Na Igreja Ortodoxa é comum utilizarmos os conceitos de "akribéia" e "economia", isto é, o primeiro referindo-se ao rigor doutrinário derivado da sua precisa descrição da realidade, e o segundo à "administração da casa", ou a necessária aplicação pastoral dos princípios universais nas circunstâncias concretas. É a diferença entre a descrição científica e precisa de um câncer, que é fundamental para que sua terapia seja efetiva, e o modo pelo qual o médico vai explicar e lidar com o doente e a família.
Existe uma terrível confusão desses conceitos nos dias de hoje,na Igreja Ortodoxa inclusive. Muitas pessoas até sinceras em sua vocação pastoral vêem na necessária adaptabilidade da ação pastoral uma espécie de deslegetimização da defesa da verdade absoluta, pois está seria fria, cruel ou apenas arrogante. É como se, no exemplo dado, o médico deixasse de lado as inúmeras vantagens de ter um conhecimento preciso da doença, porque o doente precisa de consolo, além do remédio que a ciência pode lhe dar. "Precisamos dar injeção, mas é uma intolerância terrível falar disso, porque o doente tem fobia de agulha" - diriam muitos.
Isso, porém, é uma atitude pervasiva no mundo moderno. Trocam-se verdades tão necessárias quanto dolorosas por qualquer ação que simplesmente alivie a dor, mesmo que não cure a doença, mesmo que seja vil. Uma pessoa ruim e mesquinha mas que anestesie as pessoas de seus conflitos e dores é vista como moralmente superior a uma que proponha o enfrentamento com um realidade dolorosa como etapa de um desenvolvimento maior.
Se é assim neste nível de dicotomia, quão mais em situações e pessoas menos radicais tanto para um lado quanto para o outro, onde o medo da dor e o amor ao bem estão mais difusos e menos visíveis? E quão pior é isso quando isso acontece precisamente com pessoas cujos papéis deveriam ser exatamente como porta-vozes da akribeia, como um cientista que tem o dever de explicar as mais feias doenças com a mais absoluta precisão exatamente para que os médicos clínicos possam realizar as decisões de tratamento mais adequadas. Em verdade, não existe contradição entre uma coisa e outro. É o mais absoluto rigor da akribéia que provê os fundamentos concretos da mais amorosa economia.