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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Que a Igreja Ortodoxa Não É - 05/11


"O Triunfo de São Tomás Aquinas"


por Sua Eminência Jeremias (Foundas) de Gortyna e Megalópolis (Grécia)

Não à Teologia Escolástica
Anterior: Não para o Fim da Era Patrística 
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Mas, se de acordo com os francos a era patrística terminou com São João Damasceno ou com Fócio, o Grande, o que viria em seguida? Os francos nos oferecem sua teologia escolástica e chegando a alegar que ela superou a encerrada teologia patrística! Aqueles dentre os nossos ortodoxos que aceitam o fim da tradição patrística sugerem como seu substituto estudos catequéticos-dogmáticos mal escritos, imitados dos francos, assim como outros trabalhos teológicos escolásticos. Entretanto, como já dissemos antes, a Ecclesia sempre teve seus Pais, mesmo duranto o período difícil da Turcocracia.

A crença de que os francos escolásticos superaram os Santos Pais tem sua principal fonte a opinião do Abençoado Agostinho de que o ensino do Filioque constitui uma solução para um problema teológico que (alegadamente) não teria sido resolvido pelos Pais do Segundo Sínodo Ecumênico. 

Em uma de suas falas em 393 diante do Santo Sínodo da África a respeito do Símbolo do Segundo Sínodo Ecumênico, Agostinho relatou aos bispos a seguinte estranha e equivocada informação: que a propriedade hipostática do Espírito Santo é, diferentemente do Pai e do Filho, um problema para a Eclesia, um problema que permanecia irresolvido no Segundo Sínodo Ecumênico. Sem ter aprendido grego, como ele mesmo nos informa em outros momentos, nem tendo estudado os trabalhos latinos de seu tempo sobre a Santíssima Trindade, ele não sabia que a questão não era um problema, muito menos algo não-resolvido. Ainda assim, vivendo em isolamento teológico, sem o auxílio dos trabalhos patrísticos relevantes ao assunto, ele dedicou todos os seus esforços por 35 anos buscando uma resposta. E a encontrou através de contemplação baseada em filosofia neo-platônica (estocasmo): o filioque!

Tal "solução" do Abençoado Agostinho foi redescoberta pelos francos no século 8 e acrescentada ao Símbolo da Fé. E junto com o filioque, os francos adotaram a também equivocada opinião de Agostinho de que a Eclesia, com o passar do tempo, é levada com a ajuda de "pensadores" ("estocastas") a uma melhor compreensão dos dogmas, dado que ele supostamente encontrara a solução que a Eclesia buscara a respeito da propriedade hipostática do Espírito Santo, uma solução que os Pais do Segundo Concílio Ecumênico não teriam tido condições de encontrar.

Quando os russos, como os francos antes deles, adotaram o método teológico escolástico e a língua latina como a língua teológica oficial (no século 18), eles também adotaram a crença de que haviam superado os romanos (ortodoxos) do Império Otomano. O que é estranho é que alguns teólogos neo-helênicos, gregos modernos,que, influenciados pelos francos e pelos russos, ficaram desculpando-se por vários anos aos francos e à Rússia "francizada" por não terem recebido uma teologia escolástica e sistemática do tipo encontrado na Europa ocidental. Eles prometiam, entretanto, que iriam se esforçar para também criar uma tal teologia, de modo que pudessem logo alcançar as alturas intelectuais da Europa ocidental. Hoje, porém, quando a teologia ocidental foi quase inteiramente desmembrada, muitos teólogos europeus retornam á tradição patrística. E assim também muitos gregos modernos fazem o mesmo caminho em imitação deles. Mas o Pe. John Romanides repara:
"Infelizmente, ao invés de tentarem teologizar dentro da tradição hermenêutica dos Pais, eles utilizam a chave hermenêutica de seus professores ocidentais. Em outras palavras, eles interpretam os Pais baseados nas pressuposições da teologia ocidental e seu método de solucionar problemas, e portanto, não compreendem nem a teologia nem a espiritualidade dos Pais. A razão disto é que a teologia e a espiritualidade patrística, como aparecem nos escritos dos Pais, é percebida somente por aqueles que tiveraam a mesma experiência espiritual deles.(13) Essa teologia é um mistério oculto, exatamente como a teologia da Samta Escritura é um mistério. É inacessível para métodos acadêmicos. Apenas aqueles que possuem a Graça compreendem a Graça, a qual eles recebem através de jejum e oração sob a orientação de um pai espiritual que tenha a Graça da teoria (contemplação divina) (14)


13. Cf.o grande estudo do Professor Stylianos Papadopoulos "Concept, Importance and Authority of the Father and Teacher in his Patrology" livro I, p. 17-19.

14. Ibid. p. 81

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O Que a Igreja Ortodoxa Não É - Parte 04/11


S. Gregório Palamas, Pai da Igreja

por Sua Eminência Jeremias (Foundas) de Gortyna e Megalópolis (Grécia)

Não para o Fim da Era Patrística
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Mas também temos um outro tipo de plani (ilusão espiritual) dos Franco-Latinos sobre os Pais da Igreja; similar à que mencionamos no item anterior, mas pior: a ilusão de que a era da teologia patrística teria acabado depois de Fócio, o Grande. O pior é que essa ideia do fim da teologia patrística encontrou chão fértil mesmo em solo ortodoxo helênico. A questão é simples e é como segue: 

No início do século 9, os francos introduziram o filioque (a tese de que o Espírito Santo procede não apenas do Pai, mas também do Filho) no Símbolo de nossa Fé, o Credo (NT). Nessa época, todos os cinco patriarcados romanos (de Roma, Nova Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém) condenaram formalmente tal ensino como herético no Oitavo Concílio Ecumênico (879). Como os francos não podiam reconhecer como Pais aqueles que lutaram contra o seu filioque, por essa razão viram-se forçados a alegar que a tradição teológica patrística terminara no século 8. Afinal de contas, os Francos já haviam condenado também o Sétimo Concílio Ecumênico (794); de modo que sequer aceitavam São João Damasceno como um Pai da Igreja. Mais tarde, porém, durante o século 12, sob a pressão de itálo-lombardos e dos romanos ocupados no sul da Itália, os francos foram forçados a finalmente aceitarem o Sétimo Concílio Ecumênico, incluindo assim São João Damasceno entre os seus Pais da Igreja. Até hoje, os ocidentais crêem que o último Pai “Grego” da Igreja foi São João Damasceno. 

Esse ponto de vista, ou melhor, essa heresia, sobre o suposto fim da era patrística, também foi aceito pelos russos (10), com a diferença de que para eles o último pai teria sido Fócio, o Grande. Assim, os russos incluem entre os Pais da Igreja aquele que lutou contra o filioque. O problema é que essa heresia também foi aceita por alguns gregos modernos (11), que falam de um antigo “período patrístico” e que não existem mais Santos Pais em nossa época. 

Os francos, russos e junto com eles os gregos modernos que pensam que a era patrística terminou foram excomungados por nossa Igreja, já que quando o Concílio de Constantinopla em 1368 proclamou Gregório Palamas não apenas um santo da nossa Igreja, mas também um Pai, excomungando ali todos os que não o aceitam como um Pai da mesma estatura dos Pais mais antigos da Igreja. Entretanto, São Gregório Palamas viveu durante o século 13, em outras palavras, muito depois de São João Damasceno ou de São Fócio, que são considerados pelos grupos acima como os últimos Pais da Igreja. 

Ou seja, através do reconhecimento conciliar de São Gregório Palamas como um Pai e da excomunhão de todos os que não o aceitam como de igual status com os Pais anteriores da Igreja, a própria heresia franco-latina do fim da era patrística foi condenada como tal e os franco-latinos foram excomungados. 

A despeito dos sofistas tagarelas entre os francos e os russos, nós ortodoxos, até mesmo durante esse duro e tenebroso período da Turcocracia, geramos portadores viventes da genuína teologia e espiritualidade dos antigos Santos Pais, tais como: Nicodemos, o Haguiorita, Eugênio Vulgaris, Nicéforo Theotokis, Atanásio de Paros, Macário Notaras, Cosme da Etólia, Máximo, o Grego, Pacômio Russanus, Genádio Scholarius, Jacó Monachus, Máximo do Peloponeso, Agápio Lardus, além de muitos hierarcas e patriarcas que participaram de tantos concílios entre os séculos 17 e 19. 

A plani (ilusão espiritual) de que a teologia patrística teria acabado foi combatida especificamente e no fim derrotada pelo profundo teólogo Pe. Florovsky; e dessa forma, nossa própria Ortodoxia, que fora influenciada pelos francos, foi resgata e aceitou a teologia patrística além de Fócio, o Grande. 

De toda forma, para que posssamos confronter com sucesso toda a questão do término da teologia patrística é necessário que estudemos bem o que a Igreja (ecclesia) é (12) e o significado da palavra “Pai”. Um argumento simples mas poderoso contra tal ideia é o seguinte: toda época tem problemas espirituais fundamentais e crises com que lidar, aos quais a Ecclesia, através dos Pais, provê soluções; em outras palavras, sempre precisamos de Pais. Mas sempre encontramos o Espírito Santo na Ecclesia, o Qual designa esses Pais. Se alegamos que o período patrístico encerrou-se, sabendo que sempre necessitamos da presença dos Pais, é como se estivéssemos blasfemando dizendo que o Espírito Santo não mais trabalha ou está presente na Ecclesia. 

(Nota do Tradutor): Historicamente a primeira vez que os ocidentais introduziram o filioque no Credo foi tardiamente no fim do século 6, no III Concílio de Toledo em 589, e que marcou a conversão dos Visigodos do Arianismo. Entretanto, o Concílio de Toledo foi um concílio local. A expectativa de aceitação universal do filioque por parte dos Ocidentais, fundamentada na crença errônea (ou propaganda secessionista de Carlos Magno para legitimar seu nascente império) de que o filioque faria parte do Credo original e os “gregos” teriam adulterado a declaração, só manifesta-se consistentemente, de fato, no século 9. 

10. Ao que parece, através de Pedro Moghila (AD 1633-1646). 

11. O Pe. John Romanides diz: “Com o estabelecimento do Primeiro Estado Helênico depois da revolução de 1821, as poderosas influências da Rússia e da Francocracia invadiram-na, especialmente através da Universidade de Atenas, com resultados desastrosos para a Romanidade, já que a hierarquia de Hellas e a liderança espiritual dos gregos modernos educaram-se sob o espírito da Francocracia (Europa Ocidental) e da Rússia (ibid. p. 75). 

O padre teólogo dá, entretanto, em outra seção de seu livro, boas notícias para “hoje”: “Hoje, quando a teologia ocidental está em confusão e decadente, a teologia patrística retornou às universidades helênicas, e assim seu espírito reina em Hellas, para grande benefício da Romanidade” (ibid. p. 80) 

12. Cf. nosso periódico “Incense”, número 13