sábado, 22 de maio de 2010

Primazia, Colegialidade e Unidade da Igreja


Conclusões da conferência da Santa Metrópole de Pireu
Tema: "Primazia, Colegialidade e Unidade da Igreja"
Realizado no S.E.F. (Estádio Paz & Amizade), Pireu, Grécia, em 28 de abril de 2010



Tradução: Ricardo Williams
Fonte:

“A ‘primazia’ papal não possui fundamento teológico, carece de bases eclesiológicas sólidas e não é legitimada pelo Espírito Santo. É uma posição claramente baseada em uma compreensão mundana do conceito de autoridade”. Este foi o destaque da conclusão da conferência teológica organizada pela Santa Metrópole de Pireu no Estádio Paz & Amizade, Salão Melina Mercouri, em 28 de abril de 2010, e que contou com a participação de um grande número de leigos e clérigos.

A abertura da conferência ficou a cargo de Sua Beatitude Jerônimo, Arcebispo de Atenas e toda a Grécia, que enobreceu o evento com sua presença. Também estavam presentes Sua Eminência Serafim, Metropolita de Citera; Sua Eminência Paulo, Arcebispo de Glifáda; e Sua Eminência Melitão, bispo de Maratona.

O tema “Primazia, Colegialidade e Unidade da Igreja” foi discutido em duas sessões, que contaram com a presença de sete palestrantes: Sua Eminência Serafim, Metropolita de Pireu; Hieromonge Lucas Gregoriatis; Professor Aristides Papadakis da Universidade de Maryland, EUA; Protopresbítero George Metallinos; Protopresbítero Theodore Zisis; Protopresbítero Anastasios Gotsopoulos; e Professor Dimitrios Tselengidis.

Através das apresentações e discussões subseqüentes, conclui-se que: a unidade é parte intrínseca da natureza da Igreja, que é tanto o Corpo de Cristo como a Comunhão com Cristo. Existe apenas uma única Igreja verdadeira. A unidade da Igreja em todas as suas interpretações – estrutural ou carismática (isto é, plena de graça) – está claramente fundamentada no Espírito Santo. Ela possui caráter místico mas é mantida e cultivada principalmente por meio da Santa Comunhão.

De acordo com a “Confissão de Fé” do Sínodo de Constantinopla de 1727: “Assim sendo, a Igreja não reconhece a existência de qualquer outra cabeça, seja quem for, além de Nosso Senhor Jesus Cristo, enviado pelo Pai e pedra fundamental da Igreja”. Segundo a eclesiologia Ortodoxa, não existe por via de regra uma “primazia” indefinida e à parte de um sínodo local.

O conceito de posição de honra (termo utilizado na tradição eclesiástica Ortodoxa, ao invés do termo tardio “primazia” utilizado pelos papistas) expressa e assegura a unidade e a colegialidade da Igreja Católica Ortodoxa. A Igreja deu forma ao conceito de posição de honra durante o primeiro milênio através da hierarquia dos tronos patriarcais.

A autoridade do “primaz” deriva de sua posição de honra e é fruto da colegialidade da Igreja; por outro lado, a autoridade que os papas clamam para si desde o fim do primeiro milênio é resultado da abolição da organização sinodal da Igreja.

Durante o primeiro milênio da Igreja, os conceitos de primazia papal “por direito divino” de jurisdição ou de autoridade universal sobre a Igreja eram inexistentes. Pelo contrário, a Igreja detinha o direito de deliberar sobre suas questões administrativas sem a anuência do bispo de Roma, e estas decisões sempre foram universalmente válidas.

Após o cisma de 1054, as pretensões cada vez maiores dos papas em afirmar sua primazia sobre toda a Igreja subverteram completamente a estrutura do corpo místico da Igreja inspirada pelo Espírito Santo. Desse modo, a colegialidade – como uma função do Corpo de Cristo inspirada pelo Espírito Santo – torna-se um conceito fortuito, que é posteriormente abolido e substituído por uma mentalidade mundana. A primazia papal anula a igualdade dos bispos, distorce a autoridade administrativa plena da Igreja e despreza a essência do Teântropos (Deus-homem) ao fazer de um homem a cabeça visível da Igreja, repetindo, assim, o pecado ancestral dentro desta instituição.

Só pode haver união verdadeira quando há unidade de fé, culto e administração. Este é o modelo de união existente na Igreja antiga e que a Igreja Ortodoxa mantém inalterado até hoje. O uniatismo apresenta uma falsa união baseada em uma eclesiologia herética, pois permite a divergência de fé e culto, sujeita a unidade da Igreja ao reconhecimento da primazia papal – instituída pela justiça humana – e solapa a estrutura administrativa sinodal da Igreja – instituída pela justiça divina. A diversidade só é aceitável em questões secundárias de tradições e costumes locais.

Após o Concílio Vaticano I (1870) e, especialmente, o Concílio Vaticano II (1962-1964) a primazia papal deixou de ser uma simples asserção administrativa para se tornar um dogma de fé absolutamente necessário para a salvação dos fiéis. Negá-la resulta em excomunhão, conforme as resoluções do Concílio Vaticano I, cuja validade foi reafirmada no Concílio Vaticano II.

Como anfitrião da conferência, o Metropolita Serafim de Pireu enfatizou em sua apresentação que: “devido à doutrina blasfema e herética da primazia papal, incluindo aí suas ramificações espirituais – tais como a ‘infalibilidade’ do papa e seu despotismo monárquico e autocrático sobre a comunidade religiosa que está sob sua autoridade – o Papismo tornou-se um sistema monárquico-autocrático de ideologia mística e uma distorção do legítimo significado da Igreja. Ele é nada além de etnicismo franco-romano (paganismus) moderno disfarçado de espiritualidade, responsável por roubar a liberdade mística em Cristo dos membros da Igreja, por ser a causa inevitável e fatídica da apostasia e divisão da Igreja una, santa, católica e apostólica no Ocidente em uma miríade de heresias divergentes, e que hoje se apresenta como um obstáculo insuperável para seu possível retorno à Ortodoxia”.

Além disso, nos atuais diálogos teológicos entre Ortodoxos e católicos romanos, os participantes Ortodoxos devem buscar, em sua tentativa de restabelecer a comunhão eclesiástica, não somente a eliminação de doutrinas heréticas romanas (Filioque, graça criada, infalibilidade, purgatório, etc.), mas também a eliminação definitiva da primazia papal – e não apenas buscar uma interpretação aceitável por ambas as partes.

E, finalmente, consideramos que o modelo sincrético de “unidade na diversidade” é inaceitável e não será aceito jamais como “um modelo para a restauração da comunhão plena”

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