quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ecumenismo e Secularismo


Pronunciamento do Metropolita Jonas dos Estados Unidos para a Assembleia da Igreja Anglicana da América do Norte - 8 de Junho de 2012


http://orthodoxnet.com/blog/2012/06/metropolitan-jonah-our-battle-is-against-secularism/ 

 
Irmãos e irmãs em Cristo! É bom estar aqui novamente com vocês, três anos depois da primeira vez que nos encontramos em Bedford, Texas. Eu trago para vocês saudações e, espero, encorajamento da Igreja Ortodoxa na América.

Ao longo dos últimos três anos nossas igrejas conduziram um diálogo teológico, discutindo as questões que nos separam, questões que não tratam da Igreja Ortodoxa na América vs Igreja Anglicana na América, mas questões que separam o anglicanismo da ortodoxia. O foco tem sido na questão do filioque, a adição que a Igreja Romana fez ao Credo Niceno, forçando-o a toda a Igreja Ocidental no século XI, desestabilizando assim a unidade da confissão da Fé Católica.

Gostaria de lembrá-los que a raiz e fundamento da Igreja da Inglaterra não é "romana", mas o Catolicismo Ortodoxo que é mais amplo e prevalecia até que a Igreja Romana iniciasse as enormes mudanças do Segundo Milênio. A Igreja da Inglaterra era uma igreja católica local em comunhão com Roma e com as demais igrejas durante quase todo o primeiro milênio. Parte do que a Reforma inglesa, e mesmo continental, pretendia era trazer a Igreja de volta a suas raízes originais, livre das mudanças que ocorreram durante o isolamento da Igreja Ocidental durante a Era das Trevas e a Idade Média. A Ortodoxia entende que a Reforma equivocou-se ao reforçar precisamente os elementos que faziam as posições teológicas das igrejas ocidentais tão idiossincráticos, isolando-se ainda mais da Ortodoxia.

Minha esperança é que possamos reverter isso. Vocês têm a oportunidade de conduzir sua igreja de volta para sua herança original, e assim realizar o rico legado do Catolicismo Ortodoxo Inglês, em comunhão com as raízes de sua tradição. Isto significa superar gerações de cisma, um cisma que foi imposto à Igreja inglesa, e depois um estado perpétuo de cisma imposto a si mesma e as igrejas estabelecidas por ela nas colônias e missões. Isso precisa ser curado.

A esperança ecumênica é pela superação dos cismas do Ocidente, de forma que as igrejas romana e inglesa possam mais uma vez retomar seu lugar na comunhão da Igreja una, católica e ortodoxa. Vocês tem um papel imenso e uma grande oportunidade nesta tarefa. Remover o filioque não é simplesmente um gesto cordial de solidariedade ecumênica; é, ao invés, uma afirmação da antiga fé da Igreja Indivisa.

Realinhamento

Existe um outro elemento que é de importância imediata, e segue diretamente do que foi dito acima. Como escreveu Robert Terwilliger, um grande eclesiástico anglicano do século XX, está acontecendo um realinhamento dentro do Cristianismo, um no qual já podemos ver as marcas de futuras rachaduras. Sempre que cismas ocorrem dentro da Igreja, geralmente é porque alguns indivíduos lideraram um grupo para fora dela, sendo desobedientes a Fé e Doutrina, e recusando-se a submeter-se à autoridade da hierarquia, a qual tenta discipliná-los e chamá-los ao arrependimento.

O que está acontencendo agora é um pouco diferente: uma divisão entre os que preservam a fé bíblica e tradicional conforme interpretada pelos Pais da Igreja e os concílios ecumênicos, e aqueles que esposam uma crença secular, sujeita à racionalização dos acadêmicos de acordo com a filosofia contemporânea, que dispensam os Pais e os Concílios como irrelevantes em nosso tempo, que dispensam os ensinos morais das Escrituras e dos Pais como culturalmente relativos. Podemos chamar isso de uma ruptura entre o Cristianismo tradicional e a filosofia mundana pós-moderna, ou podemos rotular como libertação do fundamentalismo opressor para a luz de suas próprias razões.

Não se trata de uma divisão entre católicos e protestantes, nem entre evangélicos-carismáticos vs tradicionalistas. É algo que trespassa todas as comunidades do Ocidente, afetando mesmo as Igrejas Ortodoxa e Romana em certo grau. Como anglicanos, vocês conhecem bem o problema. É o motivo pelo qual vieram aqui e não ao TEC. Está sendo criado um enorme realinhamento dentro do Cristianismo; aqueles que mantêm a fé e disciplina patrística e bíblica do Catolicismo Ortodoxo, e aqueles que o rejeitam, o criticam, e o perseguem. Vocês e a Igreja Anglicana da América do Norte são parte deste realinhamento.

Existe uma movimento cultural radical de afastamento do Cristianismo tradicional, na direção de algo irreconhecível. Os "secularistas" (por falta de um termo melhor e não-pejorativo), rejeitam o nascimento virginal de Cristo, a ressurreição e mesmo Sua Divindade; rejeitam mesmo que Suas palavras estejam registradas nas Escrituras e que as Escrituras são relevantes mesmo em nossos dias; ao invés, crêem que elas seriam opressivas e manteriam o ser humano nas trevas. Outro bispo anglicano, um certo Sr. Spong, escreveu que "o Cristianismo deve mudar ou morrer", referindo-se à ortodoxia tradicional e aderindo à secularização radical da Igreja Episcopal e de toda a Cristandade. A minha previsão é que não serão as Igrejas Ortodoxas que morrerão.

Solzhenitsyn disse que "o que os campos da morte soviéticos não conseguiram fazer, o secularismo ocidental está realizando mais efetivamente". Na Rússia, 20 milhões morreram no século passado como mártires da fé ortodoxa, e incontáveis milhões de outros foram atirados nas gulags, por resistirem contra o secularismo militante. Muitos pereceram por terem resistido aos Renovacionistas cujo cisma distorcia a Fé Ortodoxa. Seja sob o nome de ateísmo soviético, ou secularismo ocidental, o inimigo é o mesmo.

Nossa batalha é contra o secularismo. Sua Santidade, o Papa Bento XVI, nos convocou a permanecermos unidos contra este inimigo. Este é o realinhamento para permanecermos juntos pela fé de uma vez e para sempre entregue por Cristo aos Apóstolos, e deles para os bispos, sem alteração, sem mudança, sem revisões; contra aqueles que desejariam submeter a fé a era moderna, a sabedoria do mundo. Devemos permanecer juntos, e não podemos ficar sozinhos. Até mesmo a imensa igreja romana está tomada de secularistas militantes, que desafiam sua autoridade, criticam o que não conhecem, e podemos testemunhar neste país como sua unidade é cada vez mais frágil.

Irmãos e irmãs, devemos abraçar a Cruz de Jesus Cristo, a loucura do Evangelho, a sabedoria que não é deste mundo. Devemos alegrar-nos na salvação que Deus nos concedeu em Seu Filho, Jesus Cristo, que foi crucificado por nós e ergueu-se dos mortos. Nos glorificamos em Sua Ressurreição, e esperamos sua Segunda Vinda. E devemos superar as divisões que nos separam, para que possamos estar unidos em uma mente e um coração, confessando que Deus veio em carne para nos erguer ao Céu. Devemos viver de acordo com os mandamentos éticos e morais de Nosso Senhor Jesus Cristo, consagrados no Evangelho, rejeitar o pecado e reconhecer sua corrupção. Esta é a fé ortodoxa dos Pais, dos Concílios Ecumênicos e da Igreja indivisa. Nós temos que aceitar o desdém e o escárnio daqueles que são deste mundo mesmo daqueles que chamam a si mesmos de irmãos. Temos que aceitar sermos expulsos da sinagogas e ridicularizados, processados nos tribunais, e considerar sem importância tudo que perdemos pelo amor de Cristo. Isto, meus amigos, é a nossa cruz. Temos que apoiar uns aos outros enquanto a carregamos. Quanto mais próximos nos tornamos, maior deve ser o nosso apoio mútuo, e não perderemos a motivação, nem esqueceremos que Cristo já conquistou a vitória: Ele venceu o mundo. Aceitando seguir o caminho de Sua Cruz, também nós partilharemos de Sua Vitória.

Escutemos as palavras de S. Paulo:

Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que não haja entre vós divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo espírito e no mesmo sentimento. Pois acerca de vós, irmãos meus, fui informado pelos que são da casa de Cloé, que há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de que entre vós se usa esta linguagem: Eu sou discípulo de Paulo; eu, de Apolo; eu, de Cefas; eu, de Cristo. Então estaria Cristo dividido? É Paulo quem foi crucificado por vós? É em nome de Paulo que fostes batizados?
Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho; e isso sem recorrer à habilidade da arte oratória, para que não se desvirtue a cruz de Cristo. A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes {Is 29,14}. Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus que é loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.



I Cor. 1:10-13, 17-25

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