Moisés
Ouvindo, pois, Faraó este caso, procurou matar a Moisés; mas Moisés fugiu de diante da face de Faraó, e habitou na terra de Midiã, e assentou-se junto a um poço. E o sacerdote de Midiã tinha sete filhas, as quais vieram tirar água, e encheram os bebedouros, para dar de beber ao rebanho de seu pai. Então vieram os pastores, e expulsaram-nas dali; Moisés, porém, levantou-se e defendeu-as, e deu de beber ao rebanho. E voltando elas a Reuel seu pai, ele disse: Por que hoje tornastes tão depressa? E elas disseram: Um homem egípcio nos livrou da mão dos pastores; e também nos tirou água em abundância, e deu de beber ao rebanho. E disse a suas filhas: E onde está ele? Por que deixastes o homem? Chamai-o para que coma pão. E Moisés consentiu em morar com aquele homem; e ele deu a Moisés sua filha Zípora, a qual deu à luz um filho, a quem ele chamou Gérson, porque disse: Peregrino fui em terra estranha. - Êxodo 2:15-22
Diferente de Jacó, Moisés não teve nenhuma instrução ao sair de casa, fugindo da punição pelo assassinato que cometera. Mas o próprio Deus o guiava e cuidou para que ele seguisse o caminho determinado. Sem saber, ele já se colocara perto da casa de sua futura esposa. Agora reparem uma coisa. Antes mesmo de estar comprometido com sua esposa, antes mesmo de sequer saber que ela existia, guiado pela inspiração de Deus, Moisés defende a família dela, nas pessoas de suas irmãs. Reuel, pai de Zípora, não hesita em dar a mão de sua filha em casamento a Moisés, e isso porque ele viu que Moisés não era homem de promessas. Ele não era mais um dizendo que, no futuro, depois dela provar que estava disposta a fazer-lhe concessões, aí então, ele a defenderia, a protegeria. Ele já tinha defendido a família dela, e por extensão a ela mesmo. Ele não disse que ia fazer. Ele já tinha feito. Moisés não pediu nada, não prometeu nada, mas já entregara tudo que demonstrava seu caráter.
Assim como Deus em Jesus Cristo, o Qual não explica muito o que ele ia fazer para nosso bem. Ele dá sinais, não faz segredo exatamente, mas também não alardeia. Ele simplesmente faz, e só promete quando é necessário *para nós,* para que nos sintamos seguros. Assim deve agir o esposo em relação à esposa. Ele não promete que vai amá-la, defende-la, habitar em seu mundo. Ele simplesmente o faz. E o pai de Zípora, sabendo disso, não vai procurar um homem que promete que, no futuro, vai amar, proteger e se arriscar por sua filha, mas depois dela mostrar obediência e vontade de fazer concessões para ele. Ele identifica e abençoa a união com o homem que na prática e concretamente, sem promessas, já se arriscara, já se protegera e já demonstrara amor, ainda que de forma indireta através das irmãs. Para Reuel, estava claro que, mesmo sem saber, aquele homem era o marido de sua filha, guiado por Deus até ali. E depois de tudo isso, mais uma vez, Moisés não chama Zípora para seu mundo de origem, o Egito. Ele vai morar na casa do pai dela. Ele não pede para ela deixar de trabalhar na tribo do pai,o que iria enfraquece-la tornando-a sombra dele. Ele é que se torna pastor lá, fortalecendo o casal. Com isso ele deixa para trás definitivamente o mundo em que nascera, e onde era príncipe, mas consente em ser pastor no mundo e na vida dela, assim como Cristo, rei do universo, sai das riquezas da Eternidade e nasce entre pastores, em meio a nossa pobreza, para se unir à sua amada, a Igreja.
Finalmente, reparem que ao defender as irmãs de sua esposa, sem saber ainda, Moisés está lutando por ela. É da psicologia do homem o gostar de lutar, conquistar, vencer. Infelizmente, alguns homens pensam que lutar por uma mulher é lutar contra ela, contra o coração dela. Ele percebe que o natural dela é não estar com ele, que ela possui inclinações, e tendências que a afastam dele e "luta" contra esses atributos naturais de sua alma, "por ela" para forçá-la a pertencer a ele. Isso não é lutar por uma mulher, mas contra ela. É desejar tê-la, e não desejar o bem dela. O foco é o próprio homem que deseja se servir dela. A luta correta que um homem deve realizar por uma mulher é contra as *circunstâncias* negativas que naturalmente sobrevém a qualquer pessoa ou casal, representada ali pelos maus pastores. Crises econômicas, doenças, circunstâncias externas. Se de início Moisés tivesse que sequestrar e amarrar Zípora, ele seria um traficante de escravos e não um marido. Lutar por alguém, mesmo fora do contexto de casamento, é sempre contra externalidades, nunca com a pessoa em si.
Tobias
É importante lembrar que nada disso que temos falado até agora, isenta o homem dos seus deveres de honrar seus próprios pai e mãe. Claro que ele continua devedor deles e deve assisti-los. Com certeza, haverá dificuldades para o homem em harmonizar o cuidar de sua família de nascimento e da família que formou, estando mais afastado da primeira. Mas se o homem quer ter algum desafio para sua autoafirmação, esta é a prova que Deus lhe oferece: “Honre seus pais, mas vá para a casa de sua esposa”.
Tanto é assim que no livro de Tobias, o personagem central promete aos pais que ficaria com eles até a morte de sua mãe. Guiado pelo arcanjo Rafael, ele vai até a casa de seus futuros sogros, conhece e casa-se com sua esposa, voltando com ela para a casa de seus pais. Essa medida, porém é temporária, e assim que sua mãe falece, com a promessa cumprida, Tobias retorna com a esposa para a casa dos sogros, onde passa o resto da vida, conforme os mandamentos de Deus.
Outro ensinamento importante do livro de Tobias é que não adianta forçar a realização de casamentos que não são abençoados por Deus, nos quais os noivos não cumprem os papéis conforme explicamos e que provêm dos mandamentos dados por Deus.
Sara, a esposa de Tobias, já havia se casado sete vezes, e em todas elas o esposo morrera na própria noite de núpcias. Mais tarde, o arcanjo de Deus, Rafael, explica que um dos motivos para aquilo ter ocorrido é que o marido que Deus lhe havia destinado era Tobias e nenhum outro. Não sendo o casamento que Deus queria, nenhum dos sete poderia ter dado certo.
O casamento não é um fim em si mesmo, e sem Deus, não sendo cumprimento da vontade de Deus, sempre trará mais dor e tragédia do que paz e alegrias. De fato, o pecado dos pais de Sara e dela própria foi de terem realizados casamentos apenas pelo afã de resolver o “problema” de uma filha em idade casadoira, mas sem noivo. Enquanto não havia chegado o noivo destinado por Deus, todos os casamentos deram errado. Na verdade, por horrível que tenham sido seus sete casamentos com viuvez, o pior que poderia ter acontecido seria um dos tais casamentos ter “dado certo”, e quando Tobias chegasse a encontrasse comprometida com um homem que não era o que Deus queria para ela. Sendo homem de Deus, Tobias não iria interferir no casamento de Sara por mais que a amasse, e ela, também sendo fiel a Deus, não consideraria divorciar-se para ficar com Tobias. Por Graça de Deus, houve a libertação, e o errado não deu certo. O pecado havia sido ter começado aqueles casamentos, para começo de conversa, pois demonstrava falta de paciência e confiança em Deus por parte dos envolvidos.
Isso também representa como toda nossa fé, amor e devoção, entregues a espíritos, deuses, valores, ideologias, dinheiro, prestígio, ambição, luxúria, comodismo, desespero, não tem nenhum valor em si simplesmente por serem fé, amor e devoção. Eles tem que ser entregues à realização da vontade do Senhor. Os sete maridos de Sara podem ser entendidos como os sete pecados a que se entrega a alma, e Tobias, é o Cristo, o noivo destinado pelo Pai para habitar com nossa alma, representada pela própria Sara.
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Lembremos enfim irmãos, que como cristãos não devemos seguir os exemplos e sabedoria do mundo.
A fé cristã é muito caluniada no mundo por ensinamentos que sequer são os seus. Nossa fé não ensina que as pessoas tem que casar simplesmente porque chegaram a uma certa idade, ou porque o "namoro já foi longo demais", não ensina que o casamento é um fim em si mesmo e que a nossa felicidade depende de outra pessoa (na verdade S. Paulo diz até que a vida monástica é melhor que a de casado!), não ensina que o papel do homem seja dar presentes, dominar a mulher seja de que forma for, não ensina maus-tratos e desrespeito às mulheres, não ensina que elas devem ser “obedientes” aos homens no sentido vulgar e mundano da palavra. Ao contrário, exige dos homens nada menos que a bravura e a maturidade de se sacrificarem por suas amadas, de amarem-nas tanto que deem até suas vidas físicas por elas, se necessário for. Ensina que a "condução" do homem e a "obediência" da mulher é semelhante ao que ocorre na dança de casal, onde ela ocorre com suavidade, concordância de ambos, a mulher sabendo que poderá se deixar cair e ele vai segurá-la, que ela poderá saltar, e ele irá ergue-la; e sob o ritmo de uma força maior - no casamento a música é a vontade de Deus.
Ensina também que o mais saudável, psicológica e espiritualmente, para ambos, é que o homem é que saia do seu “mundo” - homens *precisam* sair de "casa" para amadurecer - e passe a fazer parte do “mundo” dela, para que ambos possam se erguer, pois isso é parte de servir a mulher que ama, como Cristo serve a Igreja.
Lembremos que o “Noivo” dá a vida pela “noiva”, que o homem deve ter sempre Jesus Cristo como exemplo e modelo de amor por sua mulher, sua irmã de espírito e amiga, não de momentos e diversões, mas de toda a sua jornada, agindo conforme disse Nosso Senhor, “Amor maior que este não há: dar a sua vida por seus amigos.” (S. Jo. 15:13)