Concílio Pan-Ortodoxo, na forma em que este vem sendo tratado. Especificamente, entre outros problemas, eles notam:

1) a conciliaridade da Igreja é solapada e uma teologia que apoia a primazia está sendo promovida (devido à participação limitada dos bispos e uma autoridade excessiva sendo dada aos primazes de cada igreja local);

2) uma ambiguidade inaceitável nos textos pré-conciliares, permitindo interpretações que divergem do dogma ortodoxo;

3) a fundamentação como base dos diálogos de "uma fé e tradição da antiga Igreja e dos Sete Concílios Ecumênicos", como se a história subsequente da Igreja Ortodoxa parecesse de alguma forma deficiente ou debilitada;

4) uma tentativa por parte de alguns de obter uma confirmação pan-ortodoxa de textos completamente escandalosos e inaceitáveis aprovados no Concílio Mundial de Igrejas;

5) e o inaceitável uso do termo "igreja" para cismas e heresias.

As carta em grego no link:

http://aktines.blogspot.com.cy/2016/04/blog-post_899.html

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Igreja da Geórgia Sobre o Concílio Pan-Ortodoxo

Patriarca-Católicos Ilia II da Geórgia, em conversa com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu


Abaixo está a carta-resposta do representante da Igreja Ortodoxa da Geórgia, Sua Eminência Metropolita Andrew de Gkori e Ateni, para um artigo escrito pelo Arcipreste do Patriarcado Ecumênico (George Tsetsi) entitulado "Um Verdadeiro Evento ou Provocação, a decisão da Igreja da Geórgia?" (Fonte das duas cartas: amen.gr)

A resposta de Sua Eminência é detalhada, direta e muito revaladora tanto de como a Igreja da Geórgia tem sido consistente e direta todo o tempo, enquanto ao mesmo tempo mostrava grande auto-controle e paciência em nome da unidade da Ortodoxia, e, por outro lado, como o Patriarcado Ecumênico tem agido com autoritarismo, pressão e desconsideração não apenas quanto a Igreja da Geórgia, mas também com o Patriarcado de Antioquia.

A carta também confirma que a Igreja da Geórgia e o Patriarcado de Antioquia tem se recusado a assinar o texto "O Mistério do Casamento e seus Impedimentos". Também declara que o texto "Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão" foi severamente analizado e criticado pelo Santo Sínodo da Igreja da Geórgia em sua última reunião, depois do encontro dos Primazes em Genebra.

Igualmente, o bispo contradiz o posicionamento do arcipreste quanto o princípio de unanimidade e pergunta ao arcipreste se a decisão tomada pelos primazes de guiar o Grande e Santo Sínodo por tal princípio está agora sendo questionado. Isso nos lembra recente pronunciamento do Patriarca Bartolomeu onde ele redefinia a unanimidade de forma a essencialmente negá-la, dizendo que se uma ou duas Igrejas não aceitassem um texto, isso seria registrado, mas o texto passaria.

Embora a carta inteira seja valiosa e reveladora, esta é a parte que creio ser mais necessária.

Pe. Peter Heers
2. Chegando à conclusão da Comissão Especial Inter-Ortodoxa [designada em 2014 e concluindo seus trabalhos no segundo trimestre de 2015, e tendo sido informado dos seus resultados pelos seus representantes, o Santo Sínodo da Igreja da Geórgia enviou uma carta, em nome do Patriarca Católico Elias para Sua Santidade, o Patriarca Ecumênico, na qual, entre outras coisas, expressou os seguintes pensamentos e observações concernentes aos textos, os quais haviam sido enviados para a 5a reunião do Comitê Pré-Sinodal [Oct. 2015] para revisão e confirmação:
a) "Os textos que estão sendo preparados para o Grande e Santo Concílio devem enfatizar claramente e sem ambiguidades que a Igreja ortodoxa é a única Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica na qual há Sucessão Apostólica, verdadeiro Batismo, Divina Eucaristia e os outros Santos Mistérios da Fé Cristã."
b) "Deve ser proclamado de forma clara, que de acordo com sua natureza ontológica é impossível para a única Igreja ser quebrada, que a Igreja tenha divisões. É sempre por essa razão que a Igreja Ortodoxa conduz diálogos com as várias confissões: com o objetivo de que retornem ao seio da Igreja."
c) " O texto ´Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão´ deve conter uma avaliação dos diálogos bi-laterais que tem acontecido entre as várias confissões cristãs, pois a responsabilidade de determinar o caminho que seguirão é da alçada específica do Grande e Santo Concílio.
d) "Consideramos inaceitável a inscrição dos textos, 'A Questão do Calendário Comum', e 'Impedimentos ao Casamento', na sua presente forma, para o Grande Concílio, pois eles estão em oposição à Tradição Canônica da Igreja Ortodoxa".
3. Com tal direcionamento de nossa Igreja e com a disposição de trabalhar para o fortalecimento da Igreja, nós, os representantes da Igreja Ortodoxa da Geórgia, fomos à 5a. Reunião Pré-Sinodal (em Outubro de 2015). Ainda assim, surpresas nos esperavam lá também. Quando o trabalho começou, Sua Eminência, o Presidente (Metropolita John Zizoulas), afirmou que, em sua opinião, a reunião não tinha autoridade de fazer mudanças aos textos das reuniões Pré-Sinodais de 1982 e 1986, mas apenas de fazer mudanças às mudanças que nós mesmos fizéramos enquanto Comitê Especial Inter-Ortodoxo!

Quando finalmente chegamos ao exame do texto "Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão", revogou-se os direitos dos Santíssimos representantes das Igrejas da Geórgia e de Antioquia de expressarem suas opiniões (garantidos pelos Estatutos Pan-Ortodoxos) com a desculpa de que não haviam sido feitas propostas por escrito com respeito às mudanças sugeridas nos textos.

Então, o direito de participação equânime dos representantes das Igrejas da Geórgia e de Antioquia foi colocado a voto por todo o corpo da Reunião. Sentimo-nos extremamente insultados. No fim, o direito de falar nos foi "dado", embora já não houvesse como aproveitá-lo para melhora de todo o texto.

Se este nosso posicionamento pode ser chamado de 'comportamento escolástico e teimoso' [como o Arcipreste do P.E. George Tsetsi escreveu em seu artigo, ao qual esta carta responde], então como deveríamos caracterizar a atitude do Presidente do Comitê Especial [Met. John Zizoulas] que, por 7 horas (!) tentou "convencer" os representantes da Igreja a aceitar a mudança de um só parágrafo de acordo com sua preferência?"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Teólogo Grego Faz Novas Críticas a Documentos Ecumenistas


Professor Dr. Demétrios Tselengides

Uma Segunda Intervenção-Confissão de Fé por parte do Dr. Demétrios Tselengides, Professor da Escola de Teologia na Universidade Aristóteles de Tessalônica, em face do Grande Concílio.

Com uma nova carta endereçada aos Hierarcas da Igreja da Grécia, o Dr. Demétrios realça e enfatiza os trechos problemáticos do documento nomeado "Organização e Procedimento de Trabalho do Santo e Grande Concílio", assim como de outros documentos.

12 de fevereiro de 2016

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Vossa Beatitude, santo Presidente do Santo Sínodo,

Vossas Eminências, santos Hierarcas,

Em vista da iminente convocação do Santo e Grande Sínodo, eu gostaria de mais uma vez respeitosamente apresentar alguns pensamentos de natureza teológica, que espero venham a ser úteis.

Na pesquisa em que realizei, fiquei negativamente surpreso ao descobrir que a Igreja da Grécia, desde 1961, ano em que começaram as Conferências Pré-Conciliares Pan-Ortodoxas para o Grande Sínodo, não havia tratado das decisões de tais conferências no nível do Sínodo Hierárquico. A consequência disso é termos chegado na situação eclesiástica desagradável em que estamos hoje.

Isto é, estamos prestes a tomar decisões eclesiásticas em questões críticas em um Sínodo Pan-Ortodoxo, mas para isso existe uma séria falta de tratamento sinodal no sínodo local de hierarcas, falta essa aliás, com a qual as Conferências Pré-Conciliares já contavam.

Nesse momento nos encontramos eclesiasticamente no penúltimo estágio das decisões finais do Grande Sínodo Pan-Ortodoxo. Eu creio que o problema - a despeito de sua excepcional severidade - ainda são curáveis. Como é bem sabido, o sistema sinodical de nossa Igreja Ortodoxa compraz uma operação eclesiástica guiada pelo Espírito, não apenas quanto a questões administrativas e Sua vida, mas também quanto à expressão precisa de Seu ensino dogmático. 

Mais especificamente, creio que as falhas sinodicais dos últimos 55 anos com certeza podem ser corrijidas agora, garantindo que as decisões do vindouro Sínodo dos Hierarcas, em conexão com os agentes do vindouro Grande Sìnodo da Ortodoxia, estará em concordância com a auto-consciência da Igreja e com a experiência guiada pelo Espírito de Sua Sagrada Tradição.

Outra coisa também de interesse e excepcional severidade. Eu cuidadosamente li o recém-publicado, "Organização e Procedimentos de Trabalho do Santo e Grande Sínodo" e tenho que apresentar-lhes uma observação minha de caráter teológico-dogmático.

Em particular, o Artigo 12, no tópico "Votação e Aprovação dos Textos", faz a importante seguinte nota: 

"O voto nos resultados de uma discussão ou revisão de um texto do Concílio sobre um item da agenda:
1. será dado por cada Igreja Ortodoxa autocefálica, e não por cada membro particular das delegações representadas no Concílio, de acordo com a decisão unânime do Encontro dos Primazes das Igrejas Ortodoxas;
2. a votação de uma Igreja no Concílio, não um membro de uma delegação, não exclui a possibilidade de que um ou alguns hierarcas na delegação de uma Igreja autocefálica particular possa tomar um posicionamento negativo em relação a emendas ou a um texto no geral. O fato da discordância será registrado nas Atas do Concílio;
3. a avaliação de tal discordância é um problema interno daquela Igreja a qual pertence o hierarca. A Igreja pode votar desde o princípio de maioria interna expressa por seu primaz e por essa razão deve acordar o local e o tempo necessário para considerar a questão com a delegação"

Vemos nesse artigo que o consenso do Grande Sínodo está limitado a um voto para cada Igreja Autocéfala Local. Desentendimentos individuais, se for o caso de constituirem uma minoria dentro das Igrejas Locais, são deixadas à parte como "problema interno daquela Igreja", algo que é eclesiologicamente inaceitável em particular no Sínodo Pan-Ortodoxo, quando, de fato o desentendimento for sobre um assunto de natureza doutrinal. E é bem provável que isso ocorra. Por exemplo, o assunto de auto-consciência e identidade da Igreja que é tratado no documento "Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão", é matéria eclesiológica; em outras palavras, eminentemente teológica. Consequentemente, não é teologicamente permissível para um documento recomendado para adoção que, por um lado, essencialmente recomende a "teoria de ramos" protestante, legitimando pela aceitação ali da existência de muitas igrejas com muitas diferentes doutrinas - enquanto por outro lado, as "Regras de Organização e Operação do Sínodo", na prática ignora a inevitável minoria dos hierarcas das Igrejas Locais Individuais e não leva em consideração as preocupações de suas consciências episcopais.

E aqui surge uma bem apropriada questão dogmático-teológica: como irá a fé una da Igreja, "com uma só boca e um só coração" ser confessada nesse caso? Como os Pais do Sìnodo serão capazes de dizer, "pareceu bom ao Espírito Santo e a nós"? Como irão demonstrar que possuem a "mente de Cristo", como fizeram os Pais portadores-de-Deus dos Concílios Ecumênicos da Igreja?

Vossa Beatitude,

Quando chegamos na matéria de dogma, como é bem sabido, a verdade não se encontra no voto da maioria dos Hierarcas do Sínodo. A verdade é em si mesma uma maioria, pois na Igreja a verdade é uma realidade hipostática. Por essa razão, quem quer que não concorde com ela, é separado da Igreja e é deposto e excomungado conforme o caso. O Santo e Grande Sínodo não tem permissão de deixar para corpos sinodais menores um assunto de tão excepcional gravidade como a inevitável discordância do voto minoritário dos bispos sobre matéria de dogmas. Como o mais alto corpo sinodal, ele tem que tratar desse assunto diretamente, ou de outra forma existe um perigo real de cisma na Igreja, precisamente no momento quando esse Grande Sìnodo aspira reafirmar a unidade visível da nossa Igreja.

Com o mais profundo respeito,

Beijando sua mão direita,

Demétrios Tselengides

Professor da Escola de Teologia da Universidade Aristóteles de Tessalônica


Traduzido para o inglês por Pe. Kristian Akselberg

Traduzido para o português por Fabio L. Leite

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Metropolita de Limassol Critica Documento de Teor Ecumenista

Metropolita Atanásios de Limassol



Metropolita de Limassol: “De que tipo de unidade estamos falando? Os que deixaram a Igreja são hereges e cismáticos”

Fonte: Romfea

11 de fevereiro de 2016

Existem sérias lacunas nas discussões teológicas e canônicas do vindouro encontro do Sínodo Pan-Ortodoxo, assinala o Metropolita Atanásio de Limassol.

Em uma carta, da qual alguns trechos foram publicados pela agência de notícias religiosas Romfea.gr, o eminente hierarca não considera que haja qualquer problema quanto a restauração da unidade dos cristãos, já que tal unidade, em sua opinião, jamais foi perdida. Ao invés, certos cristãos escolheram caminhos diferentes ao que seguimos, o da verdade ortodoxa original.

Não existem igrejas ou confissões. Ao invés, foram eles que se desligaram da Igreja e devem ser considerados hereges e cismáticos, ressalta Sua Eminência, dizendo-se confuso por não saber porque algo tão importante foi deixado de fora.

"A afirmação de Sua Eminência, que invoca o direito de cada hierarca de expressar sua opinião sobre assunto tão importante, certamente irá causar discussões e debates dentro da Ortodoxia.
“Já que, em concordância com as regulamentações que nos foram enviadas a respeito da organização e realização do Santo e Grande Sínodo da Igreja Ortodoxa, e em particular o artigo 12, parágrafos 2 e 3, indica que temos o direito de expressar nossos pontos de vista nos Sínodos locais, eu, tendo examinado minha consciência, humildemente submeto ao Santo e Sagrado Sínodo de nossa Santa Igreja, meus posicionamentos e opiniões sobre as matérias seguintes,” sublinhou o Reverendíssimo Metropolita Atanásio em sua carta.

Nessa carta, a qual o Romfea.gr teve acesso exclusivo, Sua Eminência Atanásios fala sobre o texto da 5a. Conferência Pré-Conciliar que ocorreu em Chambesy em outubro e intitulada “Decisão – Relações da Igreja Ortodoxa com o resto do mundo Cristão”, onde ele afirma o seguinte:

“Estou em total concordância com os três primeiros artigos do texto. Entretanto, do artigo 4 em diante, tenho as seguintes observações: “A Igreja Ortodoxa sempre orou “pela união de todos” - e acredito que isto signifique o retorno para e união com Ela de todos aqueles que se desligaram e se distanciaram dela, dos hereges e cismáticos, que uma vez que tenham renunciado sua heresia e cisma e afastem-se de tais coisas com arrependimento e integrem-se – unam-se – com a Igreja Ortodoxa de acordo com os ensinamentos dos cânones sagrados,” ressalta Sua Eminência Atanásios. 

Sua Eminência continua: “A Igreja Ortodoxa de Cristo nunca perdeu a “unidade da fé e da comunhão do Espírito Santo” e não aceita a teoria de restauração da unidade daqueles que “acreditam em Cristo”, porque acredita que a unidade daqueles que crêem em Cristo já existe na unidade de todos os que são filhos da Igreja pelo batismo, entre eles mesmos e com Cristo, na fé correta da Igreja, unidade onde não estão presentes os hereges ou os cismáticos, e por quem a Igreja ora por seu retorno arrependido à Ortodoxia.

Sua Eminência completa sua carta, da qual Romfea.gr publicou alguns trechos, dizendo: “Creio que o que é afirmado no artigo 5 sobre a 'unidade perdida dos cristãos' é incorreto, porque a Igreja como povo de Deus, unidos entre si e com a Cabeça da Igreja que é Cristo, nunca perdeu sua unidade e portanto não tem necessidade de redescobri-la ou buscá-la, porque ela sempre existiu, existe e existirá assim como a Igreja de Cristo nunca deixou ou deixará de existir.”

Sua Eminência Atanásios acrescenta que, “o que aconteceu foi que grupos, povos ou indivíduos deixaram o corpo da Igreja e a Igreja ora, como é necessário tentar por sua missão, que arrependidos retornem para a Igreja Ortodoxa pela via canônica. Em outras palavras, não existem outras Igrejas, apenas heresias e cismas, se quisermos ser mais precisos em nossas definições.”

“A expressão 'na direção da restauração da unidade cristã' é incorreta porque a unidade dos cristãos – os membros da Igreja de Cristo – nunca foi quebrada, enquanto eles permaneceram unidos à Igreja. Separação da Igreja e abandono da Igreja de fato infelizmente ocorreram inúmeras vezes devido a heresias e cismas, mas nunca houve uma perda da unidade interna da Igreja”, sua Eminência continua na sua carta.

Em outro ponto, Sua Eminência Atanásios declara: “Questiono porque o texto contém múltiplas referências à 'Igrejas' e 'Confissões'? Que diferenças e que elementos permitem-nos chamar alguns de igrejas e outros de confissões? Qual é uma Igreja e qual é uma heresia e qual um grupo cismático ou confissão? Nós confessamos uma Igreja e que todas as outras são cismas e heresias. Eu sustento que dar o título de 'Igreja' a comunidades heréticas ou cismáticas é inteiramente incorreto de uma perspectiva teológica, dogmática e canônica porque a Igreja de Cristo é uma, como também afirmado no Artigo 1, e não podemos nos referir a uma comunidade ou grupo heréticos ou cismáticos fora da Igreja Ortodoxa como 'Igrejas' “.

“Em nenhum ponto esse texto afirma que o único caminho que leva à união com a Igreja é apena o retorno contrito dos heréticos e cismáticos à Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Cristo, a qual, de acordo com o Artigo 1, é nossa Igreja Ortodoxa. A referência ao “entendimento da tradição da antiga Igreja' dá a impressão de que existe uma diferença ontológica entre a antiga Igreja dos Sete Concílios Ecumênicos e a genuína continuação da mesma até o dia presente, ou seja, nossa Igreja Ortodoxa. Acreditamos que não existe absolutamente nenhuma diferença entre a Igreja do século 21 e a Igreja do 1o século, porque um dos atributos da Igreja é o fato de que nós também confessamos no Símbolo da Fé, especificamente que é Apostólico”, enfatizou o Metropolita de Limassol.

O Bispo subsequentemente sublinha que no Artigo 12, é dada a impressão de os ortodoxos estão buscando restaurar a fé correta e a unidade, o que gera um posicionamento inaceitável.

“O artigo 12 afirma que o propósito comum dos diálogos teológicos é “a restauração final da unidade na fé correta e no amor'. Isso dá a impressão de que nós ortodoxos estamos buscando nossa restauração para corrigirmos a fé e a unidade do amor, como se tivéssemos perdido a fé correta e estivéssemos buscando descobri-la através dos diálogos ecumênicos com os heterodoxos. Eu sustento que essa teoria é teologicamente inaceitável para todos nós”, sublinha o Metropolita Atanásios.

Em outro lugar, Sua Eminência expressa objeções ao texto, enfatizando que “a referência do texto ao 'Conselho Mundial de Igrejas' me dá oportunidade de fazer uma reclamação contra ocasionais eventos sincretísticos que aconteceram ali, mas também contra seu nome, já que considera a Igreja Ortodoxa como 'uma das Igrejas' ou um ramo da Igreja Una que busca sua realização no Conselho Mundial de Igrejas. Para nós, entretanto, a Igreja de Cristo é uma e única, como confessamos no Símbolo da Fé, e não várias.”

Sua Eminência declara ainda: “O ponto de vista de que a preservação da genuína fé ortodoxa é garantida apenas através do sistema sinodal como a “única e final autoridade em questões de fé” é exagerada e ignora a verdade de que muitos sínodos ao longo da história da Igreja ensinaram e esposaram doutrinas heréticas e incorretas, e que foi o povo fiel quem rejeitou-os e preservou a fé ortodoxa e defendeu a confissão ortodoxa. Nem um sínodo sem um povo fiel, a plenitude da Igreja, nem o povo sem um sínodo de bispos são capazes de considerar-se como o Corpo de Cristo e a Igreja de Cristo e corretamente expressarem a experiência e doutrina da Igreja”.

“Dirigindo-se ao Arcebispo de Chipre e aos membros do Santo Sínodo, o Metropolita de Limassol enfatiza: “O uso de linguajar duro ou insultuoso não pode ser feito em encíclicas eclesiásticas desse tipo, nem acho que alguém deseje usar essa forma de expressão. Entretanto, a verdade deve ser expressa com precisão e clareza, embora naturalmente com discernimento pastoral e genuíno amor para com todos. Devemos aos nossos irmãos que se encontram na heresia e no cisma que sejamos inteiramente honestos com eles, e com amor e dor que oremos e façamos todo o possível para fazer com que voltem para a Igreja de Cristo.

“Eu humildemente sustento que textos de tal importância e prestígio como os que serão utilizados no Santo e Grande Sínodo da Igreja Ortodoxa devem ser cuidadosamente formulados com precisão teológica e canônica para que tais ambiguidades e termos teológicos não testados não dêem margem a expressões incorretas que poderiam levar a mal-entendidos e distorções da atitude correta da Igreja Ortodoxa. Além disso, para que um Sínodo seja válido e canônico, não deve afastar-se de modo algum do espírito e ensinamento dos Santos Sínodos que o precederam, o ensino dos Santos Padres e das Santas Escrituras, e deve estar livre de quaisquer ambiguidades na expressão precisa da fé correta,” acrescenta Sua Eminência Atanásios.

Em outra parte, mencionando os Santos Pais, Sua Eminência Atanásios declarou: “Nunca os Santo Pais, nem mesmo nos santos cânones ou ordenamentos dos sagrados Sínodos Ecumênicos ou locais, referem-se aos grupos heréticos ou cismáticos como igrejas. Se os hereges são de fato igrejas, onde está de fato a Igreja Una de Cristo e dos Apóstolos?”

O Metropolita de Limassol também expressou sua forte oposição, enfatizando que aqueles que não têm direito de votar e participar no Sínodo são meramente ornamentais.

“Eu humildemente expresso minha discordância com o fato de que a prática de todos os Santos Sínodos até agora de permitir que cada bispo vote seja abolida. Nunca antes houve um sistema de 'uma Igreja, um voto', o que torna os membros do Santo e Grande Sínodo, com exceção dos primazes, meros itens decorativos, repelindo seus direitos de votos,” Sua Eminência afirmou em sua carta.

Em conclusão, o Hierarca da Igreja de Chipre afirma que: “Eu não quero perturbar ninguém com o que escrevi, nem quero ser visto como estar ensinando a meus irmãos e pais em Cristo como exercer julgamento. Eu simplesmente quero expressar o que minha consciência exige de mim.”

Para ler a carta completa do Metropolita, veja o site da Sé Metropolitana de Limassol.

Traduzido para o inglês por Pe. Kristian Akselberg
Traduzido para o português por Lr. Fabio L. Leite
Romfea

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Teólogo Grego Critica Documento de Teor Ecumenista

Dr. Dimitrios Tselengidis

Professor da Escola Teológica da Universidade Aristóteles de Tessalônica, o Dr. Dimitrios Tselengidis enviou suas primeiras observações teológicas aos hierarcas ortodoxos de diversas Igrejas Ortodoxas Locais (incluindo, as da Grécia, Rússia, Sérvia, Geórgia, Bulgária, Alexandria, e Antioquia) a respeito do documento: "Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão".

Tessalônica, 03 de fevereiro de 2016

O texto demonstra recorrentes inconsistências e contradições teológicas. Assim, no primeiro artigo ele proclama a identidade eclesiástica da Igreja Ortodoxa, considerando-a, muito corretamente, como a "Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica". No artigo seis, porém, existe uma contradição com respeito à formulação no artigo acima (1). Ele registra caracteristicamente que "a Igreja Ortodoxa reconhece historicamente a existência de outras igrejas cristãs e confissões que não estão em comunhão com Ela".

Aqui surge uma razoável questão teológica: Se a Igreja é "Una", de acordo como nosso Credo e a auto-identidade da Igreja Ortodoxa (art. 1), então como pode haver menções de outras igrejas cristãs? É claro que tais igrejas são heterodoxas.

"Igrejas" heterodoxas, porém, não podem de modo algum serem chamadas de "Igrejas" pela Ortodoxia. Considerando-se as coisas por uma perspectiva dogmática, não é possível falar-se de uma pluralidade de "Igrejas" com diferentes dogmas, os quais até mesmo dizendo respeito a diferentes questões teológicas. Consequentemente, enquanto essas "Igrejas" permanecerem firmes nas crenças errôneas de suas fés, não existe justificativa teológica para conceder-lhes reconhecimento eclesiológico - e estão oficialmente - fora da "Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica".

No mesmo artigo (6), existe uma outra contradição teológica. No início do artigo o seguinte foi escrito: "De acordo com a natureza ontológica da Igreja, é impossível que Sua unidade seja quebrada". No fim desse mesmo artigo, entretanto, está escrito que, pela Sua participação no Movimento Ecumênico, a Igreja Ortodoxa tem como "sua meta objetiva a pavimentação do caminho que leva à unidade".

Fica assim posta a questão: dado que a unidade da Igreja é um fato reconhecido, que tipo de unidade das Igrejas está sendo buscado no contexto do movimento ecumênico? Será por acaso o retorno dos cristãos ocidentais para a Igreja UNA e única? Tal significado, entretanto, não surge na carta, ou no espírito de todo o texto. Ao contrário, de fato, a impressão dada é que existe uma divisão longamente estabelecida na igreja e que os prospectos dos diálogos (ecumênicos) focam na unidade perdida da Igreja.

Também provoca-se confusão teológica na ambiguidade do artigo 20, que diz: "os prospectos dos diálogos teológicos da Igreja Ortodoxa com outras igrejas e confissões cristãs será sempre determinado com base nos critérios canônicos Dela, de acordo com tradições eclesiásticas já estabelecidas (o cânone sete do Segundo Concílio Ecumênico e o cânone 95 do Concílio Quinissexto)."

Mas o cânone sete do Segundo Concílio Ecumênico e o Cânone 95 do Quinissexto tratam da recepção de hereges específicos que haviam demonstrado seu desejo de reunirem-se à Igreja Ortodoxa. Entretanto, é aparente na letra e no espírito do texto, quando analisado sob uma perspectiva teológica, que não há nenhuma discussão sobre retorno de heterodoxos à Igreja Ortodox, a única Igreja. Ao invés, no texto, o batismo dos heterodoxos é considerado como um fato aceito do inicio - e isso sem uma decisão Pan-Ortodoxa. Em outras palavras, o texto endossa a "Teologia Batismal". Simultaneamente, o texto deliberadamente ignora o fato histórico de que os heterodoxos contemporâneos do Ocidente (Romanos e Protestantes) não possuem apenas um, porém muitos dogmas que diferem da Igreja Ortodoxa (além do Filioque, graça criada nos sacramentos, o primado do Papa, infalibilidade papal, rejeição dos ícones, e rejeição de concílios ecumênicos, etc.

O artigo 21também levanta questões apropriadas, quando nota que "a Igreja Ortodoxa ... tem um ponto de vista favorável dos documentos adotados pela Comissão (referindo-se ao Comitê pela "Fé e Ordem")... para a reaproximação das Igrejas.' Aqui devemos observar que esses documentos (do Comitê) nunca foram avaliados pelos Hierarcas das Igrejas Ortodoxas locais.

Finalmente, no artigo 22, é passada a impressão de que o vindouro Santo e Grande Concílio está prejulgando a infalibilidade de suas decisões, já que considera que, "a preservação da autêntica fé ortodoxa é garantida apenas através do sistema sinodal, o qual foi sempre retestado na Igreja e o qual constitui-se o juiz final e apropriado de todas as questões da fé". Nesse artigo, é ignorado o fato histórico de que na Igreja Ortodoxa, o critério final é sempre a consciência dogmática viva da plenitude da Igreja, a qual no passado confirmou até Concílios Ecumênicos e outros como concílios "ladrões". O sistema sinodal por si só não garante mecanicamente a correção da fé ortodoxa. Isso só acontece quando o Sínodo dos Bispos têm o Espírito santo e o Caminho Hipostático, Cristo, trabalhando dentro de si, e portanto são na prática um "sy" - "odikoi", um caminhar juntos no caminho.


Avaliação Geral do Texto

Com tudo que está escrito e o que está claramente implicado no texto acima, é claro que seus iniciadores e autores estão tentando uma ratificação institucional e oficial do Sincretismo-Ecumenismo Cristão através do Sínodo Pan-Ortodoxo. Isso, porém, seria catastrófico para a Igreja Ortodoxa. Por essa razão, proponho humildemente sua completa retirada.
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Para concluir, uma observação teológica sobre o texto, "O Sacramento do Casamento e Seus Impedimentos" (ver: https://mospat.ru/en/2016/28/news127389 ). No artigo 5.i, ele anota: "O casamento de uma pessoa ortodoxa com uma heterodoxa não é permitido de acordo com a akrivia (regra) canônica (cânone 72 do Concílio Quinissexto de Trullo). Entretanto, é possível receber a benção através da condescendência e amor pelo homem sob a condição expressa de que a criança desse casamento seja batizada e criada na Igreja Ortodoxa."

Aqui, a condição expressa de que, "a criança desse casamento será batizada e criada na Igreja Ortodoxa" conflita com a garantia teológica do casamento como um sacramento da Igreja Ortodoxa. A razão para isso é que a criação dos filhos é levada a, junto com o batismo deles na Igreja Ortodoxa, a legitimar o ofício do casamento misto, algo claramente proibido pelo cânone de concílios ecumênicos (cânones 72 do Quinissexto). Em outras palavras, um sínodo que não é Ecumênico, como o vindouro Santo e Grande Concílio, explicitamente transforma uma decisão de um Concílio Ecumênico em algo relativo. Isso é inaceitável.

E finalmente isto: Se o casamento abençoado não gerar crianças, esse casamento será teologicamente legítimo simplesmente por conta da intenção do esposo heterodoxo de colocar qualquer possível na Igreja Ortodoxa?

Por questão de consistência teológica, o artigo 5.i precisa ser removido.

Tradução para o inglês do Rev. Pe. Matthew Penney, 7 de fevereiro de 2016, com ajuda do Pe. C.A. e editado pelo Pe. Peter Heers. Tradução para o português pelo Lr. Fabio L. Leite
Para o original grego, veja: http://epomeni-tois-agiois-patrasi.blogspot.gr/2016/02/blog-post_88.html

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O Que a Igreja Ortodoxa Não É - 06/11

Alexei Khomiakov



por Sua Eminência Jeremias (Foundas) de Gortyna e Megalópolis (Grécia)

Não ao Misticismo Russo e ao Anti-Hesicasmo Grego
Próximo: Não à Tese da Influência dos Filósofos Gregos sobre os Pais Gregos


Durante a metade do século 19, alguns intelectuais russos ficaram muito impressionados pelo hesicasmo ortodoxo da Montanha Santa (Monte Athos), que havia chegado na Rússia. Entretanto, eles não apreenderam sua profundidade, pois a incorporaram nas suas teorias de superioridade eslava. Isto é, eles diziam que o hesicasmo do tipo “gerondico” era uma característica sua e que era uma característica da tradição e mentalidades russas, e não pertenciam ao Cristianismo Latino ou ao Grego, como o chamavam. (15)

Dessa forma, os russos acreditavam que haviam superado os “gregos” e seu escolaticismo; haviam superado com seu hesicasmo russo. Graças à intensa propaganda russa no Ocidente, essa ideia de uma superioridade do escolaticismo e hesicasmo russos tornou-se parte da consciência heterodoxa, mas também em nossa terra, Grécia. Como resultado, temos a ignorância e mesmo deboche, mesmo na Grécia, por parte de algumas pessoas contra a teologia patrística e o hesicasmo ortodoxo. E chegamos na situação na qual até teólogos gregos buscam os estrangeiros para ter orientação porque eles, supostamente devido à sua identidade natural e idiossincrasias, entenderiam de teologia e hesicasmo melhor do que nós. Era exatamente isso que os eslavófilos proponentes de Alexis Khomiakov propagandeavam em altos brados: que eles, eslavos, devido a idiossincrasias e mentalidade naturais, tinham entedido o Cristianismo melhor do que os “Latinos” e os “Gregos”!

Errado! Os Pais Aguioritas (provindos do Monte Athos) entraram na Rússia através da Moldávia e levaram o hesicasmo para eles. Esses missionários eram Romanos de língua grega e não eslavos. Além disso, a Graça de Deus, que nos santifica e glorifica (teósis), não tem nenhuma relação com chauvinismos nacionalistas, mas ao invés, visita e fortalece todo homem que busca Deus, qualquer que seja sua nação, para que ele viva o Mistério de nossa fé e alcance a santidade. O que o professor Pe. John Romanides escreve sobre isso é muito bonito:

“O alicerce do hesicasmo é a teósis (deificação/glorificação), que triunfa sobre a natureza e torna os homens divinos pela graça. Tal é a fonte da mais alta compreensão possível da teologia, que transcende a natureza do logos (fala, razão) e do nous do homem . Ela não tem nada a ver com chauvinismos nacionalistas. O fato de que a maioria dos glorificados (os que atingiram a teósis) durante o curso histórico da Ecclesia terem sido Pais e Santos romanos de língua grega não significa que os fiéis de outras línguas e nacionalidades não podem igualmente tornarem-se portadores de Deus; mas também não significa que eles podem tornarem-se maiores teologicamente e espiritualmente. Certamente encontramos estágios mais avançados de Teósis tais como Ellamcis (iluminação), Thea (Visão), e Synechis Thea (Visão Continua); mas eles nada têm a ver com idiossincrasias étnicas. Os Apóstolos no Monte Tabor e durante o Pentecostes receberam a teósis no mais alto grau possível nesta vida, enquanto Moisés contemplou (teoria) a glória de Cristo no Monte Sinai por quarenta dias e noites. Não eram gregos, nem latinos, mas também não eram eslavos” (16).

O mesmo se aplica a Plevris (um conhecido politico nacionalista grego que renega o Velho Testamento porque é um “trabalho de judeus”), no que se refere às coisas blasfemas e não históricas que ele diz e escreve. Mas iremos lidar com tais blasfêmias não históricas em um estudo especial nosso.

Claro, teólogos gregos modernos não aceitaram o hesicasmo russo de forma absoluta, o assim chamado “misticismo russo”, e reagiram contra ele. Entretanto, ao invés de se voltarem para o verdadeiro e real hesicasmo de nossa Ecclesia, eles voltaram-se maravilhados, como uma contra-reação ao misticismo russo, para uma tradição que imaginavam ser não-hesicasta, e supostamente não ascética de grandes Pais que viveram antes de Fócios, e que imaginavam terem sido homens de ação e de contemplação filosófica (estocasmo) e não de misticismo. E esses lamentáveis gregos modernos acreditavam que pensando e agindo dessa forma estavam lutando contra o, de fato, equivocado misticismo russo; e que por outro lado estavam voltando para os Pais, os quais, porém, eles blasfemavam já que, por um lado davam por encerrada a era patrística com Fócio, o Grande, e por outro, já que tais gregos modernos não tinham experiência do hesicasmo, apresentavam os Pais como não-hesicastas, como homens sociais, homens de ação com estocasmo filosófico, mas certamente não como... monges inativos!

E o grande teólogo de nosso século, Pe. John Romanides, lamenta tal situação dizendo:

“Como resultado dos eventos acima completamente destrutivos para a Ortodoxia, temos que a teologia moderna dos russos e dos gregos modernos não apenas não contribui para integrar os jovens no monasticismo hesicasta tradicional, mas ao invés contribuiu para que alguns gregos modernos seguissem os russos no seu desprezo pelo monasticismo tradicional e na admiração pelas ordens monásticas francas. Dessa forma, as irmandades religiosas surgiram (na Grécia) com fortes sentimentos de inferioridade em relação ao Cristianismo Ocidental, cujos trabalhos eles traduziam e espalhavam entre a população ortodoxa helênica. A coisa estranha é que as irmandades religiosas reagiam instintivamente contra a teologia acadêmica dos gregos modernos, amava os Pais, mas ao mesmo tempo continuavam vítimas da percepção modernista dos Pais como apresentados acima, e imitavam uma imagem que tinham criado em suas mentes sobre eles, imagem que divergia do monasticismo hesicasta dominante durante a Turcocracia de uma maneira essencial. E isso acontecia porque eles aceitavam a questão da distinção entre os grandes Pais e os santos ascéticos de depois de Fócio, o grande, que supostamente não eram Pais.”(17)


15 Para entender melhor a importância da distinção feita por europeus e russos entre os cristianismos "latino" e "grego", veja o estudo do Pe. John Romanides "Romanity, Romania, Rumeli" Thessalonica 1975, Capítulo I.

16  Ibid p. 83

17 Ibid. p. 87, 88

Melancolia, Tristeza e Ansiedade - Terapia Espiritual Ortodoxa

Dia de São Porfírio - 2 de dezembro


Autor: São Porfírio (1906-1991)

O ponto crucial é entrarmos para a Igreja – nos unirmos aos nossos irmãos, às alegrias e tristezas de todos, sentir suas circunstâncias como se fossem as nossas, orar por todos, nos doermos pela salvação deles, esquecermos de nós mesmos, fazermos tudo pelos outros, como Cristo fez por nós. Na Igreja nos tornamos um com cada pessoa triste, com cada sofredor, com cada pecador. Ninguém pode planejar salvar-se sozinho, sem a salvação dos outros. É errado rezarmos pedindo para nos salvarmos. Devemos amar os outros e orar para que ninguém se perca, para que todos entrem para a Igreja. É isso que importa. E é com tal desejo que se deve sair do mundo para ir para um mosteiro ou para o deserto. 

Na igreja, que possui os mistérios (sacramentos) que salvam, não há desespero. Podemos até ser extremamente pecadores, mas confessamos, o padre lê a oração sobre nós e assim somos perdoados e caminhamos para a imortalidade, sem ansiedade, sem medo. 

Quem vive em Cristo, torna-se um com Ele, com Sua Igreja. É uma coisa louca! É uma vida diferente da vida humana. É alegria, luz, escuridão, é um impulso. Isso é que é a vida da Igreja, a vida do Evangelho, do Reino de Deus. “O Reino de Deus está dentro de vós” (S. Lucas 17:21). Cristo veio em nós e nós estamos nEle. E somos assim como um pedaço de ferro que se coloca no fogo se tona fogo e luz; e fora do fogo, novamente torna-se ferro negro, escuridão. 

Os que culpam a Igreja pelos erros de seus representantes, buscando supostamente ajudar em sua correção, estão grandemente enganados. Não amam a Igreja, e nem a Cristo, com certeza. Nós amamos a Igreja, quando em oração, abraçamos todas as suas partes, assim como Cristo faz. Nos sacrificamos, ficamos alertas, fazemos tudo exatamente como ele, Aquele “que, quando insultado não insultava de volta, quando sofria, não respondia com ameaças” (1 Pedro 2:23). 

Temos que prestar atenção também ao que é básico. Temos que viver os mistérios, especialmente o mistério da Santa Comunhão. É neles que a Ortodoxia é encontrada. Cristo é ofertado à Igreja através dos mistérios e primariamente através da Santa Comunhão. 

Entretanto, para muitos, nossa religião é um sofrimento, agonia e ansiedade. Por essa razão muitas pessoas “religiosas” são consideradas infelizes, pois os outros vêem o seu mal estar. De fato, se a pessoa não consegue ver a profundidade da religião e não a vive, a religião acaba sendo uma doença e das mais terríveis. Tão terrível, que a pessoa perde o controle de suas ações, torna-se de vontade fraca e impotente, fica em agonia e estressada, e comporta-se sob a influência de um espírito do mal (significando uma energia demoníaca). Ele prostra-se, chora, berra, é supostamente humilde e toda essa humildade é um teatro satânico. Para algumas dessas pessoas a religião é um tipo de inferno. Na Igreja prostram-se, fazem o sinal da cruz, dizem “somos pecadores indignos” e assim que saem, começam a blasfemar contra o que é santo assim que algo os perturba minimamente que seja. É claro que tem um demônio no meio dessa história. 

Na realidade, o Cristianismo transforma a pessoa e a cura. O pré-requisito mais importante, porém, para termos percepção e discernirmos a verdade é a humildade. O egoísmo escurece a mente, a confunde, a leva a enganos, a heresias. É muito importante que sejamos capazes de compreender a verdade. 

Todos os confusos estão indo para grupos heréticos – crianças confusas de pais confusos. 

Normalmente, nem obras, nem arrependimento, nem o sinal da cruz atraem a graça. O mais importante é evitar formas e ir direto à substância. Tudo que acontece deve acontecer com amor. 

Quando você não vive com Cristo, vive com a melancolia, a tristeza, o estresse, a aflição. Você não vive corretamente. Então muitas anomalias aparecem no seu corpo. O corpo é afetado, as glândulas endócrinas, o fígado, o baço, o pâncreas, o estômago. E te dizem: “Para ficar saudável, você deve tomar leite de manhã, um ovo, manteiga e pães torrados.” E porém, se você vive corretamente, se você ama Cristo, você fica bem com uma maçã e uma laranja. O maior de todos os remédios é oferecer toda sua vida em devoção a Cristo. Tudo é curado. Tudo funciona adequadamente. O amor de Deus transforma tudo; Ele altera, santifica, corrige, ele transforma, modifica; Ele muda tudo. 

Nada é comparável ao amor de Cristo. Ele não acaba, e mais é sempre melhor. Ele transmite vida, dá força, dá saúde, sempre doando tudo. Enquanto o amo humano pode desgastar uma pessoa ou enlouquece-la, quanto mais Ele se doa, mais queremos amá-Lo. Quando amamos Cristo, todos os outros amores retrocedem. Os outros amores têm um ponto de saturação. O amor de Cristo não. O amor carnal tem um ponto de saturação. Pode causar ciúme, reclamações e até assassinato. Pode transformar-se em ódio. Já o amor a Cristo não se deteriora. O amor mundano pode ser preservado por um tempo, mas então aos poucos se apaga, enquanto o amor divino continua crescendo e se aprofundando. Todos os outros amores podem levar a pessoa ao desespero. Mas o amor divino, nos eleva ao domínio de Deus, nos dá serenidade, alegria, completude. Outros prazeres nos cansam enquanto esse nunca é demais. É um prazer insaciável, do qual ninguém nunca se cansa. É o maior dos bens. 

Quando você ama Cristo apesar de suas fraquezas e até de ter consciência de todas elas, você tem a certeza de ter superado a morte, porque você reside na comunhão do amor de Cristo. 

Temos que sentir Cristo como nosso amigo. Ele é nosso amigo. Ele mesmo o confirma quando disse: “Vocês são meus amigos...” (S. João 15:14). Temos que olhar para Ele, e nos aproximarmos dEle como um amigo. Caímos? Pecamos? Devemos correr para Ele com um sentiment de familiaridade, com amor e confiança; não com medo de punições mas com a coragem que só um sentimento de amizade dá. E temos que dizer para Ele: “Senhor, eu fiz de novo, eu caí, me perdoe”. Mas ao mesmo tempo temos que sentir que Ele nos ama, que é com ternura e amor que Ele nos aceita de volta e nos perdoa. Não temos que ficar separados de Cristo por causa do pecado. Quando acreditamos que Ele nos ama e nós O amamos, não nos sentiremos isolados e divididos, mesmo quando pecamos. Temos segurança do amor dele, e não importa como nos comportemos, Ele nos ama. 

O Evangelho com certeza afirma simbolicamente que o injusto se encontrará onde há “choro e ranger de dentes”; é assim que é estar longe de Deus. E os pais népticos(*) da nossa Igreja podem falar de medo da morte e do inferno. Eles dizem “mantenha a morte na sua lembrança”. Se examinarmos essas palavras de perto, elas criam um medo do inferno. Quando o homem tenta evitar o pecado, ele traz esses pensamentos à mente para que sua alma se detenha por medo da morte, do inferno e do demônio. 

Todos têm seu significado, hora e ocasião. O medo, enquanto conceito, é bom durante os estágios iniciais. É para os iniciantes, para aqueles nos quais seu velho eu ainda vive. O iniciante, não tendo sido refinado ainda é contido do mal pelo medo. E o medo é necessário enquanto nós somos ainda materiais e decaídos. Mas é um estágio, um grau baixo de relacionamento com o divino. O tomamos como uma troca, de modo que possamos ganhar o paraíso e escapar do inferno. Quando o homem avança e entra no amor de Deus, que necessidade há do medo? Tudo que ele faz, ele faz em amor, e isso é de muito mais valor. Tornar-se bom por medo de Deus e não por amor é de pouco valor. 

Quem quer tornar-se um Cristão deve primeiro tornar-se um poeta. Se a alma é esmagada e torna-se indigna do amor de Deus, Cristo deixa de Se relacionar, porque Ele não quer almas grosseiras perto de Si. 

Deixe que ninguém te dê atenção, ninguém entenda seus gestos de devoção para com o divino. Faça tudo em particular, em segredo, como os ascetas. Lembra-se do que eu falei sobre o rouxinol? Ele gorjeia no bosque sem que ninguém ouça. E daí que ninguém esteja ouvindo, elogiando? Que belo chilrear no mato! Reparou como sua laringe se infla? É isso que acontece com aquele que ama o Cristo. Se amam, “sua garganta se enche, eles são tomados, sua língua não sabe parar”. Eles vão para uma caverna, um vale e vivem Deus em segredo, em “suspiros silenciosos”. 

Desprezem suas paixões, não se preocupem com o demônio. Voltem-se para Cristo. 

A graça divina nos ensina nosso dever. Para atraí-la, precisamos de amor, desejo ardoroso. A graça de Deus precisa de amor divino. O amor é suficiente, para nos deixar “em forma” para a oração. Cristo irá se derramar sobre nosso coração, desde que Ele possa encontrar as coisas que O agradam: boa intenção, humildade e amor. Sem essas coisas, não temos como dizer, “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. 

Até o menor resmungo contra seu próximo afeta negativamente sua alma e o deixa incapaz de orar. Quando o Espírito Santo encontra a alma nesse estado, Ele não ousa se aproximar. 

Temos que pedir que se faça a vontade de Deus. Isso é o mais benéfico, o mais seguro para nós e para aqueles por quem rezamos. Cristo irá conceder-nos tudo abundantemente. Quando existe até uma pequena gota de egoísmo, nada acontece. 

Quando Deus não nos dá aquilo que pedimos persistentemente, Ele tem seus motivos. Deus tem Seus segredos também. 

Se você não é obediente (ao seu pai espiritual) e não tem humildade, a oração (isto é, “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim” não terá efeito e há que se temer ilusões. 

Não deixe a oração “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim” tornar-se um trabalho tedioso. Pressão demais pode trazer uma reação interna e causar dano. Muitas pessoas adoeceram com oração porque se pressionaram demais. Certamente você pode fazê-lo, quando se torna algo tedioso, mas não é saudável. 

Não é necessário concentrar-se de modo especial para dizer a oração. Você não tem que por esforço nisso quando tem amor divino. Onde quer que esteja, em um banquinho, numa cadeira, num carro, em qualquer lugar, na rua, na escola, no escritório, no trabalho, você pode dizer a oração “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”, suavemente, sem pressão, sem forçar. 

O que é importante na oração não é a duração, mas a intensidade. Ore mesmo que por cinco minutos, mas dê a Deus todo seu amor e seu desejo. Uns podem orar toda a noite, e no entanto esses cinco minutos serem superiores. É um mistério, mas é assim que é. 

Uma pessoa de Cristo transforma tudo em oração. Ela transforma a dificuldade e a tristeza em oração. Tudo que lhe acontece, ela imediatamente diz: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. A oração beneficia tudo, até as menores coisas. Por exemplo, se você sofre de insônia, não pense no sono. Se levante, vá lá fora, volte para seu quarto, deite-se novamente como se fosse pela primeira vez, sem preocupar-se se vai dormir ou não. Concentre-se, diga a doxologia e então três vezes “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim” e conseguirá dormir. 

Tudo dentro de nós, instintos e tudo mais, clamam por realizar-se. Se não os realizamos, eles se vingam de nós, a menos que os redirecionemos para outro lugar, para o mais alto, para Deus. 

Você não se torna santo caçando o mal. Esqueça o mal. Olhe para Cristo e Ele irá salvá-lo. Ao invés de ficar do lado de fora da porta para expulsar o inimigo, ignore-o. O mal está vindo nessa direção? Gentilmente vá na outra. Quer dizer, se o mal vem ataca-lo, dedique sua força interna para o bem, para Cristo. Implore “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. Ele sabe como ter piedade de você, de que modo. E quando você estiver cheio com o bem, você não mais se voltará para o mal. Você se tornará bom por si mesmo, pela Graça de Deus. Como o mal encontraria terreno? Ele desaparece. 

Alguma fobia ou decepção tomam conta de você. Volte-se para Cristo. Ame-O com simplicidade, com humildade, sem exigências e Ele irá libertá-lo. 

Não escolha modos negativos de se corrigirem. Vocês não tem que ter medo do diabo, do inferno, de nada. Isso só cria reflexos. Eu também tenho alguma experiência nessas coisas. O ponto é não sentarmos, nos batendo ou forçando a nós mesmos a melhorar. O ponto é viver, estudar, orar, avançar no amor, no amor de Cristo, no amor da igreja. 

Abandone toda sua fraqueza para que o espírito inimigo (o diabo) não se dê conta dela e o mergulhe nela e o mantenha na aflição. Não faça nenhum esforço para se libertar delas. Empenhe-se com gentileza e simplicidade, sem forçar e sem ansiedade. Não diga para si mesmo: “Agora eu vou me forçar, eu vou orar e vou obter amor, vou conseguir me tornar bom, etc”. Não é bom forçar-se e se bater para se tornar bom. Dessa forma você só vai ter mais reações. Tudo deve acontecer de uma forma suave, livremente, sem pressa. Também não diga: “Deus me libertou”, por exemplo da raiva, ou da tristeza. Não é bom pensar e/ou orar sobre uma paixão em particular. Algo acontece na sua alma e ela se enrola mais ainda. Atire-se a superar uma paixão e verá que ela te envolverá, te agarrará e você não conseguirá fazer nada. 

A liberdade não pode ser conquistada, se não nos libertamos internamente da confusão de nossas paixões. 

É isso que nossa Igreja é, nossa alegria, isso é tudo para nós. E é isso que o homem busca hoje em dia. E ele toma venenos e drogas para entrar em mundos felizes, mas é uma alegria falsa. Ele sente algo naquele momento em particular, mas no dia seguinte está arrasado. Uma coisa o fere, o devora, o esmaga e o queima. Enquanto a outra, que é doar-se para Cristo, o vivifica, o alegra, faz com que aproveite a vida, sinta-se forte e magnífico. 

A habilidade de santificar a alma é uma grande arte. Podemos nos tornar santos em qualquer lugar. Até na Omonia (a mais importante praça pública de Atenas) podemos nos santificar, se quisermos. Vocês podem se tornar santos no trabalho, não importa qual seja – com serenidade, paciência e amor. Cada dia deve ser um novo começo, um novo clima, com entusiasmo e amor, oração e silêncio – mas não com estresse e um coração pesado. 

Trabalhe atentamente, com simplicidade, gentileza, sem ansiedade, com alegria e leveza, com bom ânimo. Então a graça divina vem. 

Todas as coisas desagradáveis que ficam na sua alma e te estressam, podem se tornar mais um motivo para adorar a Deus e assim pararem de te machucar. Confie em Deus. 

Não existe motivo para ficar tentando forte demais e se forçar. Todo seu esforço deve estar focado em olhar para a luz, alcançar a luz. Dessa forma, ao invés de se voltar para a aflição que não é um espírito de Deus, você deve se voltar para o louvor a Deus. 

A aflição mostra que não confiamos nossa vida à Deus. 

Quando a comunicação com Cristo acontece de forma simples, suave, sem pressão, ela faz com o que o demônio fuja. Satanás não foge da pressão, do estresse. Ele se distancia da serenidade e da oração. Ele retrocede quando vê que a alma o ignora e se volta para Cristo com amor. Ele não consegue aceitar a indiferença porque é arrogante. Mas o espírito do mal entende quando vocês se forçam, e consegue dar combate. Não ligue para o diabo, nem mesmo fique pedindo que ele se vá. Quanto mais você pede, mais ele te enreda. Ignore o diabo. Não lute diretamente com ele. Quando você, por cabeça-dura, luta com o demônio, ele ataca de volta como um tigre, um gato selvagem. Quando dá tiros nele, ele joga de volta uma granada. Quando você joga uma bomba, ele atira de volta um míssil. Não olhe para o mal. Olhe para os braços de Deus, se deixe cair em Seus braços e siga em frente. 

Uma pessoa humilde está consciente do seu estado interior, e não importa o quão feio ele seja, ela não perde sua personalidade, nem seu equilíbrio. O contrário acontece com o egoísta, com quem tem sentimentos de inferioridade. No início, ele parece uma pessoa humilde. Mas se for tentando só um pouco, ele já perde sua paz, se irrita e fica com raiva. 

Quando a pessoa vive sem Deus, sem paz, sem confiança, em ansiedade, depressão, falta de esperança, acaba desenvolvendo doenças físicas e psicológicas. Doenças psicológicas, neurológicas, são estados demoníacos. Também é demoníaco falar buscando demonstrar humildade. É um tipo de sentimento de inferioridade. A humildade verdadeira não busca se mostrar, não se dá ares de humildade, mas pensa “sou pecador, indigno, o menor de todos”. Uma pessoa humilde tem medo de cair na vanglória, pois Deus não se aproxima de tais coisas. Em contraste, a graça de Deus pode ser encontrada onde há verdadeira humildade, perfeita confiança em Deus, e dependência dEle. 

A pessoa que se vangloria aliena sua ama da vida eterna. Em última análise, o egoísmo é uma tolice completa! A vanglória nos deixa ocos. Quando nos submetemos a ficar aparecendo, acabamos completamente vazios. Temos que fazer o que for necessário para agradar a Deus; altruisticamente, sem vanglória, sem orgulho, sem ego, sem, sem... 

Nossa alma não deve se rebelar e dizer: “por que Deus fez isso, por que Deus fez aquilo daquele jeito, Ele não poderia ter feito diferente?” Tudo isso indica pequenez de coração e resistência. Mostra que temos nossa opinião em alta conta, assim como nosso orgulho e nosso grande ego. Esses “por ques” torturam a pessoa, criam o que é chamado de “complexos”. Por exemplo, “por que tenho que ser tão alto?” ou o contrário “por que tão baixinho?”. Isso fica guardado dentro de nós. E podemos até rezar e fazer vigílias, e ainda assim só conseguir o efeito contrário. E vamos sofrer e nos desesperar de forma sem sentido. Enquanto com Cristo, com a graça, tudo isso desaparece. Continua essa “alguma coisa” lá no fundo, perguntando “por que”, mas a graça de Deus cobre o homem e enquanto a raiz pode ser complexa, uma roseira cresce sobre ela com belas rosas, e quanto mais for regada através da fé, amor, paciência e humildade, mas o mal perde seu poder e deixa de existir; quer dizer, ele não desaparece, mas diminui. Quanto menos regamos a roseira, mais ela murcha, sexa, desaparece e os espinhos crescem. 

Nós tentamos Deus quando pedimos algo para Ele, mas nossa vida está longe dEle. Nós O tentamos quando pedimos algo, mas nossa vida não está de acordo com Sua vontade, isso é, pedimos por coisas contra Deus: estresse e ansiedade por um lado, mas por outro ficamos suplicando coisas. 

Seu pai spiritual pode te dizer: “Como eu queria estar em um lugar mais calmo, livre de preocupações e escutar sobre a sua vida desde o início, de quando você começou a perceber a própria existência, todas as coisas que você se lembra e o modo como você lidou com elas, não só as desagradáveis mas também as agradáveis, não apenas os pecados, mas também as coisas boas, os sucessos e os fracassos. Tudo, tudo que é parte da sua vida”. 

Eu apliquei esse tipo de confissão gera muitas vezes e tenho vistos milagres acontecerem. Enquanto você fala com o confessor, a graça divina vem para te aliviar de toda provação, de todos os ferimentos e traumas psicológicos, e de toda culpa; porque, enquanto você fala, seu confessor ora com sinceridade pela sua libertação. 

Não fiquemos repetindo os pecados que confessamos. A lembrança dos pecados fere. Não pedimos por perdão? Está acabado. Deus perdôou tudo através da confissão. Eu também acredito que peco. Não estou no caminho certo. Mas se algo me incomoda, logo rezo sobre isso; não deixo ficar dentro de mim. Eu vou conversar com meu pai espiritual. Eu confesso, e acabou! Não vamos andar para trás e ficar falando do que não fizemos. O que é importante é o que faremos agora, desse momento em diante. 

Desespero e decepção são o que há de mais terrível. São armadilhas de Satanás, para fazer a pessoa perder seu interesse por coisas espirituais e leva-la à desesperança. 

Quase todas as doenças são por causa de falta de confiança em Deus e isso causa estresse. O estresse é causado pela ausência de sentimentos religiosos. Se você não sente amor por Cristo, se você não se ocupa com as coisas santas, com certeza vai acabar se ocupando com a melancolia e com o mal. 

Something that can also help the depressed is an occupation, interest for life. The garden, plants, flowers, trees, the country, a walk outdoors, a hike, all this can bring a person out of idleness and create other interests for him. They act like medicine. Occupying oneself with art, music, etc is very beneficial. But I attach the greatest value to the Church, to studying the Holy Scripture, to the services. By studying God's word, one is healed without being aware of it. 

São percamos a esperança, ou nos apressemos, nem julguemos de acordo com coisas externas e superficiais. Se, por exemplo, você vê uma mulher nua ou vestida de forma provocante, não se fixe na imagem externa, mas pense na sua alma. Ela pode ser uma alma muito boa que tem questões existenciais, as quais ela manifesta através dessa aparência extrema. Ela tem uma força interior, a força da projeção, ela quer que as pessoas olhem para ela. Entretanto, em sua ignorância, ela distorceu as coisas. Imagine se ela encontrasse Cristo. Ela iria crer, e direcionar todo esse ardor para Cristo. Ela faria de tudo para agradar a Deus. Ela se tornaria uma santa. 

Normalmente, por causa de nossas ansiedades e medos, de nosso estado espiritual ruim, sem sabermos ou querermos, ferimos outras pessoas, mesmo as que amamos muito, mesmo uma mãe em relação ao filho. A mãe pode transmitir ao filho todo seu estresse sobre a vida, a saúde, o progresso dele, mesmo sem nunca falar sobre essas coisas com ele diretamente ou sem expressar o que sente. Esse amor, esse amor natural pode feri-lo alguma hora. Isso não acontece, porém, com o amor de Cristo, que está ligado à oração e a santidade da vida de cada um. Esse amor santifica a pessoa, a pacifica, porque Deus é amor. 

Fonte (em grego): Life and Words, pub. Holy Monastery of Chrisopigi of Chania
2003, Ancião Porphyrios

Traduzido para o inglês por: Holy Monastery of Pantokrator (  http://www.impantokratoros.gr/melancholy-sadness-anxiety.en.aspx )

Traduzido para o português por: Lr.Fabio L. Leite


(*) Pais Népticos, aqueles que possuem Nepsis: (do grego νῆψις). Nepsis é um estado de perpétua atenção e consciência, de perfeita sobriedade e discernimento que é típico dos santos após longo período de purificação.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Que a Igreja Ortodoxa Não É - 05/11


"O Triunfo de São Tomás Aquinas"


por Sua Eminência Jeremias (Foundas) de Gortyna e Megalópolis (Grécia)

Não à Teologia Escolástica
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Mas, se de acordo com os francos a era patrística terminou com São João Damasceno ou com Fócio, o Grande, o que viria em seguida? Os francos nos oferecem sua teologia escolástica e chegando a alegar que ela superou a encerrada teologia patrística! Aqueles dentre os nossos ortodoxos que aceitam o fim da tradição patrística sugerem como seu substituto estudos catequéticos-dogmáticos mal escritos, imitados dos francos, assim como outros trabalhos teológicos escolásticos. Entretanto, como já dissemos antes, a Ecclesia sempre teve seus Pais, mesmo duranto o período difícil da Turcocracia.

A crença de que os francos escolásticos superaram os Santos Pais tem sua principal fonte a opinião do Abençoado Agostinho de que o ensino do Filioque constitui uma solução para um problema teológico que (alegadamente) não teria sido resolvido pelos Pais do Segundo Sínodo Ecumênico. 

Em uma de suas falas em 393 diante do Santo Sínodo da África a respeito do Símbolo do Segundo Sínodo Ecumênico, Agostinho relatou aos bispos a seguinte estranha e equivocada informação: que a propriedade hipostática do Espírito Santo é, diferentemente do Pai e do Filho, um problema para a Eclesia, um problema que permanecia irresolvido no Segundo Sínodo Ecumênico. Sem ter aprendido grego, como ele mesmo nos informa em outros momentos, nem tendo estudado os trabalhos latinos de seu tempo sobre a Santíssima Trindade, ele não sabia que a questão não era um problema, muito menos algo não-resolvido. Ainda assim, vivendo em isolamento teológico, sem o auxílio dos trabalhos patrísticos relevantes ao assunto, ele dedicou todos os seus esforços por 35 anos buscando uma resposta. E a encontrou através de contemplação baseada em filosofia neo-platônica (estocasmo): o filioque!

Tal "solução" do Abençoado Agostinho foi redescoberta pelos francos no século 8 e acrescentada ao Símbolo da Fé. E junto com o filioque, os francos adotaram a também equivocada opinião de Agostinho de que a Eclesia, com o passar do tempo, é levada com a ajuda de "pensadores" ("estocastas") a uma melhor compreensão dos dogmas, dado que ele supostamente encontrara a solução que a Eclesia buscara a respeito da propriedade hipostática do Espírito Santo, uma solução que os Pais do Segundo Concílio Ecumênico não teriam tido condições de encontrar.

Quando os russos, como os francos antes deles, adotaram o método teológico escolástico e a língua latina como a língua teológica oficial (no século 18), eles também adotaram a crença de que haviam superado os romanos (ortodoxos) do Império Otomano. O que é estranho é que alguns teólogos neo-helênicos, gregos modernos,que, influenciados pelos francos e pelos russos, ficaram desculpando-se por vários anos aos francos e à Rússia "francizada" por não terem recebido uma teologia escolástica e sistemática do tipo encontrado na Europa ocidental. Eles prometiam, entretanto, que iriam se esforçar para também criar uma tal teologia, de modo que pudessem logo alcançar as alturas intelectuais da Europa ocidental. Hoje, porém, quando a teologia ocidental foi quase inteiramente desmembrada, muitos teólogos europeus retornam á tradição patrística. E assim também muitos gregos modernos fazem o mesmo caminho em imitação deles. Mas o Pe. John Romanides repara:
"Infelizmente, ao invés de tentarem teologizar dentro da tradição hermenêutica dos Pais, eles utilizam a chave hermenêutica de seus professores ocidentais. Em outras palavras, eles interpretam os Pais baseados nas pressuposições da teologia ocidental e seu método de solucionar problemas, e portanto, não compreendem nem a teologia nem a espiritualidade dos Pais. A razão disto é que a teologia e a espiritualidade patrística, como aparecem nos escritos dos Pais, é percebida somente por aqueles que tiveraam a mesma experiência espiritual deles.(13) Essa teologia é um mistério oculto, exatamente como a teologia da Samta Escritura é um mistério. É inacessível para métodos acadêmicos. Apenas aqueles que possuem a Graça compreendem a Graça, a qual eles recebem através de jejum e oração sob a orientação de um pai espiritual que tenha a Graça da teoria (contemplação divina) (14)


13. Cf.o grande estudo do Professor Stylianos Papadopoulos "Concept, Importance and Authority of the Father and Teacher in his Patrology" livro I, p. 17-19.

14. Ibid. p. 81

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Desvarios Progressistas e a Mentalidade Teórica



Autor: S. Teófano, o Recluso: (10 de Janeiro de 1815 – 06 de Janeiro de 1894)

Quanto mais amo a humanidade em geral, menos amo cada homem em particular. Quanto mais odeio os homens individualmente, mais amo a humanidade - Fyodor Dostoyevsky, Os Irmãos Karamazov

Fonte: http://www.aoiusa.org/st-theophan-the-recluse-progressive-ravings-and-the-theoretical-mindset/



do livro "The Spiritual Life" Capítulos 16 e 17



O que aconteceu com você? Que tipo de perguntas é esse? "Não sei o que fazer com a minha vida. Deveria estar fazendo algo em particular? Tenho que definir um propósito específico para mim mesmo?" Eu li isso e fiquei chocado. De onde poderiam vir tais pensamentos? De fato, você já definiu tudo isso quando expressou seu desejo de manter-se no nível da dignidade humana.

Eu diria que você deve ter entre seus amigos alguns que são pensadores progressistas, ou que entrou em sociedade com tais pessoas, e que elas desintegraram o seu bom senso. Tais pessoas é que costumam falar essas barbaridades.


Parece-me que tudo isso é muito claro e simples e não existe razão para você ficar se torturando com problemas difíceis. Você tem que tirar da sua mente quaisquer planos sobre atividades "abrangentes, de múltiplos benefícios, em comum para toda a humanidade", das quais tanto tagarelam os progressistas.


Frases como "o bem da humanidade" e "o bem do povo" estão sempre nas línguas deles... os progressistas sempre têm em mente toda a humanidade ou pelo menos todo o povo ajuntado. Você, provavelmente, depois de escutar tantos ideias "profundas", se deixou cativar por elas e quando voltou os olhos para a realidade, percebeu com ressentimento que tinha parasitado o seu círculo familiar sem benefício ou propósito. Ah, se pelo menos alguém tivesse aberto seus olhos!

O fato é que a "humanidade" ou "o povo" não existem como uma pessoa por quem você pode fazer algo agora mesmo. Eles consistem de pessoas individuais e ao fazer algo por uma pessoa, o fazemos já dentro da massa geral da humanidade.


Se cada um de nós fizéssemos o que dá para fazer por quem quer que esteja na frente de nossos olhos, ao invés de fixar nossa visão ao longe na comunidade dos seres humanos, ou em todo o povo, estaríamos em cada momento fazendo o que é necessitado pelos que têm necessidade, e satisfazendo suas necessidades, estabeleceríamos o bem-estar de toda a humanidade, que afinal se constitui dos que têm e dos que não têm, dos fracos e dos fortes. Mas os que mantêm seus pensamentos no bem-estar de toda a humanidade, distraidamente por causa disso, deixam passar o que está na frente de seus olhos. Porque eles não têm a oportunidade de realizar o trabalho geral, deixam passar a oportunidade de realizar o trabalho particular, e assim, não realizam nada do seu propósito na vida.

Eu ouvi falar de algo assim em São Petersburgo. Havia um tipo de encontro de jovens que eram defensores do bem-estar universal - esse era o ápice de seus delírios progressistas. Um cavalheiro fazia um discurso apaixonado sobre o amor pela humanidade e pelo povo. Todos estavam encantados.


Mas quando ele voltou para casa, seu mordomo não abriu a porta rápido o suficiente, pois não tinha visto o chefe chegar. Também não soube entregar-lhe a lâmpada tão rápido quanto esperado e algo acontecera com o cachimbo que sumira, além de estar frio demais naquele cômodo. Nosso filantropo não pôde aguentar tais coisas e repreendeu com aspereza seu empregado. E ali estava, aquele sujeito bacana, cheio de amor pela humanidade, mas que não conseguia se portar adequadamente nem mesmo com uma só pessoa em sua casa.


Também no ponto alto dos desvarios progressistas, tinham algumas moças bonitas entregando-se ao trabalho de confecção de livros, as quais tinham deixado suas mães sem uma migalha de pão. Também elas, imaginavam que estavam de alguma forma avançando e ajudando a estabelecer a felicidade da humanidade.


Todos os problemas vêm de uma atitude mental que é abrangente demais. É melhor olharmos humildemente para nossos próprios pés, e vermos que passo vamos dar ali. Esse é o caminho mais verdadeiro.