Agia Skepi - Santa Proteção
No dia 15 de agosto de 1940, na costa leste da Grécia, perto da ilha egeia de Tinos, uma ilha especialmente dedicada à Santa Virgem mais do que qualquer outra, que uma grande tragédia ocorreu. Enquanto milhares e milhares de peregrinos estavsm celebrando a alegre Festa da Dormição da Teotókos, a tripulação de um pequeno navio grego chamado Elli também participava das festividades em alto-mar. De repente, o navio foi torpedeado e afundado por um submarino italiano. O cais de Tino foi igualmente torpedeado no meio das festividades. Este foi o início do envolvimento da Grécia na guerra.
A entrada oficial da Grécia na guerra só ocorreria no dia 28 de outubro do mesmo ano. Exatamente isto é que celebramos nessa data, comemorando a recusa do ultimato italiano por parte do ditador Ioannis Metaxas. O ultimato exigia que a Grécia permitisse às forças do Eixo que penetrassem território grego e ocupassem certos "locais estratégicos" não especificados ou encarassem a guerra. A maioria dos estudiosos hoje concordam que a resposta não foi exatamente "Não" ou "Oxi", mas "Então é a guerra", em francês, língua diplomática, "Alors, c'est la guerre". Com esta declaração, relata-se que milhares de gregos saíram às ruas e começaram a gritar "Oxi!"para o ultimato italiano. No dia 6 de abril de 41, os nazistas uniram forças com os fascistas e atacaram a Grécia.
Na Festa da Proteção da Santíssima Teotókos, ou Agia Skepi (28 de outubro), imploramos a defesa e assistência da Rainha dos Céus, "Lembra-te de nós em tuas orações, Ó Senhora, Virgem e Mãe,que não pereçamos pelo aumento de nossos pecados. Protege-nos de todo mal e das horríveis tristezas, pois em ti temos esperança, e venerando a Festa de tua Proteção, te glorificamos."
Na tradição ortodoxa geral, a Festa da Proteção da Mãe de Deus cai no dia 1 de outubro. Na Grécia, porém, foi transferida para o 28 de outubro depois da II Guerra Mundial, com a comemoração anual do Dia do Oxi. Isto foi feito para comemorar a grande ajuda e proteção da Teotókos à nação grega através da história, e, especialmente durante a II Guerra, durante a qual muitos milagres ocorreram.
A relação entre a Teotókos e a nação grega se estende até o Império Greco-Romano, e foi revivida nos tempos modernos durante a Revolução Grega de 1821. Por esta razão, em Atenas, no dia 25 de março de 1838, quando a primeira celebração oficial da Revolução Grega ocorreu, foi determinado por um decreto do rei Oto que o 25 de março seria celebrado como o dia da Regeneração Nacional, embora a revolução tivesse começado alguns dias antes. De fato, a escolha desta data em particular demonstra a importância e o papel principal que o Cristianismo tinha na vida do povo grego, dado que o dia que a revolução iniciou-se também foi considerado o dia da alegria religiosa, como indica o poema de Popi Matsouka-Zachari de Arta e intitulado "A Mensagem do 25 de Março":
Panagia e liberdade
Duas palavras sagradas
Duas palavras cujos significados
Preenchem nossos corações
Com frêmito e estupor
A mãe de todos os povos
Mãe universal
E a querida liberdade
O sonho de todo povo
Com luz celestial
Com um brilho do alto, nos iluminaram
Duas visões, duas ideias invencíveis
Venham! Guerreiros
Nunca parem
Ambas sãos vossas
A Mãe e a Liberdade
E os corações de todos estão convosco!
O papel da Virgem Maria na Grécia também foi enorme durante a 2a. Guerra, tendo uma função catalítica, não só porque ela estava na base da fé do povo, mas também porque, com suas intervenções miraculosas, ela provou ser a maior aliada das forças armadas gregas.
Naturalmente, milagres e aparições foram relatados em muitas regiões da Grécia durante a guerra, mas na frente de batalha, na fronteira da Grécia com a Albânia, e nos Pindo, a Virgem Maria foi a protetora e líder dos que lutaram por seu país sob as piores circunstâncias. A fé deles era tão forte que podiam vê-la encorajando-os e "cobrindo-os protetivamente, enquanto lutavam entre as neves dos Montes Pindo e da Albânia.
É típico o relato de Vassiliki Bouris, sobrinha de Spyridon Houliaras, que lutou na fronteira. Segundo Vassiliki, seu tio costumava narrar incidentes da guerra a seus parentes antes de morrer. O que mais o marcou, porém, foi um milagre da Virgem Maria. Enquanto os soldados estavam lutando sob condições terrivelmente adversas, a Panagia surgiu na frente deles e como uma protetora, os cobriu com seu manto, guiando-os até o seu inimigo, para confrontá-los.
Este milagre é corroborado pelos relatos de outros soldados da época que lutaram nos Montes Pindo. Na frente, os soldados gregos tinham a mesma visão por toda parte: à noite surgia uma figura feminina, alta e magra, caminhando com seu lenço sobre os ombros. Para os soldados ela não era nenhuma outra senão a Virgem Maria, defensora e general dos gregos.
Tasos Rigopoulos, soldado em 1940, faz o seguinte relato da frente na Albânia:
"Meu irmão, Niko. Escrevo-te de um ninho de águia 400 metros mais alto que o topo do Parnitha. Tudo a minha volta está branco pela neve. A razão pela qual te escrevo não é para falar do encantamento do monte Morava coberto de neve, e toda sua beleza selvagem. Meu propósito é compartilhar contigo a experiência que tive, o que vi com meus próprios olhos. É algo que temo que não acreditarias se ouvisses de outros.
Alguns momentos antes de atacarmos os blocausses de Morova, vimos uma mulher alta, vestida de preto, de pé, a uns 13 metros. O guarda gritou: "Identifique-se". Não houve resposta. Com raiva, gritou mais uma vez. Naquele momento, como que atingido por um relâmpago, todos nós sussurramos: "A Panagia"! Ela rompia na direção do inimigo como se tivesse asas de águia. Nós a seguíamos. Podíamos constante,ente sentir a bravura que ela nos transmitia. Foi uma luta dura de uma semana até conseguirmos tomar os blocausses de Ivan-Morova. Ela estava sempre à frente. Quando finalmente vitoriosos, estávamos avançando para uma indefesa Koritsa, nossa grande defensora tornou-se vapor, uma suave fumaça, desaparecendo no ar."
Na cordilheira de Ródope, os soldados do 51o Batalhão Independente, sob o comando do Major Petrakis também testemunharam um milagre. A partir do dia 22 de janeiro, toda noite, às nove e meia, a artilharia inimiga começava a atirar contra o batalhão e contra a estrada que era usada para transportar veículos. Estávamos muito nervosos e tivemos pesadas baixas. Os batedores não conseguiam localizar a artilharia inimiga, a qual estava mudando de posição toda noite.
A situação era realmente desesperadora. Foi em uma noite de fevereiro, quando a artilharia inimiga iniciara uma saraivada novamente. "Panagia, nos ajude, nos salve!", gritou espontaneamente o major. Repentinamente, uma nuvem luminosa tornou-se visível à distância. Algo como um halo formou-se e a imagem da Teotókos apareceu. Ela começou a curvar-se ao chão e parou exatamente sobre uma ravina. Todos no batalhão tremeram ao testemunhar o milagre. "Um milagre, um milagre!", gritavam os soldados, enquanto oravam e faziam o sinal da cruz. Imediatamente, enviaram uma mensagem à artilharia grega, ouviram-se o canhões, e logo depois o silêncio. As bombas gregas tinham alcançado um tiro perfeito.
"Não importa como a fé se expresse durante a guerra, o certo é que auxilia o soldado que é testado. E a imagem da protetora lhe dá esperança e otimismo. O povo de Arta, lutando na frente de batalha, não temia nem os morteiros, nem as balas do inimigo, desde que tivessem a imagem da Panagia à sua frente."
Yiannis Tsarouchis, depois de ter pintado "A Virgem da Vitória" na tampa de uma caixa de arenque tendo em mente uma versão anterior mal-feita, pôs-se a caminho de encontrar o comandante para apresentar o seu trabalho. A imagem já adquirira alguma fama de ser miraculosa, e antes que fosse levada os soldados de Arta "em um estado de excitação religiosa, exigiram que o milagroso ícone ficasse pelo menos mais uma noite em seu campo.
Todos os soldados gritavam: "A Virgem, a Virgem! Deixem-na aqui mais uma noite". De repente o alarme soou. Nos atiramos ao chão conforme as ordens que recebêramos mas nenhum dos soldados de Arta fez o mesmo. "Ei, camarada! Como pode ter medo quando você tem a Virgem em suas mãos?", perguntou um deles.
Era típico que nos cartões de identificação militares, logo ao lado da identificação pessoal, houvesse uma imagem da Panagia. E pouco antes de atacar, oravam dizendo "Panagia mou! (Minha Toda Santa), três vezes, e avançavam.
N. Dramourtianos conta os seguintes milagres testemunhados durante a 2a. Guerra:
"Nossa companhia recebeu uma ordem para tomar e assegurar terreno para a construção de uma ponte. Acampamos entre os penhascos. Assim que nos preparamos, começou a cair uma neve fina. Assim continuou por duas noites, chegando a acumular cerca de dois metros em algumas áreas. Ficamos isolados do comissariado e tínhamos comida para durar um dia. Já que tínhamos fome e nenhuma esperança de um amanhã, devoramos tudo.
A partir daí foi um martírio. A sede era satisfeita pela neve, mas a fome nos consumia. Ficamos esqueléticos. Nossa moral continuava de pé, mas a natureza tem seus limites. Alguns sucumbiram. O mesmo fim aguardava a todos nós "pela fé e nação".
Nosso capitão teve naquele momento uma inspiração milagrosa. De bolso em seu peito, retirou um ícone de papel da Panagia, o qual pôs em um local alto e nos convidou a ficarmos à sua volta. "Meus bravos jovens", disse ele. "Neste momento crucial, apenas um milagre pode nos salvar. Ajoelhem-se, e roguem à Panagia, a mãe do Deus-homem, por sua ajuda." Nos ajoelhamos, erguemos nossas mãos e rogamos fervorosamente. Não tivemos nem tempo de nos levantarmos e logo ouvimos o som de sinos. Achamos isso estranho e pegamos nossas armas, tomando nossas posições com determinação.
Nem um minuto passou e vimos uma enorme mula se aproximando, totalmente carregada. Voamos até ela. Um animal sem condutor, caminhando pela montanha, com pelo menos um metro de neve não é natural. Nossa Senhora Teotókos o guiara. todos juntos agradecemos cantando serenamente, e com todo o coração, "Ti Ypermaho" (A ti, Líder e Campeã). O animal trazia todo um buffet de comidas: kouramanes (tipo de pão utilizado pelo exército), queijos, conservas, conhaque, e outras coisas. "Suportei muitas e inimagináveis dores na guerra. Mas este evento permanecerá inesquecível porque não havia saída. A saída foi dada pela Panagia".
A importância das intervenções miraculosas da Virgem Maria foi reconhecida pelo estado grego logo depois do fim da guerra. Por esta razão, a celebração de Agia Skepi foi transferida, em 1952, do 1 de outubro para o 28 de outubro, como agradecimento por sua ajuda miraculosa ao povo grego naquele momento de grande dificuldade.