Mostrando postagens com marcador Ecumenismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ecumenismo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Igreja da Geórgia Sobre o Concílio Pan-Ortodoxo

Patriarca-Católicos Ilia II da Geórgia, em conversa com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu


Abaixo está a carta-resposta do representante da Igreja Ortodoxa da Geórgia, Sua Eminência Metropolita Andrew de Gkori e Ateni, para um artigo escrito pelo Arcipreste do Patriarcado Ecumênico (George Tsetsi) entitulado "Um Verdadeiro Evento ou Provocação, a decisão da Igreja da Geórgia?" (Fonte das duas cartas: amen.gr)

A resposta de Sua Eminência é detalhada, direta e muito revaladora tanto de como a Igreja da Geórgia tem sido consistente e direta todo o tempo, enquanto ao mesmo tempo mostrava grande auto-controle e paciência em nome da unidade da Ortodoxia, e, por outro lado, como o Patriarcado Ecumênico tem agido com autoritarismo, pressão e desconsideração não apenas quanto a Igreja da Geórgia, mas também com o Patriarcado de Antioquia.

A carta também confirma que a Igreja da Geórgia e o Patriarcado de Antioquia tem se recusado a assinar o texto "O Mistério do Casamento e seus Impedimentos". Também declara que o texto "Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão" foi severamente analizado e criticado pelo Santo Sínodo da Igreja da Geórgia em sua última reunião, depois do encontro dos Primazes em Genebra.

Igualmente, o bispo contradiz o posicionamento do arcipreste quanto o princípio de unanimidade e pergunta ao arcipreste se a decisão tomada pelos primazes de guiar o Grande e Santo Sínodo por tal princípio está agora sendo questionado. Isso nos lembra recente pronunciamento do Patriarca Bartolomeu onde ele redefinia a unanimidade de forma a essencialmente negá-la, dizendo que se uma ou duas Igrejas não aceitassem um texto, isso seria registrado, mas o texto passaria.

Embora a carta inteira seja valiosa e reveladora, esta é a parte que creio ser mais necessária.

Pe. Peter Heers
2. Chegando à conclusão da Comissão Especial Inter-Ortodoxa [designada em 2014 e concluindo seus trabalhos no segundo trimestre de 2015, e tendo sido informado dos seus resultados pelos seus representantes, o Santo Sínodo da Igreja da Geórgia enviou uma carta, em nome do Patriarca Católico Elias para Sua Santidade, o Patriarca Ecumênico, na qual, entre outras coisas, expressou os seguintes pensamentos e observações concernentes aos textos, os quais haviam sido enviados para a 5a reunião do Comitê Pré-Sinodal [Oct. 2015] para revisão e confirmação:
a) "Os textos que estão sendo preparados para o Grande e Santo Concílio devem enfatizar claramente e sem ambiguidades que a Igreja ortodoxa é a única Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica na qual há Sucessão Apostólica, verdadeiro Batismo, Divina Eucaristia e os outros Santos Mistérios da Fé Cristã."
b) "Deve ser proclamado de forma clara, que de acordo com sua natureza ontológica é impossível para a única Igreja ser quebrada, que a Igreja tenha divisões. É sempre por essa razão que a Igreja Ortodoxa conduz diálogos com as várias confissões: com o objetivo de que retornem ao seio da Igreja."
c) " O texto ´Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão´ deve conter uma avaliação dos diálogos bi-laterais que tem acontecido entre as várias confissões cristãs, pois a responsabilidade de determinar o caminho que seguirão é da alçada específica do Grande e Santo Concílio.
d) "Consideramos inaceitável a inscrição dos textos, 'A Questão do Calendário Comum', e 'Impedimentos ao Casamento', na sua presente forma, para o Grande Concílio, pois eles estão em oposição à Tradição Canônica da Igreja Ortodoxa".
3. Com tal direcionamento de nossa Igreja e com a disposição de trabalhar para o fortalecimento da Igreja, nós, os representantes da Igreja Ortodoxa da Geórgia, fomos à 5a. Reunião Pré-Sinodal (em Outubro de 2015). Ainda assim, surpresas nos esperavam lá também. Quando o trabalho começou, Sua Eminência, o Presidente (Metropolita John Zizoulas), afirmou que, em sua opinião, a reunião não tinha autoridade de fazer mudanças aos textos das reuniões Pré-Sinodais de 1982 e 1986, mas apenas de fazer mudanças às mudanças que nós mesmos fizéramos enquanto Comitê Especial Inter-Ortodoxo!

Quando finalmente chegamos ao exame do texto "Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão", revogou-se os direitos dos Santíssimos representantes das Igrejas da Geórgia e de Antioquia de expressarem suas opiniões (garantidos pelos Estatutos Pan-Ortodoxos) com a desculpa de que não haviam sido feitas propostas por escrito com respeito às mudanças sugeridas nos textos.

Então, o direito de participação equânime dos representantes das Igrejas da Geórgia e de Antioquia foi colocado a voto por todo o corpo da Reunião. Sentimo-nos extremamente insultados. No fim, o direito de falar nos foi "dado", embora já não houvesse como aproveitá-lo para melhora de todo o texto.

Se este nosso posicionamento pode ser chamado de 'comportamento escolástico e teimoso' [como o Arcipreste do P.E. George Tsetsi escreveu em seu artigo, ao qual esta carta responde], então como deveríamos caracterizar a atitude do Presidente do Comitê Especial [Met. John Zizoulas] que, por 7 horas (!) tentou "convencer" os representantes da Igreja a aceitar a mudança de um só parágrafo de acordo com sua preferência?"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Teólogo Grego Faz Novas Críticas a Documentos Ecumenistas


Professor Dr. Demétrios Tselengides

Uma Segunda Intervenção-Confissão de Fé por parte do Dr. Demétrios Tselengides, Professor da Escola de Teologia na Universidade Aristóteles de Tessalônica, em face do Grande Concílio.

Com uma nova carta endereçada aos Hierarcas da Igreja da Grécia, o Dr. Demétrios realça e enfatiza os trechos problemáticos do documento nomeado "Organização e Procedimento de Trabalho do Santo e Grande Concílio", assim como de outros documentos.

12 de fevereiro de 2016

--

Vossa Beatitude, santo Presidente do Santo Sínodo,

Vossas Eminências, santos Hierarcas,

Em vista da iminente convocação do Santo e Grande Sínodo, eu gostaria de mais uma vez respeitosamente apresentar alguns pensamentos de natureza teológica, que espero venham a ser úteis.

Na pesquisa em que realizei, fiquei negativamente surpreso ao descobrir que a Igreja da Grécia, desde 1961, ano em que começaram as Conferências Pré-Conciliares Pan-Ortodoxas para o Grande Sínodo, não havia tratado das decisões de tais conferências no nível do Sínodo Hierárquico. A consequência disso é termos chegado na situação eclesiástica desagradável em que estamos hoje.

Isto é, estamos prestes a tomar decisões eclesiásticas em questões críticas em um Sínodo Pan-Ortodoxo, mas para isso existe uma séria falta de tratamento sinodal no sínodo local de hierarcas, falta essa aliás, com a qual as Conferências Pré-Conciliares já contavam.

Nesse momento nos encontramos eclesiasticamente no penúltimo estágio das decisões finais do Grande Sínodo Pan-Ortodoxo. Eu creio que o problema - a despeito de sua excepcional severidade - ainda são curáveis. Como é bem sabido, o sistema sinodical de nossa Igreja Ortodoxa compraz uma operação eclesiástica guiada pelo Espírito, não apenas quanto a questões administrativas e Sua vida, mas também quanto à expressão precisa de Seu ensino dogmático. 

Mais especificamente, creio que as falhas sinodicais dos últimos 55 anos com certeza podem ser corrijidas agora, garantindo que as decisões do vindouro Sínodo dos Hierarcas, em conexão com os agentes do vindouro Grande Sìnodo da Ortodoxia, estará em concordância com a auto-consciência da Igreja e com a experiência guiada pelo Espírito de Sua Sagrada Tradição.

Outra coisa também de interesse e excepcional severidade. Eu cuidadosamente li o recém-publicado, "Organização e Procedimentos de Trabalho do Santo e Grande Sínodo" e tenho que apresentar-lhes uma observação minha de caráter teológico-dogmático.

Em particular, o Artigo 12, no tópico "Votação e Aprovação dos Textos", faz a importante seguinte nota: 

"O voto nos resultados de uma discussão ou revisão de um texto do Concílio sobre um item da agenda:
1. será dado por cada Igreja Ortodoxa autocefálica, e não por cada membro particular das delegações representadas no Concílio, de acordo com a decisão unânime do Encontro dos Primazes das Igrejas Ortodoxas;
2. a votação de uma Igreja no Concílio, não um membro de uma delegação, não exclui a possibilidade de que um ou alguns hierarcas na delegação de uma Igreja autocefálica particular possa tomar um posicionamento negativo em relação a emendas ou a um texto no geral. O fato da discordância será registrado nas Atas do Concílio;
3. a avaliação de tal discordância é um problema interno daquela Igreja a qual pertence o hierarca. A Igreja pode votar desde o princípio de maioria interna expressa por seu primaz e por essa razão deve acordar o local e o tempo necessário para considerar a questão com a delegação"

Vemos nesse artigo que o consenso do Grande Sínodo está limitado a um voto para cada Igreja Autocéfala Local. Desentendimentos individuais, se for o caso de constituirem uma minoria dentro das Igrejas Locais, são deixadas à parte como "problema interno daquela Igreja", algo que é eclesiologicamente inaceitável em particular no Sínodo Pan-Ortodoxo, quando, de fato o desentendimento for sobre um assunto de natureza doutrinal. E é bem provável que isso ocorra. Por exemplo, o assunto de auto-consciência e identidade da Igreja que é tratado no documento "Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão", é matéria eclesiológica; em outras palavras, eminentemente teológica. Consequentemente, não é teologicamente permissível para um documento recomendado para adoção que, por um lado, essencialmente recomende a "teoria de ramos" protestante, legitimando pela aceitação ali da existência de muitas igrejas com muitas diferentes doutrinas - enquanto por outro lado, as "Regras de Organização e Operação do Sínodo", na prática ignora a inevitável minoria dos hierarcas das Igrejas Locais Individuais e não leva em consideração as preocupações de suas consciências episcopais.

E aqui surge uma bem apropriada questão dogmático-teológica: como irá a fé una da Igreja, "com uma só boca e um só coração" ser confessada nesse caso? Como os Pais do Sìnodo serão capazes de dizer, "pareceu bom ao Espírito Santo e a nós"? Como irão demonstrar que possuem a "mente de Cristo", como fizeram os Pais portadores-de-Deus dos Concílios Ecumênicos da Igreja?

Vossa Beatitude,

Quando chegamos na matéria de dogma, como é bem sabido, a verdade não se encontra no voto da maioria dos Hierarcas do Sínodo. A verdade é em si mesma uma maioria, pois na Igreja a verdade é uma realidade hipostática. Por essa razão, quem quer que não concorde com ela, é separado da Igreja e é deposto e excomungado conforme o caso. O Santo e Grande Sínodo não tem permissão de deixar para corpos sinodais menores um assunto de tão excepcional gravidade como a inevitável discordância do voto minoritário dos bispos sobre matéria de dogmas. Como o mais alto corpo sinodal, ele tem que tratar desse assunto diretamente, ou de outra forma existe um perigo real de cisma na Igreja, precisamente no momento quando esse Grande Sìnodo aspira reafirmar a unidade visível da nossa Igreja.

Com o mais profundo respeito,

Beijando sua mão direita,

Demétrios Tselengides

Professor da Escola de Teologia da Universidade Aristóteles de Tessalônica


Traduzido para o inglês por Pe. Kristian Akselberg

Traduzido para o português por Fabio L. Leite

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Metropolita de Limassol Critica Documento de Teor Ecumenista

Metropolita Atanásios de Limassol



Metropolita de Limassol: “De que tipo de unidade estamos falando? Os que deixaram a Igreja são hereges e cismáticos”

Fonte: Romfea

11 de fevereiro de 2016

Existem sérias lacunas nas discussões teológicas e canônicas do vindouro encontro do Sínodo Pan-Ortodoxo, assinala o Metropolita Atanásio de Limassol.

Em uma carta, da qual alguns trechos foram publicados pela agência de notícias religiosas Romfea.gr, o eminente hierarca não considera que haja qualquer problema quanto a restauração da unidade dos cristãos, já que tal unidade, em sua opinião, jamais foi perdida. Ao invés, certos cristãos escolheram caminhos diferentes ao que seguimos, o da verdade ortodoxa original.

Não existem igrejas ou confissões. Ao invés, foram eles que se desligaram da Igreja e devem ser considerados hereges e cismáticos, ressalta Sua Eminência, dizendo-se confuso por não saber porque algo tão importante foi deixado de fora.

"A afirmação de Sua Eminência, que invoca o direito de cada hierarca de expressar sua opinião sobre assunto tão importante, certamente irá causar discussões e debates dentro da Ortodoxia.
“Já que, em concordância com as regulamentações que nos foram enviadas a respeito da organização e realização do Santo e Grande Sínodo da Igreja Ortodoxa, e em particular o artigo 12, parágrafos 2 e 3, indica que temos o direito de expressar nossos pontos de vista nos Sínodos locais, eu, tendo examinado minha consciência, humildemente submeto ao Santo e Sagrado Sínodo de nossa Santa Igreja, meus posicionamentos e opiniões sobre as matérias seguintes,” sublinhou o Reverendíssimo Metropolita Atanásio em sua carta.

Nessa carta, a qual o Romfea.gr teve acesso exclusivo, Sua Eminência Atanásios fala sobre o texto da 5a. Conferência Pré-Conciliar que ocorreu em Chambesy em outubro e intitulada “Decisão – Relações da Igreja Ortodoxa com o resto do mundo Cristão”, onde ele afirma o seguinte:

“Estou em total concordância com os três primeiros artigos do texto. Entretanto, do artigo 4 em diante, tenho as seguintes observações: “A Igreja Ortodoxa sempre orou “pela união de todos” - e acredito que isto signifique o retorno para e união com Ela de todos aqueles que se desligaram e se distanciaram dela, dos hereges e cismáticos, que uma vez que tenham renunciado sua heresia e cisma e afastem-se de tais coisas com arrependimento e integrem-se – unam-se – com a Igreja Ortodoxa de acordo com os ensinamentos dos cânones sagrados,” ressalta Sua Eminência Atanásios. 

Sua Eminência continua: “A Igreja Ortodoxa de Cristo nunca perdeu a “unidade da fé e da comunhão do Espírito Santo” e não aceita a teoria de restauração da unidade daqueles que “acreditam em Cristo”, porque acredita que a unidade daqueles que crêem em Cristo já existe na unidade de todos os que são filhos da Igreja pelo batismo, entre eles mesmos e com Cristo, na fé correta da Igreja, unidade onde não estão presentes os hereges ou os cismáticos, e por quem a Igreja ora por seu retorno arrependido à Ortodoxia.

Sua Eminência completa sua carta, da qual Romfea.gr publicou alguns trechos, dizendo: “Creio que o que é afirmado no artigo 5 sobre a 'unidade perdida dos cristãos' é incorreto, porque a Igreja como povo de Deus, unidos entre si e com a Cabeça da Igreja que é Cristo, nunca perdeu sua unidade e portanto não tem necessidade de redescobri-la ou buscá-la, porque ela sempre existiu, existe e existirá assim como a Igreja de Cristo nunca deixou ou deixará de existir.”

Sua Eminência Atanásios acrescenta que, “o que aconteceu foi que grupos, povos ou indivíduos deixaram o corpo da Igreja e a Igreja ora, como é necessário tentar por sua missão, que arrependidos retornem para a Igreja Ortodoxa pela via canônica. Em outras palavras, não existem outras Igrejas, apenas heresias e cismas, se quisermos ser mais precisos em nossas definições.”

“A expressão 'na direção da restauração da unidade cristã' é incorreta porque a unidade dos cristãos – os membros da Igreja de Cristo – nunca foi quebrada, enquanto eles permaneceram unidos à Igreja. Separação da Igreja e abandono da Igreja de fato infelizmente ocorreram inúmeras vezes devido a heresias e cismas, mas nunca houve uma perda da unidade interna da Igreja”, sua Eminência continua na sua carta.

Em outro ponto, Sua Eminência Atanásios declara: “Questiono porque o texto contém múltiplas referências à 'Igrejas' e 'Confissões'? Que diferenças e que elementos permitem-nos chamar alguns de igrejas e outros de confissões? Qual é uma Igreja e qual é uma heresia e qual um grupo cismático ou confissão? Nós confessamos uma Igreja e que todas as outras são cismas e heresias. Eu sustento que dar o título de 'Igreja' a comunidades heréticas ou cismáticas é inteiramente incorreto de uma perspectiva teológica, dogmática e canônica porque a Igreja de Cristo é uma, como também afirmado no Artigo 1, e não podemos nos referir a uma comunidade ou grupo heréticos ou cismáticos fora da Igreja Ortodoxa como 'Igrejas' “.

“Em nenhum ponto esse texto afirma que o único caminho que leva à união com a Igreja é apena o retorno contrito dos heréticos e cismáticos à Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Cristo, a qual, de acordo com o Artigo 1, é nossa Igreja Ortodoxa. A referência ao “entendimento da tradição da antiga Igreja' dá a impressão de que existe uma diferença ontológica entre a antiga Igreja dos Sete Concílios Ecumênicos e a genuína continuação da mesma até o dia presente, ou seja, nossa Igreja Ortodoxa. Acreditamos que não existe absolutamente nenhuma diferença entre a Igreja do século 21 e a Igreja do 1o século, porque um dos atributos da Igreja é o fato de que nós também confessamos no Símbolo da Fé, especificamente que é Apostólico”, enfatizou o Metropolita de Limassol.

O Bispo subsequentemente sublinha que no Artigo 12, é dada a impressão de os ortodoxos estão buscando restaurar a fé correta e a unidade, o que gera um posicionamento inaceitável.

“O artigo 12 afirma que o propósito comum dos diálogos teológicos é “a restauração final da unidade na fé correta e no amor'. Isso dá a impressão de que nós ortodoxos estamos buscando nossa restauração para corrigirmos a fé e a unidade do amor, como se tivéssemos perdido a fé correta e estivéssemos buscando descobri-la através dos diálogos ecumênicos com os heterodoxos. Eu sustento que essa teoria é teologicamente inaceitável para todos nós”, sublinha o Metropolita Atanásios.

Em outro lugar, Sua Eminência expressa objeções ao texto, enfatizando que “a referência do texto ao 'Conselho Mundial de Igrejas' me dá oportunidade de fazer uma reclamação contra ocasionais eventos sincretísticos que aconteceram ali, mas também contra seu nome, já que considera a Igreja Ortodoxa como 'uma das Igrejas' ou um ramo da Igreja Una que busca sua realização no Conselho Mundial de Igrejas. Para nós, entretanto, a Igreja de Cristo é uma e única, como confessamos no Símbolo da Fé, e não várias.”

Sua Eminência declara ainda: “O ponto de vista de que a preservação da genuína fé ortodoxa é garantida apenas através do sistema sinodal como a “única e final autoridade em questões de fé” é exagerada e ignora a verdade de que muitos sínodos ao longo da história da Igreja ensinaram e esposaram doutrinas heréticas e incorretas, e que foi o povo fiel quem rejeitou-os e preservou a fé ortodoxa e defendeu a confissão ortodoxa. Nem um sínodo sem um povo fiel, a plenitude da Igreja, nem o povo sem um sínodo de bispos são capazes de considerar-se como o Corpo de Cristo e a Igreja de Cristo e corretamente expressarem a experiência e doutrina da Igreja”.

“Dirigindo-se ao Arcebispo de Chipre e aos membros do Santo Sínodo, o Metropolita de Limassol enfatiza: “O uso de linguajar duro ou insultuoso não pode ser feito em encíclicas eclesiásticas desse tipo, nem acho que alguém deseje usar essa forma de expressão. Entretanto, a verdade deve ser expressa com precisão e clareza, embora naturalmente com discernimento pastoral e genuíno amor para com todos. Devemos aos nossos irmãos que se encontram na heresia e no cisma que sejamos inteiramente honestos com eles, e com amor e dor que oremos e façamos todo o possível para fazer com que voltem para a Igreja de Cristo.

“Eu humildemente sustento que textos de tal importância e prestígio como os que serão utilizados no Santo e Grande Sínodo da Igreja Ortodoxa devem ser cuidadosamente formulados com precisão teológica e canônica para que tais ambiguidades e termos teológicos não testados não dêem margem a expressões incorretas que poderiam levar a mal-entendidos e distorções da atitude correta da Igreja Ortodoxa. Além disso, para que um Sínodo seja válido e canônico, não deve afastar-se de modo algum do espírito e ensinamento dos Santos Sínodos que o precederam, o ensino dos Santos Padres e das Santas Escrituras, e deve estar livre de quaisquer ambiguidades na expressão precisa da fé correta,” acrescenta Sua Eminência Atanásios.

Em outra parte, mencionando os Santos Pais, Sua Eminência Atanásios declarou: “Nunca os Santo Pais, nem mesmo nos santos cânones ou ordenamentos dos sagrados Sínodos Ecumênicos ou locais, referem-se aos grupos heréticos ou cismáticos como igrejas. Se os hereges são de fato igrejas, onde está de fato a Igreja Una de Cristo e dos Apóstolos?”

O Metropolita de Limassol também expressou sua forte oposição, enfatizando que aqueles que não têm direito de votar e participar no Sínodo são meramente ornamentais.

“Eu humildemente expresso minha discordância com o fato de que a prática de todos os Santos Sínodos até agora de permitir que cada bispo vote seja abolida. Nunca antes houve um sistema de 'uma Igreja, um voto', o que torna os membros do Santo e Grande Sínodo, com exceção dos primazes, meros itens decorativos, repelindo seus direitos de votos,” Sua Eminência afirmou em sua carta.

Em conclusão, o Hierarca da Igreja de Chipre afirma que: “Eu não quero perturbar ninguém com o que escrevi, nem quero ser visto como estar ensinando a meus irmãos e pais em Cristo como exercer julgamento. Eu simplesmente quero expressar o que minha consciência exige de mim.”

Para ler a carta completa do Metropolita, veja o site da Sé Metropolitana de Limassol.

Traduzido para o inglês por Pe. Kristian Akselberg
Traduzido para o português por Lr. Fabio L. Leite
Romfea

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Teólogo Grego Critica Documento de Teor Ecumenista

Dr. Dimitrios Tselengidis

Professor da Escola Teológica da Universidade Aristóteles de Tessalônica, o Dr. Dimitrios Tselengidis enviou suas primeiras observações teológicas aos hierarcas ortodoxos de diversas Igrejas Ortodoxas Locais (incluindo, as da Grécia, Rússia, Sérvia, Geórgia, Bulgária, Alexandria, e Antioquia) a respeito do documento: "Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão".

Tessalônica, 03 de fevereiro de 2016

O texto demonstra recorrentes inconsistências e contradições teológicas. Assim, no primeiro artigo ele proclama a identidade eclesiástica da Igreja Ortodoxa, considerando-a, muito corretamente, como a "Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica". No artigo seis, porém, existe uma contradição com respeito à formulação no artigo acima (1). Ele registra caracteristicamente que "a Igreja Ortodoxa reconhece historicamente a existência de outras igrejas cristãs e confissões que não estão em comunhão com Ela".

Aqui surge uma razoável questão teológica: Se a Igreja é "Una", de acordo como nosso Credo e a auto-identidade da Igreja Ortodoxa (art. 1), então como pode haver menções de outras igrejas cristãs? É claro que tais igrejas são heterodoxas.

"Igrejas" heterodoxas, porém, não podem de modo algum serem chamadas de "Igrejas" pela Ortodoxia. Considerando-se as coisas por uma perspectiva dogmática, não é possível falar-se de uma pluralidade de "Igrejas" com diferentes dogmas, os quais até mesmo dizendo respeito a diferentes questões teológicas. Consequentemente, enquanto essas "Igrejas" permanecerem firmes nas crenças errôneas de suas fés, não existe justificativa teológica para conceder-lhes reconhecimento eclesiológico - e estão oficialmente - fora da "Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica".

No mesmo artigo (6), existe uma outra contradição teológica. No início do artigo o seguinte foi escrito: "De acordo com a natureza ontológica da Igreja, é impossível que Sua unidade seja quebrada". No fim desse mesmo artigo, entretanto, está escrito que, pela Sua participação no Movimento Ecumênico, a Igreja Ortodoxa tem como "sua meta objetiva a pavimentação do caminho que leva à unidade".

Fica assim posta a questão: dado que a unidade da Igreja é um fato reconhecido, que tipo de unidade das Igrejas está sendo buscado no contexto do movimento ecumênico? Será por acaso o retorno dos cristãos ocidentais para a Igreja UNA e única? Tal significado, entretanto, não surge na carta, ou no espírito de todo o texto. Ao contrário, de fato, a impressão dada é que existe uma divisão longamente estabelecida na igreja e que os prospectos dos diálogos (ecumênicos) focam na unidade perdida da Igreja.

Também provoca-se confusão teológica na ambiguidade do artigo 20, que diz: "os prospectos dos diálogos teológicos da Igreja Ortodoxa com outras igrejas e confissões cristãs será sempre determinado com base nos critérios canônicos Dela, de acordo com tradições eclesiásticas já estabelecidas (o cânone sete do Segundo Concílio Ecumênico e o cânone 95 do Concílio Quinissexto)."

Mas o cânone sete do Segundo Concílio Ecumênico e o Cânone 95 do Quinissexto tratam da recepção de hereges específicos que haviam demonstrado seu desejo de reunirem-se à Igreja Ortodoxa. Entretanto, é aparente na letra e no espírito do texto, quando analisado sob uma perspectiva teológica, que não há nenhuma discussão sobre retorno de heterodoxos à Igreja Ortodox, a única Igreja. Ao invés, no texto, o batismo dos heterodoxos é considerado como um fato aceito do inicio - e isso sem uma decisão Pan-Ortodoxa. Em outras palavras, o texto endossa a "Teologia Batismal". Simultaneamente, o texto deliberadamente ignora o fato histórico de que os heterodoxos contemporâneos do Ocidente (Romanos e Protestantes) não possuem apenas um, porém muitos dogmas que diferem da Igreja Ortodoxa (além do Filioque, graça criada nos sacramentos, o primado do Papa, infalibilidade papal, rejeição dos ícones, e rejeição de concílios ecumênicos, etc.

O artigo 21também levanta questões apropriadas, quando nota que "a Igreja Ortodoxa ... tem um ponto de vista favorável dos documentos adotados pela Comissão (referindo-se ao Comitê pela "Fé e Ordem")... para a reaproximação das Igrejas.' Aqui devemos observar que esses documentos (do Comitê) nunca foram avaliados pelos Hierarcas das Igrejas Ortodoxas locais.

Finalmente, no artigo 22, é passada a impressão de que o vindouro Santo e Grande Concílio está prejulgando a infalibilidade de suas decisões, já que considera que, "a preservação da autêntica fé ortodoxa é garantida apenas através do sistema sinodal, o qual foi sempre retestado na Igreja e o qual constitui-se o juiz final e apropriado de todas as questões da fé". Nesse artigo, é ignorado o fato histórico de que na Igreja Ortodoxa, o critério final é sempre a consciência dogmática viva da plenitude da Igreja, a qual no passado confirmou até Concílios Ecumênicos e outros como concílios "ladrões". O sistema sinodal por si só não garante mecanicamente a correção da fé ortodoxa. Isso só acontece quando o Sínodo dos Bispos têm o Espírito santo e o Caminho Hipostático, Cristo, trabalhando dentro de si, e portanto são na prática um "sy" - "odikoi", um caminhar juntos no caminho.


Avaliação Geral do Texto

Com tudo que está escrito e o que está claramente implicado no texto acima, é claro que seus iniciadores e autores estão tentando uma ratificação institucional e oficial do Sincretismo-Ecumenismo Cristão através do Sínodo Pan-Ortodoxo. Isso, porém, seria catastrófico para a Igreja Ortodoxa. Por essa razão, proponho humildemente sua completa retirada.
--
Para concluir, uma observação teológica sobre o texto, "O Sacramento do Casamento e Seus Impedimentos" (ver: https://mospat.ru/en/2016/28/news127389 ). No artigo 5.i, ele anota: "O casamento de uma pessoa ortodoxa com uma heterodoxa não é permitido de acordo com a akrivia (regra) canônica (cânone 72 do Concílio Quinissexto de Trullo). Entretanto, é possível receber a benção através da condescendência e amor pelo homem sob a condição expressa de que a criança desse casamento seja batizada e criada na Igreja Ortodoxa."

Aqui, a condição expressa de que, "a criança desse casamento será batizada e criada na Igreja Ortodoxa" conflita com a garantia teológica do casamento como um sacramento da Igreja Ortodoxa. A razão para isso é que a criação dos filhos é levada a, junto com o batismo deles na Igreja Ortodoxa, a legitimar o ofício do casamento misto, algo claramente proibido pelo cânone de concílios ecumênicos (cânones 72 do Quinissexto). Em outras palavras, um sínodo que não é Ecumênico, como o vindouro Santo e Grande Concílio, explicitamente transforma uma decisão de um Concílio Ecumênico em algo relativo. Isso é inaceitável.

E finalmente isto: Se o casamento abençoado não gerar crianças, esse casamento será teologicamente legítimo simplesmente por conta da intenção do esposo heterodoxo de colocar qualquer possível na Igreja Ortodoxa?

Por questão de consistência teológica, o artigo 5.i precisa ser removido.

Tradução para o inglês do Rev. Pe. Matthew Penney, 7 de fevereiro de 2016, com ajuda do Pe. C.A. e editado pelo Pe. Peter Heers. Tradução para o português pelo Lr. Fabio L. Leite
Para o original grego, veja: http://epomeni-tois-agiois-patrasi.blogspot.gr/2016/02/blog-post_88.html

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O Diálogo Ecumênico do Século 21: Uma Pista de Obstáculos?



Caríssimos,


É comum ouvirmos no Brasil que já foram feitos certos documentos e acordos de união entre as igrejas católicas Ortodoxa e Romana, que existiriam documentos permitindo ortodoxos frequentarem e mesmo comungarem na Igreja Romana, em suma, que seriam basicamente a mesma igreja e que a união seria um fato quase consumado.

Tais informações são rigorosamente falsas.

Confirmaremos isso na exposição do Protopresbítero Pe. Georgio Tsetsis, representante do Patriarcado Ecumênico no Conselho Mundial de Igrejas e veterano de diálogos ecumênicos.


Sobre todos acordos, documentos e declarações conjuntas já realizados, afirma o Protopresbítero:



A agenda das conversas bilaterais é muito cheia. Ela cobre uma gama de questões teológicas, eclesiológicas e pastorais, relacionadas, por exemplo, com fé e dogma, as fontes da revelação divina, tradição apostólica, cristologia, a natureza da missão da Igreja, a unidade da Igreja, os sacramentos, a autoridade da Igreja, a vocação de São Pedro, o testemunho do Cristianismo no mundo moderno e até questões pastorais sobre casamentos inter-religiosos.


Nessa altura, dada a confusão que reina sobre os objetivos dos diálogos e a natureza dos "Documentos Conjuntos" que são escritos nesses encontros, pode ser útil sublinhar uma coisa: que esses diálogos não são "concílios de unidade", e que os textos que publicam não possuem natureza de "acordos", muito menos de "uma confissão comum de fé", como muitos acreditam e persistentemente repetem. 


Como o Pe. Theodoros Zisis muito competentemente afirmou na 3a. Conferência Pré-Conciliar, quando ainda era um professor leigo, 
"qualquer um que estude as atas dos Sínodos Ecumênicos perceberá que antes de os pais do sínodo chegarem no ponto de formularem os termos, houve um longo período durante o qual os problemas foram esmiuçados e analisados , posicionamentos e estudos foram investigados e então, com base em tal preparo, o sínodo define a formulação dos termos." 
(...)

Devemos enfatizar quantas vezes forem necessárias que esses encontros são de natureza exploratória e que os textos preparados neles não são mais que "textos de trabalho" enviados por aqueles que os escreveram para as Igrejas que representam para avaliação e comentário. E naturalmente em ad referendum para o Grande e Santo Sínodo. São meramente textos de apoio na estrada para a unidade cristã, textos que as igrejas têm a liberdade de rejeitar, como já foi demonstrado na prática.

(...)

A questão óbvia que surge quanto a esse ponto é se, e até que ponto, os bispos, padres, professores e teólogos que tomam parte nesses diálogos realmente representam a "linha" oficial de suas respectivas igrejas e até onde o que expressam é meramente suas próprias ideias teológicas pessoais, e com as quais será impossível que as igrejas que os escolheram como representantes se identifiquem. A solução desse problema ajudará muito na prevenção de mal-entendidos quanto a natureza das conversas e do papel que os delegados das igrejas têm nelas.

(...)

O que nossas contrapartes devem cuidadosamente evitar em conversas entre eles, é expressar pontos de vista diametralmente opostos aos que formulam quando conversam com os Ortodoxos. O diálogo ecumênico deve, acima de tudo, ser um "diálogo em verdade". Pelo menos, esse é o sentido que foi entendido pelos Ortodoxos quando, cerca de 35 anos atrás, através de uma decisão Pan-Ortodoxa, inauguramos conversas com várias igrejas heterodoxas, tendo como objetivo uma estrada comum de cristãos em direção a união.


Mas quando nessas conversas, posições contraditórias são expressas por questões de "cortesia ecumênica" ou meramente para que em dado momento haja alguma empatia com a tradição teológica do interlocutor, então não apenas a verdade não foi manifestada, mas também não há promoção da jornada comum pela unidade cristã, que é precisamente o principal objetivo das conversas em primeiro lugar.



Fontes:


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Patriarca Bartolomeu em Lyon

Em 2009, Sua Santidade, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, na 13a. Conferência das Igrejas Européias, em Lyon, França, fez este belo pronunciamento:

Viemos a Lyon, de Constantinopla, do Fanarion, que é o domicílio paternal de todos nós – nosso lar! E trazemos o amor, as intenções e bênçãos da Igreja Mãe! Viemos para ver seus rostos alegres e rejubilarmo-nos em sua diligência. 

Temos certeza de que, sob o vigilante cuidado pastoral de seu bom pastor, amado irmão e nosso co-celebrante, Sua Eminência Metropolita da França, Emmanuel, assim como seus piedosos padres de tempos em tempos, têm lutado para preservar a menina de seus olhos, a herança de seus pais, isto é, a Fé Cristã Ortodoxa, graças, por um lado, aos santos mártires de Lyon que sacrificaram sua vida e sangue, junto com milhões de outros naturalmente, por todo mundo, desde a antiguidade até nossos tempos, e por outro graças à grande civilização, língua e tradição cultural helênica que, de uma forma ou outra, corporificam os fundamentos da civilização europeia contemporânea. 

A presença de representantes de outras Igrejas Ortodoxas na Divina Liturgia de hoje sublinha precisamente esta verdade: de que nós ortodoxos somos todos um só lar, uma só alma, um só coração, uma só voz – a despeito das descendências nacionais e linguísticas ou das diferenças culturais! Esse, infelizmente, não é o caso com todos os que confessam a fé em Cristo no geral. 

Como não possuímos um ensino dogmático e uma confissão em comum com eles, não podemos ter uma Eucaristia em comum, nem um Cálice em comum – o que nos entristece profundamente, mas Cristo entristece-se ainda mais – Ele que disse que deseja que todos sejam um, como Ele é um com o Pai e o Espírito Santo. 

Obedecemos a um dever de amor, conversando honestamente e responsavelmente com aqueles que não pertencem ao seio da Igreja Ortodoxa e portanto deixamos o Espírito Santo agir como Ele achar que deve. É nosso dever não nos isolarmos egoisticamente dentro de nossa autossuficiência, assim colocando a nós mesmos em risco junto com aqueles que “retêm a verdade na injustiça”, porque o tesouro da Verdade, que herdamos, potencialmente pertence a todos e quantos mais tornarem-se seus comunicantes, mais irá aumentar o Corpo de Cristo e maiores serão nossas recompensas no Senhor! 

Na crise multi-facetada de nossos dias, que é moral, social, ambiental, financeira e, principalmente, espiritual, nós cristãos não temos espaço para o desespero! Cristo, Seu Evangelho, Sua Igreja, são imaculados e são nossa esperança certa! E devemos abrir o peito para essa esperança: não apenas europeus, mas todos os povos da terra! Roguem, meus irmãos e filhos em Cristo, que o Espírito Santo possa guiar todas as pessoas para a luz dessa esperança!

Fontes:

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O Papa Não Disse Que Não Há Mais Impendimentos à Intercomunhão


Surgiu nas redes sociais mais uma distorção das palavras do Papa Francisco, afirmando que o Papa teria declarado que não há mais impendimento para a intercomunhão entre fiéis da Igreja Católica Ortodoxa e os fiéis da Igreja Romana.


Não foi isso que o Papa disse. Sobre o assunto ele declarou especificamente: 

"não há mais nenhum impendimento à comunhão Eucarística que não possa ser superado através da oração, da purificação dos corações, do diálogo e da afirmação da verdade. "

O que o Papa disse, utilizando o pronome relativo "que" para qualificar o tipo de impendimento que seria predicado em seguida, é que os impedimentos, concretos e existentes, podem vir a ser superados no futuro mediante oração, purificação dos corações, diálogo e afirmação da verdade. Dizer que não existem impendimentos insuperáveis é muito diferente de dizer que não existem impedimentos ou que os impedimentos existentes foram já superados.

O Papa também afirmou sobre o mesmo assunto:

"Embora nem todas as diferenças entre as Igrejas Católica e Ortodoxa tenham chegado ao fim, já existem agora as condições necessárias para uma jornada (...)" 

Ou seja, ele reconhece textualmente que há diferenças persistentes hoje em dia, embora haja condições para o início de uma jornada. Mas a intercomunhão é o *fim* da jornada, não o início. Para que essa jornada chegue ao fim é necessário, como disse o Papa, a afirmação da verdade.

Sobre a questão da união em particular, ele concluiu dizendo:

"O próprio diálogo teológico, mantido pela caridade mútua, deve continuar a examinar cuidadosamente as questões que nos dividem"

Ou seja, existem questões que nos dividem, especificamente sobre qual é a verdade a respeito do papel do Primeiro-Entre-Iguais na Igreja e sobre a correção ou não do uso do filioque no Credo.


Essas "afirmações da verdade" precisam ser discutidas no diálogo teológico marcado, naturalmente, pela caridade mútua. Devemos manter em mente, porém que a esperança da Igreja Romana é que a Igreja Ortodoxa "reconheça" como verdadeiras as heresias da infalibilidade papal bem como sua jurisdição suprema, universal, ordinária e extraordinária. 

Ao mesmo tempo, a Igreja Ortodoxa anseia que Roma tenha a humildade de reconhecer que errou ao afirmar tais coisas e possa reunir-se à Igreja Mãe de Jerusalém e suas irmãs petrinas mais velhas, as sés de Antioquia e Alexandria.

Segue abaixo a tradução do texto completo da mensagem do Papa Francisco ao Patriarca Ecumênico Bartolomeu.



Para Sua Santidade, Arcebispo de Constantinopla, Patriarca Ecumênico

Sua Santidade, Amado Irmão em Cristo



Um ano passou-se desde que celebramos juntos, na Igreja Patriarcal no Fanar, a festa de Santo André, o Apóstolo primeiro chamado e irmão de São Pedro. A ocasião foi um momento de graça que permitiu-me renovar e aprofundar, em orações compartilhadas e em um encontro pessoal, os laços de amizade com você e com Igreja que preside. Foi também com alegria que experienciei a vitalidade de uma Igreja que incessantemente professa, celebra e oferece testemunho da fé em Jesus Cristo, nosso único Senhor e Salvador. Estou feliz mais uma vez de enviar uma delegação da Santa Sé às celebrações Patronais como um sinal tangível de minha afeição fraternal e da proximidade espiritual da Igreja de Roma com Sua Santidade, assim como com os membros do Santo Sínodo, clero, monges e todos os fiéis do Patriarcado Ecumênico.


Em nossa profunda comunhão de fé e caridade, e gratidão por tudo que Deus realizou por nós, eu relembro o quinquagésimo aniversário em 07 de dezembro de 2015 da Declaração Conjunta Católico-Ortodoxa do Papa Paulo VI e do Patriarca Ecumênico Atenágoras I, que expressaram a decisão de remover da memória e do meio da Igreja as excomunhões de 1054. A memória das sentençãs mútuas de excomunhão, junto com as palavras ofensivas, censuras infudadas e gestos repreensíveis de ambos os lados, que acompanharam os tristes eventos desse período, representaram por muitos séculos um obstáculo para a reaproximação em caridade entre Católicos e Ortodoxos. Atentos à vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que orou ao Pai na véspera de sua Paixão que seus discípulos "sejam um" (Jo. 17:21), o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I consignaram tais memórias dolorosas ao esquecimento. Desde então, a lógica do antagonismo, desconfiança e hostilidade que eram simbolizados pela excomunhão mútua foram substituídos pela lógica do amor e da amizade, representadas por nosso abraço fraternal.


Embora nem todas as diferenças entre as Igrejas Católica e Ortodoxa tenham chegado ao fim, já existem agora as condições necessárias para uma jornada em direção ao restabelecimento da "plena comunhão na fé, no acordo fraternal e na vida sacramental que existia entre elas nos primeiros mil anos de vida da Igreja" (Declaração Conjunta Católico-Ortodoxa, 07 de dezembro de 1965). Tendo restaurado a relação de amor e fraternidade, em espírito de confiança mútua, respeito e caridade, não há mais nenhum impendimento à comunhão Eucarística que não possa ser superado através da oração, da purificação dos corações, do diálogo e da afirmação da verdade. De fato, onde há amor na vida da Igreja, sua fonte e plena realização sempre estará no amor Eucarístico. Assim também o símbolo do abraço fraternal encontra a mais profunda verdade no abraço de paz realizado na celebração Eucarística.


Com o fim de progredir em nossa jornada na direção da plena comunhão pela qual ansiamos, devemos continuamente inspirar-nos naquele gesto de reconciliação e paz de nossos veneráveis predecessores Paulo VI e Atenágoras I. Em todos os níveis e em todos os contextos da vida da Igreja, as relações entre Católicos e Ortodoxos deve progressivamente refletir a lógica do amor que não deixa espaço para o espírito de rivalidade. O próprio diálogo teológico, mantido pela caridade mútua, deve continuar a examinar cuidadosamente as questões que nos dividem, buscando sempre um aprofundamento de nossa compreensão mútua da verdade revelada. Motivados pelo amore de Deus, devemos juntamente oferecer ao mundo um testemunho crível e efetivo da mensagem de Crsito de reconciliação e salvação.


O mundo hoje tem grande necessidade de reconciliação, particularmente à luz de tanto sangue que tem sido derramado em ataques terroristas recentes. Que possamos acompanhar as vítimas com nossas orações, e renovar nosso compromisso com uma paz duradoura promovendo o diálogo entre as tradições religiosas, pois "indiferença e ignorância mútua só podem levar à desconfiança e, infelizmente, até a conflitos" (Declaração Comum, Jerusalém 2014).


Quero expressar minha profunda apreciação pelo fervoroso compromisso de Sua Santidade com o assunto crítico do zelo pela criação, pois sua consciência e sensibilidade são um testemunho exemplar para os Católicos. Creio que é um sinal de esperança para Católicos e Ortodoxos que agora celebremos juntos anualmente um Dia de Oração pelo Zelo com a Criação em 01 de setembro, seguindo uma duradoura prática do Patriarcado Ecumênico. Quanto a tal assunto, garanto-lhe minhas orações pelo importante encontro internacional do meio-ambiente que ocorrerá em Paris e que você irá participar.


Sua Santidade, é necessário que a humanidade redescubra o mistério da misericórdia, "a ponte que conecta Deus ao homem, abrindo corações à esperança de ser amado para sempre a despeito de nossos pecados" (Misericordiae Vultus, 2). Por essa razão, eu convoquei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia, um tempo favorável para contemplarmos a misericórdia do Pai revelada plenamente em seu Filho, Jesus Cristo e para nos tornarmos nós mesmos um sinal efetivo do amor de Deus através de nosso perdão mútuo e trabalhos de misericórdia. É providencial que no aniversário da histórica Declaração Conjunta Católico-Ortodoxa sobre a remoção das excomunhões de 1054 ocorra na véspera do Ano da Misericórdia. Seguindo o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I, Católicos e Ortodoxos hoje devem pedir perdão a Deus e uns aos outros pelas divisões que os Cristãos provocaram no Corpo de Cristo. Peço-vos e a todos os fieis do Patriarcado Ecumênico que orem para que esse Jubileu Extraordinário possa trazer os frutos espirituais que desejamos. Garanto-lhes voluntariamente minhas orações pelos eventos que sua Igreja irá celebrar no ano por vir, especialmente o Grande Sínodo Pan-Ortodoxo. Que essa importante ocasião para todas as Igrejas Ortodoxas possa ser uma fonte de abundantes bençãos para a vida da Igreja.

Com afeição fraternal no Senho, garanto-lhe de minha proximidade espiritual na alegre festa do Apóstolo André, e voluntariamente abraço Sua Santidade na paz do Senhor Jesus.



Do Vaticano, 30 de Novembro de 2015
Francisco PP.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O que "União" significa para Ortodoxos e Católicos?


(O encontro do Patriarca com o Papa) foi vastamente coberto pela mídia, com o Papa e o Patriarca fazendo pronunciamentos conjuntos, orações conjuntas e documentos assinados conjuntamente. Até mesmo partilharam um abraço.


É fácil para o fiel ortodoxo simples e piedoso se escandalizar com tais ações, mas devemos lembrar que o Papa e o Patriarca ainda possuem objetivos mutuamente excludentes que os impedem de consumar uma união, isto é, para cada um dos dois, os termos da união são diferentes.


Em 05 de novembro de 2014, o Papa Francisco explicou seus objetivos claramente para a Audiência Geral na Praça de São Pedro. Ele disse:

"Quando Jesus escolheu e chamou os Apóstolos, Ele não pensava neles como separados uns dos outros, cada um por si, mas juntos, porque deviam permanecer unidos nEle, como uma única família. Além disso, os bispos também constituem um Colegiado único, reunido com o Papa, que é o guardião e garantidor desta profunda comunhão que era tão querida ao coração de Jesus e para seus Apóstolos também...
Nenhuma Igreja é saudável se os fiéis, os diáconos e os padres não estão unidos ao bispo. Essa Igreja, que não está unida ao bispo, é uma Igreja doente. Jesus queria essa união de todos os fiéis com o bispo, incluindo diáconos e padres. E isso eles fazem conscientes de que é precisamente no bispo que o elo é feito visível com cada Igreja, com os Apóstolos e todas as outras comunidades, unidas a seus bispos e ao Papa na Igreja una do Senhor Jesus, que é a nossa Hierárquica Santa Madre Igreja."




Portanto, de acordo com essas palavras do Papa Francisco, a Igreja Ortodoxa seria qualificada como "uma igreja doente", e a restauração da saúde de "uma igreja doente" (católica, ortodoxa ou protestante) só ocorre pela união com "o Papa na Igreja una do Senhor Jesus", para ele, a Igreja Católica Romana.


O Patriarca Bartolomeu também deixou seus objetivos claros pouca mais de um ano antes quando encontrou o Patriarca da Bulgária no Fanár em 20 de setembro de 2013. Em um pronunciamento sobre o diálogo ecumênico com os heterodoxos, o Patriarca Bartolomeu disse:

"Quanto às discussões e diálogos entre todas as igrejas ortodoxas e os heterodoxos, elas tem como propósito final a realização da vontade e mandamento do Senhor: "Que todos sejam um" (Jo. 17:21). Agora contribuem para a cooperação social e o testemunho da verdade, e ambos objetivam uma compreensão mútua e, na hora certa, a aceitação da única fé ortodoxa por parte dos heterodoxos. Não buscamos, como foi escrito na Bulgária e em outros lugares, a criação de um 'conglomerado' de crenças comuns aceitáveis. Isto é, não estamos buscando através do assim chamado movimento ecumênico, a aceitação de uma "confissão cristã sincrética", mas um aprofundamento da fé cristã ortodoxa e da cooperação social com aqueles que invocam o nome de Cristo.
Naturalmente, não temos medo, como ortodoxos e que possuímos a plenitude da verdade, de que seríamos afetados pelos pontos de vista de nossos irmãos heterodoxos em questões doutrinais. Estamos apenas seguindo um tradição eclesiástica longamente mantida, resumida no conselho de S. João Clímaco: "no caso daqueles que disputam maliciosamente conosco, sejam descrentes ou hereges, devemos desistir depois de tê-los alertados duas vezes. Mas no caso daqueles que desejam aprender a verdade através de nós, jamais nos cansemos de boas ações. Entretanto, devemos usar ambas as oportunidades para o estabelecimento de nosso próprio coração" (Escada, Degrau 26:125). Através dessa estratégia não estamos traindo a Ortodoxia, como nos criticaram, nem apoiamos conceitos ecumenistas, mas proclamamos aos heterodoxos toda a verdade da Ortodoxia".


Portanto, de acordo com o Patriarca Bartolomeu, a Igreja Católica Romana, é uma igreja heterodoxa que deve "no tempo certo" aceitar "a única fé ortodoxa" para que haja união entre as Igrejas Ortodoxa e Católica.


Vemos que cada um tem em mente sentidos mutuamente excludentes para a palavra "união", mesmo quando a pronunciam juntos, sem que haja objetivos comuns. Ambos desejam a união, cada um a seu modo, como todos os cristãos deveriam desejar a união, mas a consumação de tal fato através da intercomunhão, partilhando o cálice da Divina Eucaristia tanto em uma igreja como em outra, só poderia ocorrer se ou o Papa ou o Patriarca fizessem sérias alterações doutrinárias, e não há sinais de que essa possibilidade sequer esteja no horizonte.


Adaptado e resumido de: http://www.johnsanidopoulos.com/2014/11/the-mutually-exclusive-goals-of-pope.html

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Encíclica Sobre Ecumenismo do Bispo Nicholas de Mesogaia e Lavreotiki



01 de junho de  2014

(...)

O Ocidente perdeu sua fé. O Oriente até hoje preserva a fé Ortodoxa, mas eu pergunto o quanto nós ortodoxos vivemos essa fé? E se nossas vidas não correspondem a nossa fé, talvez sejamos piores do que eles que a perderam por ignorância.

Ao invés de gritar em tons ofensivos contra o Ocidente, talvez o objeto da nossa reprovação devesse ser nós mesmos? Verdadeiramente, qual o benefício de defender uma fé que não é confirmada em nossa vida?
De que adianta criticar duramente uma pessoa que nasceu e foi educada daquela forma, quando não há crítica igual por nossa inconsistência?

No fim das contas, o que talvez seja necessário nas relações inter-cristãs, não são as incessantes recriminações das "ilusões do Ocidente", nem também as exuberantes manifestações de amizades imaturas, mas antes uma confissão sem rodeios da fé ortodoxa e de nosso humide convite aos ocidentais. Talvez eles acabem por viver a fé mais consistentemente do que nós que a preservamos e entretanto não a realizamos em nossas vidas, nem o ethos e o ensino que eles ignoram enquanto possivelmente buscam pela verdade.

O que precisamos é unidade na humildade da parte de nós ortodoxos e a confissão de nosso amor pelo mundo e pelos heterodoxos.

O que devemos oferecer não é a recriminação dos outros pelos seus erros, mas acima de tudo nosso arrependimento pelo déficit do testemunho em nossa vida. Se eles não vêem a diferença em nossas vidas, como virão a reconhecer nossas doutrinas?

Se o Ocidente não confessar humildemente suas aberrações doutrinais e sua necessidade de retornar à "plenitude da verdade", e se por outro lado o oriente ortodoxo não viver a benção de sua riqueza teológica sob sua responsabilidade, e não discernir a necessidade de arrependimento pelo seu testemunho inconsistente, então os diálogos, orações prematuras e encontros inter-eclesiásticos terão apenas um caráter secular de comunicação enquanto essencialmente apenas aprofundam a confusão e distanciam todos nós da una verdade salvífica.

Irmãos, "Vigiai! Sede firmes na fé! Sede homens! Sede fortes! Tudo o que fazeis, fazei-o na caridade." 
(1 Cor 16:13,14)

Com orações e muito amor no Senhor,
Bispo Nicholas de Mesogaia e Lavreotiki

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Intercomunhão com Roma IV: Pronunciamento do Patriarca Bartolomeu em 29 de Agosto de 2015

Caso restasse alguma dúvida sobre a questão de intercomunhão com Roma, vejam o pronunciamento do Patriarca Bartolomeu logo depois do meu comentário abaixo.

Todos são bem-vindos para assistir a Divina Liturgia, e fazem bem os Ortodoxos que vão conhecer a missa romana.

Mas não importa à Igreja Católica Ortodoxa o que Roma permite ou não permite no que tange à comunhão posto que separada da Igreja perdeu todas as prerrogativas de autoridade e não pertence mais a nossa comunhão. Apostolicidade não é apenas sequência ininterrupta, mas também fidelidade à fé dos apóstolos e é exatamente essa fidelidade que Roma e a Ortodoxia questionam mutuamente uma na outra.

Do lado da Ortodoxia, não é permitido sob circunstância alguma ao ortodoxo comungar em nenhuma outra igreja, nem mesmo romana, por semelhante que seja à nossa, assim como é vedado ao ortodoxo dar a comunhão a qualquer um que não seja ortodoxo, romanos inclusive. É inapropriado que ortodoxo ou romano se coloque na fila de comunhão da outra igreja, obrigando o padre ou bispo a ficar na "saia curta" de ou negar a comunhão na frente de todos ou cometer um pecado de concedê-la a quem não é permitido.

A permissão que o Papa deu para seu rebanho de que seria possível comungar na Igreja Ortodoxa é na melhor das hipóteses, uma medida mal-pensada e "entrona" como se eu dissesse ao meu filho que no caso de ficar muito distante ou sem acesso a esposa dele, ele pode beijar a *sua* esposa. E ainda te acusasse de "radical" e "hostil ao diálogo" por não deixar.

De nossa parte, o nosso dever é testemunhar que quem deseja o maior e mais íntimo dos sacramentos ortodoxos, deve desejar toda a fé ortodoxa e todos os sacramentos, inclusive o batismo e/ou crisma. Se for romano, nossa esperança e desejo ardoroso é que complete sua conversão tornando-se católico ortodoxo antes de mais nada, e partilhando assim da plenitude da fé conforme foi entregue por Cristo aos Apóstolos de uma vez para sempre, sem prejuízo de nossa esperança mais ampla a respeito da Sé Romana de ver a realização da oração sacerdotal de Jesus, onde Ele roga ao Pai que "Todos sejam um" (Jo 17:21) que se realizará com o retorno de todos os cristãos à Igreja Católica Ortodoxa.



Trecho do Pronunciamento de Sua Santidade Patriarca Ecumênico Bartolomeu à Sinaxis dos Hierarcas do Trono
(Sobre como interagir com as heterodoxias nas terras não-ortodoxas)

Somos obrigados a reconhecer que a era de comunidades e nações religiosas puras já passou e as pessoas são chamadas a receber a alteridade como um elemento constitutivo de nossas sociedades se não desejam caminhar na direção do conflito e do tumulto.
A coexistência dos ortodoxos com outros cristãos hoje em dia compõe uma realidade inevitável na área da diáspora e espalha-se rapidamente mesmo dentro de nações e sociedades que era anteriormente exclusivamente ortodoxas. Isso obriga nossa Igreja a adaptar toda sua vida pastoral com o princípio de economia. 
Portanto, por exemplo, o aumento do número de casamentos mistos é agora uma realidade que compele a a Igreja a aceitar orações e cultos comuns com os não-ortodoxos, o que já é feito em todas as igrejas ortodoxas. 
Isso de nenhuma forma é um desvio do elemento fundamental que continua a dividir os ortodoxos dos outros cristão, que se trata da comunhão da Santa Eucaristia e pressupõe concordância completa com a fé de nossa Igreja. Nesse último ponto, não pode haver exercício de economia.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Intercomunhão com Roma III: O que precisaria mudar para poder haver intercomunhão?

Este artigo foi escrito a convite pelo Pe. Thomas Hopko, para uma conferência que ocorreu em Washington, D.C., em 2005, realizada pela Igreja Católica Romana, pelo Instituto Teológico de Woodstock e a Universidade de Georgetown sobre "o que os não-católicos exigiriam da Igreja de Roma e do Papa de Roma para entrar em comunhão sacramental com a Igreja Católica Romana".
Pe. Thomas Hopko

Notem que a conferência inteira é fundada no conhecimento elementar de que é errada a intercomunhão antes da união da fé, que todos estão cientes de que existem diferenças significativas das fés entre suas igrejas e Roma – inclusive entre a Igreja Católica Ortodoxa e a Igreja Católica Romana, e que portanto é necessário delinearmos quais as mudanças necessárias para que a intercomunhão seja possível.

Essa conferência contava ainda com várias igrejas não-romanas: episcopais, luteranos, metodistas, batistas, calvinistas, sociedade dos amigos, e quakers, além claro, dos ortodoxos. O Pe. Thomas Hopko fora convidado por ser teólogo, professor de teologia dogmática e reitor-emérito do Seminário Teológico Ortodoxo de S. Vladimir, tendo sido reitor entre os anos de 1992 e 2002.

Outras autoridades poderiam compilar listas um pouco diferentes de ações práticas requeridas para que ortodoxos e romanos pudessem tomar comunhão na igreja um do outro, entretanto nenhuma negaria que as diferenças correntemente existentes na fé, nas estruturas eclesiásticas e de autoridade episcopal são impendimentos sérios para a intercomunhão. De todo modo, fiquemos com a análise do Pe. Thomas Hopko. 



O que Roma Precisaria Fazer para restaurarmos a Comunhão Sacramental? 
 
Por Pe. Thomas Hopko (1939-2015+)
http://www.ancientfaith.com/podcasts/hopko/what_does_rome_need_to_do_part_2

Primeiro de tudo, acredito que os ortodoxos insistiriam – ou deveriam insistir – que o bispo de Roma confesse a fé ortodoxa preservada pela Igreja Católica através da história e ensine e defenda a verdadeira doutrina cristã. Isso significa que o Papa teria que fazer várias coisas específicas, principalmente, em minha opinião, as seguintes. Isto é o que creio que os ortodoxos pediriam: 

Primeiro, o bispo de Roma teria que confirmar o texto original do Símbolo de Fé Niceno-Constantinopolitano e defender seu uso em todas as igrejas, a começar com a sua própria. Pelo menos, caso por questões pastorais algumas igrejas recebessem a permissão de manter o filioque no seu Credo, o bispo de Roma teria que insistir que se explicasse o filioque de modo a deixar claro que o Espírito Santo “procede do Filho” apenas em relação a dispensação salvífica de Deus no mundo, em economia, por outras palavras, o Espírito Santo que procede eternamente do Pai é dado ao mundo através do Filho, para que se preserve o entendimento próprio das relações entre as Pessoas da Trindade. O Papa teria que garantir que nenhum cristão seria tentado a acreditar que o Espírito Santo procede em essência do Pai e do Filho juntamente, e certamente não “de ambos como de um – ab utroque sicut ab uno” a qual é uma posição tradicional da Igreja Romana a partir de uma época posterior, quando o filioque foi discutido entre o Oriente e o Ocidente. 

Em outras palavras, o Credo sem o filioque teria que ser subscrito. Se por alguma razão, em alguns lugares, a Igreja Romana mantivesse o filioque no Credo, teria que deixar claro aos que quisessem entender que isso não significa uma processão eterna do Espírito Santo desde o Pai e o Filho, e nem mesmo do Pai e do Filho “como que de um”; isso não seria aceitável pela Ortodoxia. 

Também, o bispo de Roma, o Papa, teria que ensinar que o Pai e o Filho e o Espírito Santo são três pessoas ou hipóstases distintas e não simplesmente “relações subsistentes” dentro do Deus uno, o qual é identificado com a una natureza divina. Ele teria que insistir e garantir que o Verdadeiro e Um Deus da fé cristã não é a Santíssima Trindade entendida como um sujeito quase unipessoal que se revela como Pai, Filho e Espírito, o que, para o cristianismo tradicional, é inaceitável e de fato seria entendido como uma versão do modalismo, ou seja, que há um Deus, que é Pai, que é Filho e que é Espírito Santo – não! 

Há um que é o Pai, um que é o Filho, Um que é o Espírito Santo. Sua unidade é perfeita, Sua divindade é perfeita, mas a divindade do Filho e do Espírito deriva eternamente, antes da fundação do mundo, antes do tempo e do espaço, da Pessoa do Pai. O Pai comunica toda sua divindade ao Seu Filho desde toda a Eternidade e Deus, para os Cristãos, é tri-Pessoal, tri-hipostáticamente divindade, tri-hipostaticamente divino. 

O Papa também teria que insistir que os seres humanos podem ter comunhão real com Deus através das divinas ações e energias incriadas em relação com as criaturas, as quais vêm do Pai, através do Filho e no Espírito Santo. Esse pequeno parágrafo significa que o palamismo teria que ser aceito, pois foi conciliarmente recebido por todas as igrejas Ortodoxas, de que realmente existe uma distinção entre a essência e as energias de Deus: a Divinidade incogniscível e supra-essencial que é oculta, e as atividades de Deus nas quais nós criaturas realmente participamos através da revelação do Pai, através do Filho no Espírito Santo. 

O bispo de Roma, o Papa, teria que dizer oficialmente que a imaculada conceição da Mãe de Deus, Maria, desde seus pais, e a glorificação total de Maria em Cristo ressuscitado à direita do Pai, foi explicada de modo impróprio nas bulas papais que acompanharam originalmente os dogmas ex cathedra da Igreja Romana sobre esses dois artigos da fé. O papa precisaria explicar que a concepção de Maria por seus pais foi pura e santa, sem necessidade de que Deus aplique extraordinariamente “os méritos de Cristo” ao ato sexual de Joaquim e Ana para conceber sua filha com o fim de libertá-la “da mancha do pecado original”. O Papa também deveria deixar claro que Maria realmente morreu e não foi assunta corporalmente aos céus antes de aniquilar a morte com sua própria morte, por fé em seu Filho, Jesus Cristo. 

Eis o que quero dizer: a Igreja Ortodoxa afirma que Maria foi concebida imaculadamente de seus pais, Joaquim e Ana, mas isso não precisou de nenhum ato excepcional ou especial da parte de Deus para mantê-la livre da mancha do pecado original desde a concepção. Devemos notar que algumas igrejas Ortodoxas, que são bem anti-romanas, ainda têm uma versão deste ensinamento, e elas diriam que a mancha do pecado original foi retirada na Anunciação, e não na concepção de Joaquim e Ana. Em todo caso, deveria haver uma explicação da Imaculada Conceição, e da Dormição, da Assunção de Maria, corporalmente, à presença de Deus, que se conformasse com a prática litúrgica e com a doutrina Ortodoxa. 

Além disso, o Papa também deveria dizer oficialmente, afirmando de modo claro, que, embora haja uma purificação e limpeza do pecado no processo da morte humana, não há um estado ou condição de purgatório depois da morte onde o pecador paga a punição temporária que alegadamente ele deveria a Deus por seus pecados. O Papa cessaria também a prática de indulgências através das quais, através de certas atividades piedosas, os cristãos supostamente reduziriam os “dias” de sofrimento purgatorial para eles mesmos e para outros. 

Aqui, claro, isso significa que a alegoria dos pedágios da tradição Ortodoxa, a qual creio ser um ensino ortodoxo tradicional, não diz que os pecadores tem que ser punidos pelos pegados que cometeram na terra antes de morrer, nos 22 pedágios que foram formulados no segundo século em Constantinopla, mas que eles devem libertar-se das paixões e purificados delas com o fim de entrar no reino de Deus, e portanto a oração pelos mortos, rogando a misericórdia de Deus, assim como a graça de que as pessoas aceitem Cristo, e portanto libertas de seus pecados. Esse é que seria, creio, o entendimento que deveria ser compartilhado por Roma sobre essa questão. 

O Papa deveria deixar claro que a crucificação de Cristo não foi um pagamento do débito de punição que os homens supostamente devem a Deus por seus pecados. O bispo de Roma iria ensinar, ao invés, com seus co-bispos do patriarcado ocidental, que o auto-sacrifício de Cristo ao Seu Pai foi o pagamento salvífico, redentor e reparador de uma dívida de amor perfeito, justiça, obediência, gratidão e glória perfeitas que os seres humanos devem a Deus, que Deus deve receber dos seres humanos para nossa salvação do pecado e libertação da morte e que agora, realmente obtivemos por causa da morte redentora, em total amor a Deus e a humanidade, de Jesus, o Cristo crucificado, que é o novo e último Adão. 

Em outras palavras, teria que haver uma explicação de porque a morte de Cristo na Cruz é reparadora, e a explicação não poderia ser que os humanos têm que ser punidos e Cristo recebe essa punição. Ao invés, é que os humanos precisam ser bons e santos e guardar a lei de Deus, o que apenas Cristo consegue fazer, e portanto pela fé nEle podemos ter nossos próprios pecados perdoados e nosso caminho para a restauração e o paraíso garantidos. 

O Papa teria que garantir a todos os cristãos que o bispo de Roma nunca fará ou ensinará nada de sua própria autoridade, por si mesmo, ou de si mesmo e sem o consenso da Igreja. “Ex sese et non ex consenso ecclesiae,” em latim. O bispo de Roma teria que prometer servir em sua presidência unicamente como porta-voz de todos os bispos em sucessão apostólica, que governam comunidades de crentes que os escolheram para servir como bispos, e cuja validade e legitimidade como bispos depende unicamente na sua fidelidade ao Evangelho e a fé de uma vez por toda entregue aos santos, em comunhão com seus predescessores no ofício arquisacerdotal e arquipastoral e um com o outro. 

Claro que isso significa que a doutrina da infalibilidade do papa, conforme formulada no Vaticano I e defendida no Vaticano II, teria que ser rejeitada ou radicalmente modificada para que os Ortodoxos ficassem comunhão com Roma. 

Creio também que em questões doutrinárias e morais não decididas – questões abertas, por assim dizer – o Papa de Roma teria que usar sua autoridade presidencial para garantir que todos, clero e leigos, seria encorajado a livremente apresentar seus argumentos concernentes ao ensino e prática cristã, conforme testemunhado nos documentos formais de testemunhos da fé e vida cristã, isto é, as escrituras canônicas (a Bíblia), as liturgias tradicionais, os concílios e cânones cristãos universalmente recebidos, e o testemunho e escritos dos santos canonizados – não por tudo que os santos tenham dito e feito, mas especificamente pelas razões que esses santos foram glorificados na Igreja e seu ensino foi aceito pela Igreja universal. 

Então, o dever do Papa é garantir que a devida atividade sinodal e conciliar ocorra entre os bispos e o povo com o fim de a Igreja alcançar uma decisão sobre questões doutrinais e morais. 

Finalmente, o Papa de Roma utilizaria sua autoridade presidencial para garantir um espírito de liberdade, abertura, respeito e amor nas e entre todas as igrejas e todos os Cristãos e, de fato, todos os seres humanos, de modo que o Espírito Santo, o único “Vigário de Cristo na terra”, possa nos relembrar o que Cristo disse e guia o povo até toda a verdade (Jo. 14:25, 16:13). O Papa seria dessa forma verdadeiramente o grande construtor de pontes, o pontifex maximus. 

O ponto é que o Papa garantiria, asseguraria, promoveria, defenderia e pastorearia um espírito de liberdade, abertura, respeito e amor entre todas as igrejas, cristãos e todo o povo, de modo que o Espírito Santo, que é o único “vigário de Cristo na terra”, possa trazer a lembrança do que Cristo disse, com atos, então, através de todo o corpo junto. 

Continuo agora falando da Liturgia. Para que o Papa de Roma possa exercitar sua “presidência em amor” entre as igrejas e a liderança cristã no mundo, sua igreja, a Igreja de Roma, teria que dar o exemplo de uma correta adoração cristã. Também isso significaria para os ortodoxos algumas coisas bem específicas. Primeiro de tudo, creio, o bispo de Roma teria que insistir que, exceto por razões pastorais extraordinárias, o batismo deve ser feito por imersão na água em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. 

E ele também afirmaria que os recém-batizados fossem imediatamente crismados com o selo do dom do Espírito Santo e trazidos à comunhão com Cristo por participação na Santa Eucaristia. Isso inclui os infantes que entram na vida sacramental da Igreja por virtude da fé dos adultos que cuidam deles. A prática de uma ação posterior com o bispo impondo suas mãos para confirmar a fé do batizado – que hoje é chamada de Crisma - poderia ser permitida em igrejas que desejassem continuar com essa prática piedosa por razões de costumes. 

Sobre a participação na Santa Eucaristia, o papa também deveria insistir que os fiéis recebam a Santa Comunhão dos Dons – isto é, o pão e o vinho – que são oferecidos na Liturgia Eucarística que estão celebrando. Os fiéis não receberiam a Comunhão em Liturgias Eucarísticas a partir de Dons que são guardados exclusivamente para os que estão incapacitados de participar na Liturgia por boas razões (normalmente doença ou enfermidade, ou porque estão envolvidos em serviços ao próximo e portanto perdem a Liturgia da Igreja). 

O ponto aqui é que não tem como você ter a Missa e comungar o povo com o sacramento de reserva que é mantido no cibório do altar. O pão tem que ser oferecido e consagrado e erguido no altar da Liturgia para a comunhão do povo presente, que participa junto da Liturgia. 

O ponto seguinte é que o Papa também teria que garantir que os fiéis também participem do vinho consagrado, o sangue de Cristo, durante a Santa Comunhão. Como isso será feito na prática pode variar em diferentes igrejas, mas deve ser feito sem exceção. Quanto ao pão, biscoitos não fermentados poderiam ser usados por razões pastorais em igrejas com essa prática pastoral, mas o papa afirmar o pão fermentado, o artos, como normativo para a Eucaristia Cristã. 

O Papa deveria insistir na celebração da Santa Eucaristia com os salmos, leituras das Escrituras e sermões exegéticos de acordo com as práticas eclesiásticas locais como forma normativa de culto conjunto para cristãos no domingo e nas festas litúrgicas de Igreja. Ele, com seus colegas bispos, proibiria celebrações eucarísticas privadas para celebrar intenções particulares e para fins pietísticos particulares, políticos ou ideológicos. Ele apoiaria a celebração também das orações das horas: vésperas, completas, matinas e horas – nas igrejas. Ele restauraria a prática de ter o celebrante sacerdotal voltado para o altar – em outras palavras, voltado para o Oriente – junto com os fiéis durante as orações e ofertas Eucarísticas na Divina Liturgia. Ele também consideraria resgatar a antiga prática ascética e penitencial de proibir a celebração da Santa Eucaristia em igrejas cristãs nos dias da semana da Grande Quaresma, exceto na festa da Anunciação. 

Os ortodoxos defenderiam que mudanças estruturais e administrativas devem ocorrer se o Papa de Roma quiser ser aceito e reconhecido como o bispo que exerce sua presidência em amor entre as igrejas, sendo o bispo da Igreja de Roma, igreja que preside em amor – não o homem, mas a Igreja tem a presidência em amor – e que o bispo dessa igreja, o Papa de Roma, serviria como o líder mundial do Cristianismo. 

Um “colégio de cardeais” constituído de homens de todo o mundo, e designado pelo papa e tendo ministérios nominais em Roma, simplesmente não existiria mais. Em outras palavras, não seriam cardeais apontados pelo papa que elegeriam o próximo papa, mas seriam os líderes das igrejas ortodoxas afirmando e confirmando o que a própria Igreja Romana fez ao eleger seu próprio bispo. Assim a eleição seria pela Igreja de Roma, a confirmação seria pelos primazes das outras igrejas regionais da Terra. 

O Papa não selecionaria nem designaria os bispos em quaisquer igrejas, como ele faz hoje. Ele iria, ao invés, confirmá-los em seus ministérios, e poderia fazê-lo até de alguma maneira formal, já que cada bispo é chamado a confirmar seus irmãos com quem ele exerce o episcopado uno in solidum. Essa é uma referência a S. Cipriano de Cartago, que disse, “Episcopatus unus est, o espicopado é um e todos os bispos o exercem in solidum, juntos em unidade”. 

O Papa certamente teria o direito e o dever de questionar a escolha do candidato para o episcopado, especialmente de uma presidência regional (isso significa os primazes das igrejas locais) que ele considere inadequados ou indignos da cátedra. Ele pode até ter a oportunidade de avaliar os candidatos e oferecer sua opinião antes que a eleição ocorra, especialmente a de um bispo presidente de uma igreja territorial. Mas o papa faria isso como qualquer outro bispo ou primaz de uma igreja regional. Ele não teria o direito ou o poder de interferir nas questões internas de qualquer igreja ou diocese, além das suas próprias. 

O Papa, o bispo de Roma, iria designer comissões e departamentos compostos por homens e mulheres competentes vindos de todas as igrejas em comunhão com Roma para assisti-lo em suas atividades como líder mundial e principal porta-voz da Cristandade. Ele também organizaria encontros regulares dos primazes das igrejas do mundo para apoiá-lo na sua missão global como o líder universal da Igreja Cristã na terra. O Papa teria uma comissão para tratar da doutrina da igreja, a doutrina cristã, e do pensamento teológico nas várias igrejas do mundo, mas não haveria nenhum departamento com a autoridade de tomar ação disciplinadora em questões doutrinais, as quais, quando necessárias, seriam tratadas pelo bispo local. Os bispos da Igreja, e não uma equipe de teólogos em Roma, designados pelo papa e falando em seu nome – é que constituiriam o magistério formal da Igreja. Obviamente, isso significa que estamos falando do fim do Santo Ofício, e mesmo da Cúria, de que haja corpos conciliares em Roma, vivendo lá, representando todas as igrejas do mundo e trabalhando juntos nessas áreas. 

Cada bispo supervisionaria os membros de seu rebanho. Ele teria que prestar especial atenção aos membros intelectuais, carismáticos e ativistas da sua igreja, e teria que exercitar orientação, direcionamento e disciplina pastorais adequadas. O bispo local proibiria a Santa Comunhão para membros que neguem as doutrinas e/ou práticas cristãs que ele e seus irmãos-bispos, com o papa Romano como seu líder, são chamados e consagrados para proclamar e defender. 

Caso um bispo seja acusado de ensinar doutrinas falsas (heresias) ou de se envolver em comportamento imoral, ou de permitir que aqueles sob seus cuidados o façam, ele deve ser julgado pelo sínodo de bispos ao qual ele pertence, isto é, o sínodo regional que irá discipliná-lo ou depô-lo. Em outras palavras, ele não seria julgado diretamente pelo Vaticano ou Roma; a questão será tratada pelo sínodo a que pertence, mesmo que ele seja o presidente do mesmo. Se for culpado do mal-feito, seu próprio sínodo irá discipliná-lo ou depô-lo. Se ele quiser apelar seu caso, ele pode buscar o bispo que exerce a presidência entre as igrejas da sua região, e como último recurso, ele pode apelar ao bispo de Roma, como o mais alto presidente da Igreja, o tribunal de última instância por assim dizer. 

O Papa não teria poder de tomar decisões jurídicas ou jurisdicionais autoritativas, mas exerceria o ministério de intercessão e reconciliação. O mesmo direito de apelação às presidências regionais e mesmo ao bispo de Roma estaria, naturalmente, disponível a todo membro da igreja, clero ou leigo, que fosse acusado de ensino errado ou algum mal-feito. 

O bispo de Roma também deixaria de ser um chefe de estado oficial. Como líder global do Cristianismo, entretanto, ele teria que viver em um lugar com o mínimo de riscos de interferências governamentais e políticas em seu ministério. E isso é muito importante para os ortodoxos, cujos bispos estão sempre sofrendo algum tipo de controle ou tentativa de controle por parte dos países em que vivem. Então diríamos que seria bom se ele não fosse um chefe de estado e vivesse em um lugar com riscos mínimos de interferência governamental e política no seu ministério. O local onde o Papa viveria, e onde as comissões intereclesiásticas e departamentos também estariam localizados, seriam governados por um leigo, designado pela Igreja Romana. Os chefes de estado se relacionariam com o papa apenas enquanto bispo e líder espiritual, e não como chefe de estado. Em outras palavras, ainda existiria um lugar como a Cidade do Vaticano, mas seu líder político e secular seria um leigo, escolhido pela Igreja. Não seria o Papa, que teria uma função especificamente eclesiástica, espiritual, pastoral e doutrinal. 

Como líder dos cristãos do mundo, o papa viajaria bastante. Ele tiraria o máximo proveito dos meios de transporte e comunicação contemporâneos. Ele dominaria a mídia eletrônica para servir seu ministério em proclamar o Evangelho de Cristo, propagando a fé cristã, promovendo o comportamento ético, protegendo os direitos humanos e buscando a justiça e a paz para todos os povos. Ele seria o servo da unidade entre todos os seres humanos, e o primeiro de todos os seus irmãos cristão, não como um episcopus espiscoporum singular (essa é uma expressão de S. Cipriano), não como um bispo de outros bispos, pois não existe um bispo de bispos, como foi decretado no Concílio de Cartago no terceiro século, mas como um igual a todos os bispos. Ele não seria um bispo de bispos, mas seria o primeiro bispo, aquele que o Papa S. Gregório Magno chamou de servus servorum Dei, o servo dos servos de Deus, entre todos os bispos cristãos do mundo. 

Agora, grande boa-vontade, energia e tempo seriam necessários para remodelar o papado para que o Papa de Roma se tornasse o líder mundial do Cristianismo como o bispo cuja igreja preside em amor entre todas as igrejas católicas do mundo que preservam e ensinam a fé ortodoxa. Como papas recentes insistiram, um arrependimento radical também seria necessário, começando por Roma, cujo chamado como primeira entre as igrejas cristãs é de dar o exemplo. 

Certamente também as igrejas ortodoxas deveriam sujeitar-se a muitas mudanças humildantes nas suas atitudes, estrutura e comportamento para entrar em comunhão sacramental com a Igreja Romana e reconhecer sua presidência entre as igrejas na pessoa do papa, seu bispo. Mudanças tremendas também deveriam acontecer na Ortodoxia. 

Os ortodoxos certamente teriam que superar suas querelas internas, a despeito e contra privilégios e poderes eclesiásticos, porque os bispos ortodoxos de hoje mal podem concordar onde devem sentar-se em uma mesa se realizassem um concílio. É um escândalo, de verdade. E os ortodoxos teriam que candidamente admitir suas contribuições pecaminosas para as divisões e falta de união cristãs ao longo da história, e se arrepender sinceramente dessas coisas. Também teriam que abandonar todo desejo e exigência de que outras igrejas se arrependam publicamente de seus erros e pecados passados. Eles teria que estar dispostos a permitir que Deus coloque tudo no passado e no esquecimento pelo amor da realização da reconciliação e reunião dos cristãos no tempo presente. 

Aqui devemos mencionar também a prática de termos igrejas organizadas de acordo com etnias e culturas, como gregos, russos, sírios. Isso teria que ser radicalmente alterado, para ser entendido de forma apropriada. 

Em outras palavras, os ortodoxos teriam que sacrificar tudo exceto a própria fé por amor de construir um futuro comum com cristãos que estejam dispostos e capazes de fazê-lo com eles sob a liderança de um Papa Ortodoxo de Roma. O que precisamos é um Papa Ortodoxo de Roma. Como os católicos romanos e os protestantes, os ortodoxos teriam que estar dispostos a morrer com Cristo para si mesmos em seus interesses pessoais, culturais, étnicos, eclesiásticos e políticos por amor de uma plena unidade com todos que desejam ser salvos pelo Senhor crucificado e dentro da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, a qual é, de acordo com as Escrituras, o Corpo de Cristo, a plenitude dele que completa tudo em todos (Ef. 1:23). A Igreja que é “casa de Deus”, a Igreja do Deus Vivo, o pilar e sustentáculo da Verdade (I Tim 3:15) 

Com a firme convicção de que com Deus todas as coisas são possíveis, podemos ousar imaginar, talvez até fantasiar, com uma unidade global dos cristãos na fé que foi de uma vez por todas entregue aos santos sob a presidência de Igreja Ortodoxa de Roma. 

Era isso que tinha para dizer nesse artigo e o apresento para discussão sobre o que nós ortodoxos gostaríamos de ver na Igreja de Roma ou que precisaríamos ver para poder haver comunhão sacramental. 

Que Deus abençoe nosso caminho, o Deus para Quem todas as coisas são possíveis.

Veja o artigo anterior na série aqui: http://vidaortodoxa.blogspot.com/2015/08/intercomunhao-com-roma-ii-relacao.html