quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Agni Parthene



Olá amigos!

Abaixo, compartilho com vocês o belíssimo hino "Agni Parthene" em honra da Mãe de Deus, segundo tradução que fiz. Podem acompanhá-lo com legendas neste link:
http://www.overstream.net/view.php?oid=s1apacm3n3r8


Ó Virgem Pura e Rainha,
Imaculada, Theotokos!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Mãe Virgem e Rainha,
Manto Orvalhado cobre-nos!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Ó Altíssima, mais que os céus,
ó Luminosa, mais que o sol!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Ó deleite dos santos virginais,
maior que os celestiais!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Ó luz dos céus mais brilhante,
mais pura e radiante!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Ó mais Santa e angelical,
ó Santíssimo altar celestial!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Maria Sempre Virgem,
Senhora da Criação!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Ó Imaculada Noiva Virgem,
ó Puríssima Nossa Senhora!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Maria, Noiva e Rainha,
Fonte da nossa alegria!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Venerável Virgem Donzela,
Santíssima Mãe e Rainha!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
És mais alta em plena glória,
Mais venerável que os Querubins,
Alegra-te, Noiva Inesposada!
que toda a hoste incorpórea!
mais gloriosa que os Serafins!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Alegra-te hino dos arcanjos,
Alegra-te música dos anjos!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Alegra-te, canto dos Querubins,
Alegra-te canto dos Serafins!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Alegra-te, paz e alegria, alegra-te,
Alegra-te, porto da salvação!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Do Verbo santo, quarto nupcial;
Flor, fragrância da Incorrupção!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Alegra-te, deleite do Paraíso,
Alegra-te, Vida Imortal!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Alegra-te, Árvore da Vida,
e Fonte da Imortalidade!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Imploro-te, ó Rainha,
eu te suplico!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Peço-te ó Rainha da Criação,
imploro tua benção!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Ó Virgem Pura Venerável,
ó Santíssima Senhora
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Com fervor eu te suplico,
ó Templo Sagrado!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Percebe-me, ajudai-me,
livra-me do inimigo!
Alegra-te, Noiva Inesposada!
Intercede por mim
para que eu tenha a Vida Eterna!
Alegra-te, Noiva Inesposada!

Princípios Básicos da Atitude com os Não-Ortodoxos


Um documento de orientação do Patriarcado de Moscou
Original em russo no site oficial do Patriarcado Russo: http://www.mospat.ru
Tradução para o português: Fabio Lins (da versão em inglês publicada no site da Igreja Ortodoxa Russa nos EUA: http://www.russianchurchusa.org
  1. A unidade da Igreja e o pecado das divisões humanas
  2. A busca pela restauração da unidade
  3. Testemunho ortodoxo perante o mundo não-ortodoxo
  4. Diálogo com os não-ortodoxos
  5. Diálogo multilateral e participação no trabalho de organização inter-cristãs.
  6. Relações da Igreja Ortodoxa Russa com os não-ortodoxos em seu território canônico
  7. Tarefas internas em relação ao diálogo com as confissões não-ortodoxas
  8. Conclusão

1. A unidade da Igreja e o pecado das divisões humanas

1.1 - A Igreja Ortodoxa é a verdadeira Igreja de Cristo estabelecida pelo próprio Nosso Senhor e Salvador; é a Igreja confirmada e sustentada pelo Espírito Santo, a Igreja sobre a qual o próprio Salvador disse: "Eu vou construir minha igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt. 16:18). Ela é a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, a guardiã e provedora dos Santos Sacramentos por todo o mundo, "o pilar e a base da verdade" (1 Tim 3:15). Ela porta a total responsabilidade das proclamações das verdades do evangelho de Cristo, assim como todo o poder de testemunhar "a fé que um dia foi entregue aos santos" (Judas 3)
 
1.2 - A Igreja de Cristo é uma e única (S. Cipriano de Cartago, Sobre a Unidade da Igreja). A Unidade da Igreja, o Corpo de Cristo, é baseada no fato de que ela possui uma só cabeça, Nosso Senhor Jesus Cristo (Ef. 5:23). Também que atua nela um só Espírito doador da vida ao corpo desta mesma Igreja e que este Espírito une todos os membros desta Igreja com sua cabeça, o Cristo.
 
1.3 - A Igreja é a unidade de uma "nova humanidade em Cristo". Por Sua Encarnação, o Filho de Deus "reiniciou como nova a longa linha de seres humanos" (St. Irineus de Lyon, Adversus Haereses, 3,18), criando um novo povo portador da graça, a posteridade espiritual do Segundo Adão. A unidade da Igreja está acima de qualquer união humana ou deste mundo, pois foi dada de cima como um dom divino e perfeito. Os membros da Igreja estão unidos em Cristo como vinhas, enraizados Nele e unidos em uma só vida eterna e espiritual.
 
1.4 - A unidade da Igreja supera todas as barreiras e fronteiras, incluindo diferenças sociais, lingüísticas e raciais. A mensagem da salvação deve ser proclamada para todas as nações de modo a trazê-las a um só aprisco, uni-las pelo poder da fé e da Graça do Espírito Santo (Mt. 28:19-20; Mc 16:15; Ats. 1:8).
 
1.5 - Na Igreja, a inimizade e a alienação são superadas, e a humanidade, dividida pelo pecado, une-se em amor como imagem da Trindade consubstancial.
 
1.6 - A Igreja é a unidade do Espírito nos laços da paz (Ef. 4:3), a plenitude de ininterruptas experiências espirituais e vida cheia de graça. "Onde está a Igreja, lá está o Espírito de Deus; e onde o Espírito de Deus está, ali está a Igreja, e todos os tipos de graça" (St. Irineus de Lyons, Adversus Haereses, 3,24). Esta unidade da vida cheia de graça é o fundamento da unidade e imutabilidade da fé da Igreja. Sempre e sem mudar "o Espírito Santo ensina através dos Santos Pais e Doutores. A Igreja Católica não transgride nem mesmo erra ou pronuncia falsidades ao invés da verdade: pois o Espírito Santo, que sempre age através dos fiéis e servos Pais e Doutores da Igreja, a guarda contra todo erro." (A Carta dos Patriarcas Orientais).
 
1.7 - A Igreja é universal, mas ela existe no mundo na forma de várias Igrejas Locais. Isto não diminui a unidade da Igreja de modo algum. "A Igreja, iluminada com a luz do Senhor, ilumina todo o mundo com seus raios, ainda assim é uma luz que difundida por toda parte e a unidade do corpo não é quebrada. Ela estende seus galhos, carregados de frutos, sobre todo o mundo. Seus afluentes chegam livremente às regiões mais distantes, e ainda assim, através de tudo isto, seu Cabeça é um, sua origem é uma e ela é uma só mãe, rica na abundância de seus frutos" (S. Cipriano de Cartago, Da Unidade da Igreja).
 
1.8 - A Igreja está inseparavelmente unida com o Sacramento da Eucaristia, no qual os fiéis, partilhando o uno Corpo de Cristo, tornam-se em verdade e realidade unidos com o Corpo uno e católico, no mistério do amor de Cristo, na força transformadora do espírito. "De fato, se todos compartilhamos um pão, então somos um corpo" ( 1 Cor. 10:17), pois Cristo não pode ser dividido e é por isto que a Igreja é chamada o Corpo de Cristo e cada um de nós é um "membro em particular", de acordo com o entendimento do Apóstolo Paulo (1 Cor. 12:27)" (S. Cirilo de Alexandria).
1.9 - A Igreja una, santa e católica é a Igreja Apostólica. Através do sacerdócio divinamente instituído, os dons do Espírito Santo são comunicados aos fiéis. A sucessão apostólica da hierarquia, começando nos Santos Apóstolos, é a base da comunhão e da unidade da vida cheia de graça. Todo desvio da legítima autoridade da Igreja é um desvio do Espírito Santo, do próprio Cristo. "Tenham certeza que todos seguem o Bispo, assim como Jesus Cristo seguia o Pai, e sigam o presbitério como seguiriam os apóstolos; e reverenciem os diáconos, como sendo instituídos por Deus.Que nenhum homem faça algo relacionado com a Igreja sem o bispo. Onde quer que esteja o bispo, que lá esteja também a multidão de pessoas, assim como onde Jesus Cristo está, lá está a Igreja Católica." (S. Inácio de Antioquia, Aos Esmírnios, 8).
 
1.10 - É apenas através da relação com uma comunidade em particular que cada membro da igreja realiza sua comunhão com toda a Igreja. Ao quebrar relações canônicas com sua igreja local, o cristão fere sua unidade plena de graça com todo o corpo da Igreja, cortando-se para fora dela. Todo pecado afasta a pessoa da Igreja em maior ou menor grau, mas não a separa dela completamente. Na compreensão da Igreja nos primeiros séculos, a excomunhão era a exclusão da assembléia eucarística. Os excomungados, porém, nunca eram readmitidos à comunhão da Igreja através de re-batismo. A fé na natureza indelével do batismo é confessada no Credo Niceno-Constantinopolitano: "Creio em um só batismo para a remissão dos pecados." O Cânone Apostólico 47 diz: "que o bispo ou presbítero que batizar novamente alguém que recebeu corretamente o batismo seja deposto."
 
1.11 - Deste modo a Igreja dá testemunho de que aqueles que foram excomungados retêm um certo "selo" de pertencimento ao povo de Deus. Ao aceitá-los de volta, a Igreja traz de volta à vida aqueles que já haviam sido batizados pelo Espírito para ser um só corpo. Mesmo enquanto excomungando um de seus membros, selado por ela no dia de seu batismo, a Igreja tem esperança de seu retorno. Ela considera a própria excomunhão como um meio de renascimento espiritual de tal pessoa.
 
1.12 - Ao longo dos séculos, o mandamento de Cristo da unidade tem sido repetidamente violado. Contrariamente à unicidade católica desfrutada por Deus, diferenças e divisões surgiram na Cristandade. A Igreja sempre demonstrou uma atitude firme e embasada em relação àqueles que desafiaram a pureza de sua fé salvadora e àqueles que provocaram divisões e confusões na Igreja: "Por que há lutas e tumultos e divisões e cismas e guerra entre vocês? Não temos todos um Deus e um Cristo? Não é um só Espírito de graça vertido sobre nós? E não é um só chamado para o Cristo? Por que dividimos e rasgamos em pedaços os membros de Cristo, e criamos luta contra nosso próprio corpo, e alcançamos um tal nível de loucura que esquecemos que somos membros uns dos outros?" (S. Clemente de Roma, 1a. Epístola aos Coríntios, 46).
 
1.13 - Durante toda a história Cristã, não apenas cristãos individuais mas comunidades cristãs inteiras saíram da unidade com a Igreja Ortodoxa. Algumas destas pereceram no curso da história, enquanto outras sobreviveram aos séculos. As divisões do primeiro milênio mais fundamentais, que sobreviveram até hoje, se deram depois dos 3o e 4º Concílios Ecumênicos, quando algumas comunidades cristãs se recusaram a aceitar as decisões destes concílios. Como resultado, a Igreja Assíria do Oriente e as igrejas não-calcedonianas, incluindo as igrejas copta, armênia, síria-jacobita, etíope e de Malabar, continuam separadas até hoje. No segundo milênio, a separação da igreja de Roma foi seguida por divisões internas da Cristandade ocidental, realizadas pela Reforma, que resultou na contínua formação de diferentes denominações cristãs fora da comunhão com a sé romana. Houve também rupturas com unidades locais da Igreja Ortodoxa, incluindo com a Igreja Russa.
 
1.14 - Ilusões e heresias são resultado do desejo das pessoas de afirmarem-se, colocarem-se a parte. Toda divisão e cisma implica uma certa medida de afastamento da plenitude da Igreja. Uma divisão, mesmo que não aconteça por motivos doutrinários, é uma violação do ensino ortodoxo sobre a natureza da Igreja e leva finalmente a distorções da fé.
 
1.15 - A Igreja Ortodoxa, através das bocas dos santos pais, afirma que a salvação pode ser obtida apenas na Igreja de Cristo. Ao mesmo tempo, entretanto, as comunidades que se separaram da Ortodoxia nunca foram vistas como completamente desprovidas da graça de Deus. Qualquer quebra de comunhão com a Igreja inevitavelmente leva a uma erosão de sua vida plena em graça, mas nem sempre a sua perda completa nessas comunidades separadas. É por isto que a Igreja Ortodoxa não recebe os que vêm até ela de comunidades não-ortodoxas apenas através do sacramento do batismo. A despeito da ruptura da unidade, permanece uma fraternidade incompleta que serve de apelo ao retorno à unidade na Igreja, a unicidade e plenitude católicas.
 
1.16 - O status eclesiástico dos que se separaram da Igreja não se entrega a definições fáceis. Em uma Cristandade dividida, ainda existem algumas características que a fazem ser uma: a palavra de Deus, a fé em Cristo como Deus e Salvador vindo em carne (I Jô 1:1-2; 4:2,9) e a devoção sincera.
 
1.17 - A existência de vários ritos de recepção (através de batismo ou crisma ou arrependimento) demonstra que a Igreja Ortodoxa se relaciona com as diferentes confissões não-ortodoxas de modos diferentes. O critério é o grau de preservação da fé e ordem da Igreja, assim como as normas da vida espiritual cristã, em uma dada confissão. Ao estabelecer vários ritos de recepção, porém, a Igreja Ortodoxa não avalia a extensão com a qual a vida plena em graça foi preservada ou distorcida em uma confissão não-cristã, considerando isto um mistério da providência e julgamento de Deus.
 
1.18 - A Igreja Ortodoxa é a verdadeira Igreja na qual a Santa Tradição e plenitude da graça salvadora de Deus foram preservadas intactas. Ela preservou integralmente e com pureza a herança dos Apóstolos e dos Santos Padres. Ela está consciente que seus ensinamentos, estruturas litúrgicas e práticas espirituais são as mesmas das proclamações apostólicas e da Tradição da Igreja inicial.
 
1.19 - A Ortodoxia não é um atributo nacional ou cultural da Igreja Oriental. A Ortodoxia é uma qualidade interior da Igreja. É a preservação da verdade doutrinal, da ordem hierárquica e litúrgica e dos princípios da vida espiritual os quais, imutável e ininterruptamente, tem sido apresentados pela Igreja desde a Era Apostólica. Não se deve ceder à tentação de idealizar o passado ou ignorar seus problemas e falhas que marcaram sua história. Acima de tudo, os grandes Pais da Igreja mesmo dão o exemplo de auto-crítica espiritual. A história da Igreja nos séculos IV-VIII conheceu vários casos nos quais uma significativa proporção de fiéis caíram em heresia. Mas a história também revela que a Igreja lutou dentro de limites morais contra as heresias que estavam infestando seus filhos.
Também revela que houve casos em que os que haviam se afastado foram curados da heresia, experimentaram o arrependimento e retornaram ao seio da Igreja. A trágica experiência de mal-entendidos emergindo da própria Igreja e da luta com eles durante a época dos concílios ecumênicos ensinou aos filhos da Igreja Ortodoxa a serem vigilantes. A Igreja Ortodoxa, ao mesmo tempo que humildemente testemunha que preservou a Verdade, relembra todas as tentações que se elevaram durante sua história.
 
1.20 - Devido à violação do mandamento para a unidade que levou à tragédia histórica do cisma, os cristãos divididos, ao invés de serem um exemplo de unidade no amor em imagem da Santíssima Trindade, se tornaram fonte de escândalo. As divisões cristãs se tornaram uma ferida aberta e sangrando no Corpo de Cristo. A tragédia das divisões se tornou uma séria e visível distorção da universalidade cristã, um obstáculo para o testemunho de Cristo por parte da Igreja no mundo.
Pois a realidade deste testemunho da Igreja de Cristo depende de um considerável grau de sua habilidade em estar à altura das verdades por ela pregadas na vida e prática das comunidades cristãs.

2. A Busca pela restauração da unidade

2.1 - O objetivo essencial das relações entre a Igreja Ortodoxa e as outras confissões cristãs é a restauração da unidade entre os cristãos e que é exigida de nós por Deus (S.Jo. 17:21). A unidade é parte do plano de Deus e pertence a própria essência da cristandade. É uma tarefa da mais alta prioridade para a Igreja Ortodoxa em todos os níveis de sua vida.
 
2.2 - A indiferença para com esta tarefa ou sua rejeição é um pecado contra o mandamento de Deus pela unidade. De acordo com S. Basílio, o Grande, "todos os que estão realmente e verdadeiramente servindo ao Senhor devem ter este objetivo – trazer de volta à união as igrejas que foram separadas umas das outras" (Cartas, 114).
 
2.3 - Ainda assim, embora reconhecendo a necessidade de restaurar nossa unidade cristã quebrada, a Igreja Ortodoxa assevera que a unidade genuína só é possível no seio da Igreja Uma, Santa, Católica e Apostólica. Todos os outros "modelos" de unidade, se nos afiguram inaceitáveis.
 
2.4 - A Igreja Ortodoxa não pode aceitar a pressuposição de que a despeito das divisões históricas, não teria sido quebrada a unidade profunda e fundamental entre os cristãos e que a Igreja deveria ser entendida como co-extensiva com todo o "mundo cristão". Também não pode aceitar que a unidade cristã existiria através das barreiras denominacionais e que a desunião das igrejas pertenceria apenas ao nível imperfeito das relações humanas. De acordo com tal concepção, a Igreja permaneceria uma, mas tal unicidade não estaria, hoje, suficientemente manifesta em um forma visível. Neste modelo de unidade, a tarefa dos cristãos é entendida não como uma restauração de uma unidade perdida, mas como a manifestação de uma unidade existente. Este modelo repete o ensino da "Igreja invisível" que surgiu durante a Reforma.
 
2.5 - É também totalmente inaceitável a assim chamada "Teoria de Galhos", que está relacionada com a concepção mencionada anteriormente e afirma como normal e mesmo providencial a existência da Cristandade na forma de "galhos" ou "ramos" distintos.
 
2.6 - A Ortodoxia não pode aceitar que as divisões cristãs são causadas pelas imperfeições inevitáveis da história cristã e que tais divisões existem apenas na superfície histórica e podem ser curadas ou superadas através de comprometimentos entre denominações.
 
2.7 - A Igreja Ortodoxa não pode reconhecer "a igualdade das denominações". Aqueles que decaíram da Igreja não podem reunir-se com ela em seu presente estado. As diferenças dogmáticas existentes devem ser superadas, e não apenas contornadas, e isto significa que o caminho da unidade se encontra no arrependimento, conversão e renovação.
 
2.8 - É também inaceitável a idéia de que todas as divisões são essencialmente trágicos mal-entendidos, que as discordâncias parecem irreconciliáveis apenas por causa de uma falta de amor mútuo e de uma relutância em se dar conta de que, a despeito de todas as diferenças e dessemelhanças, existe suficiente harmonia e unidade no "que é mais importante". Nossas divisões não podem ser reduzidas a paixões humanas, egoísmos e muito menos a circunstâncias culturais, sociais e políticas que são secundárias do ponto de vista da Igreja. Também é inaceitável o argumento de que a Igreja Ortodoxa difere de outras comunidades cristãs com as quais não tem comunhão apenas em questões secundárias. As divisões e diferenças não podem ser reduzidas a variados fatores não-teológicos.
 
2.9 - A Igreja Ortodoxa também rejeita a pressuposição de que a unidade da Cristandade só pode ser restaurada através do serviço cristão em comum com o mundo. A unidade cristã não pode ser restaurada através de concordâncias em questões terrenas, pois neste caso os cristãos estariam unidos no que é secundário mas ainda iriam diferir no que é fundamental.
 
2.10 - É inadmissível introduzir o relativismo no âmbito da fé, limitar a unidade na fé a um conjunto estreito de verdades necessárias de modo que além delas seja permitido "liberdade no que for duvidoso". Mesmo uma posição de tolerância com relação às diferenças na fé é inaceitável. Ao mesmo tempo, entretanto, não se deve confundir unidade na fé e a forma de sua expressão.
 
2.11 - A divisão da Cristandade é uma divisão na experiência da própria fé, e não apenas nas formulações doutrinais. Unidade doutrinária formal não exaure o que se quer dizer por unidade da Igreja, embora seja uma de suas condições essenciais.
 
2.12 - A unidade da Igreja é, primeiramente, uma unidade e comunhão nos Sacramentos. Uma verdadeira comunhão nos sacramentos, entretanto, não tem nada a ver com a prática assim chamada da "inter-comunhão". A unidade pode ser realizada apenas em uma vida e experiência plenas de graça e idênticas, na fé da Igreja, na plenitude de sua vida sacramental no Espírito Santo.
 
2.13 - A restauração da unidade cristã em fé e amor só poderá vir de cima, como um dom do Deus Todo-Poderoso. A fonte da unidade está em Deus, e, portanto, meros esforços humanos para restaurá-la serão em vão, pois "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam" (Sl. 127:1). Apenas nosso Senhor Jesus Cristo, O Qual nos deu o mandamento de sermos um, tem como nos dar o poder de realizarmos este mandamento, pois Ele é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (S. Jo. 14:6). A tarefa dos cristãos ortodoxos é de sermos co-trabalhadores com Deus na obra de salvação em Cristo. Como os santos pais disseram: Deus nos salva, mas não sem nós.

3. Testemunho Ortodoxo Perante o Mundo Não-Ortodoxo

3.1 - A Igreja Ortodoxa é a guardiã da Tradição e dos dons plenos de graça da Igreja dos primeiros séculos. Sua tarefa primeira em relação aos não-ortodoxos é, portanto, manter um testemunho contínuo e persistente que fará a verdade expressa nesta Tradição tornar-se compreensível e aceitável. De acordo com a III Conferência Pré-Conciliar Pan-Ortodoxa (1986):
 
«A Igreja Ortodoxa, em sua profunda convicção e consciência eclesiástica de ser a portadora e testemunha da fé e tradição da Igreja Santa, Una, Católica e Apostólica, firmemente crê ocupar um papel central em questões relacionadas à promoção da unidade cristã no mundo contemporâneo: É a missão e dever da Igreja Ortodoxa transmitir, em toda a sua plenitude, a verdade contida nas Santas Escrituras e na Tradição, a verdade que dá à Igreja seu caráter universal. A responsabilidade da Igreja Ortodoxa, assim como sua missão ecumênica referente à unidade cristã, foram expressas nos Concílios Ecumênicos.


Estes, em particular, enfatizaram a ligação indissolúvel existente entre a verdadeira fé e a comunhão sacramental. A Igreja Ortodoxa sempre buscou trazer as diferentes igrejas e confissões cristãs para uma busca conjunta pela unidade perdida dos cristãos, de modo que todos possam alcançar a unidade de fé.»
 
3.2 - A tarefa do testemunho ortodoxo é confiada a cada membro da Igreja. Os cristãos ortodoxos devem conscientizar-se claramente de que a fé que preservam e confessam tem um caráter global e universal. A Igreja não é chamada apenas a ensinar seus próprios filhos, mas também a testemunhar perante aqueles que a deixaram. "Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?" (Rom. 10:14). O dever do cristão ortodoxo é testemunhar a verdade que foi confiada à Igreja para sempre, já que, de acordo com S. Paulo, "nós somos cooperadores de Deus" (1 Cor. 3:9).

4. Diálogo com os Não-Ortodoxos

4.1 - A Igreja Ortodoxa russa tem mantido o diálogo teológico com cristãos não-ortodoxos por mais de dois séculos. Este diálogo tem se caracterizado pela combinação de uma abordagem dogmática fundamentada e amor fraternal. Este princípio foi formulado na "Resposta à Carta do Santo Sínodo do Patriarcado Ecumênico" (1903) como um método de diálogo teológico com os anglicanos e os vétero-católicos.
 
Considerando as confissões não-Ortodoxas, foi dito:
 
«Deve haver uma prontidão fraternal para ajuda-los por meio de explicações, consideração normal por seus melhores anseios, toda paciência possível quanto às suas perplexidades naturais dada a separação secular, mas, ao mesmo tempo, a confissão firme da verdade de nossa Igreja Universal como a única guardiã da herança de Cristo e a única arca salvadora da graça divina. Nossa missão referente a eles deve ser: sem contrapor-lhes obstáculos desnecessários para a união sendo inapropriadamente intolerante ou desconfiados, interpretar para eles nossa fé e imutável convicção de que apenas nossa Igreja Ortodoxa Oriental que preservou intacta e inteiramente a herança de Cristo, que é no presente a Igreja Universal, e assim demonstrar-lhes de fato o que eles devem considerar e decidir se realmente crêem que a salvação está ligada com a vida em Igreja e sinceramente desejam estarem unidos com ela».

 
4.2 - O que caracteriza os diálogos conduzidos pela Igreja Ortodoxa Russa com outras confissões cristãs é sua natureza teológica. A tarefa do diálogo teológico é explicar aos parceiros no diálogo a consciência eclesiológica da Igreja Ortodoxa, os fundamentos de sua doutrina, ordem canônica e tradição espiritual e desfazer perplexidades e estereótipos predominantes.
 
4.3 - Os representantes da Igreja Ortodoxa Russa conduzem diálogos com confissões não-ortodoxas com base na fidelidade à Tradição apostólica e patrística da Igreja Ortodoxa e aos ensinos dos concílios ecumênicos e locais. Qualquer concessão dogmática ou comprometimentos da fé estão excluídos. Nenhum documento ou acordo adotado em diálogos e debates teológicos é obrigatório para quaisquer igrejas ortodoxas até que seja adotado pela Igreja Ortodoxa como um todo.
 
4.4 - De uma perspectiva ortodoxa, o caminho da reunificação para os não-ortodoxos se encontra na transformação e cura de sua consciência e experiência dogmáticas. Seguindo esta linha, as questões discutidas na era dos concílios ecumênicos devem ser analisadas mais uma vez. Uma parte importante do diálogo com as confissões não-ortodoxas é o estudo da herança espiritual e teológica dos santos pais, as vozes da fé da Igreja.
 
4.5 - O testemunho não pode ser um monólogo, já que supõe a existência de ouvintes e portanto de comunicação. Diálogo implica em dois lados, uma abertura mútua para a comunicação, uma disposição para compreender, não apenas uma "boca aberta", mas também um "coração dilatado" (cf. II Cor. 6:11). Este é o porquê o problema da linguagem, compreensão e interpretação teológicas deve se tornar um dos pontos mais importantes da teologia ortodoxa com outras confissões.
 
4.6 - É gratificante e inspirador que o pensamento teológico não-ortodoxo, como expresso por seus melhores representantes, tem demonstrado um interesse sincero e profundo em estudar a herança patrística, a fé e a ordem da Igreja dos primeiros séculos. Ao mesmo tempo, deve-se admitir que entre a teologia ortodoxa e a não-ortodoxa ainda existem muitos problemas não resolvidos e diferenças de opinião.
 
Mais do que isso, mesmo existentes similaridades formais em muitos aspectos da fé não tratam de uma autêntica unidade, já que elementos doutrinais recebem interpretações diferentes em tradições teológicas diferentes.
 
4.7 - O diálogo com as confissões não-ortodoxas reacendeu a compreensão de que uma só verdade e norma católica pode ser expressa e corporificada em uma variedade de contextos culturais e lingüísticos. No curso do diálogo, é essencial que os teólogos ortodoxos sejam capazes de distinguir entre um contexto específico e um desvio real da plenitude católica. Também é necessário investigar a questão dos limites da diversidade dentro da tradição católica una.
 
4.8 - Centros de estudos conjuntos, grupos e programas devem ser estabelecidos dentro do diálogo teológico. É importante que conferências, seminários e encontros acadêmicos teológicos conjuntos, que o intercâmbio de delegações, publicações e informações, assim como projetos de publicações conjuntas ocorram regularmente. O intercâmbio de especialistas, professores e teólogos também é de grande significado.
 
4.9 - É especialmente importante para a Igreja Ortodoxa Russa enviar seus teólogos para os maiores centros acadêmicos de teologia não-ortodoxa. Também é necessário convidar teólogos não-ortodoxos para escolas teológicas e outras instituições educacionais da Igreja Ortodoxa Russa para estudarem teologia ortodoxa. As escolas teológicas da Igreja Ortodoxa Russa devem prestar mais atenção em seus currículos ao estudo dos progressos e resultados dos diálogos teológicos e às confissões não-ortodoxas.
 
4.10 - Ao lado dos apropriados temas teológicos, o diálogo deve também ser conduzido em uma larga escala de problemas envolvendo as relações entre a Igreja e o mundo. Entre as importantes áreas de desenvolvimento de relações com as confissões não-ortodoxas está o trabalho conjunto no serviço à sociedade. Em situações nas quais não haja conflito com a fé e a prática espiritual ortodoxas, programas conjuntos de educação religiosa e catecismo devem ser desenvolvidos.
 
4.11 - Os diálogos bilaterais conduzidos pela Igreja Ortodoxa Russa diferem de suas relações multilaterais e de sua participação em organizações inter-cristãs no sentido de que estruturam-se em tamanho e forma conforme ela considere mais adequado no momento. A régua e critério aqui é o sucesso do diálogo em si mesmo e a prontidão do parceiro em considerar a posição tomada pela Igreja Ortodoxa Russa em uma larga escala de problemas eclesiásticos e sociais e não apenas teológicos.

5. Diálogo Multilateral e participação no trabalho de organizações inter-cristãs

5.1 - A Igreja Ortodoxa Russa conduz diálogos com confissões não-ortodoxas não apenas bilateralmente mas também em um nível multilateral, enquanto também participa de delegações pan-ortodoxas e no trabalho de organizações inter-cristãs.
 
5.2 - Com respeito a sua participação em várias organizações cristãs, ela adere ao seguinte critério: A Igreja Ortodoxa Russa não pode participar em organizações cristãs nacionais ou internacionais nas quais a) as regras ou constituição exijam a renúncia da doutrina ou tradições da Igreja Ortodoxa; b) a Igreja Ortodoxa não tenha oportunidade de dar testemunho de ser a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica; c) os processos de tomada de decisão não levem em consideração a consciência eclesiológica da Igreja Ortodoxa; e (d) as regras e procedimentos façam a "opinião da maioria" ser obrigatória a seus membros.
 
5.3 - Os níveis e formas da participação da Igreja Ortodoxa Russa em uma organização cristã internacional devem levar em consideração sua dinâmica interna, planos, prioridades e natureza geral.
 
5.4 - A abrangência e extensão da participação da Igreja Ortodoxa Russa em uma organização cristã internacional é determinada pelas autoridades da Igreja com base em sua utilidade para a Igreja.
 
5.5 - Ao mesmo tempo em que enfatiza a grande importância do diálogo teológico e da discussão a respeito das normas de fé, ordem da Igreja e os princípios da vida espiritual, a Igreja Ortodoxa Russa, como outras Igrejas Ortodoxas locais, considera possível e benéfico participar no trabalho de várias organizações internacionais em esferas de serviço para o mundo tais como diaconia, serviço social e trabalhos pela paz. A Igreja Ortodoxa Russa mantém cooperação com várias denominações cristãs e organizações cristãs internacionais na tarefa de testemunho comum perante a sociedade secular.
 
5.6 - A Igreja Ortodoxa Russa mantém relações de trabalho no nível de associação ou cooperação com uma grande variedade de organizações cristãs internacionais, assim como com conselhos regionais e nacionais de igrejas e agências cristãs especializadas na diaconia, trabalho com juventude e em prol da paz.

6. Relações da Igreja Ortodoxa Russa com os não-ortodoxos em seu território canônico

6.1 - As relações da Igreja Ortodoxa Russa com as comunidades cristãs não-ortodoxas na CEI e nos estados bálticos deve ser realizada no mesmo espírito de cooperação fraternal com o qual a Igreja Ortodoxa trabalha com outras confissões tradicionais com fins de coordenar o trabalho social, promover harmonia social e por um fim ao proselitismo no território canônico da Igreja Ortodoxa Russa.
 
6.2 - A Igreja Ortodoxa Russa defende que a missão das confissões tradicionais é possível apenas se for efetuada sem proselitismo e sem ser às custas do "roubo" de fiéis, especialmente com a ajuda de benefícios materiais. As comunidades cristãs na CEI e nos países bálticos são conclamadas a unir seus esforços pela reconciliação e o reavivamento moral da sociedade e a levantar suas vozes na defesa da vida e dignidade humanas.
 
6.3 - A Igreja Ortodoxa traça uma distinção clara entre, de um lado as confissões não-ortodoxas que declaram sua fé na Santíssima Trindade e na natureza divino-humana de Jesus Cristo, e do outro as seitas que rejeitam doutrinas cristãs fundamentais. Ao mesmo tempo que reconhece o direito de cristãos não-ortodoxos testemunharem sua fé e de conduzirem educação religiosa entre os grupos populacionais que tradicionalmente fazem parte deles, a Igreja Ortodoxa é contra qualquer atividade missionária destrutiva da parte de seitas.

7. Tarefas internas em relação ao diálogo com as confissões não-ortodoxas

7.1 - Ao mesmo tempo que rejeitando pontos de vista que são errôneos segundo a doutrina ortodoxa, os ortodoxos são convocados a tratar com amor cristão aqueles que confessam tais pontos de vista. Na sua relação com os não-ortodoxos, os ortodoxos deveriam dar testemunho da santidade da Ortodoxia e da unidade da Igreja. Ao dar testemunho da Verdade, entretanto, os ortodoxos devem estar a altura deste testemunho: causar ofensa aos não-ortodoxos é inadmissível.
 
7.2 - É essencial dar aos membros da Igreja informação competente e confiável sobre o progresso, tarefas e prospectos dos contatos e diálogos da Igreja Ortodoxa Russa com as confissões não-ortodoxas.
 
7.3 - A Igreja condena aqueles que, utilizando informação inautêntica, deliberadamente distorcem a tarefa da Igreja Ortodoxa em seu testemunho perante o mundo não-ortodoxo e conscientemente caluniam as autoridades da Igreja, acusando-as de "traição" da Ortodoxia. Tais pessoas, que semeiam tentação entre os fiéis comuns, devem estar sujeitos a sanções canônicas. Concernente a isto, a orientação é dada pelas decisões do encontro pan-ortodoxo em Tessalônica em 1998:
 
«Os delegados unanimemente denunciam aqueles grupos de cismáticos, assim como certos grupos extremistas dentro das próprias Igrejas Ortodoxas locais, que estão usando o tema do ecumenismo para criticar a liderança da Igreja. Eles também utilizam material não-factual e desinformação com o objetivo de embasar suas críticas injustas. Os delegados também enfatizam que a participação ortodoxa no movimento ecumênico sempre foi baseada na tradição ortodoxa, nas decisões dos Santos Sínodos das igrejas ortodoxas locais e em encontros pan-ortodoxos... Os participantes são unânimes em seu entendimento da necessidade da continuação de sua participação em várias formas de atividade inter-cristã. Não temos o direito de recuar da missão que nos foi dada por nosso Senhor Jesus Cristo: a missão de testemunhar a Verdade perante o mundo não-ortodoxo. Não devemos interromper relações com os cristãos de outras confissões que estão aptos a trabalhar conosco. Durante a participação ortodoxa de muitas décadas no movimento ecumênico, a Ortodoxia nunca foi traída por nenhum representante de uma igreja ortodoxa local. Ao contrário, estes representante sempre foram completamente fiéis e obedientes às suas respectivas autoridades eclesiásticas e agiram em completo acordo com as regras canônicas, o ensino dos Concílios Ecumênicos, os Pais da Igreja e a Santa Tradição da Igreja Ortodoxa.»

 
Uma ameaça à Igreja se dá por aqueles que participam em contatos inter-cristãos, falando em nome da Igreja Ortodoxa Russa sem a benção das autoridades da Igreja, assim como por aqueles que trazem tentação ao seio da Igreja entrando em comunhões sacramentais canonicamente inaceitáveis com comunidades não-ortodoxas.

8. Conclusão

O século vinte, chegando agora ao final, foi marcado pela tragédia das divisões, inimizades e alienação, mas nele os cristãos divididos demonstraram um desejo de alcançar a unidade na Igreja de Cristo. A Igreja Ortodoxa Russa respondeu a este desejo com presteza em conduzir um diálogo na verdade e no amor com os cristãos não-ortodoxos, inspirada pelo chamamento de Cristo e pelo objetivo da unidade cristã como ordenado por Deus. E hoje, na fronteira do terceiro milênio, depois da Natividade de acordo com a Carne de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a Igreja Ortodoxa, uma vez mais, com amor e persistência chama aqueles para os quais o nome de Jesus Cristo está acima de todos os outros nomes abaixo do Céu (cf. Ats. 4:12) a buscarem a santa unidade com a Igreja: "nossa boca está aberta para vós, o nosso coração está dilatado!" (II Cor. 6:11)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O dia em que eles começaram a matar cristãos

Tradução de: http://fatherjohn.blogspot.com/2005/02/day-they-began-killing-christians.html
Elevando seus braços aos céus, o Metropolita Vladimir orou em voz alta:
"Ó Deus, perdoa meus pecados, voluntários e involuntários, e aceita meu espírito em paz."
Então ele abençoou seus assassinos com ambas as mãos e disse:
"Meu Deus os abençoa e perdoa."
No silêncio da noite, quatro tiros foram ouvidos, então mais dois, e mais...
O Hieromártir Vladimir de Kiev, 7 de fevereiro de 1918


Neste domingo que se aproxima (8 de fevereiro de 2009), a Igreja Ortodoxa Russa celebra a memória dos Novos Mártires eConfessores da Rússia, que foram assassinados pelos comunistas. O motivo pelo qual este domingo em particular foi escolhido é que ele é o mais próximo do dia em que o primeiro Mártir do Jugo Comunista foi assassinado (25 de janeiro no Calendário Ortodoxo, 7 de fevereiro no calendário civil).

Talvez não seja coincidência que este mártir tenha sido o metropolita Vladimir de Kiev, que porta o nome de S. Vladimir, o Grande, que iluminou a terra russa com a fé cristã; e que tenha sido o Metropolita de Kiev, a cidade-mãe da Rússia que testemunhou o batisma da velha Rus em 988 DC. Este era o início de um novo batismo da Rus( http://saintjohnwonderworker.org/baptism.htm ) e através da fé e das orações dos Novo Mártires, vemos hoje o início de um renascimento do Cristianismo Ortodoxo na Rússia.

É especialmente comovente ler sobre a reação dos fiéis, que em todas as suas vidas leram sobre os mártires do passado, mas que pela primeira vez viram um em carne e osso. Este foi apenas o primeiro de milhões assassinados pelos comunistas por se recusarem a dobrar os joelhos ao estado ao invés de Deus. ( http://www.allsaintsofamerica.org/martyrs/nmruss.html )

Eis aqui o relato de seu assassinato nas mãos dos comunistas:
( http://www.orthodox.net/russiannm/vladimir-metropolitan-and-hieromartyr-of-kiev.html ):

Cápsulas de artilharia começaram a cair nas cavernas da Lavra de Kiev no dia 15 de janeiro e continuaram por vários dias. Entretanto, o metropolita continuou com suas obrigações religiosas, demonstrando grande calma, e no dia 23 de janeiro celebrou sua última Divina Liturgia com a irmandade da Lavra. No dia 23 de janeiro, os bolsheviques invadiram a Lavra, cometendendo jamais vistos atosde sacrilégio e pilhagem, debochando e chicoteando os monges e matando os oficiais e pessoal militar que lá estavam. A despeito da comoção, o metropolita oficiou um acatisto à Dormição da Mãe de Deus na grande igreja da Lavra, o qual acabou sendo seu último ofício na terra. Então ele e o Bispo Teodoro de Priluki, foram para o altar da igreja menor, a qual era dedicada à S. Miguel, primeiro metropolita de Kiev.

A noite de 25 de janeiro foi alarmante. Quatro homens armados e uma mulher,vestida como uma enfermeira da Cruz Vermelha, invadiram as instalações do superior, realizaram uma busca detalhada e levaram tudo de valor. No meio danoite, três deles saíram "para fazer reconhecimento" e roubaram o tesoureiro e o preposto. Mais tarde, três Vermelhos armados vasculharam os aposentos do metropolita e, não encontrando nada de valor, levaram uma medalha de ouro do cofre.

Às seis e meia da tarde, a campainha tocou fortemente três vezes. Cinco homens, vestidos com uniformes de soldados e liderados por um marinheiro, entraram na casa e perguntaram por "Vladimir, o metropolita". Foram guiados descendo as escadas até a cela do arquipastor. O metropolita saiu para encontrá-los, e então foi levado para o quarto onde ficaram por vinte minutos atrás de portas trancadas. Lá o Metropolita Vladimir foi torturado e estrangulado com a corrente de sua cruz, insultado e ordenado a entregar-lhes dinheiro. Depois, os presentes encontraram no chão do quarto pedaços de uma corrente quebrada, uma corda de seda, uma caixinha com relíquias sagradas e um iconezinho que o metropolita sempre usava no pescoço.

Quando o metropolita saiu vinte minutos depois, cercado por seus torturadores, estava vestindo sua batina, uma panaguia ( http://en.wikipedia.org/wiki/Panagia#Vestment ) e um klobuk branco (http://en.wikipedia.org/wiki/Klobuk) na cabeça. Nos primeiros degraus ele foi abordado pelo servente da cela, Philip, que lhe pediu sua benção. O marinheiro o empurro, gritando:

"Pare de mostrar respeito a esses sanguessugas! Chega disso!"

O metropolita foi até Philip, abençou-o, beijou-o e apertando sua mão disse:

"Adeus, Philip."

E então enxugou suas lágrimas. Philip relatou mais tarde que quando se separaram o metropolita estava calmo e solene, como se estivesse saindo para a igreja, para celebrar a Santa Liturgia.

Este velho, humilde e inocente servo de Deus foi para sua morte sem qualquer sinal de fraqueza ou medo. Enquanto era levado para fora do monastério, persignou-se e suavemente cantou uma oração.

Uma testemunha ocular relata que o Metropolita Vladimir foi levado de carro dos portões do monastério até o local da execução. No seu caminho do carro até uma pequena clareira perto de uma parede fortificad, ele perguntou:

"É aqui que vão atirar em mim?"

Um dos assassinos respondeu:

"Por que não? Você espera que façamos cerimônia para você?"

Quando o metropolita pediu permissão para orar antes de ser alvejado, a resposta foi:

"Seja rápido com isso!"

Elevando seus braços aos céus, o Metropolita Vladimir orou em voz alta:

"Ó Deus, perdoa meus pecados, voluntários e involuntários, e aceita meu espírito em paz."

Então ele abençoou seus assassinos com ambas as mãos e disse:

"Meu Deus os abençoa e perdoa."

No silêncio da noite, quatro tiros foram ouvidos, então mais dois, e mais...

"Estão atirando no metropolita!", disse um dos monges na Lavra.

"São tiros demais para um assassinato só", replicou outro.

Ao som dos tiros, cerca de quinze marinheiros com revólveres e lanternas correram para o quintal do monastério. Um deles perguntou:

"Eles levaram o metropolita?"

"Levaram para fora dos portões", responderam os monges timidamente.

Os marinheiros correram, e em vinte minutos voltaram.

"É, nós achamos ele," eles disseram, "e vamos cuidar de cada um de vocês da mesma forma".

Existe um outro relato da morte do metropolita. O arquimandrita Nicanor Troitsky lembra que quando era menino, sua mãe correu com ele até a Lavra, onde um círculo de soldados estava impedindo uma multidão de se aproximar da cena da execução. Ele lembra que o metropolita foi arguido sobre uma série de questões, e cada vez que dava uma resposta insatisfatória uma baioneta lhe golpeavao corpo até que ele se tornou uma fonte de sangue. Depois da execução a multidão quebrou o cordão de soldados. Então a mãe do Pe. Nicanor disse-lhe para por os dedos no sangue do metropolita martirizado, fazer uma cruz na testa, e lembrar que tinha testemunhado a morte de um verdadeiro mártir, a cuja confissão ele deveria ser fiel por toda a sua vida....

O silêncio não foi quebrado novamente naquela noite. O monastério dormia, e ninguém parecia se dar conta de que apenas a mil pés dos portões norte da Lavra, em uma poça de sangue, jazia o corpo estilhaçado do santo metropolita.

Ao nascer do sol, algumas mulheres peregrinas apareceram nos portões da Lavra, e os monges ouviram delas onde estava o corpo mutilado do metropolita. A irmandade decidiu trazer o corpo para o monastério, o que necessitou de permissão das autoridades comunistas. Às nove horas, o arquimandrita Anthimus, acompanhado por quatro assistentes hospitalares, foi até a cena do assassinato.

O metropolita estava sobre suas costas coberto com um sobretudo. Faltavam sua panagia, seu klobu e cruz, galochas, botas, meias, relógio de ouro e corrente. A autópsia mostrou que havia sido assassinado com balas explosivas e perfurado em vários locais com armas afiadas e frias. Suas mãos estavam congeladas na posição de benção.

Depois de oficiar uma litiya no local onde o metropolita havia morrido, colocaram o corpo na maca e, por volta de onze da manhã, o trouxeram para a igreja de S. Miguel, onde o metropolita assassinado havia passado as últimas horas de sua vida. Enquanto o Arquimandrita Anthimus estava erguendo o corpo, foi cercado por mais ou menos dez homens que começara a debochar e insultar os restos mortais do metropolita.

"Você quer enterrá-lo! Mas ele merece ser jogado na sarjeta! Vocês querem fazer relíquias dele, é por isso que estão guardando-o!", gritavam.

Enquanto a lamuriosa procissão fazia seu caminho até a Lavra, mulheres pias que estavam passando, choraram e oraram, dizendo:

"O sofredor e santo mártir, que o Reino de Deus seja para ele!"

"Um reino dos céus? Seu lugar é no inferno, no lugar mais profundo!", replicavam os fanáticos.

Depois do corpo do metropolita ter sido fotografado e vestido apropriadamente, o vice-abade da Lavra, Arquimandrita Clemente, e os irmãos mais antigos do monastério oficiaram uma panikhida. No dia 27 de janeiro, o Metropolita deTbilisi, que estava representando o Patriarcado Russo no Concílio Ucraniano,oficiou uma panikhida para o metropolita em Kiev. No dia 29 de janeiro, o corpo foi transferido para a Grande Igreja das Cavernas da Lavra de Kiev, e depois do ofício funerário, foi enterrado na igreja da Elevação da Cruz, nas Cavernas Próximas.

No dia 15/28 de fevereiro de1918,uma sessão do Concílio da Igreja Russa em Moscou foi dedicada à memória do metropolita assassinado.

O metropolita Vladimir foi o hierarca que arcou com o fardo do primeiro assalto revolucionário à Igreja Russa. Era portanto apenas adequado que ele se tornasse o primeiro novo mártir hierarca. E no dia 5/18 de abril, o Concílio Russo decretou que o domingo mais próximo da data de seu martírio, 25/01-07/02, deveria ser a data da comemoração anual de todos os santos novos mártires e confessores da Rússia.