sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Igrejas Ortodoxas Canônicas do Brasil



Amigos,

compartilho com vocês uma tabela que fiz com todas as jurisdições canônicas da Igreja Ortodoxa que estão atuantes no Brasil. 

Infelizmente, existem pessoas que se aproveitam de a Igreja Ortodoxa ser pouco conhecida no Brasil para "inventar" suas próprias igrejas ou se dizer ligadas a igrejas que de fato não estão ligados. Existem também, é claro, representantes no Brasil de igrejas separadas da Igreja Ortodoxa, seja recentemente ou desde o primeiro milênio, e mesmo assim apresentam-se como se fossem Ortodoxos.

Para evitar todas estas confusões, nesta ante-véspera do Domingo do Triunfo da Ortodoxia, envio-lhes esta tabela com as jurisdições que realmente são ortodoxas, com respectivos hierarcas responsáveis e reconhecidos. Não existe instituição ou jurisdição ortodoxa no Brasil que não esteja ligada a eles. Evidentemente no futuro poderão haver outras jurisdições ortodoxas canônicas, de outros patriarcados ou igrejas canônicas, mas, no momento, são apenas os que seguem abaixo. Quem não está em uma destas igrejas, ligado a um destes bispos, não é ortodoxo, então muito cuidado com os falsos ortodoxos por aí.


Jurisdições Canônicas da Igreja Ortodoxa Presentes no Brasil

Patriarcado de Constantinopla
Patriarca Bartolomeu I

As igrejas grega e ucraniana, no Brasil, estão filiadas ao Patriarcado de Constantinopla.
Arquidiocese Greco-Ortodoxa
da América do Sul

Metropolita Dom Tarásios
Baseado em Buenos Aires, Argentina

Eparquia Ortodoxa Ucraniana
da América do Sul

Arcebispo Dom Jeremias
Baseado em Curitiba, Paraná

Patriarcado de Antioquia
Patriarca Inácio IV

O Vicariato Patriarcal é uma paróquia diretamente vinculada ao Patriarca.
Arquidiocese Ortodoxa Antioquena
de São Paulo e todo o Brasil

Metropolita Dom Damaskinos
Baseado em São Paulo, SP

Vicariato Patriarcal Antioqueno
do Rio de Janeiro

Responsável: Arquimandrita Inácio
Baseado no Rio de Janeiro, RJ

Patriarcado de Moscou
Patriarca Cirilo
Diocese Ortodoxa Russa
da América do Sul

Bispo Dom Platão
Baseado em Buenos Aires, Argentina

Igreja Ortodoxa Russa no Exílio
Metropolita Hilarion

A Igreja Ortodoxa Russa no Exílio está em plena comunhão com o Patriarcado de Moscou. Infelizmente as paróquias que ela tinha no Brasil entraram em cisma em 2007 por serem contra essa comunhão. Por isso, até que retornem, ou novas paróquias sejam criadas, estamos sem representações desta Igreja no Brasil até o momento.

Diocese da Igreja Ortodoxa Russa no Exílio da América do Sul

Bispo Dom João
Baseado em Buenos Aires, Argentina

Patriarcado da Sérvia
Patriarca Irineu

As missões sérvia e polonesa (abaixo) caracterizam-se por serem grupos predominantemente missionários, isto é, tencionam ver a Igreja se expandir no Brasil até chegarmos a ter uma Ortodoxia brasileira como temos russa, árabe, ucraniana e grega.

Diocese Ortodoxa Sérvia do Leste dos EUA

Bispo Dom Mitrófam
Baseado em  Pensilvânia, EUA

Missão Ortodoxa Sérvia no Brasil
Responsável, Padre Alexis
Baseado em Recife, Pernambuco

Igreja Ortodoxa da Polônia
Metropolita Savas I
Arquidiocese Ortodoxa Polonesa do Brasil

Missão Polonesa no Brasil
Arcebispo Dom Crisóstomo
Baseado no Rio de Janeiro, RJ



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Sermão de São Tikhon no Domingo do Triunfo da Ortodoxia


Sermão de São Tikhon no Domingo do Triunfo da Ortodoxia

São Tikhon foi bispo nos EUA no início do século XX e posteriormente patriarca de Moscou pouco antes da Revolução Comunista.


Neste domingo, irmãos, inicia-se a semana da Ortodoxia, ou a semana do Triunfo da Ortodoxia, assim chamada pois é neste dia que a Santa Igreja Ortodoxa solenemente relembra sua vitória sobre a heresia iconoclasta e outras heresias e, com gratidão, relembra todos os que lutaram pela fé Ortodoxa em palavras, escritos, ensinos, sofrimentos, ou com uma vida em Deus.

Ao mantermos o dia da Ortodoxia, os ortodoxos devemos lembrar que é nosso dever sagrado mantermo-nos firmes na fé ortodoxa e cuidadosamente mantê-la.

Para nós, é um precioso tesouro: nesta fé nascemos e fomos criados; todos os eventos importantes da nossa vida estão relacionados com ela, e ela está sempre pronta a nos ajudar e abençoar em todas as necessidades e boas iniciativas, por menores que pareçam ser. Ela nos dá forças, alegria e consolo; nos cura, purifica e nos salva.

A fé Ortodoxa também nos é querida porque é a Fé de nossos Pais. Por amor dela, os Apóstolos labutaram e suportaram dores; mártires e pregadores sofreram por ela, campeões, que eram como os santos, derramaram lágrimas e sangue; pastores e professores lutaram por ela, e nossos ancestrais a defenderam, e tal legado deveria ser para nós como a pupila de nossos olhos.

E quanto a nós, descendentes destes – preservamos a fé Ortodoxa? Somos fiéis aos seus Evangelhos? Desde milênios atrás, o profeta Elias, este grande trabalhador pela glória de Deus, denunciava que os Filhos de Israel haviam abandonado o Testamento do Senhor, afastando-se dele e chegando-se aos deuses dos pagãos. Ainda assim, o Senhor revelou ao Seu profeta que entre os israelitas ainda existiam sete mil pessoas que não haviam se ajoelhado perante Baal ( 3 Reis 19 LXX(1)). De forma parecida, sem dúvida, em nossos dias também existem alguns verdadeiros seguidores de Cristo. “O Senhor conhece os que são Seus.” (2 Tim 2.19)

Ocasionalmente encontramos os filhos da Igreja, aqueles que são obedientes aos Seus decretos, que honram seus pastores espirituais, que amam a Igreja de Deus e a beleza do seu exterior, que anseiam por atenderem à Divina Liturgia e levar uma vida boa, que reconhecem suas falhas humanas e sinceramente arrependem-se de seus pecados.

Mas existem muitos como estes entre nós? Não são em maior número aqueles, “em quem as sufocantes ervas daninhas da vaidade e da paixão permitem apenas pequenos frutos da influência dos Evangelhos, ou que são mesmo desprovidas de frutos, que resistem à verdade do Evangelho, por causa do aumento de seus pecados, que renunciam ao dom do Senhor e repudiam a Graça de Deus”.

‘Eu fiz nascer filhos e os glorifiquei, e mesmo assim eles Me renegam’ disse o Senhor nos dias antigos, a respeito de Israel. E hoje também existem muitos que o Senhor fez nascer, cuidou e glorificou na fé Ortodoxa, e mesmo assim negam sua fé, não prestam atenção aos ensinamentos da Igreja, não mantêm suas injunções, não escutam seus pastores espirituais e se mantêm frios no que se refere aos ofícios divinos e à Igreja de Deus.

Quão rapidamente alguns de nós perdem a fé Ortodoxa neste país de muitos credos e tribos! Eles começam sua apostasia com coisas que a seus olhos possuem pouca importância. Eles acham que é “antiquado” ou que “não é aceitável entre as pessoas cultas” observar costumes tais como: orar antes e depois das refeições, ou mesmo de manhã e à noite, usar uma cruz no pescoço, ter ícones em suas casas ou observar os dias santos da igreja e seus jejuns. E não param em tais coisas, mas vão além: raramente vão à igreja e algumas nem mesmo vão, já que o homem tem que descansar no domingo (em algum bar); eles não se confessam, não fazem questão de se casar na igreja e adiam o batizado de suas crianças.

E deste modo seus laços com a fé Ortodoxa são quebrados! Eles se lembram da Igreja no leito de morte, e alguns nem mesmo ali! Para desculpar sua apostasia eles ingenuamente dizem: ‘esta não é a nossa terra natal, aqui é a América, e portanto é impossível observar todas as exigências da Igreja’, como se a palavra de Cristo fosse apenas para a terra natal e não para o mundo todo. Como se a fé Ortodoxa não fosse a fundação do mundo!

“Ah, nação pecadora, um povo tomado pela iniquidade, uma semente de perpetradores do mal, crianças que são corruptoras: eles se esqueceram do Senhor, eles provocaram a ira do Santo de Israel’ (Is 1.4)

Se não conseguem preservar a fé Ortodoxa e os mandamentos de Deus, o mínimo que podem fazer é não humilharem seus corações inventando falsas desculpas para seus pecados!

Se não honram nossos costumes, o mínimo que podem fazer é não rir das coisas que não conhecem nem entendem.

Se não aceitam o cuidado maternal da Santa Igreja Ortodoxa, o mínimo que podem fazer é confessar que agem erroneamente, que estão pecando contra a Igreja e se comportando como crianças!

Se o fizerem, a Igreja Ortodoxa irá perdoá-los, como uma terna mãe, de sua frieza e fraqueza, e irá recebê-los de volta em seus braços, como filhos que erraram.

Apegando-se à fé Ortodoxa, como a algo santo, amando-a com todo o seu coração e dando-lhe o mais alto valor, cada Ortodoxo deve, além disso, esforçar-se para espalhar esta fé entre os povos de outras crenças.

Cristo, o Salvador, disse que “nem os homens acendem uma vela para colocá-la embaixo da mesa, mas sobre o candelabro, para que ela ilumine a todos que estão na casa.’ (S. Mt. 5:15)

A luz da Ortodoxia não foi acesa para brilhar apenas sobre um pequeno número de pessoas. A Igreja Ortodoxa é universal; ela se lembra das palavras de seu Fundador: “Vão ao mundo, e preguem o evangelho para todas as criaturas”(S. Lc. 16:15), “vão pois, e ensinem a todas as nações” (S. Mt. 28:19).

Temos que compartilhar nossa riqueza espiritual, nossa verdade, luz e alegria com os outros, que estão privados de tais bênçãos, mas normalmente estão buscando-as e sedentas por elas.

Certa feita, uma visão apareceu a Paulo de noite. Um homem da Macedônia o chamava dizendo, ‘venha para a Macedônia e nos ajude,’ (At. 16.9). Depois deste evento o apóstolo foi a este país apregoar a Cristo. Nós também ouvimos este convite. Nós vivemos cercados por pessoas de crenças diferentes; no mar de várias religiões, nossa Igreja é uma pequena ilha de salvação, na direção da qual alguns nadam, atirados ao mar da vida. ‘Venham, rápido, socorro!’, escutamos às vezes de pagãos em lugares tão longe quanto o Alasca, e mais frequentemente daqueles que são nossos irmãos em sangue e foram um dia nossos irmãos em fé, os Uniatas. ‘Recebe-nos em sua comunidade, nos dê um de seus bons pastores, nos envie um Padre para que tenhamos o Ofício Divino realizado nos dias santos, ajude-nos a construir uma igreja, a construir uma escola para nossos filhos, para que eles não percam na América sua fé e nacionalidade,’ estes são os pedidos que temos escutado, especialmente nos últimos dias.

E devemos nós permanecer surdos e insensíveis? Deus nos proteja contra tal falta de compaixão. Ou então ai de nós, ‘pois tomamos a chave do conhecimento e nem entramos nós, e nem deixamos entrar os que queriam.’ (S. Lc. 11:52).

Mas quem vai trabalhar pela expansão da fé Ortodoxa, para o crescimento dos filhos da Igreja Ortodoxa? O clero e missionários, você responde. Você está certo, mas estarão eles sozinhos?

S. Paulo sabiamente compara a Igreja de Cristo a um corpo, e a vida do corpo é compartilhada por seus membros. Assim deve ser na vida da Igreja também. ‘Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor. ‘(Ef. 4:16)

No início, não apenas o clero sofria pela fé do Cristo, mas também os leigos, homens, mulheres e até crianças. Heresias foram combatidas por leigos também. Igualmente, a expansão da fé de Cristo deve ser algo próximo e querido ao coração de todo cristão. Neste trabalho todo membro da Igreja deve tomar parte com vivacidade e de coração. Este interesse pode se expressar na pregação pessoal do Evangelho de Cristo.

E para nossa alegria, sabemos de tais exemplos entre nossos irmãos leigos. Em Sitka, membros de uma irmandade missionária de índios fazem trabalho missionário com os outros habitantes de suas vilas. E um irmão zeloso viajou até uma vila distante (Kilisno), e ajudou bastante o padre local em proteger os filhos simples e crédulos da Igreja Ortodoxa contra influências exteriores, através de suas próprias explicações e argumentos. Além disso, em muitos lugares dos Estados Unidos, aqueles que deixaram o Uniatismo para juntar-se à Ortodoxia compartilham com seus amigos onde a verdade pode ser encontrada, e os predispõem a entrarem para a Igreja Ortodoxa.

Não é necessário dizer, não são todos entre nós que tem a oportunidade ou a capacidade de pregar o evangelho pessoalmente. E em vistas disto, eu os oriento, irmãos, que cada pessoa faça o que possa para expandir a Ortodoxia e essa é a medida do seu dever.

As Epístolas Apostólicas frequentemente mostram o fato de que quando os Apóstolos se dirigiam a lugares distantes para pregar, os fiéis normalmente os ajudavam com suas orações e ofertas. São Paulo buscou esta ajuda dos cristãos especialmente.

Consequentemente, podemos expressar o interesse que temos na causa do Evangelho orando ao Senhor,

que Ele tome esta santa causa sob Sua proteção,

que Ele dê aos seus servos a força para realizarem seu trabalho dignamente,

que Ele os ajude a conquistar as dificuldades e perigos, que são parte do trabalho,

que Ele não permita que se sintam deprimidos ou enfraqueçam em seu zelo,

que Ele abra os corações dos descrentes para ouvirem e a aceitarem o Evangelho de Cristo,

que Ele conceda a eles a palavra da verdade,

que Ele os una à Santa Igreja Católica e Apostólica;

que Ele confirme, aumente e pacifique Sua Igreja, mantendo-na para sempre invencível,


oramos por tudo isso, porém quase sempre com os lábios, mas raramente com o coração.

Não escutamos amiúde comentários como: ‘de que servem estas orações em particular pelos novos iniciados? Eles não existem em nosso tempo, exceto, talvez, em lugares distantes como as Américas e na Ásia; que orem por eles, onde eles existam; em nosso país tais orações apenas prolongam desnecessariamente o ofício, que já não é curto do jeito que é.’ Ai da nossa falta de sabedoria. Ai do nosso relaxamento e ociosidade!

Oferecendo orações sinceras para o sucesso da pregação de Cristo, nós também mostramos nosso interesse de ajudar materialmente. Era assim na Igreja primitiva, e os Apóstolos amavelmente aceitavam a ajuda material à causa da pregação, vendo nela uma expressão de amor e zelo cristãos.

Em nossos dias, estas ofertas são especialmente necessárias. Por falta delas, muitos trabalhos param no meio. Por falta delas, pregadores não podem ser enviados, ou apoiados, igrejas não podem ser construídas, nem escolas podem ser fundadas, e os necessitados entre os recém-convertidos não podem ser ajudados. Tudo isso necessita de dinheiro e membros de outras religiões sempre encontram um modo de provê-lo.

Talvez você diga que estas pessoas sejam mais ricas do que nós. É verdade, mas grandes recursos são acumulados por pequenos, e se todos entre nós derem o que puderem com tal objetivo, nós também poderemos angariar recursos consideráveis. Igualmente, não se envergonhem do pouco que seja sua oferta. Se você não possuir muito, ofereça o que puder,  mas por favor ofereça, não perca a chance de ajudar a causa da conversão dos seus próximos para Cristo, porque em fazendo-o, nas palavras de S.Tiago, ‘você salvará sua alma da morte e ocultará uma multidão de pecados’(S. Tg. 5:19-20).

Povo Ortodoxo! Celebrando o dia da Ortodoxia, vocês devem entregar-se a fé Ortodoxa não em palavra e língua apenas, mas em feitos e em verdade.

1 O livro 3 Reinos na versão Septuaginta do Antigo Testamento é paralelo ao livro 1 Reis da Bíblia Hebraica na qual muitas versões estão baseadas. Assim, o texto de 3 Reinos 19, pode ser encontrado em 1 Reis 19.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Encíclica Arquiepiscopal:Haiti

Arquidiocese Ortodoxa da América
www.goarch.org - communications@goarch.org


Contato:
Escritório de Imprensa
Stavros Papegermanos
pressoffice@goarch.org

Encíclica Arquiepiscopal
Protocolo 04/10

13 de janeiro de 2010

Ao Reverendíssimos Hierarcas, aos Reverendos Padres e Diáconos, aos Monges e Monjas, aos Presidentes e Membros dos Conselhos Paroquiais das Comunidades Ortodoxas Gregas, aos distintos Arcontes do Patriarcado Ecumênico, Instituições de Ensino Regular e Eclesiástico, Irmandades Filoptochos, à Juventude, às Organizações Helênicas e a toda a família Ortodoxa grega na América

Amados Irmãos e Irmãs em Cristo,

Foi com grande tristeza e compaixão que recebemos as trágicas notícias sobre o devastador terremoto que ontem atingiu o país do Haiti, causando destruição generalizada e a perda de incontáveis vidas. Milhares presumilvemente mortos e muitos mais perderam familiares, lares e empregos. A infraestrutura e as instituições da capital, Port-au-Prince, estão em ruínas.

Em resposta a esta tragédia, peço primeiro e antes de tudo, que os fiéis da Igreja Ortodoxa grega na América ofereçam suas orações pelo povo do Haiti. Que possamos auxiliá-los com nossas orações a encontrarem consolo nesta hora de amargura e dor, e que possam encontrar força e esperança nEle através da fé e através do ministério de amor e cura oferecido por todo o mundo. Além disso, que também possamos oferecer nossas orações pelos fiéis ortodoxos gregos e duas paróquias no Haiti que estão sob a liderança arquipastoral de Sua Eminênica Metropolita Atenágoras do México. Oramos pela sua segurança e bem estar, e por seu testemunho e serviço durante este tempo difícil.

Também peço que as paróquias de nossa Santa Arquidiocese conduzam uma coleta especial neste domingo, 17 de janeiro, como resposta de compaixão pelas necessidades do povo do Haiti. Este país e seu povo experimentaram numerosas tragédias e lutas, e este desastre natural aprofundou os desafios com a destruição de hospitais, escolas, igrejas e centros de assistência. Peço que as ofertas sejam enviadas para Arquidiocese marcadas para o "Fundo de Assistência Haiti".

Através das orações, doações e serviços, que possamos responde a esta tremenda crise, sabendo que nosso Senhor será fiel em trazer conforto e cura através de nosso testemunho de Seu amor.

Com amor paternal em Cristo,

+DEMÉTRIOS
Arcebispo da América

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Encíclica Patriarcal de Natal 2009

A Igreja Ortodoxa Sérvia
para seus filhos espirituais no Natal, 2009





+AMPHILOHIJE

Pela Graça de Deus,
o Metropolita Ortodoxo de Montenegro e da Costa, Locum Tenens do trono dos Patriarcas da Sérvia, com todos os Hierarcas da Igreja Ortodoxa Sérvia, para todo o clero, monásticos, e todos os filhos e filhas de nossa Santa Igreja: graça, misericórdia e paz de Deus, Pais e Nosso Senhor Jesus Cristo, e o Espírito Santo, com uma jubilosa saudação de Natal:

Paz de Deus! Cristo Nasceu!

Mais uma vez, este ano, queridos filhos espirituais, estamos perante o berço do Menino Deus, Jesus Cristo. O enorme mistério, além de qualquer compreensão, do nascimento de Deus, o Logos, deu-se em uma humilde caverna em Belém, a qual, daquele momento em diante por todos os tempos, tornou-se o centro do mundo – o centro da Glória de Deus e a fonte de conforto para todos os que buscaram a Deus ao longo da história humana.  O grande pai da Igreja, S. João Crisóstomo, quando falando da Festa da Natividade, diz: “Honrem, irmãos, os dias de festas, mas acima de todos, o dia da Natividade de Cristo, pois quem chamar o nascimento de Cristo a mãe de todas as festas, não cometerá erro...”. Da festa da Natividade de Nosso Senhor, todos os demais dias de festa emergem, como rios de suas nascentes. De acordo com o santo Crisóstomo, o nascimento de Cristo é uma nova criação do mundo, e a Encarnação de Deus, o Logos, é a pedra fundamental de tudo. Outro grande pai da Igreja, S. Gregório, o Teólogo, inicia a homilia da Natividade com esta doxologia (glorificação de Deus):

Cristo nasceu – vamos glorificá-lO!
Cristo veio dos céus – vamos dar-Lhe boas vindas!
Cristo está na terra – sejamos erguidos!
Cantai ao Senhor toda a terra!

E ele continua:

Que o povo que está na trevas da ignorância veja a grande luz do conhecimento de Deus. O velho passou – veja, tudo se tornou novo! A letra do Velho Testamento recua – o Espírito toma conta; as sombras desaparecem – a Verdade chega.

De acordo com a narrativa dos Santos Evangelistas, o Senhor Jesus Cristo nasceu no tempo do imperador romano Augusto, em Belém da Judéia, a cidade dos profetas e do Rei Davi, de cuja descendência, de acordo com as profecias dos profetas do Velho Testamento, nasceria o Messias prometido por Deus – o Salvador do mundo.

São Gregório Palamás, o teólogo da luz de Belém e do Tabor, em sua homilia da Natividade revela o profundo significado da vinda do Messias: “Com a encarnação e nascimento do Cristo-Messias no mundo, júbilo universal e paz foram concedidos ao mundo. Escutem o final da canção do anjo, o portador das boas novas e você perceberá – ele diz: “Glória a Deus nas alturas, e na terra paz e boa vontade entre os homens” (S. Lc. 2:14); pois Deus veio em carne para nos trazer Sua paz ao mundo e para reconciliá-lo com o Pai Altíssimo”. A paz de Cristo não é a mesma paz deste mundo. S. Gregório Palamás chama a paz do Natal de “espírito de adoção, porque aqueles que portam esta paz com fé tornam-se herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rom. 8:17). É por isso que, de acordo com este mesmo santo, apenas aqueles que vivem em amor uns com os outros, e que, de acordo com as palavras do Santo Apóstolo Paulo “toleram uns aos outros, e perdoam uns aos outro...assim como Cristo os perdôou”, vivem no mesmo Salvador e no espírito do Natal (cf. Col. 3:13).

O Deus distante e exaltado, Que no Velho Testamento conversou om Moisés no Monte Sinai (ver Ex. 3:5), com o nascimento de Cristo curvou-se dos céus e se tornou “Emmanuel”, o que significa, “Deu conosco” (S. Mat. 1:23), sem perder nada de divino. S. João de Damasco nos confirma isso quando ele fala da natividade de Cristo dizendo: “É por isto que não dizemos que Ele é um homem feito Deus, mas que Ele é Deus que Se fez homem: porque sendo Ele perfeito Deus por sua natureza, ele se tornou perfeito homem sem mudança de sua própria natureza e divina economia.”

O recém-revelado Pai Justino de Celije disse que “no Natal Deus, por seu amor imensurável, entrou na história, pela graça do Espírito Santo, encarnou-se da Sempre-Virgem Maria, a Teotokos, e tornou-se um homem real.” Deste modo, na Criança recém-nascida – o Menino Deus Jesus Cristo – recebemos todo abundante dom do Reino Celestial. Ele trouxe Consigo Verdade Eterna, Justiça Eterna e Vida Eterna, a qual, de acordo com S. Máximo o Confessor, nós experimentamos adiantadamente na vida e Liturgia da Igreja de Cristo. A festa do Natal dividiu toda a história da humanidade em duas partes – no tempo da espera e no tempo da salvação. A espera bíblica pelo Messias e Salvador já havia se iniciado com a promessa feita aos primeiros criados Adão e Eva(ver Gen. 3:15), e mais concretamente a nosso ancestral Abraão, a quem Deus prometera  que em seus descendentes todos os povos seriam abençoados (ver Gen 22:18), a qual foi concretizada precisamente pelo Nascimento do Homem-Deus, Jesus Cristo.

Todos os profetas do Velho Testamento apontam para o grande mistério do nascimento do Messias. Portanto, olhando o Velho Testamento com os olhos do Santo Apóstolo Paulo, podemos repetir com ele que o Velho Testamento é, todo ele, “nosso tutor para nos trazer a Cristo”, (Gal. 3:24), um instrutor que antes de Cristo apontou todas as almas que amam a Deus para a caverna de Belém. Por outro lado, os Três Magos do Oriente, que a Estrela cheia de graça de Belém levou ao local onde Cristo nascera, significa, de acordo com a interpretação dos Santos Padres, todo o mundo politeísta, o qual, através de sua filosofia dos homens (cf. Col. 2:8), não conseguia penetrar nas profundezas dos mistérios da Encarnação de Deus. Tanto para as almas que amam a Deus quanto para o  mundo politeísta, o anjo celestial revelou durante o Nascimento de Cristo, o grande mistério da salvação do mundo, dando as Boas Novas para os pastores de Belém e através deles para todos nós: “Não temam, mas contemplem, eu lhes trago novas de júbilo que são para todos os povos. Pois vos nasceu neste dia, na cidade de Davi, um Salvador, que é Cristo, o Senhor” (S. Lc. 2:10-11). Desde aquela proclamação de boas novas aos pastores de Belém até hoje em dia, o Nascimento de Cristo é o dia de festa da alegria terrena e celestial, na qual os anjos e os santos participam juntos, mas também toda alma que ama a Deus, iluminada pela luz de Belém. Como os Três Reis Magos do Oriente que vieram adorar o Menino-Deus Jesus Cristo, todos nós fomos chamados para adorá-lO também, e oferecer nossos dons ao Rei dos Céus (cf. S. Mt. 2:2). Não é todo bem de Deus que fizemos este ano nosso maior presente ao Menino-Deus? Se alimentamos os famintos, se saciamos os sedentos, e visitamos os doentes, ao fazê-lo não ofertamos nossos dons a Deus? Se glorificamos Deus com nossa vida, vivendo de forma santa e agradável a Deus, ao fazê-lo não oferecemos o ouro de nossas virtudes ao Menino Deus? Se amamos a Igreja de Deus e com diligência adornamos a Casa do Senhor, ao fazê-lo não oferecemos um sacrifício agradável a Deus? Se reconhecemos o sofrimento de nossos irmãos, e se os confortamos com nossos trabalhos, ao fazê-lo não foi ao próprio Cristo que o fizemos? (cf. S. Mt. 10:42).

Vejam, em retribuição ao Seu amor ilimitado, Cristo, o Menino-Deus, espera tais dons de nossa parte. É por isto que o Natal é também a festa antes da qual re-examinamos nossa fé e tudo que nós,  enquanto criaturas de Deus e filhos e filhas de Deus, somos chamados a fazer, como dizia tão frequentemente nosso Patriarca Pavle de abençoada memória.

Nesta época da Natividade estamos particularmente cheios de jubilosa tristeza, eis que nosso Patriarca Pavle nos deixou e foi da terra para o céu. Cremos profundamente que ele, de acordo com a liberdade que lhe foi dada por Deus, “com todos os santos de nossa nação” continua a oferecer suas orações por nossa Igreja e nosso povo crucificado, junto com São Savas, São Simeão, Vertedor de Mirra, e todos os nossos santos ancestrais que reconheceram e receberam o Patriarca Pavle “como um dos seus e seu igual”. Neste Natal, também lembramos todos aqueles que estão aflitos, os sofredores, os exilados, todos os injustiçados; queremos confortá-los com estas palavras: Cristo Nasceu! Alegrai-vos, pois contemplem, o Senhor vem para limpar todas as lágrimas humanas (ver Apocalipse 21:4).

Com Seu Nascimento na terra, Cristo santificou cada aspecto da vida humana – da concepção à morte e ressurreição. É por isto que a Natividade nos lembra de não levantarmos a mão contra o fruto de nossos ventres, mas, ao invés, vivermos de acordo com o mandamento de Deus: “Frutificai e multiplicai-vos; preencham toda a terra” (Gên. 1:28). Respeitando esta benção de Deus, as lágrimas de Raquel por nosso povo e por nossas crianças que não vivem mais (ver S. Mat. 2:18) iriam cessar, e a vida inextinguível que emerge na caverna de Belém iria florescer.

Nesta época do Natal, também estamos com nossos irmãos e irmãs do Kosovo e da Metohija – o berço de nosso povo. No amor de Cristo, pedimos a eles que retornem a seus lares  no Kosovo e para permanecerem lá para viverem com seus santos templos, salvaguardando nosso Kosovo, aquele “desafortunado lugar de julgamento”. Jamais percamos a esperança de que Deus irá iluminar as mentes daqueles a quem Ele deu o poder terreno e controle sobre os países e povos; que eles, no espírito da justiça divina e humana, reexaminem suas decisões injustas sobre o Kosovo e a Metohija. Apenas desta forma haverá paz e comunidade nos Bálcãs e a Europa se renovará, e a dignidade ferida do povo ortodoxo sérvio será restaurada. Também oramos para que o Recém-nascido Rei da Paz que erradique as guerras, a violência e a injustiça em toda parte do mundo, para que finalmente a paz e a justiça possam reinar entre os povos e nações.

Saudamos todo o nosso povo que ama a Deus, com a saudação de Belém, pedindo que preservemos a nossa fé ortodoxa, nossa língua e nosso alfabeto, qualquer que seja o continente onde vivamos. Nós, sérvios, somos uma nação cristã antiga, porque através do batismo por Cirilo e Metódio, e da iluminação por S. Sava, nós tornamos parte da cultura de todo o mundo cristão. Desta forma, deixamos uma marca indelével na história e civilização da Europa moderna e do mundo, associando-nos, de uma vez para sempre, ao seu futuro. A Natividade de Cristo sempre nos convoca a todos a viver o amor fraterno, no Amor de Deus e em humildade evangélica, vivendo do trabalho de nossas mãos e apegando-nos aos ensinamentos do Novo Testamento: que não façamos aos outros nada que não gostaríamos que fizessem a nós (cf. At. 15:29).

Resumindo este grande e inconcebível mistério da Natividade, São Gregório, o Teólogo, disse: “Este é nosso dia santo. É isto que celebramos hoje: a vinda de Deus à humanidade, para que pudéssemos ir a Deus; ou para dizer de forma mais adequada: para que pudéssemos retornar a Deus; para que pudéssemos despir-nos do velho homem e vestir o novo, e para que, assim como todos morremos em Adão, possamos vir à vida nova em Cristo, que possamos nascer novamente em Cristo, e ser crucificados com Ele, e sermos enterrados com Ele, e sermos ressuscitados com Ele.”

Concluindo nossa encíclica da Natividade com as palavras  deste divinamente sábio pai da Igreja, saudamos a todos vós, nossos queridos filhos espirituais, e saudamos todos os povos de todas as nações com a toda-jubilosa saudação de Belém e da paz:

A PAZ DE DEUS – CRISTO NASCEU!

Escrita no Patriarcado Sérvio em Belgrado, no Natal de 2009.
Vossos intercessores perante o berço do Divino Infante Cristo:

O locum tenens do trono dos  Patriarcas sérvios,
Metropolita de Montenegro e da Costa AMPHILOHIJE
Metropolita de Zagreb e Liubliana JOVAN
Metropolita de Libertyville-Chicago CHRISTOPHER
Metropolita de Dabro-Bosna NIKOLAJ
Bispo de  Savas-Valievo LAVRENTIJE
Bispo de  Nis IRINEJ
Bispo de Zvornik-Tuzla VASILIJE
Bispo da Sírmia VASILIJE
Bispo de  Bania Luka JEFREM
Bispo de  Budim LUKIJAN
Bispo do  Canadá GEORGIJE
Bispo de  Banat NIKANOR
Bispo de  New Gracanica-Centro-Oeste dos EUA LONGIN
Bispo do  Leste dos EUA MITROPHAN
Bispo de  Zica CHRYSOSTOM
Bispo de  Backa IRINEJ
Bispo da Grã-Bretanha e Escandinávia DOSITEJ
Bispo de  Ras e Prizren ARTEMIJE
Bispo de  Bihac e Petrovac CHRYSOSTOM
Bispo d  Osijek e Baranja LUKIJAN
Bispo da Europa Central CONSTANTINE
Bispo da Europa Ocidental LUKA
Bispo de  Timok JUSTIN
Bispo de  Vranje PAHOMIJE
Bispo de  Sumadija JOVAN
Bispo da  Eslavônia SAVA
Bispo de  Branicevo IGNATIJE
Bispo de  Milesevo FILARET
Bispo da  Dalmácia FOTIJE
Bispo de  Budimlie e Niksic JOANIKIJE
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Bispo d  Valievo MILUTIN
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A ARQUIDIOCESE DE OCHRID
Arcebispo de Ochrid e Metropolita de Skoplje JOVAN
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Bispo Auxiliar de  Stobija DAVID                                                                                      

Tradução: Fabio L. Leite

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Meus Dois Centavos Sobre o Capitalismo



Caro leitor,

abaixo você encontrará a tradução que fiz da transcrição de um dos programas de podcast do Prof. Dr. de Filosofia Clark Carlton. O professor Carlton dá aulas de história da filosofia, lógica e filosofia da religião na Tennessee Tech University. Você pode escutar os podcasts dele, em inglês, neste endereço:


Transcrição

Venham e pedi-me a prestação de contas, diz o Senhor. Embora vossos pecados sejam escarlates, eles serão brancos como a neve; embora sejam vermelhos carmim, serão como a lã. Se fordes obedientes e o quiserdes, comereis o fruto da terra.

Olá, e bem-vindos mais uma vez ao “Fé e Filosofia”. O assunto de hoje é “Meus Dois Centavos sobre o Capitalismo”. Irei retornar ao tópico da linguagem teológica nos podcasts futuros, e quando o fizer, quero dar um foco especial nas Escrituras e como devemos lê-las.

Mas hoje, quero fazer um pequeno desvio. Eu tenho me colocado em dia com vários dos últimos podcasts aqui na Ancient Faith Radio. E fiquei intrigado com uma série deles sobre o capitalismo. Sendo assim, enquanto o assunto ainda está fresco na minha cabeça, eu quero contribuir com meus dois centavos.
O que se segue não busca ser uma refutação do que quer que tenha sido dito por alguém aqui. Ao invés, meus comentários têm o objetivo de clarificar os termos e questões que têm sido levantados. A única crítica que tenho sobre as discussões anteriores é que houve uma falta de contexto histórico. Tentar definir os termos abstratamente, sem referência a seus desenvolvimentos históricos, irá inevitavelmente levar a distorções.

Basicamente, quero detonar com dois mitos que cercam o capitalismo, e daí meus dois centavos. O primeiro mito é que o capitalismo depende da propriedade privada e do livre-mercado. O segundo é que o progressismo e o socialismo são alternativas reais ao capitalismo.

Vamos começar com o primeiro mito, e isso com certeza vai levantar algumas sobrancelhas. Historicamente, o capitalismo tem se provado um inimigo da propriedade privada, não seu defensor. É, é, eu sei. Todos nós já ouvimos quem defina o capitalismo como posse privada de propriedade, em contraste com o socialismo que seria a posse pública do capital.

Mas esta definição é enganadora e pouco útil. As pessoas já possuíam propriedade privada por milênios antes do surgimento do capitalismo. Os romanos reconheciam a posse privada, assim como os gregos e os judeus. A propriedade privada não é uma invenção moderna. De fato, o republicanismo clássico dependia da posse privada da propriedade e, portanto, nas virtudes da classe de cidadãos proprietários.

Karl Marx recebeu bem e elogiou o capitalismo. Aposto como você não ouviu isso nas escolas públicas. Você diz, “Marx queria eliminar a propriedade privada”. E queria mesmo. Mas ele via o capitalismo como um estágio necessário no desenvolvimento sócio-econômico da humanidade – um desenvolvimento que, segundo ele acreditava, levaria inexoravelmente a uma utopia comunista.

Dito de outra forma, o capitalismo é essencial para a concentração da propriedade nas mãos de alguns poucos. Isto alcança duas coisas dentro da perspectiva comunista: acentua as desigualdades socioeconômicas até o ponto no qual o proletariado irá se erguer em revolução, e deixa a transição para o comunismo mais fácil porque apenas uns poucos são donos da propriedade.

Além disso, o capitalismo prospera apenas em mercados controlados, não em livre-mercados. Algumas das discussões nos podcasts focavam no capitalismo laissez-faire. Vamos deixar uma coisa clara. Tal coisa não existe. Nunca existiu. Nunca existirá. Capitalismo laissez-faire é uma fantasia libertária, e os libertários têm sido descritos, corretamente, como os utópicos da direita.

O capitalismo, da forma que se desenvolveu historicamente, não está fundamentado nas trocas do livre-mercado, mas na manipulação do mercado pelos governos para o benefício dos capitalistas – ou, pelo menos, de alguns capitalistas.

Primeiro de tudo, o capitalismo só pode existir onde a economia tenha sido monetarizada. Seria impossível em uma economia de escambo. Uma economia monetarizada, por sua vez, necessita de um sistema monetário de algum tipo, o que vai exigir um sistema bancário e, tão importante quanto, algum tipo de base governamental ou política para o dinheiro.

Desde o início, os capitalistas dependeram dos governos para beneficiá-los através de tributações monetárias e políticas comerciais. O capitalismo e o mercantilismo andam de mãos dadas. Os industriais do século XIX não ficaram podres de ricos pela manipulação do livre-mercado. Eles ficaram ricos graças a políticas monetárias federais, políticas tributárias, gastos públicos em coisas como linhas férreas, e altas tarifas que os protegiam da livre competição.

Francamente, é impossível ficar rico como os Vanderbilts ou os Rockfellers, ou mesmos os Bill Gates e Warren Buffets da vida, sem uma manipulação governamental gigantesca dos mercados – especialmente através de políticas monetárias e políticas de taxas. Algumas pessoas se tornam ricas com essas manipulações. Outras ficam pobres. Não tem nada a ver com a sobrevivência do mais adaptado, mas com quem você conhece ou quão bem você pode manipular o sistema a seu favor.

O que me traz ao segundo mito, que diz que o progressismo e o socialismo oferecem alternativas genuínas ao capitalismo. Se o capitalismo tratasse de propriedade privada e livre-mercados, então estas coisas seriam alternativas. Mas o capitalismo na verdade promove a concentração de riqueza e a socialização dos riscos da economia, enquanto o socialismo não passa de um lado diferente do mesmo sistema econômico corrupto.
Eu costumo dizer que os evangélicos constituem o grupo mais burro de eleitores nos EUA, porque você quase sempre pode contar que eles irão votar contra seus próprio interesses – basta que um político diga algo legal sobre Jesus e finja se opor ao aborto. Depois dos evangélicos, entretanto, eu colocaria os auto-proclamados progressistas, que realmente acreditam que apoiando coisas como regulamentação governamental e serviço universal de saúde, estão enfrentando a elite em nome dos pequenos e frágeis. Total e completo esterco de cavalo.

Vou dar um exemplo. Este ano o congresso americano concedeu ao FDA a competência de regular o tabaco – uma grande vitória para os consumidores e defensores da saúde contra as grandes e malvadas corporações, certo? Na verdade não. O que mudou o rumo das coisas foi que as grandes empresas deixaram de se opor à lei. Eles descobriram que as novas regulamentações iriam lhes dar uma vantagem competitiva contras as empresas de tabaco menores, já que as incontornáveis regulamentações da FDA seriam mais custosas para os pequenos produtores.

De fato, na maioria dos casos, a regulamentação governamental tende a beneficiar as grandes corporações e colocar grandes fardos nas pequenas empresas. Tudo isso pode ser percebido se estudarmos a história dos EUA. Ao contrário do que diz a mitologia do livro escolar, os primeiros colonizadores não eram minorias religiosas buscando a liberdade.

Tanto a Massachusetts Bay Company quanto a Virginia Company eram corporações visando lucros com acionistas na Inglaterra, e que estavam esperando uma admirável compensação por seus investimentos. Desde o início, entretanto, houve tensões entre os colonos e seus senhores corporativos. O que a maior parte das pessoas não se dá conta é que uma boa parte da legislação parlamentar, contra a qual os colonos reclamavam tanto, fora passada sob as ordens e para o benefício da Compania das Índias Orientais.
No fim do século XVIII, a Compania havia se tornado tão rica e poderosa – ela chegou a possuir exército e marinha próprios – que na prática o Parlamento e a Coroa estavam comprados e no seu bolso. Assim, quando os colonos reclamavam contra a tirania, era na verdade a tirania corporativa, embora manifesta através dos atos de um parlamento marionete.

Quando os colonos alcançaram a independência, dois caminhos distintos estavam à sua frente. Jefferson queria uma ruptura completa com o velho sistema mercantilista, capitalista. Ele imaginava uma república de repúblicas menores, baseada em uma vasta rede de propriedades privadas agrárias e pequenos negócios. Ele alertava contra as temíveis conseqüências se acionistas e banqueiros chegassem a ter a predominância. Ele acreditava que para os direitos de propriedade e a liberdade serem preservados, o poder político devia ser o mais descentralizado possível.

Do outro lado do debate estava Alexander Hamilton. Ele queria reproduzir o mercantilismo inglês deste lado do Atlântico e derrotar os ingleses em seu próprio jogo. Ele imaginava os Estados Unidos como um furacão militar e econômico. Para se alcançar tal coisa, entretanto, tanto o poder político quanto o capital financeiro teriam que ser concentrados.

Pela primeira metade do século XIX, os jeffersonianos contiveram os hamiltonianos. Mas em 1860, tudo mudou. A eleição de Abraham Lincoln colocou os EUA solidamente no caminho de se tornar um império mercantilista, e temos pago o preço disso desde então.

Vou detonar um outro mito agora. O Partido Republicano não é, nem nunca foi um partido conservador. Ele foi fundado em 1850 por uma coalizão de elites corporativas e progressistas sociais, e continua assim até hoje. O programa republicano de um banco nacional, melhorias internas financiadas publicamente, e tarifas altamente protetoras criaram não apenas riqueza jamais vista nesse país, mas também criaram uma corrupção como jamais vista – tanto privada quanto governamental.

As reformas progressistas da primeira parte do século XX não foram um repúdio do capitalismo mercantil, mas apenas um realinhamento em posições diferentes. A regulamentação governamental se tornou o preço da larga generosidade do governo. Não nos esqueçamos que o republicano Teddy Roosevelt se tornou um dos fundadores do Partido Progressista.

Até 1931, o Partido Democrático ainda era o mais conservador dos dois partidos, mas isso mudou com a eleição de Franklin D. Roosevelt, cuja família, não esqueçamos, havia sido republicana. Reparem no programa democrata de 1932. É praticamente o oposto especular do que Roosevelt de fato executou no posto. A eleição de 1932 foi uma das grandes farças de todos os tempos.

Tudo isto explica, aliás, porque as políticas de Obama pouco diferem das de George Bush. Obama apoiou os planos de subsídios antes de ser eleito e seu governo deu continuidade às mesma políticas desastrosas de subsidiar bancos e desvalorizar os dólares nas contas bancárias de pessoas que realmente tem que trabalhar para viver. Nada mudou.

Para voltar à pergunta feita nos outros podcasts, seria o capitalismo compatível com o Cristianismo Ortodoxo? Bem, a resposta é não. Mas o progressismo não oferece uma alternativa real. O capitalismo é um sistema econômico modernista e o progressismo é um paleativo modernista – não uma alternativa.
A única alternativa real ao capitalismo é algo na linha do que Jefferson havia planejado, o que é parecido com a visão dos distributivistas católicos, tais como Belloc e Chesterton, e com a terceira via do economista protestante Wilhelm Röpke. O fundamento de um tal sistema é uma vasta rede propriedades privadas e governo descentralizado.

Quero salientar que a palavra grega ekonimia significa administração doméstica. Wall Street não é a economia. A economia é como você provê para si mesmo e para sua família e como você trata seus vizinhos no processo. Entretanto, tem se tornado cada vez mais difícil prover para nós mesmos quando nossas economias são desvalorizadas por políticas governamentais e nossas pequenas fazendas e negócios são regulamentados em cada centímetro para o benefício das grandes corporações.

Gostaria de concluir com alguns comentários concernentes ao protestante Wilhelm Röpke. Estes comentários foram feitos por Ralph Ansel, em um excelente artigo que ele escreveu:

Para um protestante que considerava a situação criada pela Reforma como de uma das grandes calamidades na história, ele devia ter dificuldades em encontrar seu lar religioso tanto no protestantismo contemporâneo, o qual em seu caos e falta de orientação está pior do que jamais esteve, ou no contemporâneo catolicismo pós-reforma. Tudo que ele pode fazer é reunir, em si mesmo, os elementos essências do cristianismo indiviso pré-reforma. E nisto, eu acho que estou na companhia de homens cuja boa-vontade, pelo menos, não é duvidável.

Nós sabemos, naturalmente, que o Cristianismo indiviso não necessita ser, de fato não pode ser, reunido porque ele já existe na Igreja Ortodoxa. Mas esta passagem é um lembrete de que a solução dos dilemas econômicos do homem moderno não estão no modernismo, mas na fé e vida de uma vez por todas entregue aos santos.

Apenas a Ortodoxia é capaz de oferecer não apenas uma crítica da modernidade, mas de apontar-nos soluções reais. Não podemos dar o testemunho da verdade que o mundo precisa, porém, enquanto continuarmos a tentar contemporizar com sistemas econômicos e políticos que, por sua própria natureza, minam a fé que temos e a vida que buscamos levar.

E finalmente, que nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo, através das interseções de Sto. Inocêncio do Alasca e do Abençoado Ancião Sofrônio Sakharov, tenha piedade de nós e nos conceda uma rica entrada em Seu Reino eterno.