por Athanasios Rakovalis
Nem todos os monges são iguais, nem são todos os atletas, médicos ou qualquer outra atividade. Alguns progridem e se tornam referências, enquanto outros são medíocres, alguns alcançam a excelência, enquanto outros fracassam em seu propósito. Entretanto, todos têm seu lugar na vida, e o critério de Deus para eles pode ser diferente do nosso... muito diferente.
Aos olhos de Deus, o pobre Lázaro, que viveu como mendigo, foi bem sucedido, e não o tolo homem rico, com sua fortuna e "sucesso" mundano. Aos olhos de Deus, o publicano pecador foi bem sucedido, ele que estava arrasado por seus pecados e que não ousava levantar os olhos aos céus, mas simplesmente implorava humildemente a Deus: "Deus, tem piedade de mim, um pecador". Aos olhos de Deus, o fariseu era o fracassado, embora religioso e preservando os mandamentos de Deus, pois sua alma estava inchada de orgulho e ele se considerava superior ao Publicano. Deus abominava o Fariseu.
Devemos ter cuidado. Não julguemos o que vemos. Pois o que acontece nas profundezas do coração humano é invisível. Portanto, "ergamo-nos, ergamo-nos com temor".
Eu soube da existência do ancião Makários ao ouvi-lo. Uma noite eu o ouvi berrando.
"Quem está berrando?", perguntei ao hesicasta que estava me hospedando e me ensinando iconografia.
"Ah, esse é o velho Makários. Ele provavelmente está bêbado de novo e está cantando", ele me disse, enquanto continuava a cavar no jardim. Foi um pouco constrangedor. Eu me perguntei: Então existem monges que ficam bêbados? Eu não esperava por essa.
"Vá lá amanhã para ver se ele precisa de alguma coisa", ele me disse.
"Sim, ancião", eu respondi, pois ficaria contente em encontrar um... eremita tão peculiar.
"Leve alguma comida e pão para ele também".
No dia seguinte, cedo de manhã, me informei do caminho, enchi minha bolsa e parti. Acabei vagando e tendo que me esforçar, pois a trilha estava quase fechada por tantos galhos. Então eu cheguei na sua cela. Era uma cela bonita, como uma pintura, escondida entre as árvores e flores selvagens. Precisava de manutenção, mas ainda estava de pé. Do lado de fora da porta, entre duas pedras, estava uma panela bem preta e vazia.
"Ele cozinha aqui fora?" me perguntei. Eu chamei-o uma, duaz vezes, mas o velho Malários não respondia.
"Talvez ele estivesse com medo? Talvez ele pensasse que eu era algum tipo de ladrão?"...
Me posicionei em um ponto onde ele pudesse me ver. Em tal isolamento, sempre há malandros dispostos a bater em um velho para fazê-lo dizer onde esconde o dinheiro. Como é grande a loucura e a maldade humanas!
De repente a porta se abriu e um homem velho apareceu que mancava de um pé, envolto em uma pequena batina de estilo descente.
Eu pensei: Seria esse um sacrifício pequeno, morar num lugar assim? Um homem de oitenta anos, indefeso, na floresta, isolado? Nessa cela tão pequenina? Se pensasse em mim, que sacrifícios eu realizara por Cristo?
Não desdenhei o velho Malarios, de forma alguma. Simpatizei com ele e o admirei.
Lentamente ele confiou em mim e abriu-me a porta. "O que o senhor gostaria que eu fizesse pelo senhor, ancião? Há algum trabalho que o senhor gostaria que eu fizesse?" Perguntei uma vez e de novo. Ele recusou educadamente, porque não queria me incomodar.
Sem jeito pelas minhas perguntas, ele me disse:
"Você quer fazer um pouco de vinho?
"Eu não sei como, Ancião."
"Eu sei. Eu te digo como".
"Onde vamos encontrar uvas?"
"Eu te digo onde."
"Tudo bem".
Antigamente, quando o povo morava nessa área, existiam vinhas, que embora tenham ficado muitos anos sem cuidados, continuaram a produzir uvas. O velho Makarios me disse para encontrá-las.
Enchi a mochila três vezes e as coloquei em um barril retangular de madeira. Então, com um galho que acabara de cortar bati nelas com força, deixando-as na popla. Por fim, fizemos o vinho.
O velho Makários ficou muito feliz e eu também. Parecia que o vinho era sua consolação. Ele não queria ir para um mosteiro onde eles o forçariam a viver como num asilo, embora isso tenha sido sugerido a ele muitas vezes.
Ele não queria deixar o local onde havia passado a maior parte de sua vida, o "local de meu arrependimento", como ele o chamava. Seu vício era evidente e o humilhava. Um monge que se embebedava! Um hesicasta, um heremita, que bebia e ainda por cima ficava bêbado! Impensável!
Mas suas virtudes eram ocultas e só poderiam ser vistas por aqueles que o contemplassem com ternura.
Como o Padre Makários passava os seus dias quando não estava bêbado? Temos conhecimento dos seus feitos ascéticos? Talvez ele derramasse lágrimas de arrependimento como o Publicano?
Certamente ele não queria abandonar sua plataforma espiritual, sua arena de hesicasmo. Não é necessária coragem para permanecer sozinho, na reclusão da floresta? Não é necessária paciência nas dificuldades, privação de bens, no isolamento pela neve?
Não tinha esse homem auto-negação ao voluntariamente distanciar-se da assistência médica ou consolação humana que teria no asilo do mosteiro?
São essas coisas pequenas? Ele não permaneceu toda a sua vida aos pés de Cristo? Não passara ele toda sua vida na Igreja?
Não estou dizendo que ele era excelente em tudo, mas ele morreu como um atleta lutando pelo primeiro lugar. E daí que ele se embebedava? E daí que ele caía? Quem nunca cai? Quem conhece sua vida oculta? Quem sabe como Deus irá julgá-lo no fim das contas?
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