quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O Que a Igreja Ortodoxa Não É - 06/11

Alexei Khomiakov



por Sua Eminência Jeremias (Foundas) de Gortyna e Megalópolis (Grécia)

Não ao Misticismo Russo e ao Anti-Hesicasmo Grego
Próximo: Não à Tese da Influência dos Filósofos Gregos sobre os Pais Gregos


Durante a metade do século 19, alguns intelectuais russos ficaram muito impressionados pelo hesicasmo ortodoxo da Montanha Santa (Monte Athos), que havia chegado na Rússia. Entretanto, eles não apreenderam sua profundidade, pois a incorporaram nas suas teorias de superioridade eslava. Isto é, eles diziam que o hesicasmo do tipo “gerondico” era uma característica sua e que era uma característica da tradição e mentalidades russas, e não pertenciam ao Cristianismo Latino ou ao Grego, como o chamavam. (15)

Dessa forma, os russos acreditavam que haviam superado os “gregos” e seu escolaticismo; haviam superado com seu hesicasmo russo. Graças à intensa propaganda russa no Ocidente, essa ideia de uma superioridade do escolaticismo e hesicasmo russos tornou-se parte da consciência heterodoxa, mas também em nossa terra, Grécia. Como resultado, temos a ignorância e mesmo deboche, mesmo na Grécia, por parte de algumas pessoas contra a teologia patrística e o hesicasmo ortodoxo. E chegamos na situação na qual até teólogos gregos buscam os estrangeiros para ter orientação porque eles, supostamente devido à sua identidade natural e idiossincrasias, entenderiam de teologia e hesicasmo melhor do que nós. Era exatamente isso que os eslavófilos proponentes de Alexis Khomiakov propagandeavam em altos brados: que eles, eslavos, devido a idiossincrasias e mentalidade naturais, tinham entedido o Cristianismo melhor do que os “Latinos” e os “Gregos”!

Errado! Os Pais Aguioritas (provindos do Monte Athos) entraram na Rússia através da Moldávia e levaram o hesicasmo para eles. Esses missionários eram Romanos de língua grega e não eslavos. Além disso, a Graça de Deus, que nos santifica e glorifica (teósis), não tem nenhuma relação com chauvinismos nacionalistas, mas ao invés, visita e fortalece todo homem que busca Deus, qualquer que seja sua nação, para que ele viva o Mistério de nossa fé e alcance a santidade. O que o professor Pe. John Romanides escreve sobre isso é muito bonito:

“O alicerce do hesicasmo é a teósis (deificação/glorificação), que triunfa sobre a natureza e torna os homens divinos pela graça. Tal é a fonte da mais alta compreensão possível da teologia, que transcende a natureza do logos (fala, razão) e do nous do homem . Ela não tem nada a ver com chauvinismos nacionalistas. O fato de que a maioria dos glorificados (os que atingiram a teósis) durante o curso histórico da Ecclesia terem sido Pais e Santos romanos de língua grega não significa que os fiéis de outras línguas e nacionalidades não podem igualmente tornarem-se portadores de Deus; mas também não significa que eles podem tornarem-se maiores teologicamente e espiritualmente. Certamente encontramos estágios mais avançados de Teósis tais como Ellamcis (iluminação), Thea (Visão), e Synechis Thea (Visão Continua); mas eles nada têm a ver com idiossincrasias étnicas. Os Apóstolos no Monte Tabor e durante o Pentecostes receberam a teósis no mais alto grau possível nesta vida, enquanto Moisés contemplou (teoria) a glória de Cristo no Monte Sinai por quarenta dias e noites. Não eram gregos, nem latinos, mas também não eram eslavos” (16).

O mesmo se aplica a Plevris (um conhecido politico nacionalista grego que renega o Velho Testamento porque é um “trabalho de judeus”), no que se refere às coisas blasfemas e não históricas que ele diz e escreve. Mas iremos lidar com tais blasfêmias não históricas em um estudo especial nosso.

Claro, teólogos gregos modernos não aceitaram o hesicasmo russo de forma absoluta, o assim chamado “misticismo russo”, e reagiram contra ele. Entretanto, ao invés de se voltarem para o verdadeiro e real hesicasmo de nossa Ecclesia, eles voltaram-se maravilhados, como uma contra-reação ao misticismo russo, para uma tradição que imaginavam ser não-hesicasta, e supostamente não ascética de grandes Pais que viveram antes de Fócios, e que imaginavam terem sido homens de ação e de contemplação filosófica (estocasmo) e não de misticismo. E esses lamentáveis gregos modernos acreditavam que pensando e agindo dessa forma estavam lutando contra o, de fato, equivocado misticismo russo; e que por outro lado estavam voltando para os Pais, os quais, porém, eles blasfemavam já que, por um lado davam por encerrada a era patrística com Fócio, o Grande, e por outro, já que tais gregos modernos não tinham experiência do hesicasmo, apresentavam os Pais como não-hesicastas, como homens sociais, homens de ação com estocasmo filosófico, mas certamente não como... monges inativos!

E o grande teólogo de nosso século, Pe. John Romanides, lamenta tal situação dizendo:

“Como resultado dos eventos acima completamente destrutivos para a Ortodoxia, temos que a teologia moderna dos russos e dos gregos modernos não apenas não contribui para integrar os jovens no monasticismo hesicasta tradicional, mas ao invés contribuiu para que alguns gregos modernos seguissem os russos no seu desprezo pelo monasticismo tradicional e na admiração pelas ordens monásticas francas. Dessa forma, as irmandades religiosas surgiram (na Grécia) com fortes sentimentos de inferioridade em relação ao Cristianismo Ocidental, cujos trabalhos eles traduziam e espalhavam entre a população ortodoxa helênica. A coisa estranha é que as irmandades religiosas reagiam instintivamente contra a teologia acadêmica dos gregos modernos, amava os Pais, mas ao mesmo tempo continuavam vítimas da percepção modernista dos Pais como apresentados acima, e imitavam uma imagem que tinham criado em suas mentes sobre eles, imagem que divergia do monasticismo hesicasta dominante durante a Turcocracia de uma maneira essencial. E isso acontecia porque eles aceitavam a questão da distinção entre os grandes Pais e os santos ascéticos de depois de Fócio, o grande, que supostamente não eram Pais.”(17)


15 Para entender melhor a importância da distinção feita por europeus e russos entre os cristianismos "latino" e "grego", veja o estudo do Pe. John Romanides "Romanity, Romania, Rumeli" Thessalonica 1975, Capítulo I.

16  Ibid p. 83

17 Ibid. p. 87, 88

Melancolia, Tristeza e Ansiedade - Terapia Espiritual Ortodoxa

Dia de São Porfírio - 2 de dezembro


Autor: São Porfírio (1906-1991)

O ponto crucial é entrarmos para a Igreja – nos unirmos aos nossos irmãos, às alegrias e tristezas de todos, sentir suas circunstâncias como se fossem as nossas, orar por todos, nos doermos pela salvação deles, esquecermos de nós mesmos, fazermos tudo pelos outros, como Cristo fez por nós. Na Igreja nos tornamos um com cada pessoa triste, com cada sofredor, com cada pecador. Ninguém pode planejar salvar-se sozinho, sem a salvação dos outros. É errado rezarmos pedindo para nos salvarmos. Devemos amar os outros e orar para que ninguém se perca, para que todos entrem para a Igreja. É isso que importa. E é com tal desejo que se deve sair do mundo para ir para um mosteiro ou para o deserto. 

Na igreja, que possui os mistérios (sacramentos) que salvam, não há desespero. Podemos até ser extremamente pecadores, mas confessamos, o padre lê a oração sobre nós e assim somos perdoados e caminhamos para a imortalidade, sem ansiedade, sem medo. 

Quem vive em Cristo, torna-se um com Ele, com Sua Igreja. É uma coisa louca! É uma vida diferente da vida humana. É alegria, luz, escuridão, é um impulso. Isso é que é a vida da Igreja, a vida do Evangelho, do Reino de Deus. “O Reino de Deus está dentro de vós” (S. Lucas 17:21). Cristo veio em nós e nós estamos nEle. E somos assim como um pedaço de ferro que se coloca no fogo se tona fogo e luz; e fora do fogo, novamente torna-se ferro negro, escuridão. 

Os que culpam a Igreja pelos erros de seus representantes, buscando supostamente ajudar em sua correção, estão grandemente enganados. Não amam a Igreja, e nem a Cristo, com certeza. Nós amamos a Igreja, quando em oração, abraçamos todas as suas partes, assim como Cristo faz. Nos sacrificamos, ficamos alertas, fazemos tudo exatamente como ele, Aquele “que, quando insultado não insultava de volta, quando sofria, não respondia com ameaças” (1 Pedro 2:23). 

Temos que prestar atenção também ao que é básico. Temos que viver os mistérios, especialmente o mistério da Santa Comunhão. É neles que a Ortodoxia é encontrada. Cristo é ofertado à Igreja através dos mistérios e primariamente através da Santa Comunhão. 

Entretanto, para muitos, nossa religião é um sofrimento, agonia e ansiedade. Por essa razão muitas pessoas “religiosas” são consideradas infelizes, pois os outros vêem o seu mal estar. De fato, se a pessoa não consegue ver a profundidade da religião e não a vive, a religião acaba sendo uma doença e das mais terríveis. Tão terrível, que a pessoa perde o controle de suas ações, torna-se de vontade fraca e impotente, fica em agonia e estressada, e comporta-se sob a influência de um espírito do mal (significando uma energia demoníaca). Ele prostra-se, chora, berra, é supostamente humilde e toda essa humildade é um teatro satânico. Para algumas dessas pessoas a religião é um tipo de inferno. Na Igreja prostram-se, fazem o sinal da cruz, dizem “somos pecadores indignos” e assim que saem, começam a blasfemar contra o que é santo assim que algo os perturba minimamente que seja. É claro que tem um demônio no meio dessa história. 

Na realidade, o Cristianismo transforma a pessoa e a cura. O pré-requisito mais importante, porém, para termos percepção e discernirmos a verdade é a humildade. O egoísmo escurece a mente, a confunde, a leva a enganos, a heresias. É muito importante que sejamos capazes de compreender a verdade. 

Todos os confusos estão indo para grupos heréticos – crianças confusas de pais confusos. 

Normalmente, nem obras, nem arrependimento, nem o sinal da cruz atraem a graça. O mais importante é evitar formas e ir direto à substância. Tudo que acontece deve acontecer com amor. 

Quando você não vive com Cristo, vive com a melancolia, a tristeza, o estresse, a aflição. Você não vive corretamente. Então muitas anomalias aparecem no seu corpo. O corpo é afetado, as glândulas endócrinas, o fígado, o baço, o pâncreas, o estômago. E te dizem: “Para ficar saudável, você deve tomar leite de manhã, um ovo, manteiga e pães torrados.” E porém, se você vive corretamente, se você ama Cristo, você fica bem com uma maçã e uma laranja. O maior de todos os remédios é oferecer toda sua vida em devoção a Cristo. Tudo é curado. Tudo funciona adequadamente. O amor de Deus transforma tudo; Ele altera, santifica, corrige, ele transforma, modifica; Ele muda tudo. 

Nada é comparável ao amor de Cristo. Ele não acaba, e mais é sempre melhor. Ele transmite vida, dá força, dá saúde, sempre doando tudo. Enquanto o amo humano pode desgastar uma pessoa ou enlouquece-la, quanto mais Ele se doa, mais queremos amá-Lo. Quando amamos Cristo, todos os outros amores retrocedem. Os outros amores têm um ponto de saturação. O amor de Cristo não. O amor carnal tem um ponto de saturação. Pode causar ciúme, reclamações e até assassinato. Pode transformar-se em ódio. Já o amor a Cristo não se deteriora. O amor mundano pode ser preservado por um tempo, mas então aos poucos se apaga, enquanto o amor divino continua crescendo e se aprofundando. Todos os outros amores podem levar a pessoa ao desespero. Mas o amor divino, nos eleva ao domínio de Deus, nos dá serenidade, alegria, completude. Outros prazeres nos cansam enquanto esse nunca é demais. É um prazer insaciável, do qual ninguém nunca se cansa. É o maior dos bens. 

Quando você ama Cristo apesar de suas fraquezas e até de ter consciência de todas elas, você tem a certeza de ter superado a morte, porque você reside na comunhão do amor de Cristo. 

Temos que sentir Cristo como nosso amigo. Ele é nosso amigo. Ele mesmo o confirma quando disse: “Vocês são meus amigos...” (S. João 15:14). Temos que olhar para Ele, e nos aproximarmos dEle como um amigo. Caímos? Pecamos? Devemos correr para Ele com um sentiment de familiaridade, com amor e confiança; não com medo de punições mas com a coragem que só um sentimento de amizade dá. E temos que dizer para Ele: “Senhor, eu fiz de novo, eu caí, me perdoe”. Mas ao mesmo tempo temos que sentir que Ele nos ama, que é com ternura e amor que Ele nos aceita de volta e nos perdoa. Não temos que ficar separados de Cristo por causa do pecado. Quando acreditamos que Ele nos ama e nós O amamos, não nos sentiremos isolados e divididos, mesmo quando pecamos. Temos segurança do amor dele, e não importa como nos comportemos, Ele nos ama. 

O Evangelho com certeza afirma simbolicamente que o injusto se encontrará onde há “choro e ranger de dentes”; é assim que é estar longe de Deus. E os pais népticos(*) da nossa Igreja podem falar de medo da morte e do inferno. Eles dizem “mantenha a morte na sua lembrança”. Se examinarmos essas palavras de perto, elas criam um medo do inferno. Quando o homem tenta evitar o pecado, ele traz esses pensamentos à mente para que sua alma se detenha por medo da morte, do inferno e do demônio. 

Todos têm seu significado, hora e ocasião. O medo, enquanto conceito, é bom durante os estágios iniciais. É para os iniciantes, para aqueles nos quais seu velho eu ainda vive. O iniciante, não tendo sido refinado ainda é contido do mal pelo medo. E o medo é necessário enquanto nós somos ainda materiais e decaídos. Mas é um estágio, um grau baixo de relacionamento com o divino. O tomamos como uma troca, de modo que possamos ganhar o paraíso e escapar do inferno. Quando o homem avança e entra no amor de Deus, que necessidade há do medo? Tudo que ele faz, ele faz em amor, e isso é de muito mais valor. Tornar-se bom por medo de Deus e não por amor é de pouco valor. 

Quem quer tornar-se um Cristão deve primeiro tornar-se um poeta. Se a alma é esmagada e torna-se indigna do amor de Deus, Cristo deixa de Se relacionar, porque Ele não quer almas grosseiras perto de Si. 

Deixe que ninguém te dê atenção, ninguém entenda seus gestos de devoção para com o divino. Faça tudo em particular, em segredo, como os ascetas. Lembra-se do que eu falei sobre o rouxinol? Ele gorjeia no bosque sem que ninguém ouça. E daí que ninguém esteja ouvindo, elogiando? Que belo chilrear no mato! Reparou como sua laringe se infla? É isso que acontece com aquele que ama o Cristo. Se amam, “sua garganta se enche, eles são tomados, sua língua não sabe parar”. Eles vão para uma caverna, um vale e vivem Deus em segredo, em “suspiros silenciosos”. 

Desprezem suas paixões, não se preocupem com o demônio. Voltem-se para Cristo. 

A graça divina nos ensina nosso dever. Para atraí-la, precisamos de amor, desejo ardoroso. A graça de Deus precisa de amor divino. O amor é suficiente, para nos deixar “em forma” para a oração. Cristo irá se derramar sobre nosso coração, desde que Ele possa encontrar as coisas que O agradam: boa intenção, humildade e amor. Sem essas coisas, não temos como dizer, “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. 

Até o menor resmungo contra seu próximo afeta negativamente sua alma e o deixa incapaz de orar. Quando o Espírito Santo encontra a alma nesse estado, Ele não ousa se aproximar. 

Temos que pedir que se faça a vontade de Deus. Isso é o mais benéfico, o mais seguro para nós e para aqueles por quem rezamos. Cristo irá conceder-nos tudo abundantemente. Quando existe até uma pequena gota de egoísmo, nada acontece. 

Quando Deus não nos dá aquilo que pedimos persistentemente, Ele tem seus motivos. Deus tem Seus segredos também. 

Se você não é obediente (ao seu pai espiritual) e não tem humildade, a oração (isto é, “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim” não terá efeito e há que se temer ilusões. 

Não deixe a oração “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim” tornar-se um trabalho tedioso. Pressão demais pode trazer uma reação interna e causar dano. Muitas pessoas adoeceram com oração porque se pressionaram demais. Certamente você pode fazê-lo, quando se torna algo tedioso, mas não é saudável. 

Não é necessário concentrar-se de modo especial para dizer a oração. Você não tem que por esforço nisso quando tem amor divino. Onde quer que esteja, em um banquinho, numa cadeira, num carro, em qualquer lugar, na rua, na escola, no escritório, no trabalho, você pode dizer a oração “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”, suavemente, sem pressão, sem forçar. 

O que é importante na oração não é a duração, mas a intensidade. Ore mesmo que por cinco minutos, mas dê a Deus todo seu amor e seu desejo. Uns podem orar toda a noite, e no entanto esses cinco minutos serem superiores. É um mistério, mas é assim que é. 

Uma pessoa de Cristo transforma tudo em oração. Ela transforma a dificuldade e a tristeza em oração. Tudo que lhe acontece, ela imediatamente diz: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. A oração beneficia tudo, até as menores coisas. Por exemplo, se você sofre de insônia, não pense no sono. Se levante, vá lá fora, volte para seu quarto, deite-se novamente como se fosse pela primeira vez, sem preocupar-se se vai dormir ou não. Concentre-se, diga a doxologia e então três vezes “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim” e conseguirá dormir. 

Tudo dentro de nós, instintos e tudo mais, clamam por realizar-se. Se não os realizamos, eles se vingam de nós, a menos que os redirecionemos para outro lugar, para o mais alto, para Deus. 

Você não se torna santo caçando o mal. Esqueça o mal. Olhe para Cristo e Ele irá salvá-lo. Ao invés de ficar do lado de fora da porta para expulsar o inimigo, ignore-o. O mal está vindo nessa direção? Gentilmente vá na outra. Quer dizer, se o mal vem ataca-lo, dedique sua força interna para o bem, para Cristo. Implore “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. Ele sabe como ter piedade de você, de que modo. E quando você estiver cheio com o bem, você não mais se voltará para o mal. Você se tornará bom por si mesmo, pela Graça de Deus. Como o mal encontraria terreno? Ele desaparece. 

Alguma fobia ou decepção tomam conta de você. Volte-se para Cristo. Ame-O com simplicidade, com humildade, sem exigências e Ele irá libertá-lo. 

Não escolha modos negativos de se corrigirem. Vocês não tem que ter medo do diabo, do inferno, de nada. Isso só cria reflexos. Eu também tenho alguma experiência nessas coisas. O ponto é não sentarmos, nos batendo ou forçando a nós mesmos a melhorar. O ponto é viver, estudar, orar, avançar no amor, no amor de Cristo, no amor da igreja. 

Abandone toda sua fraqueza para que o espírito inimigo (o diabo) não se dê conta dela e o mergulhe nela e o mantenha na aflição. Não faça nenhum esforço para se libertar delas. Empenhe-se com gentileza e simplicidade, sem forçar e sem ansiedade. Não diga para si mesmo: “Agora eu vou me forçar, eu vou orar e vou obter amor, vou conseguir me tornar bom, etc”. Não é bom forçar-se e se bater para se tornar bom. Dessa forma você só vai ter mais reações. Tudo deve acontecer de uma forma suave, livremente, sem pressa. Também não diga: “Deus me libertou”, por exemplo da raiva, ou da tristeza. Não é bom pensar e/ou orar sobre uma paixão em particular. Algo acontece na sua alma e ela se enrola mais ainda. Atire-se a superar uma paixão e verá que ela te envolverá, te agarrará e você não conseguirá fazer nada. 

A liberdade não pode ser conquistada, se não nos libertamos internamente da confusão de nossas paixões. 

É isso que nossa Igreja é, nossa alegria, isso é tudo para nós. E é isso que o homem busca hoje em dia. E ele toma venenos e drogas para entrar em mundos felizes, mas é uma alegria falsa. Ele sente algo naquele momento em particular, mas no dia seguinte está arrasado. Uma coisa o fere, o devora, o esmaga e o queima. Enquanto a outra, que é doar-se para Cristo, o vivifica, o alegra, faz com que aproveite a vida, sinta-se forte e magnífico. 

A habilidade de santificar a alma é uma grande arte. Podemos nos tornar santos em qualquer lugar. Até na Omonia (a mais importante praça pública de Atenas) podemos nos santificar, se quisermos. Vocês podem se tornar santos no trabalho, não importa qual seja – com serenidade, paciência e amor. Cada dia deve ser um novo começo, um novo clima, com entusiasmo e amor, oração e silêncio – mas não com estresse e um coração pesado. 

Trabalhe atentamente, com simplicidade, gentileza, sem ansiedade, com alegria e leveza, com bom ânimo. Então a graça divina vem. 

Todas as coisas desagradáveis que ficam na sua alma e te estressam, podem se tornar mais um motivo para adorar a Deus e assim pararem de te machucar. Confie em Deus. 

Não existe motivo para ficar tentando forte demais e se forçar. Todo seu esforço deve estar focado em olhar para a luz, alcançar a luz. Dessa forma, ao invés de se voltar para a aflição que não é um espírito de Deus, você deve se voltar para o louvor a Deus. 

A aflição mostra que não confiamos nossa vida à Deus. 

Quando a comunicação com Cristo acontece de forma simples, suave, sem pressão, ela faz com o que o demônio fuja. Satanás não foge da pressão, do estresse. Ele se distancia da serenidade e da oração. Ele retrocede quando vê que a alma o ignora e se volta para Cristo com amor. Ele não consegue aceitar a indiferença porque é arrogante. Mas o espírito do mal entende quando vocês se forçam, e consegue dar combate. Não ligue para o diabo, nem mesmo fique pedindo que ele se vá. Quanto mais você pede, mais ele te enreda. Ignore o diabo. Não lute diretamente com ele. Quando você, por cabeça-dura, luta com o demônio, ele ataca de volta como um tigre, um gato selvagem. Quando dá tiros nele, ele joga de volta uma granada. Quando você joga uma bomba, ele atira de volta um míssil. Não olhe para o mal. Olhe para os braços de Deus, se deixe cair em Seus braços e siga em frente. 

Uma pessoa humilde está consciente do seu estado interior, e não importa o quão feio ele seja, ela não perde sua personalidade, nem seu equilíbrio. O contrário acontece com o egoísta, com quem tem sentimentos de inferioridade. No início, ele parece uma pessoa humilde. Mas se for tentando só um pouco, ele já perde sua paz, se irrita e fica com raiva. 

Quando a pessoa vive sem Deus, sem paz, sem confiança, em ansiedade, depressão, falta de esperança, acaba desenvolvendo doenças físicas e psicológicas. Doenças psicológicas, neurológicas, são estados demoníacos. Também é demoníaco falar buscando demonstrar humildade. É um tipo de sentimento de inferioridade. A humildade verdadeira não busca se mostrar, não se dá ares de humildade, mas pensa “sou pecador, indigno, o menor de todos”. Uma pessoa humilde tem medo de cair na vanglória, pois Deus não se aproxima de tais coisas. Em contraste, a graça de Deus pode ser encontrada onde há verdadeira humildade, perfeita confiança em Deus, e dependência dEle. 

A pessoa que se vangloria aliena sua ama da vida eterna. Em última análise, o egoísmo é uma tolice completa! A vanglória nos deixa ocos. Quando nos submetemos a ficar aparecendo, acabamos completamente vazios. Temos que fazer o que for necessário para agradar a Deus; altruisticamente, sem vanglória, sem orgulho, sem ego, sem, sem... 

Nossa alma não deve se rebelar e dizer: “por que Deus fez isso, por que Deus fez aquilo daquele jeito, Ele não poderia ter feito diferente?” Tudo isso indica pequenez de coração e resistência. Mostra que temos nossa opinião em alta conta, assim como nosso orgulho e nosso grande ego. Esses “por ques” torturam a pessoa, criam o que é chamado de “complexos”. Por exemplo, “por que tenho que ser tão alto?” ou o contrário “por que tão baixinho?”. Isso fica guardado dentro de nós. E podemos até rezar e fazer vigílias, e ainda assim só conseguir o efeito contrário. E vamos sofrer e nos desesperar de forma sem sentido. Enquanto com Cristo, com a graça, tudo isso desaparece. Continua essa “alguma coisa” lá no fundo, perguntando “por que”, mas a graça de Deus cobre o homem e enquanto a raiz pode ser complexa, uma roseira cresce sobre ela com belas rosas, e quanto mais for regada através da fé, amor, paciência e humildade, mas o mal perde seu poder e deixa de existir; quer dizer, ele não desaparece, mas diminui. Quanto menos regamos a roseira, mais ela murcha, sexa, desaparece e os espinhos crescem. 

Nós tentamos Deus quando pedimos algo para Ele, mas nossa vida está longe dEle. Nós O tentamos quando pedimos algo, mas nossa vida não está de acordo com Sua vontade, isso é, pedimos por coisas contra Deus: estresse e ansiedade por um lado, mas por outro ficamos suplicando coisas. 

Seu pai spiritual pode te dizer: “Como eu queria estar em um lugar mais calmo, livre de preocupações e escutar sobre a sua vida desde o início, de quando você começou a perceber a própria existência, todas as coisas que você se lembra e o modo como você lidou com elas, não só as desagradáveis mas também as agradáveis, não apenas os pecados, mas também as coisas boas, os sucessos e os fracassos. Tudo, tudo que é parte da sua vida”. 

Eu apliquei esse tipo de confissão gera muitas vezes e tenho vistos milagres acontecerem. Enquanto você fala com o confessor, a graça divina vem para te aliviar de toda provação, de todos os ferimentos e traumas psicológicos, e de toda culpa; porque, enquanto você fala, seu confessor ora com sinceridade pela sua libertação. 

Não fiquemos repetindo os pecados que confessamos. A lembrança dos pecados fere. Não pedimos por perdão? Está acabado. Deus perdôou tudo através da confissão. Eu também acredito que peco. Não estou no caminho certo. Mas se algo me incomoda, logo rezo sobre isso; não deixo ficar dentro de mim. Eu vou conversar com meu pai espiritual. Eu confesso, e acabou! Não vamos andar para trás e ficar falando do que não fizemos. O que é importante é o que faremos agora, desse momento em diante. 

Desespero e decepção são o que há de mais terrível. São armadilhas de Satanás, para fazer a pessoa perder seu interesse por coisas espirituais e leva-la à desesperança. 

Quase todas as doenças são por causa de falta de confiança em Deus e isso causa estresse. O estresse é causado pela ausência de sentimentos religiosos. Se você não sente amor por Cristo, se você não se ocupa com as coisas santas, com certeza vai acabar se ocupando com a melancolia e com o mal. 

Something that can also help the depressed is an occupation, interest for life. The garden, plants, flowers, trees, the country, a walk outdoors, a hike, all this can bring a person out of idleness and create other interests for him. They act like medicine. Occupying oneself with art, music, etc is very beneficial. But I attach the greatest value to the Church, to studying the Holy Scripture, to the services. By studying God's word, one is healed without being aware of it. 

São percamos a esperança, ou nos apressemos, nem julguemos de acordo com coisas externas e superficiais. Se, por exemplo, você vê uma mulher nua ou vestida de forma provocante, não se fixe na imagem externa, mas pense na sua alma. Ela pode ser uma alma muito boa que tem questões existenciais, as quais ela manifesta através dessa aparência extrema. Ela tem uma força interior, a força da projeção, ela quer que as pessoas olhem para ela. Entretanto, em sua ignorância, ela distorceu as coisas. Imagine se ela encontrasse Cristo. Ela iria crer, e direcionar todo esse ardor para Cristo. Ela faria de tudo para agradar a Deus. Ela se tornaria uma santa. 

Normalmente, por causa de nossas ansiedades e medos, de nosso estado espiritual ruim, sem sabermos ou querermos, ferimos outras pessoas, mesmo as que amamos muito, mesmo uma mãe em relação ao filho. A mãe pode transmitir ao filho todo seu estresse sobre a vida, a saúde, o progresso dele, mesmo sem nunca falar sobre essas coisas com ele diretamente ou sem expressar o que sente. Esse amor, esse amor natural pode feri-lo alguma hora. Isso não acontece, porém, com o amor de Cristo, que está ligado à oração e a santidade da vida de cada um. Esse amor santifica a pessoa, a pacifica, porque Deus é amor. 

Fonte (em grego): Life and Words, pub. Holy Monastery of Chrisopigi of Chania
2003, Ancião Porphyrios

Traduzido para o inglês por: Holy Monastery of Pantokrator (  http://www.impantokratoros.gr/melancholy-sadness-anxiety.en.aspx )

Traduzido para o português por: Lr.Fabio L. Leite


(*) Pais Népticos, aqueles que possuem Nepsis: (do grego νῆψις). Nepsis é um estado de perpétua atenção e consciência, de perfeita sobriedade e discernimento que é típico dos santos após longo período de purificação.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Que a Igreja Ortodoxa Não É - 05/11


"O Triunfo de São Tomás Aquinas"


por Sua Eminência Jeremias (Foundas) de Gortyna e Megalópolis (Grécia)

Não à Teologia Escolástica
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Mas, se de acordo com os francos a era patrística terminou com São João Damasceno ou com Fócio, o Grande, o que viria em seguida? Os francos nos oferecem sua teologia escolástica e chegando a alegar que ela superou a encerrada teologia patrística! Aqueles dentre os nossos ortodoxos que aceitam o fim da tradição patrística sugerem como seu substituto estudos catequéticos-dogmáticos mal escritos, imitados dos francos, assim como outros trabalhos teológicos escolásticos. Entretanto, como já dissemos antes, a Ecclesia sempre teve seus Pais, mesmo duranto o período difícil da Turcocracia.

A crença de que os francos escolásticos superaram os Santos Pais tem sua principal fonte a opinião do Abençoado Agostinho de que o ensino do Filioque constitui uma solução para um problema teológico que (alegadamente) não teria sido resolvido pelos Pais do Segundo Sínodo Ecumênico. 

Em uma de suas falas em 393 diante do Santo Sínodo da África a respeito do Símbolo do Segundo Sínodo Ecumênico, Agostinho relatou aos bispos a seguinte estranha e equivocada informação: que a propriedade hipostática do Espírito Santo é, diferentemente do Pai e do Filho, um problema para a Eclesia, um problema que permanecia irresolvido no Segundo Sínodo Ecumênico. Sem ter aprendido grego, como ele mesmo nos informa em outros momentos, nem tendo estudado os trabalhos latinos de seu tempo sobre a Santíssima Trindade, ele não sabia que a questão não era um problema, muito menos algo não-resolvido. Ainda assim, vivendo em isolamento teológico, sem o auxílio dos trabalhos patrísticos relevantes ao assunto, ele dedicou todos os seus esforços por 35 anos buscando uma resposta. E a encontrou através de contemplação baseada em filosofia neo-platônica (estocasmo): o filioque!

Tal "solução" do Abençoado Agostinho foi redescoberta pelos francos no século 8 e acrescentada ao Símbolo da Fé. E junto com o filioque, os francos adotaram a também equivocada opinião de Agostinho de que a Eclesia, com o passar do tempo, é levada com a ajuda de "pensadores" ("estocastas") a uma melhor compreensão dos dogmas, dado que ele supostamente encontrara a solução que a Eclesia buscara a respeito da propriedade hipostática do Espírito Santo, uma solução que os Pais do Segundo Concílio Ecumênico não teriam tido condições de encontrar.

Quando os russos, como os francos antes deles, adotaram o método teológico escolástico e a língua latina como a língua teológica oficial (no século 18), eles também adotaram a crença de que haviam superado os romanos (ortodoxos) do Império Otomano. O que é estranho é que alguns teólogos neo-helênicos, gregos modernos,que, influenciados pelos francos e pelos russos, ficaram desculpando-se por vários anos aos francos e à Rússia "francizada" por não terem recebido uma teologia escolástica e sistemática do tipo encontrado na Europa ocidental. Eles prometiam, entretanto, que iriam se esforçar para também criar uma tal teologia, de modo que pudessem logo alcançar as alturas intelectuais da Europa ocidental. Hoje, porém, quando a teologia ocidental foi quase inteiramente desmembrada, muitos teólogos europeus retornam á tradição patrística. E assim também muitos gregos modernos fazem o mesmo caminho em imitação deles. Mas o Pe. John Romanides repara:
"Infelizmente, ao invés de tentarem teologizar dentro da tradição hermenêutica dos Pais, eles utilizam a chave hermenêutica de seus professores ocidentais. Em outras palavras, eles interpretam os Pais baseados nas pressuposições da teologia ocidental e seu método de solucionar problemas, e portanto, não compreendem nem a teologia nem a espiritualidade dos Pais. A razão disto é que a teologia e a espiritualidade patrística, como aparecem nos escritos dos Pais, é percebida somente por aqueles que tiveraam a mesma experiência espiritual deles.(13) Essa teologia é um mistério oculto, exatamente como a teologia da Samta Escritura é um mistério. É inacessível para métodos acadêmicos. Apenas aqueles que possuem a Graça compreendem a Graça, a qual eles recebem através de jejum e oração sob a orientação de um pai espiritual que tenha a Graça da teoria (contemplação divina) (14)


13. Cf.o grande estudo do Professor Stylianos Papadopoulos "Concept, Importance and Authority of the Father and Teacher in his Patrology" livro I, p. 17-19.

14. Ibid. p. 81

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Desvarios Progressistas e a Mentalidade Teórica



Autor: S. Teófano, o Recluso: (10 de Janeiro de 1815 – 06 de Janeiro de 1894)

Quanto mais amo a humanidade em geral, menos amo cada homem em particular. Quanto mais odeio os homens individualmente, mais amo a humanidade - Fyodor Dostoyevsky, Os Irmãos Karamazov

Fonte: http://www.aoiusa.org/st-theophan-the-recluse-progressive-ravings-and-the-theoretical-mindset/



do livro "The Spiritual Life" Capítulos 16 e 17



O que aconteceu com você? Que tipo de perguntas é esse? "Não sei o que fazer com a minha vida. Deveria estar fazendo algo em particular? Tenho que definir um propósito específico para mim mesmo?" Eu li isso e fiquei chocado. De onde poderiam vir tais pensamentos? De fato, você já definiu tudo isso quando expressou seu desejo de manter-se no nível da dignidade humana.

Eu diria que você deve ter entre seus amigos alguns que são pensadores progressistas, ou que entrou em sociedade com tais pessoas, e que elas desintegraram o seu bom senso. Tais pessoas é que costumam falar essas barbaridades.


Parece-me que tudo isso é muito claro e simples e não existe razão para você ficar se torturando com problemas difíceis. Você tem que tirar da sua mente quaisquer planos sobre atividades "abrangentes, de múltiplos benefícios, em comum para toda a humanidade", das quais tanto tagarelam os progressistas.


Frases como "o bem da humanidade" e "o bem do povo" estão sempre nas línguas deles... os progressistas sempre têm em mente toda a humanidade ou pelo menos todo o povo ajuntado. Você, provavelmente, depois de escutar tantos ideias "profundas", se deixou cativar por elas e quando voltou os olhos para a realidade, percebeu com ressentimento que tinha parasitado o seu círculo familiar sem benefício ou propósito. Ah, se pelo menos alguém tivesse aberto seus olhos!

O fato é que a "humanidade" ou "o povo" não existem como uma pessoa por quem você pode fazer algo agora mesmo. Eles consistem de pessoas individuais e ao fazer algo por uma pessoa, o fazemos já dentro da massa geral da humanidade.


Se cada um de nós fizéssemos o que dá para fazer por quem quer que esteja na frente de nossos olhos, ao invés de fixar nossa visão ao longe na comunidade dos seres humanos, ou em todo o povo, estaríamos em cada momento fazendo o que é necessitado pelos que têm necessidade, e satisfazendo suas necessidades, estabeleceríamos o bem-estar de toda a humanidade, que afinal se constitui dos que têm e dos que não têm, dos fracos e dos fortes. Mas os que mantêm seus pensamentos no bem-estar de toda a humanidade, distraidamente por causa disso, deixam passar o que está na frente de seus olhos. Porque eles não têm a oportunidade de realizar o trabalho geral, deixam passar a oportunidade de realizar o trabalho particular, e assim, não realizam nada do seu propósito na vida.

Eu ouvi falar de algo assim em São Petersburgo. Havia um tipo de encontro de jovens que eram defensores do bem-estar universal - esse era o ápice de seus delírios progressistas. Um cavalheiro fazia um discurso apaixonado sobre o amor pela humanidade e pelo povo. Todos estavam encantados.


Mas quando ele voltou para casa, seu mordomo não abriu a porta rápido o suficiente, pois não tinha visto o chefe chegar. Também não soube entregar-lhe a lâmpada tão rápido quanto esperado e algo acontecera com o cachimbo que sumira, além de estar frio demais naquele cômodo. Nosso filantropo não pôde aguentar tais coisas e repreendeu com aspereza seu empregado. E ali estava, aquele sujeito bacana, cheio de amor pela humanidade, mas que não conseguia se portar adequadamente nem mesmo com uma só pessoa em sua casa.


Também no ponto alto dos desvarios progressistas, tinham algumas moças bonitas entregando-se ao trabalho de confecção de livros, as quais tinham deixado suas mães sem uma migalha de pão. Também elas, imaginavam que estavam de alguma forma avançando e ajudando a estabelecer a felicidade da humanidade.


Todos os problemas vêm de uma atitude mental que é abrangente demais. É melhor olharmos humildemente para nossos próprios pés, e vermos que passo vamos dar ali. Esse é o caminho mais verdadeiro.