sábado, 27 de julho de 2013

Igrejas Ortodoxa e Romana: Semelhanças e Diferenças - Parte 1/3

São Francisco de Assis e São Serafim de Sarov


Caríssimos,

em vista da visita do Papa para a JMJ, Jornada Mundial da Juventude, surgem muitas dúvidas sobre quais seriam as diferenças entre as Igrejas Católica Ortodoxa e Católica Romana.

A dúvida mais comum talvez seja como e por que Roma deixou de aceitar o governo tradicional apostólico da Igreja, essencialmente colegial com o Primaz tendo um papel de autoridade real, porém muito menos pronunciado, sendo que Roma o substituiu por uma forma centralizada e monárquica com autoridade universal e ordinária no bispo romano, além do dogma proclamado no século 19 de que em questões de doutrina e moral pronunciadas "ex cathedra", isto é, oficialmente, o Papa é infalível. Foi um processo de muitos séculos até Roma abandonar o Catolicismo Ortodoxo separando-se completamente de suas igrejas irmãs mais velhas em  Antioquia, Grécia e Alexandria,  e que comungam da mesma fé e continuam Católicas Ortodoxas até hoje, incluindo a Igreja Mãe de todas que é a de Jerusalém; Depois de abandonar a ortodoxia católica, Roma formou o Catolicismo Romano para ter a liberdade de se organizar da forma mais centralizada no Papa e focada nos reinos do oeste da Europa, os quais mais tarde se expandiriam pelo globo formando o que hoje chamamos de Ocidente. 

No espírito do amor e da verdade, e utilizando como referência o livreto "Orthodoxy and Catholicism: What are the differences?" do padre Theodore Pulcini, elenco abaixo, algumas das principais diferenças, que vão além da forma de governo da Igreja.

Esta pequena série é dividida em três partes.

A primeira parte trata de Questões de Doutrina, a segunda de Adoração e Veneração e a terceira de Governança.

Questões de Doutrina

Princípios Básicos

Igreja Católica Ortodoxa

Toda doutrina ortodoxa é fundamentada na Santa Tradição, que é composta pelos hinos, iconografia, ensinamentos orais, ofícios e liturgias, cânones, concílios, credos, festas, escritos teológicos e místicos, e Santas Escrituras. Vale lembrar que os livros aceitos das Santas Escrituras foram determinados nos primeiros concílios católico-ortodoxos do primeiro milênio e existiam de forma esparsa entre os livros litúrgicos, isto é, os livros da Divina Liturgia e outros ofícios da Igreja. A Bíblia como um livro único com todas as Santas Escrituras aceitas só passou a existir depois da invenção da imprensa. A Santa Tradição, da qual fazem parte as Santas Escrituras, é a própria vida da Igreja, inspirada e guiada pelo Espírito Santo. A atitude básica da Igreja sobre a teologia enfatiza o mistério e  experimentarmos o incompreensível.

Igreja Católica Romana

Os fundamentos da Igreja Romana são essencialmente os mesmos, exceto que a atitude geral da teologia enfatiza definições precisas e um processo de dedução baseado na razão humana, a qual, só consegue ir até certo ponto na experiência da infinitude de Deus. É uma ênfase muito maior em definir em forma de regras, listas, leis, padrões e estruturas. 

A Bíblia

Igreja Católica Ortodoxa

A Bíblia, chamada de Santas Escrituras, é a principal fonte escrita de doutrina e fé. Suas palavras foram inspiradas pelo Espírito Santo e o contexto que dá sentido às suas palavras é Santa Tradição que nos foi transmitida de Cristo para os Apóstolos e destes para a Igreja. A continuidade desta fé comum através dos séculos está registrada nos ofícios, liturgias, hinos e ícones de forma simbólica, e de forma direta nos comentários e explicações dos Pais da Igreja. A Igreja Ortodoxa preserva alguns livros a mais no Antigo Testamento que a Igreja Romana.

Igreja Católica Romana

A crença a respeito das Santas Escrituras é essencialmente a mesma, sendo que além de alguns livros a menos, o Antigo Testamento também está organizado em uma ordem ligeiramente diferente.

Concílios e Credos

Igreja Católica Ortodoxa

O principal credo ortodoxo é o Niceno-Constantinopolitano escrito nos concílios ecumênicos de Nicéia (ano 325) e Constantinopla (ano 381). A Igreja Católica Ortodoxa não alterou nem acrescentou nada a este Credo ao longo dos séculos. Realizou 8 concílios ecumênicos no primeiro milênio, sendo que Roma não participou do segundo e, mesmo tendo participado do 8o, posteriormente o renunciou. Assim, até hoje o primeiro milênio ainda é conhecido pelos primeiros 7 Concílios Ecumênicos. Alguns teólogos e historiadores ortodoxos reconhecem como ecumênicos  o 8o e 9o Concílios, além do concílio Pan-Ortodoxo de 1672 realizado em Jerusalém.

Igreja Católica Romana

Aceita os 7 concílios do primeiro milênio, porém alterou o credo pela adição da cláusula do filioque (veja a seção sobre "Trindade"). Realizou diversos concílios exclusivamente romanos após separar-se das igrejas irmãs e da igreja mãe em Jerusalém, e os considera concílios ecumênicos, tendo sido o mais recente o Concílio Vaticano II. Em alguns casos, decretos papais foram colocados acima ou contra decisões de concílios ou credos anteriores.

A Trindade

Igreja Católica Ortodoxa

A doutrina básica da Trindade define Deus como Uno (uma natureza divina, uma ação e uma vontade divinas) em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Deus Pai é origem e fonte da Trindade. Deus Filho é eternamente gerado do Pai. Através de Sua Encarnação, Cristo possui duas naturezas, divina e humana, unidas em uma só Pessoa; Ele é completamente Deus e completamente Homem. O Espírito Santo procede eternamente e exclusivamente do Pai. Quando a Igreja Católica Ortodoxa definiu a frase "Creio no Espírito Santo...que procede do Pai.", estava citando o próprio Jesus Cristo: "Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim". João 15:26. Acrescentar, retirar ou alterar de qualquer forma esta frase é mudar a própria revelação de Deus Filho sobre a Trindade, ensinada aos Apóstolos e registrada nas Santas Escrituras.

Igreja Católica Romana

Para combater uma heresia em terras que mais tarde formariam a Espanha, passou-se a acrescentar localmente na fórmula do Credo Niceno-Constantinopolitano a frase que o Espírito do Santo procede do Pai *e do Filho*. Fora do Credo é possível dizer isto em sentido metafórico, pois o Filho envia o Espírito Santo para o mundo. Porém, no Credo, fala-se das relações internas e eternas da Trindade. 

Carlos Magno, rei dos francos, tentou reconstruir o Império Romano ocidental com bases germânicas. Seu trabalho civilizacional foi um dos grandes movimentos que tornaram possível o Ocidente como o conhecemos. Mas também foi ele quem pela primeira vez quis forçar que se acrescentasse de forma sistemática no Credo Niceno-Constantinopolitano a frase "e do Filho". Dessa forma, ele podia acusar os "gregos", isto é, os católicos ortodoxos de língua litúrgica grega, de terem deturpado o Credo e assim justificar seu próprio título de Imperador dos Romanos, que já era usado pelo Imperador em Constantinopla muito antes. Acusando o Imperador em Constantinopla de heresia, ele podia se mostrar como o legítimo substituto de líder supremo dos romanos. A alteração do Credo porém é um crime tão grande que o próprio Papa admoestou Carlos Magno contra essa mudança e mandou colocar na Catedral de Roma uma placa com o Credo original em grego e latim e sem a expressão "e do Filho". Apenas séculos depois, poucos anos antes do cisma romano de 1054, é que, durante a coroação de um rei germânico como imperador do Sacro Império Romano Germânico, e para agradá-lo legitimando o seu antecessor Carlos Magno, um Papa utilizou a expressão "e do Filho" no Credo, tornando a alteração oficial e mandatória em toda a Igreja Romana. Mesmo assim, por muitos séculos e até a ciência histórica provar o contrário, a Igreja Romana alegou para seus fiéis que os "gregos" é que haviam alterado o Credo. 

Pecado e Salvação

Igreja Católica Ortodoxa

O pecado é um estado não natural do homem, uma distorção da criação original de Deus. Depois da Queda de Adão, todos os seres humanos foram adoecidos pelo pecado ancestral, tornando-se vítimas da morte. O objetivo da vida humana é evitar o pecado, adquirir o Espírito Santo em nossos corações, e assim restaurarmos nossa semelhança com Deus. A verdade, porém, é que todos nós pecamos, e só podemos nos libertar do pecado pela energia salvífica de Jesus Cristo, que perdoa nossos pecados e do mundo através de Sua abundante misericórdia. Pela Sua ressurreição, Cristo derrotou nosso último inimigo, que é a morte. A salvação é um processo que dura a vida inteira, envolvendo nossa coparticipação passiva na energia de Cristo através da aceitação da Graça de Deus, de oração, ascese espiritual e participação na vida sacramental da Igreja.

Após a morte, há um estado intermediário entre a morte e o Julgamento Final, durante o qual as almas beneficiam-se das orações dos fiéis.

Igreja Católica Romana

De acordo com o entendimento romano, o "pecado original" é uma mancha de culpa herdada e que é passada de Adão para as gerações seguintes. Enquanto na Igreja Católica Ortodoxa o que passa são apenas as consequências do pecado de Adão (a morte), na Igreja Católica Romana é a própria culpa. 

Aqueles que morrem tendo cometido pecados veniais (pecados menores em relação aos "grandes" como assassinato, etc) e dos quais não se arrependeram devem passar um tempo no Purgatório expiando tais pecados. Esta expiação pode ser aliviada por orações e pelos méritos de Cristo e dos Santos através das indulgências.

sábado, 15 de junho de 2013

A Educação da Juventude Hoje

A Educação da Juventude Hoje

Metropolita Atanásios de Limassol

Na Igreja, educação significa "direção", a direção de pessoas não para idéias específicas ou valores ou ideais, mas a educação de pessoas para o amor de nosso Senhor Jesus Cristo. A educação na Igreja significa ensinar as pessoas a amar Cristo, porque é disso que ela trata. A Igreja fala de amor a Deus. Uma concepção secularizada de religião, de Igreja, fala de fé em Deus e apenas disso. Mas a perfeição na Igreja é o amor que vai permanecer para sempre, já que tanto a fé quanto a esperança serão abolidas no último dia e a única coisa que permanecerá será o amor. Portanto, o desafio é que as pessoas aprendam a amar Deus. Ter fé em Deus é o primeiro e mais básico passo, que deve levar ao próximo e ao próximo. Não devemos ficar parados no início, porque as pessoas não conseguem dar toda a sua vida a algo que elas simplesmente acreditam. Se forem idealistas, elas conseguem, como acontece em outros aspectos da vida que vemos ao nosso redor. Mas na Igreja, o que deve existir é o amor ao Cristo. Para nós, Cristo é tudo de que se trata. Cristo é O que é Professor de todos. Veja quão belamente o Senhor fala isso no Evangelho: "Aprendam de mim...". Isto é, as pessoas aprendem de Cristo, do mesmo Cristo, da vida de Cristo, das palavras de Cristo, mas acima de tudo através da experiência do amor por Deus dentro delas. É por isso que esta experiência é tão forte que supera todos os outros amores no mundo.

Não é suficiente, irmãos, contarmos aos nossos filhos quais são as ideias do Evangelho, não é suficiente dizer que o Evangelho e a Igreja são o que de melhor alguém pode lhes oferecer, e que amor, alegria, liberdade e justiça são belos. Claro que todas estas coisas são belas, mas o que o jovem tem que aprender hoje em dia é a amar o Cristo. Aprender que o que a Igreja lhe dá é Cristo, e isto é algo que o mundo não pode lhe dar. As pessoas sempre podem aprender a respeitar outras pessoas, amá-las, serem honestas, sinceras, justas, democráticas, progressistas, todo tipo de coisa. A Igreja não é necessária para ensinar nenhuma dessas coisas que a natureza ensina por si só. Nosso eu humano e nossa existência humana nos ensinam liberdade, justiça, democracia, respeito e amor pelos outros. O que a Igreja precisa nos contar é sobre o amor de Cristo. E aqui, deixem-me dizer, está o ponto no qual os cristãos de hoje tropeçam, porque consideram a Igreja como um sistema ideológico e que ela é suficiente para sermos boas pessoas. Que basta observamos nossos deveres. Que basta que nossos filhos tenham limites, não sejam mentirosos nem façam coisas ruins. Essas são algumas das coisas que ouvimos. Claro que sorrimos de volta, mas nada disso expressa o que a Igreja é. O que mais dizem? "É melhor estar na igreja, do que envolvido com drogas, ou na prisão." É como se a Igreja fosse o contrário de drogas e prisão. O jovem pode perguntar, "será que não existe meio-termo?" Então é a Igreja ou então as drogas? Quem não está na Igreja certamente está usando drogas? O jovem sabe que certamente não é assim. Você não tem que estar na igreja para ser honrado, nobre, honesto, bom esposo ou esposa, bom pai ou mãe, bom aluno, ou quaisquer das outras coisas boas que existem em você. É por isso que não entendemos porque nossos filhos tem outro relacionamento com Deus. E por que nós que somos mais velhos não os entendemos?  Nós dizemos sobre a Igreja: "Por que você quer isso? Não basta que você se torne uma pessoa boa, bom cientista, oferecendo seu bom trabalho para a sociedade? Por que você quer mais? Isso é exagero, fanatismo, excentricidade e uma doença." Por que temos esse ponto de vista? Porque medimos nossa vida por dever ao invés de amor. "Faça o seu dever e basta". Mas o amor, meus irmãos, não tem limites. Quando você ama Deus, você não tem fronteiras. É como quando você ama uma certa pessoa. Você quer estar com ela, unir sua vida com a dela. Você pode por fronteira neste amor? O amor é um fogo que queima no coração do homem, e não entra nos limites e moldes da lógica, mas age sozinho, desde o coração e não da cabeça. A Igreja ensina e chama as pessoas a amar Cristo acima de tudo.

Sabe, em tempos mais antigos se podia observar como tinham muitas crianças na Igreja. Lembramos, nós que somos mais velhos, que até uma certa idade, quase todas as crianças iam para a catequese, para a Igreja, e tinham um relacionamento com Deus. Depois de uma certa idade, eles se perdiam. Com quatorze, quinze, ou dezoito. Alguns iam para as forças armadas, outros para a universidade, e os esforços de pessoas como o catequista se perdiam. Por que vocês acham que era assim? Que erros foram cometidos? Claro, existe a fraqueza humana, os desafios humanos, e os cuidados que aumentam na medida em que se cresce. Mas o "erro da Igreja", usando aspas mesmo, não é a Igreja em si, mas nós pessoas da Igreja, que, infelizmente, não nos demos conta que devíamos ter dado aos nossos filhos o amor pelo Cristo. Ao invés, lhes ensinamos as idéias do Evangelho: "Ser uma boa criança, uma criança honrada, ame o próximo, faça caridade, seja uma pessoa direita". Mas o amor pelo Cristo, disso não falamos. Isso porque a teologia era, para nós, ideológica, filosófica e humanista. Ignoramos o amor de Deus, e o que significa amor a Cristo. Por esta razão não pareceu importante aprender sobre o jejum, fazer vigílias, confessar, comungar, ler as vidas dos santos. Não. Bastava ler outros livros. As vidas dos santos foram colocadas de lado. A vida ascética da Igreja, foi colocada de lado. O homem, que fora convidado para experienciar o Cristo no mistério da Igreja, foi colocado de lado. Outras coisas entraram no caminho. É por isso que estamos perdendo pessoas, uma após a outra, quando chegam na puberdade. Claro, o pecado tem seu poder e experiência. Isto atrai os seres humanos e os mantêm cativos. Por outro lado, o que vai atrai-los de volta? Idéias são sombras mortas da realidade. Uma idéia não consegue te manter, não importa o quão idealista você seja.

Felizmente, aqueles dias se foram, e hoje parece que recuperamos, redescobrimos nossas raízes e tradições. E vemos jovens nas igrejas. Vemos jovens amando a Deus, entrando na Igreja com nova visão e perspectiva. Eles podem ter dificuldades, problemas, quedas e suas fraquezas como todos nós. Mas eles escutam por amor a Deus. E isto é que temos que falar a nossos filhos, meus irmãos. Ensiná-los a amar a Deus. Quando eles amam a Deus, então revela-se interiormente a experiência do amor de Deus. Então eles aprendem e obtêm um poderoso anticorpo espiritual dentro de si mesmos, que é um contrapeso ao pecado. E com isto, se ocorrer de serem feridos pelo pecado, terão a presença do amor de Cristo para confortar seus corações. Eles sabem que não podem salvar-se a si mesmos com sua própria força, não serão salvos pelos seus perfis, mas com o amor de Deus, a compaixão de Deus, a misericórdia de Deus e o sacrifício de Cristo na Cruz por todos nós.

Se falarmos de educação na Igreja hoje, falamos exatamente desta iniciação, esta diretiva: Ajudar as pessoas a amarem a Deus.

Traduzido do grego para o inglês por John Sanidopoulos ( http://www.johnsanidopoulos.com/2013/06/where-church-today-fails-youth.html )
e do inglês para o português por Fabio L. Leite

quinta-feira, 21 de março de 2013

Orientações para a Confissão


No post anterior, lembramos que o período da Grande e Santa Quaresma é um de ponderação e preparação para o grande mistério da Páscoa. Mencionamos também o valor da confissão, que é um passo fundamental do arrependimento e da preparação para a Comunhão. Entretanto, muitas vezes ficamos sem saber por onde começar. São tradicionais as listas de questionamentos que servem de orientação para o fiel. Encontrei esta que me pareceu bem completa e pode ser de grande auxílio no auto-exame requerido para o arrependimento e a confissão, pois é baseada nos três amores fundamentais que Cristo nos ensinou serem o resumo de todas as Santas Escrituras (Amar a a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo).

Vale lembrar que lendo tais listas, acabamos descobrindo que cometemos muitos pecados que nem imaginávamos. Por maior que seja a gravidade ou quantidade deles, lembremos que o Amor e a Misericórdia de Deus são infinitamente maiores que nossos pecados. Todos eles juntos são como um grão de areia diante do mar de misericórdia que é Deus, misericórdia esta que para recebermos, basta nos arrependermos e confessarmos nossos pecados. O auto-exame cristão não deve de modo algum ser corrompido em um processo de auto-acusação, em complexos de culpa, porque uma vez que entreguemos nossas faltas ao Senhor, Ele as toma em Sua cruz e nos perdoa. Algum de nossos pecados podem já terem se tornado vícios. Nesse caso, o processo de cura pode demorar um pouco mais. O importante é não dar atenção à inclinação que nos leva a eles, não ficarmos nos sentindo culpados pelas recaídas e simplesmente irmos nos afastando das situações que dão ocasião ao pecado e irmos trocando o tipo de coisa com que alimentamos nossa mente para criarmos novos padrões de comportamento. Deus é bondoso e misericordioso.



Amor a Deus acima de todas as coisas


1. Você acredita em Deus, na Santa Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) três pessoas e um só Deus, na Divindade de Jesus Cristo e do Espírito Santo? Você acredita que a Igreja Ortodoxa é o Corpo de Cristo, Una, Santa, Católica e Apostólica? Você acredita nos seus Santos Mistérios (Batismo, Crisma, Eucaristia, Confissão, Matrimônio/Ordenação, Unção)? Você acredita no Paraíso e no Inferno?


2. Você se entrega sempre e completamente à Providência de Deus, ou se permite desencorajar e mostra falta de fé? Talvez você ame algo ou alguém mais do que ama a Deus? Você faz mais questão de ser aceito e bem-visto do que confessar a Jesus Cristo? Os mártires e santos não temiam sacrificar sua vida física para confessar a Jesus Cristo. Você teme perder "amigos", sacrificar sua vida social e profissional por causa dEle?


3. Em tempos de aflição, doença, ou provas pessoais, você fica resmungando contra Deus e perde sua fé e coragem?


4. Talvez você acredite em médiuns, tarólogos, astrólogos, guias espirituais, pais/mães de santo ou coisa semelhante? Já aconselhou alguém a procurar esse tipo de coisa?


5. Talvez você tenha superstições, acredite em "sinais", ou "números de sorte ou azar", tenha medo de gatos pretos, de passar embaixo de escadas? Você acredita em "sorte"?


6. Você ora de manhã e a noite, antes e depois das refeições? Talvez você tenha vergonha de fazer o sinal da cruz (persignar-se) em público?


7. Você estuda as Santas Escrituras e outros livros espirituais que refletem os ensinos da fé cristã ortodoxa? Talvez você "misture" um pouco de cada coisa, pegando de outras religiões, filosofias e ideologias? Talvez você faça pouco caso dos livros religiosos, ou os deixe em lugares desrespeitosos?


8. Você vai à Divina Liturgia nos domingos e nos outros dias de festa? Você chega no horário e fica até o fim?


9. Você se veste de forma modesta e conveniente na Igreja? Você procura evitar conversas frívolas ou mundanas durante os ofícios e dentro da igreja?


10. Você tenta evitar que membros da sua família vão à igreja ou aconselha a que não o façam? Você encoraja os outros a irem à igreja?


11. Você recebe a Santa Comunhão frequentemente, se preparando sempre através do jejum, participando, quando há, dos ofícios no dia anterior, e rezando as Orações de antes e depois da Comunhão, confessando-se ao menos uma vez por mês?


12. Você fica prometendo coisas? Talvez você não mantenha as promessas que fez a Deus, mesmo que tenham sido promessas que você fez apenas em seu coração?


13. Talvez você blasfeme o nome de Cristo, da Mãe de Deus, ou dos santos? Talvez você faça piada com as coisas santas?


14. Você jejua, dentro dos limites da sua saúde, às Quartas e Sextas e demais períodos de jejum? Se não, por que não?


15. Talvez você tenha sido mal-educado com um padre, um monge ou alguma outra pessoa. Talvez você tenha ignorado as orientações piedosas do seu confessor, ou acha que sabe o que é melhor para você ignorando a orientação dada pelo Senhor através da Santa Confissão?



Amor ao Próximo


1. Talvez você tenha ódio contra alguém que te tratou mau ou te insultou?


2. Talvez você fique suspeitando dos outros, dos seus pensamentos ou intenções sobre você?


3. Talvez você tenha ciúmes do progresso, felicidade, beleza ou bens dos outros?


4. Talvez você não sinta nada pelo infortúnio ou necessidades do seu próximo? Você doa para os pobres, os órfãos, os idosos, para as famílias com problemas financeiros?


5. No seu trato diário com colegas de trabalho ou clientes, você é honesto, direto, sincero e correto?


6. Talvez você tenha caluniado ou acusado alguém?


7. Talvez você fale de forma sarcástica sobre a vida cristã devota de outras pessoas? Talvez você faça piadas de quem tenha fraquezas físicas ou espirituais?


8. Talvez você tenha escutado alguma informação ou acusação sobre outra pessoa, e a passou a frente como fofoca, ao invés de segurar a língua?


9. Talvez você tenha amaldiçoado outra pessoa, ou em um momento de desencorajamento ou raiva, amaldiçoado o dia e a hora em que nasceu?


10. Talvez você já tenha mandado alguém verbalmente "pro inferno" ou tenha usado outras palavras ou gestos insultuosos?


11. Você respeita seus pais? Você cuida deles, e tem paciência com as suas fraquezas da idade, se tiverem alguma? Você os ajuda com suas necessidades físicas e espirituais? Você os leva à igreja? Talvez você os tenha abandonado, ou tratado-os com indiferença?


12. Talvez você tenha influenciado ou queira influenciar seus pais para te darem consideração especial na herança deles?


13. Talvez você tenha batido em alguém ou agredido verbalmente alguém?


14. Você vive sua vocação com integridade?


15. Você rouba? Talvez você encubra o roubo de outros, ou seja "criativo" para não pagar impostos?


16. Talvez você seja ingrato com Deus ou com os que foram bons com você?


17. Talvez você gaste tempo com amigos errados, ou esteja envolvido em relações pecaminosas? Você é amante de alguma amiga(o) sua(seu) e chama isso de namoro ou casamento? Talvez você tenha influenciado alguém a pecar, seja pelo seu exemplo, poder de persuasão, ou tentações criadas por você?


18. Talvez você tenha cometido algum tipo de falsificação, ou tenha tirado proveito do patrimônio público ou do governo? Talvez você tenha pego objetos ou dinheiro emprestado e não devolveu?


19. Você já cometeu assassinato de qualquer tipo, seja tirando a vida física de alguém ou arruinando profissionalmente, psicologicamente, financeiramente, amorosamente ou espiritualmente a vida de alguém?


20. Você já se envolveu na vida particular de outros, no seu trabalho, família, provocando discussões? Você utiliza sua piedade religiosa como plataforma para criticar e atacar os outros que não se interessam por religião tanto quanto você? Você usa Deus ou a Igreja como maquiagens para sua vaidade, ou pior, como armas de ataque e desprezo ao invés de como Salvador e Barca da Salvação?


21. Se você está namorando, você tem respeitado a castidade até o casamento? Ao buscar um(a) companheiro(a), você está fundamentando sua escolha na vontade dela(e) em seguir o caminho para Deus com você, ajudando-se mutuamente a dedicar-se a Deus? Ou está fundamentando sua escolha na aparência, libido, riqueza, "charme", paixão, popularidade, cultura ou estilo da outra pessoa? A relação de vocês é fundamentada no amor mútuo ou só de uma parte, ou pior, no reforço mútuo de vícios, paixões e carências? Você namora a pessoa tal como ela é, considerando suas ações em relação a você, ou namora um "personagem" que você projeta sobre a pessoa? E você oferece a pessoa quem você é realmente, ou um personagem, para a outra pessoa?


22. Você é leal a(o) sua(seu) esposa(o), tanto em corpo quanto em pensamento? Você ama sua(seu) esposa(o) ou a(o) vê como uma propriedade sua? Você agride sua(seu) esposa(o) física ou verbalmente? Você age como esposo(a) ou apenas exige de sua(seu) companheira(o) que o faça? Você se acha injustiçado(a) o tempo todo, que seus problemas justificam ser insensível ou agressivo(a) com sua(seu) esposa(o)? Você acha que sua(seu) esposa(o) tem que estar disponível sexualmente para você a tempo e a hora e exige que realize fantasias sexuais, acusando-a(o) ou chantageando-a(o) quando ela(ele) dizem não querer? Você tenta isolar sua(seu) esposa(o) de familiares, amigos e trabalho para tê-la(o) sob seu controle? Especialmente isolando-a(o) de quem poderia criticar seu comportamento, até manipulando-a(o) atirando culpa sobre sua(seu) esposa(o) dizendo que ela(ele) faz mal para essas pessoas deixando que saibam como você a(o) trata e que o melhor é você se afastar delas e parar de falar com elas?


23. Seu casamento foi abençoado por Deus em Sua Santa Igreja, ou você está vivendo em coabitação? O Senhor deseja nos proteger e fortalecer através do Santo Matrimônio.


24. Talvez você tenha diminuído, ofendido ou entristecido sua(seu) esposo(a)na presença de outros ou privadamente? Talvez você queira que sua(seu) esposa(o) permaneça sempre "inferior" a você em alguma habilidade ou conhecimento e fique reprimindo seu desenvolvimento ou incentivando-a(o) a fazer apenas coisas que não atinjam sua vaidade? Talvez você critique com regularidade as coisas e pessoas que ela(ele) mais gosta ou a(o) deixam feliz com o fim de manter a pessoa sempre insatisfeita com tudo e dependente emocionalmente de você?


25. Talvez você encoraje sua(seu) esposa(o) a ficar seguindo modas passageiras, a buscar um estilo luxuoso de vida ou a perder tempo precioso de suas vidas em festas?


26. Você é sensível às lutas  de sua(seu) esposa(o), dentro ou fora de casa? Vocês se esforçam para reconhecer e apoiar um ao outro nessas lutas, dando conforto psicológico, emocional e físico um ao outro, ou você age como se fosse dever exclusivo dela(e) fazer isso por você?


27. Talvez você tenha sido exigente demais  com sua(seu) esposa(o)?


28. Talvez você desencoraje sua(seu) esposa(o) de ir a igreja, orar, ler ou escutar materiais religiosos? Talvez você faça pouco da fé dela(e), falando com sarcasmo ou desprezo?


29. Você cria seus filhos com os ensinamentos e nos caminhos do Senhor? Teria colocado as buscas acadêmicas e físicas deles acima do bem-estar espiritual deles?


30. Você leva seus filhos à igreja, à Santa Confissão, ao Catecismo e a frequentar a Santa Comunhão? Você os ensina com palavras e virtudes exemplares? Você os ensina a orar de manhã e de noite, antes e depois das refeições, com seriedade e devoção?


31. Você está ciente do que seus filhos lêem e assistem em livros, cinema, TV e internet? Talvez você deixe que eles fiquem longas horas vendo TV ou na internet? Você disponibiliza pra eles boas alternativas cristãs para passarem seu tempo?


32. Você sabe quem são as pessoas com quem seus filhos andam, e quem são seus amigos?


33. Você os tem levado para ver filmes e shows que glamourizam o pecado?


34. Você ensina aos seus filhos e aos outros a humildade? Você os orienta a se vestirem com modéstia?


35. Talvez você xingue ou ofenda seus filhos ou esposa(o) quando eles te irritam?


36. Talvez você tenha cometido um aborto para evitar ter filhos, ou tenha encorajado alguém a abortar?


37. Você foi injusto com seus filhos na distribuição de sua propriedade?


38. Você passa uma quantidade de tempo significativa com seus filhos e perto deles? Quando se trata de criar filhos não é apenas "tempo de qualidade", mas principalmente "quantidade de tempo".


39. Talvez você agrida verbalmente seus filhos, ou mesmo utilize palavras indecentes quando se dirigindo a eles?


40. Você honra e ama os pais e parentes da sua(seu) esposa(o)?


41. Talvez você interfira demais no lar dos seus filhos?


42. Talvez na sua falta de fé, suas blasfêmias afetem sua(seu) esposa(o)?




Amor a Si Mesmo


01. Você tem apego demasiado a coisas materiais e bens mundanos?


02. Você tem sido pão-duro e amante do dinheiro?


03. Você tem sido ganancioso?


04. Você tem sido gastador? O que sobra deve ser dado aos pobres e seu dízimo a Deus.


05. Você tem sido presunçoso, vaidoso, ou orgulhoso?


06. Talvez você goste de esnobar com suas roupas, sua riqueza, seu sucesso, sua inteligência, sua erudição ou fazer tudo isso através de seus filhos?


07. Talvez você tenha desejo intenso pela admiração das pessoas à sua volta? 


08. Talvez você se chateie quando alguém aponte seus erros e faltas, ou se sinta ferido quando repreendido ou corrigido por seus superiores?


09. Talvez você seja teimoso, obstinado, egoísta, auto-centrado, mimado? Preste especial atenção nesses pecados, pois é difícil combatê-los e se forem deixados de lado, corrompem todo o ser.


10. Você joga cartas - mesmo sem ser por dinheiro - ou se entrega a outros jogos (video-games por exemplo) e atividades inúteis para "matar o tempo"?


11. Talvez você fique obcecado em acompanhar notícias e não consiga sair da TV, rádio ou internet?


12. Você poluiu seu corpo com pecados carnais? Talvez você entretenha pensamentos de luxúria com imagens que você tenha visto, ou passe tempo sozinho vendo imagens que provoquem pensamentos de luxúria. Isto é plantar as sementes de futuros pecados. 


13. Você "leu" livros, sites ou revistas obscenos?


14. Talvez você tenha entretido pensamentos ou cometido atos de luxúria anti-naturais?


15. Você entretêm pensamentos de suicídio, auto-piedade, autocomiseração?


16. Talvez você tenha sido guloso, continuando a comer apesar de já satisfeito?


17. Talvez você tenha sido obsceno, insultuoso ou impróprio com o fim de agradar, ser engraçado, ou até para ofender ou humilhar alguém?


18. Você foi preguiçoso, insolente ou negligente?


19. Você realmente consegue negar suas paixões e inclinações perversas? Você consegue desejar, com a ajuda de Deus, não querer o mal e querer o bem? Você consegue entender e sentir que seus desejos e paixões não são "você" e que discipliná-los é libertar-se da escravidão que eles lhe impõem?


20. Você expulsa de sua mente quaisquer maus pensamentos que poluam a sua mente?


21. Você controla seus olhos de modo que eles não busquem pessoas ou imagens provocativas?


22. Você controla o que você ouve?


23. Você se veste com modéstia? Você entra nos locais sagrados vestido com discrição  Talvez você rejeite a modéstia cristã por rebeldia, orgulho ou vaidade, assim provendo um falso exemplo para os outros?


24. Talvez você tome parte de danças pecaminosas? Você canta ou ouve músicas imorais, dedicando seus lábios e ouvidos à carne ao invés do louvor a Deus?


25. Talvez você beba em excesso, ou se polua com cigarros ou drogas? Estas coisas destroem o templo de Deus que é o corpo e são um desperdício pecaminoso de dinheiro.


26. Você busca ver a realidade e a si mesmo conforme as coisas realmente são ou cultiva histórias convenientes e agradáveis para evitar a dor ou a feiúra de uma situação?


27. Você justifica seus vícios com desculpas de virtudes, ou pondo a culpa em outras pessoas, sejam seus pais, a sociedade, amigos, esposas(os), a criação que você teve, o stress do trabalho ou qualquer outra coisa? Quando você comete algo errado contra alguém, costuma dizer que a pessoa é que "te forçou" a ter essa reação, pois você "não queria ter que fazer isso"?


28. Você busca o Bom, o Justo, o Belo e o Verdadeiro, esmerilhando-se com o fim de se tornar tudo que Deus te criou para ser, fazendo bom uso dos talentos que Deus te deu, ou faz como o mau servo da parábola que enterrou seus talentos sem fazê-los dar frutos?


29. Você busca progredir com seus próprios esforços, ou até secretamente, espera que outros, sejam colegas, amigos, esposos(as), familiares, pais, partidos, ONGs, instituições ou governo provenham sempre para você, apesar de ter saúde para trabalhar e estudar?


30. Você ama mais coisas abstratas como "a humanidade", "a sociedade", "as minorias", "a natureza", "a igreja", "os animais", "meus amigos" do que pessoas concretas como o seu pai, a sua mãe, o João ou a Maria?


31. Você quer "consertar o mundo", achando que sozinho ou em um grupo tem o poder de extirpar o mal do mundo, em algum grupo ou mesmo em uma pessoa em particular? Você está disposto a sacrificar-se para realizar esta "conserto" ou até mesmo a sacrificar outras pessoas nisso?


32. Você acha que tem a autoridade ou o direito de definir o que é o bem e o mal para o mundo e de julgar ou marginalizar pessoas por isso? Você acha que é representante de uma ética superior mal-compreendida pelos "ignorantes" e que o "futuro" vai te justificar pelas ações que comete hoje, talvez até violentas contra certas pessoas?


33. Você acredita que é válido mentir ou "dizer o que querem ouvir", em prol de fazer o "bem"?


34. Você toma por verdade apenas o que você gostaria que fosse verdade, sem ser obediente à realidade tal como ela é? Ou pior, você trata o que é sabidamente falso como se verdade fosse, o errado por certo, o injusto pelo justo, o feio pelo belo, apenas porque é mais conveniente ou menos doloroso? Você se isola de toda evidência contrária à falsa realidade que você gostaria que fosse verdade para manter-se sem dor, nem decepção, nem tristeza?


Oração de Manassés pelo perdão dos pecados


1Ó Senhor, Poderoso Deus de nossos pais, Abraão, Isaque e Jacó, e de sua justa semente;

2Que fizestes os céus e a terra, com tudo aquilo que estão neles;
3Que separaste o mar com a palavra de teu mandamento; que prendestes nas profundezas, e selastes com seu temível e glorioso nome;
4Que todos os homens tenham temor, e tremam diante de teu poder;
5Porque niguém pode agüentar perante a majestade de tua glória, e tua ira contra os pecadores é insuportável;
6Mas tua promessa misericordiosa é imensurável e insondável;
7Porque tu és o maior Senhor, de grande compaixão, paciente, muito misericordioso e perdoa as maldades dos homens. Tu, ó Senhor, de acordo com a grande bondade prometestes o perdão àqueles que pecaram contra ti: e de tuas infinitas misericórdias conferistes o arrpendimento aos pecadores, para que possam ser salvos.
8Tu portanto, ó Senhor, que é o Deus dos justos, não conferistes arrependimento aos justos, assim como a Abraão, Isaque e Jacó, que não pecaram contra ti; mas tu conferistes arrependimento a mim, pecador;
9Porque eu pequei tanto quanto o número das areias do mar. Minhas transgressões, ó Senhor, são multiplicadas: são multiplicadas, e eu não sou digno de contemplar os altos céus por causa da multidão das minhas iniquidades.
10Estou preso por correntes de ferro, não posso levantar a minha cabeça, ninguém me libertou: porque eu provoquei tua ira, e fiz o que era mau perante ti: eu não fiz tua vontade, nem guardei teus mandamentos: eu levantei abominações, e multipliquei ofensas.
11Assim, agora eu dobro os joelhos de meu coração e imploro pela tua graça.
12Eu pequei, ó Senhor, eu pequei, e eu reconheço minhas iniqüidades;
13Por isso eu humildimente imploro, perdoa-me, ó Senhor, perdoa-me e não me destrua com as minhas iniqüidades. Não te ires comigo para sempre, com o mal para mim; nem me condene às partes mais baixas da terra. Porque tu és Deus, o Deus daqueles que se arrependem;
14E em mim derrama tua bondade: porque tu me salvastes, apesar de eu não merecer, de acordo com tua grande misericórdia.
15Por isso eu o louvarei em todos os dias da minha vida: porque todos os poderes dos céus louvam a ti, e tua é a glória para sempre e sempre. Amém.


Salmo 50(51)


Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniqüidade.


Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado.


Eu reconheço a minha iniqüidade, diante de mim está sempre o meu pecado.


Só contra vós pequei, o que é mau fiz diante de vós. Vossa sentença assim se manifesta justa, e reto o vosso julgamento.


Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado.


Não obstante, amais a sinceridade de coração. Infundi-me, pois, a sabedoria no mais íntimo de mim.


Aspergi-me com um ramo de hissope e ficarei puro. Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve.


Fazei-me ouvir uma palavra de gozo e de alegria, para que exultem os ossos que triturastes.


Dos meus pecados desviai os olhos, e minhas culpas todas apagai.


Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza.


De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso santo Espírito.


Restituí-me a alegria da salvação, e sustentai-me com uma vontade generosa.


Então aos maus ensinarei vossos caminhos, e voltarão a vós os pecadores.


Deus, ó Deus, meu salvador, livrai-me da pena desse sangue derramado, e a vossa misericórdia a minha língua exaltará.


Senhor, abri meus lábios, a fim de que minha boca anuncie vossos louvores.


Vós não vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis.


Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar.


Senhor, pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, reconstruí os muros de Jerusalém.


Então aceitareis os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; e sobre vosso altar vítimas vos serão oferecidas. 

Orientações para o Jejum Ortodoxo


* O objetivo do jejum é focar nas coisas do Reino de Deus e livrar-nos da dependência das coisas do mundo.

* O jejum não é em si mesmo uma forma de agradar a Deus.

* O jejum não é uma punição por nossos pecados. Nem é uma forma de sofrimento e dor auto-infligidos com o fim de "pagarmos" por nossos erros. Cristo já nos redimiu na Sua Cruz. A salvação é um dom gratuito de Deus e não é comprada com nossa fome, sede ou sofrimento.

* Jejuamos para nos livrarmos das paixões carnais para que o dom gratuito de Deus para nossa salvação possa gerar  grandes frutos em nossas vidas.

* Jejuamos e voltamos nossos olhos para Deus em Sua Santa Igreja. Jejum e oração foram feitos para andarem juntos. O jejum e a oração devem vir acompanhados da doação de esmolas, confissão, leitura da Bíblia e textos espirituais ortodoxos. Como o jejum é um tempo de profunda reflexão espiritual é que casamentos não podem ocorrer durante épocas de jejum: é um tempo de ponderação e preparação, não de ação. Casais devem aproveitar os períodos de jejum para se preparem para o grande evento espiritual que será a cerimônia do seu matrimônio, iniciando sua caminhada como casal perante Cristo.

* Acima de tudo, é importante que não devoremos uns aos outros. Pedimos a Deus que "nos dê vigilância e preserve os portões de nossos lábios".

* O jejum ainda é relevante, é para todos e não só para monges, e está longe de ser obsoleto. O primeiro mandamento de Deus e que causou a expulsão do Paraíso foi o jejum: "De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás;" (Gên 2:16-17). Jesus jejuou, assim como os Apóstolos mesmo após Sua Ressurreição. 

* Devemos jejuar também de assuntos, atividades, pessoas, lugares e hábitos, sejam vícios como o cigarro, fofoca, olhar luxurioso, irritação, reclamação, pessimismo, preguiça ou apenas coisas sobre as quais nutrimos a ilusão de quê "não posso viver sem isso", especialmente se forem maus-hábitos, más-companhias ou frivolidades.

* Jejuamos fielmente e em segredo, sem julgar os outros e sem achar que somos referência do que é melhor.

*  Os períodos de Jejum da Santa Igreja Católica Ortodoxa são os seguintes:
01) A Grande Quaresma, que é um período de seis semanas que precedem a Semana Santa;
02) O jejum da Semana Santa;
03) O Jejum de carne durante a semana anterior ao início da Grande Quaresma;
04) O Jejum da Natividade entre os dias 15 de novembro e 24 de dezembro em preparação para a Festa do Natal;
05) O Jejum dos Apóstolos que vai da segunda após o domingo de Todos os Santos até o dia 29 de junho, dia de S. Pedro e S. Paulo. O Domingo de Todos os Santos ortodoxo cai em uma data variável de acordo com a data da Páscoa. Não coincide com a mesma festa no calendário romano;
06) O Jejum da Dormição de 01 a 15 de agosto em preparação para a festa da Dormição da Teotókos.
07) Jejum da Véspera da Teofania (5 de janeiro)
08) Decapitação de São João Batista (29 de agosto)
09) Elevação da Santa Cruz (14 de setembro)
10) Todas as Quarta-Feiras, em lembrança da traição de Judas Iscariotes;
11) Todas as Sexta-Feiras, em lembrança da Crucificação de Cristo; Mosteiros costumam adicionar um jejum na Segunda-Feira em comemoração dos Anjos;

* Jejum, oração e confissão são elementos necessários da preparação para a Comunhão. Quando a Divina Liturgia acontece de manhã, mantemos um jejum estrito (nenhuma comida ou bebida, nem água - mas sim pode-se escovar os dentes) até a Comunhão. Algumas pessoas também se abstém de carne e laticínios desde o anoitecer de sábado. Quando a Liturgia ocorrer de tarde ou à noite, devemos manter um jejum de cerca de seis horas.

* São 5 os grupos de alimentos que deixamos de consumir no jejum mais estrito: (a) Carnes de todo tipo de animais terrestres (inclui ovos) e derivados; (b) Laticínios e derivados; (c) Peixes com espinha (moluscos são permitidos); (d) Vinho e demais bebidas alcoólicas; (e) Óleos (inclui azeite, frituras, etc). 

* Se não conseguimos seguir o jejum estrito, que é praticamente vegetariano, devemos fazer o que for mais próximo possível. Algumas pessoas não conseguem deixar de consumir algum tipo de proteína animal, então consomem peixe. Nessa questão devemos lembrar da passagem da esmola da viúva no Evangelho. O homem rico doou uma pequena fortuna, e a viúva deu a única moeda que tinha. Jesus disse que ela tinha doado muito mais porque deu tudo que tinha. Na vida religiosa, e no jejum, essa é a lógica. Temos que dar o máximo de nós que podemos, tentar fazer o melhor possível. Se, tentando com toda nossa força, com toda nossa força de vontade, nosso máximo é nos abstermos de carne vermelha, ótimo. Mas se tivermos força o suficiente para a dieta vegetariana durante o jejum, este é o nosso máximo. O que Deus pergunta de cada um é: "Você está dando o máximo de si?" E como foi Ele mesmo que nos deu força em medidas diferentes, podem ter certeza que Ele sabe se estamos realmente fazendo o melhor que podemos. Igualmente, não devemos julgar o nosso próximo. Talvez você, realizando um jejum estrito, tenha que se esforçar menos que alguém que luta para evitar apenas as carnes, ou o álcool durante o jejum. Temos que jejuar também de cuidar da vida alheia.

Quando não jejuamos ou podemos relaxar o jejum

* Estão isentos do jejum: bebês, crianças muito novas, idosos, mulheres grávidas, mães amamentando e pessoas adoentadas.

* Podemos relaxar o jejum: quando estamos viajando e não há acesso a comidas adequadas, quando temos um trabalho com intensa atividade física, quando estamos recebendo a hospitalidade de alguém (o amor ao próximo é um dos objetivos do jejum,  e não faz sentido ofender alguém para dar demonstrações externas de piedade. Entretanto, a hospitalidade alheia não deve ser usado coma desculpa para gula, "compensando" tudo que não se comeu antes. Aceitamos a comida mesmo que não seja de jejum, mas ainda comemos com moderação).

* O jejum deve ser suspenso ou adaptado, conforme a necessidade, se causar problemas de saúde para a pessoa. 

* Pessoas com dietas recomendadas por médico devem obedecer o que o médico ordenou, focando seu jejum em outras coisas, como deixar de ver TV, deixar de frequentar certos lugares ou sites na internet, evitando determinados tipos de conversa, etc. 

* Se você estiver sentindo tonturas, problemas de pressão, problemas de estômago, algum tipo de fraqueza, talvez esteja exagerando no jejum ou o metabolismo do seu corpo não aceite um jejum tão rigoroso. Pare imediatamente o jejum para se recuperar e depois vá testando o que você pode se abster sem passar mal.

* Óleos, peixes com espinha, e vinho e demais bebidas alcoólicas podem ser consumidos (com moderação) nos seguintes dias: Sábados e Domingos do Jejum de Natal; no dia da Anunciação de Nossa Senhora, mesmo que seja Quaresma, no Domingo de Palmas; Sábados e Domingos do Jejum dos Apóstolos e no dia Transfiguração do Senhor;

* Depois de determinadas festas muito especiais, não realizamos jejum de nenhum tipo como demonstração de alegria:
1) Não jejuamos por uma semana após o Natal (de 25 de dezembro até 4 de janeiro);
2) Não jejuamos por uma semana após o Domingo do Publicano e do Fariseu (primeira semana do Triódion);
3) Não jejuamos durante a Semana da Luz, a semana após a Páscoa;
4) Não jejuamos durante a Semana da Trindade, a semana após o Pentecostes;
5) Não jejuamos só porque nos deu vontade, quando bem-entendermos. Trata-se de uma forma de disciplina da vontade, e temos de jejuar do próprio jejum conforme as orientações da Igreja.

terça-feira, 5 de março de 2013

Domingo do Filho Pródigo


No segundo domingo do Triódion, celebramos o Domingo do Filho Pródigo, Relembremos a parábola:

11 Disse-lhe mais: Certo homem tinha dois filhos.    12 O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes, pois, os seus haveres.    13 Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.    14 E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades.    15 Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos.    16 E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada.    17 Caindo, porém, em si, disse: Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!    18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;    19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados.    20 Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.    21 Disse-lhe o filho: Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.    22 Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés;    23 trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos,    24 porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se.    25 Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças;    26 e chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.    27 Respondeu-lhe este: Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.    28 Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele.    29 Ele, porém, respondeu ao pai: Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos;    30 vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.    31 Replicou-lhe o pai: Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu;    32 era justo, porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado.
S. Lc. 15:11-32
   
Esta parábola é um resumo de toda a Bíblia, de todo o nosso caminho enquanto criaturas e Filhos de Deus. Vemos a Queda, a exigência da Herança antes do tempo (virtudes e bençãos antes do tempo certo sempre se tornam maldições; a "Herança" é sermos aquilo que Deus nos fez para sermos, termos o que Deus quer que tenhamos, encontremos quem Deus quer que encontremos e da forma que Ele deseja que isso tudo transcorra), o período de orgulho e arrogância que se crê capaz de viver de acordo com sua própria vontade, "criando seu próprio destino" distante da vontade de Deus. O resultado final disso é a decadência total, se não material, sempre espiritual, representada por viver junto aos porcos, o animal mais impuro na simbologia judaica. Finalmente, temos o caminho da Salvação que *sempre* começa com o arrependimento: antes de Jesus iniciar Seu ministério, S. João Batista conclamava: "Arrependei-vos!". O caminho para a saúde espiritual é o arrependimento, e quando pedimos perdão temos que nos lembrar que o arrependimento é a forma de recebê-lo. Deus sempre perdoa, mas recebermos seu perdão e arrepender-se são exatamente a mesma coisa.

Quantos de nós pedem perdão a Deus na esperança de sermos poupados das consequências de nossos erros, mas não efetivamente nos arrependemos de termos praticado aquelas ações, pensamentos ou omissões pecaminosas? Quantos de nós não pensamos como o ladrão, que se arrepende do erro que permitiu que a polícia o pegasse, mas não de ter roubado, não de gostar de roubar? Vemos com a parábola que o filho pródigo não se arrepende somente de estar em meio aos porcos. Ele se arrepende plenamente de tudo, desde o momento em que tomou a equivocada decisão de exigir sua herança, de abandonar o seu pai, de vender suas roupas originais e de viver em função da diversão, da "felicidade", do hedonismo. Com esse arrependimento sadio, porém, ele não fica culpando-se e torturando-se, buscando formas de se punir por seus erros, ou purgar seus pecados. Ele simplesmente sai do chiqueiro. "Vá e não peques mais!" como já recomendou Cristo, sem jamais exigir que "pagássemos por nossos erros". Embora ele reconheça o tempo inteiro a condição indigna em que se colocou, ele caminha na estrada de retorno ao seu lar original. Ele não fica remoendo seus erros, nem parado, repetindo seus pecados, mas busca combatê-los.

Igualmente, reparem que os donos dos porcos deixavam que ele ficasse ali e até comesse os restos dos porcos. Com certeza, essa comida de porcos o salvou de uma situação pior, pois devia estar passando fome e enfraquecido por seus muitos erros. O que aconteceria se o filho mais novo, por "gratidão" ou por "amor" decidisse ficar no chiqueiro para sempre, recusando-se a reconhecer que errara em ter seguido um caminho que o levara até ali, de todas as suas decisões, sentimentos, valores, pensamentos e ações que o fizeram chegar àquele ponto? O arrependimento e o reconhecimento do seu verdadeiro estado incluem o reconhecimento dos falsos amores que nos salvam para nos rebaixarem, nos ajudam para nos limitar à vida de porcos. Inclui abandonar a vida de apascentar porcos e que nos coloca no nível destes mesmos porcos. Deus não nos fez para o sofrimento, para a dor, mas para a glória. Como veremos a frente, Ele não deseja nos punir, não deseja que vivamos um inferno disfarçado de amor.

Na parábola, o pai representa Deus. Vejamos como suas ações são descritas e o que isto significa. "Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou." Dois ensinamentos estão contidos nesta passagem: 1) fala da descida de Deus ao mundo em Seu Filho Jesus Cristo, que sendo inteiramente homem e inteiramente Deus, é Deus que vem nos encontrar no meio da estrada. Deus "sai do céu" e vem nos encontrar aqui mesmo, na terra, enquanto ainda estamos "longe". Como o próprio Filho Pródigo, não temos mais forças nem mesmo para chegarmos ao nosso lar. Nosso pai tem que vir ao nosso encontro e nos dar suas próprias forças. 2) Deus não espera que estejamos limpos de nossos muitos pecados para nos amar e vir ao nosso encontro. "Estando ele ainda longe" mostra que com um mero arrependimento sincero, não importa o número e gravidade de nossos pecados, em que tipo de sujeira nos metemos, Deus vem ao nosso encontro, nos abraça e beija como filhos.

O filho pede perdão ao pai diretamente como realmente devemos pedir perdão a Deus dizendo "Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, tem piedade de mim, um pecador". Mas o pai, ouvindo isto, nem dá muita atenção porque ele nos ama e quer o nosso bem. Ele não quer nos punir por nada, quer apenas que estejamos bem. Ele ordena a seus servos que tragam roupa nova, o anel de autoridade e poder, sapatos da melhor qualidade. Roupas novas, na tradição cristão, simbolizam o novo corpo glorioso que teremos após a ressurreição, o mesmo tipo de corpo que Cristo apresenta após à Sua própria Ressurreição. O filho, que se reconhecera pecador e indigno de ser chamado de filho, queria ser um mero servo na casa do seu pai. Entretanto foi recebido como mais que mero filho, foi recebido como príncipe.

Reparem o que é necessário: arrependimento, reconhecimento da nossa condição real de indignidade e miséria, desejo de servir e não ser nada mais que um servo na casa do pai. E a recompensa é absolutamente desproporcional: ser tratado como filho e príncipe. Este é o aspecto positivo da justiça divina, foi para tornar isto possível que Jesus veio ao mundo, encontrar-se conosco enquanto ainda "estamos longe". A pergunta é: realmente nos arrependemos, não apenas de estarmos no chiqueiro mas até das decisões, valores e sentimentos que nos trouxeram até aqui? Nosso arrependimento é saudável, cristão, ou seja, nos leva a dar passos decididos para fora da sujeira? Ou é apenas auto-piedade imobilizante, ou até pior, uma coisa que a gente fala como desculpa para realmente nem termos que nos mexer, já que "já reconheci meus erros"? Porque a verdade é que um destino glorioso nos aguarda quando decidimos trilhar, não os caminhos determinados por nossa própria vontade, não o destino que nós mesmos tentamos criar, mas os caminhos da casa do pai, o destino natural de sermos filhos e filhas de Deus.

Uma nota final sobre o irmão mais velho se faz necessária. Ele não está no chiqueiro, está na própria casa, na presença do pai. Mas sua inveja, sua falta de vontade de partilhar na alegria do retorno do irmão mais novo e da festa dada por sua salvação, fazem com que ele viva no inferno. É a intensidade do amor do pai dele, vista por um coração endurecido, que é propriamente o inferno. Notem que tragédia e tristeza: para o coração endurecido no mal é a contemplação do amor de Deus que o faz sofrer - mesmo que ele tenha sido um grande trabalhador do pai. Assim, mesmo o trabalho das coisas de Deus só é proveitoso para a Salvação se feito por amor de Deus e do próximo. É comum vermos discussões sobre se é a fé ou as obras que salvam. O que a Igreja Ortodoxa ensina, preservando a tradição da parábola do Filho Pródigo, é que o que salva é o amor. O amor é que motivou o filho mais novo a querer sair do chiqueiro, a andar para o pai, a pedir perdão. A falta de amor foi o que levou o filho a sair de casa e até a "amar" os porcos por um tempo. A falta de amor é que causou o tormento do filho mais velho que trabalhara diligentemente toda vida. Aprendamos, portanto a amar e nos deixarmos sermos amados como o filho pródigo, não apascentando porcos como se isso fosse um favor, mas recebendo as vestes de glória que nos foram reservadas desde toda a eternidade.