quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ecumenismo e Secularismo


Pronunciamento do Metropolita Jonas dos Estados Unidos para a Assembleia da Igreja Anglicana da América do Norte - 8 de Junho de 2012


http://orthodoxnet.com/blog/2012/06/metropolitan-jonah-our-battle-is-against-secularism/ 

 
Irmãos e irmãs em Cristo! É bom estar aqui novamente com vocês, três anos depois da primeira vez que nos encontramos em Bedford, Texas. Eu trago para vocês saudações e, espero, encorajamento da Igreja Ortodoxa na América.

Ao longo dos últimos três anos nossas igrejas conduziram um diálogo teológico, discutindo as questões que nos separam, questões que não tratam da Igreja Ortodoxa na América vs Igreja Anglicana na América, mas questões que separam o anglicanismo da ortodoxia. O foco tem sido na questão do filioque, a adição que a Igreja Romana fez ao Credo Niceno, forçando-o a toda a Igreja Ocidental no século XI, desestabilizando assim a unidade da confissão da Fé Católica.

Gostaria de lembrá-los que a raiz e fundamento da Igreja da Inglaterra não é "romana", mas o Catolicismo Ortodoxo que é mais amplo e prevalecia até que a Igreja Romana iniciasse as enormes mudanças do Segundo Milênio. A Igreja da Inglaterra era uma igreja católica local em comunhão com Roma e com as demais igrejas durante quase todo o primeiro milênio. Parte do que a Reforma inglesa, e mesmo continental, pretendia era trazer a Igreja de volta a suas raízes originais, livre das mudanças que ocorreram durante o isolamento da Igreja Ocidental durante a Era das Trevas e a Idade Média. A Ortodoxia entende que a Reforma equivocou-se ao reforçar precisamente os elementos que faziam as posições teológicas das igrejas ocidentais tão idiossincráticos, isolando-se ainda mais da Ortodoxia.

Minha esperança é que possamos reverter isso. Vocês têm a oportunidade de conduzir sua igreja de volta para sua herança original, e assim realizar o rico legado do Catolicismo Ortodoxo Inglês, em comunhão com as raízes de sua tradição. Isto significa superar gerações de cisma, um cisma que foi imposto à Igreja inglesa, e depois um estado perpétuo de cisma imposto a si mesma e as igrejas estabelecidas por ela nas colônias e missões. Isso precisa ser curado.

A esperança ecumênica é pela superação dos cismas do Ocidente, de forma que as igrejas romana e inglesa possam mais uma vez retomar seu lugar na comunhão da Igreja una, católica e ortodoxa. Vocês tem um papel imenso e uma grande oportunidade nesta tarefa. Remover o filioque não é simplesmente um gesto cordial de solidariedade ecumênica; é, ao invés, uma afirmação da antiga fé da Igreja Indivisa.

Realinhamento

Existe um outro elemento que é de importância imediata, e segue diretamente do que foi dito acima. Como escreveu Robert Terwilliger, um grande eclesiástico anglicano do século XX, está acontecendo um realinhamento dentro do Cristianismo, um no qual já podemos ver as marcas de futuras rachaduras. Sempre que cismas ocorrem dentro da Igreja, geralmente é porque alguns indivíduos lideraram um grupo para fora dela, sendo desobedientes a Fé e Doutrina, e recusando-se a submeter-se à autoridade da hierarquia, a qual tenta discipliná-los e chamá-los ao arrependimento.

O que está acontencendo agora é um pouco diferente: uma divisão entre os que preservam a fé bíblica e tradicional conforme interpretada pelos Pais da Igreja e os concílios ecumênicos, e aqueles que esposam uma crença secular, sujeita à racionalização dos acadêmicos de acordo com a filosofia contemporânea, que dispensam os Pais e os Concílios como irrelevantes em nosso tempo, que dispensam os ensinos morais das Escrituras e dos Pais como culturalmente relativos. Podemos chamar isso de uma ruptura entre o Cristianismo tradicional e a filosofia mundana pós-moderna, ou podemos rotular como libertação do fundamentalismo opressor para a luz de suas próprias razões.

Não se trata de uma divisão entre católicos e protestantes, nem entre evangélicos-carismáticos vs tradicionalistas. É algo que trespassa todas as comunidades do Ocidente, afetando mesmo as Igrejas Ortodoxa e Romana em certo grau. Como anglicanos, vocês conhecem bem o problema. É o motivo pelo qual vieram aqui e não ao TEC. Está sendo criado um enorme realinhamento dentro do Cristianismo; aqueles que mantêm a fé e disciplina patrística e bíblica do Catolicismo Ortodoxo, e aqueles que o rejeitam, o criticam, e o perseguem. Vocês e a Igreja Anglicana da América do Norte são parte deste realinhamento.

Existe uma movimento cultural radical de afastamento do Cristianismo tradicional, na direção de algo irreconhecível. Os "secularistas" (por falta de um termo melhor e não-pejorativo), rejeitam o nascimento virginal de Cristo, a ressurreição e mesmo Sua Divindade; rejeitam mesmo que Suas palavras estejam registradas nas Escrituras e que as Escrituras são relevantes mesmo em nossos dias; ao invés, crêem que elas seriam opressivas e manteriam o ser humano nas trevas. Outro bispo anglicano, um certo Sr. Spong, escreveu que "o Cristianismo deve mudar ou morrer", referindo-se à ortodoxia tradicional e aderindo à secularização radical da Igreja Episcopal e de toda a Cristandade. A minha previsão é que não serão as Igrejas Ortodoxas que morrerão.

Solzhenitsyn disse que "o que os campos da morte soviéticos não conseguiram fazer, o secularismo ocidental está realizando mais efetivamente". Na Rússia, 20 milhões morreram no século passado como mártires da fé ortodoxa, e incontáveis milhões de outros foram atirados nas gulags, por resistirem contra o secularismo militante. Muitos pereceram por terem resistido aos Renovacionistas cujo cisma distorcia a Fé Ortodoxa. Seja sob o nome de ateísmo soviético, ou secularismo ocidental, o inimigo é o mesmo.

Nossa batalha é contra o secularismo. Sua Santidade, o Papa Bento XVI, nos convocou a permanecermos unidos contra este inimigo. Este é o realinhamento para permanecermos juntos pela fé de uma vez e para sempre entregue por Cristo aos Apóstolos, e deles para os bispos, sem alteração, sem mudança, sem revisões; contra aqueles que desejariam submeter a fé a era moderna, a sabedoria do mundo. Devemos permanecer juntos, e não podemos ficar sozinhos. Até mesmo a imensa igreja romana está tomada de secularistas militantes, que desafiam sua autoridade, criticam o que não conhecem, e podemos testemunhar neste país como sua unidade é cada vez mais frágil.

Irmãos e irmãs, devemos abraçar a Cruz de Jesus Cristo, a loucura do Evangelho, a sabedoria que não é deste mundo. Devemos alegrar-nos na salvação que Deus nos concedeu em Seu Filho, Jesus Cristo, que foi crucificado por nós e ergueu-se dos mortos. Nos glorificamos em Sua Ressurreição, e esperamos sua Segunda Vinda. E devemos superar as divisões que nos separam, para que possamos estar unidos em uma mente e um coração, confessando que Deus veio em carne para nos erguer ao Céu. Devemos viver de acordo com os mandamentos éticos e morais de Nosso Senhor Jesus Cristo, consagrados no Evangelho, rejeitar o pecado e reconhecer sua corrupção. Esta é a fé ortodoxa dos Pais, dos Concílios Ecumênicos e da Igreja indivisa. Nós temos que aceitar o desdém e o escárnio daqueles que são deste mundo mesmo daqueles que chamam a si mesmos de irmãos. Temos que aceitar sermos expulsos da sinagogas e ridicularizados, processados nos tribunais, e considerar sem importância tudo que perdemos pelo amor de Cristo. Isto, meus amigos, é a nossa cruz. Temos que apoiar uns aos outros enquanto a carregamos. Quanto mais próximos nos tornamos, maior deve ser o nosso apoio mútuo, e não perderemos a motivação, nem esqueceremos que Cristo já conquistou a vitória: Ele venceu o mundo. Aceitando seguir o caminho de Sua Cruz, também nós partilharemos de Sua Vitória.

Escutemos as palavras de S. Paulo:

Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que não haja entre vós divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo espírito e no mesmo sentimento. Pois acerca de vós, irmãos meus, fui informado pelos que são da casa de Cloé, que há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de que entre vós se usa esta linguagem: Eu sou discípulo de Paulo; eu, de Apolo; eu, de Cefas; eu, de Cristo. Então estaria Cristo dividido? É Paulo quem foi crucificado por vós? É em nome de Paulo que fostes batizados?
Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho; e isso sem recorrer à habilidade da arte oratória, para que não se desvirtue a cruz de Cristo. A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes {Is 29,14}. Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus que é loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.



I Cor. 1:10-13, 17-25

sábado, 23 de junho de 2012

Rio+20 e a Nova Ordem Mundial - Parte II


ESCRITO POR SAULO DE TARSO MANRIQUEZ | 23 JUNHO 2012 - Publicado no site Mídia sem máscara 
No artigo anterior afirmei que a Rio+20 é um evento inserido na agenda da Nova Ordem Mundial, a qual propõe uma espiritualidade anticristã, o abortismo, a supressão gradual das liberdades civis e da soberania dos Estados. No presente artigo procurarei apresentar mais fatos e informações a respeito.
1. Construindo uma nova espiritualidade 
Os construtores da Nova Ordem Mundial sabem que não podem abolir as religiões da face da Terra. O apelo à transcendência está presente em todas as sociedades humanas. Para contornar essa impossibilidade, os planificadores globais promovem a nova religião, a chamada Nova Era.
A Nova Era não é propriamente uma religião, mas tão somente um simulacro de religião, que se apropria indevidamente de elementos de diversas tradições religiosas e os mistura com um discurso pretensamente “científico” e com técnicas psiquicas, mantras, programação neorolinguística e autoajuda. Trata-se de uma “religião” biônica e universal criada em laboratório com vistas a suprir a demanda religiosa durante a construção da Nova Ordem Mundial. Em tempo hábil, a Nova Era será descartada, mas enquanto isso não acontece, ela servirá como um pano de fundo religioso legitimador da governança global. A Nova Era precede o pesadelo tecnocrático e científico de Aldous Huxley em o Admirável Mundo Novo.
A Nova Era não é uma “religião” institucionalizada, com um corpo coeso de doutrinas e ritos, ela é um movimento e, enquanto tal, já possui - por força dos inúmeros grupos, seitas e submovimentos que para ela concorrem - certa autonomia, ou seja, já se apresenta como um simulacro suficiente de religião nesses tempos de materialismo cafona e conta com número significativo de adeptos.

Contudo, a Nova Era ainda precisa parasitar as grandes tradições religiosas, ou para corroê-las por dentro ou para fisgar novos adeptos à nova espiritualidade global.

Engana-se quem pensa que a Nova Era limita-se a parasitar as filosofias e as religiões orientais e as crenças animistas. Na atual etapa, a Nova Era é usada para forjar a unificação das religiões e para isso se infiltra também nas religiões do ramo semítico, mormente no Cristianismo[1].

A construção de uma “religião” global passa pela promoção de um ecumenismo indecente entre as tradições religiosas e pelo resgate de mitos antigos como o mito de Gaia.

Por meio da Hipótese de Gaia James Lovelock, um dos founding fathers do aquecimentismo antropogênico[2], não apresentou somente uma hipótese científica pela qual se considera a Terra um ser vivo em busca de seu autoequilíbrio, mas também resgatou o mito de Gaia, a Terra, ou Mãe Terra, mito esse que veio a ser usado no bojo da nova espiritualidade da Nova Era.

Na Teogonia de Hesíodo, Gaia é uma divindade, uma potestade ou divindade originária[3].

Pode-se dizer que o culto a Gaia serve a uma concepção panteísta de Deus. No entanto, nesse culto a própria ideia de Deus acaba sendo deixada de lado, pois o que se cultua não é um suposto deus na natureza, imanente, mas a natureza em si: diviniza-se a natureza.  
O culto a Gaia se presta a dois fins imediatos: além de romper com a noção de transcendência, acaba por suprir a demanda feminista por um sagrado feminino
A noção de transcendência que se perde é a noção de que existe um Deus criador, que embora também seja imanente, está para além do tempo, além do mundo e de sua criação. Ao se perder essa noção, o homem deixa de se sentir uma criatura que tem sua própria relação com o transcendente. Na linguagem new ager ou somos todos deuses ou somos uma massa celular compactada regida quase que exclusivamente por reações bioquímicas e ou por “energias”[4]. O próprio Deus - quando permitem falar Dele - é reduzido a uma mera energia.
Entretanto, essa perda deixa um vácuo que precisa ser preenchido por uma transcendência artificializada. É por essa razão que os movimentos new agers se valem de correntes místicas e esotéricas ou pseudo-esotéricas das mais diversas com o fito de promover uma suposta “iluminação”.
A Nova Era é tida como a era do “novo tempo”, a Era de Aquários, a Era pós-cristã.
E qual é a relação da Rio+20 com essa história?
Só com uma olhada rápida e descuidada é difícil identificar com clareza a relação da Rio+20 com a Nova Era. No entanto, quando se vai um pouco mais a fundo a relação começa a se tornar evidente.
Diversos grupos e diversas ONGs que participaram da Rio+20 estão imbuídos da mentalidade da Nova Era e, de forma clara, aderiram à espiritualidade e à educação gaiana. A educação gaiana, a Gaia Education, é um projeto global que tem por escopo capacitar pessoas para a "sustentabilidade".  No Brasil, a educação gaiana é promovida pela ONG Terra UNA. A Gaia Education e seus representantes brasileiros estão na Rio+20.
Mas o que mais evidenciou a relação da Rio+20 com a Nova Era foi a Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, que foi

“um evento organizado pela sociedade civil global que acontecerá entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro – paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20”[5].

Na Cúpula dos Povos foi montanda uma Tenda chamada Gaia Home, na qual froam realizados rituais que mostraram bem a nova espiritualidade que orienta a Rio+20.
Dança da Paz na Rio+20
Não se pode dissociar essas iniciativas notoriamente religiosas, ou melhor, pseudo-religiosas, com as atividades da URI (United Religions Initiative), que é hoje um tentáculo da ONU. No entanto, ações as quais dá suporte são observadas desde o século XIX, visando, em nome da tolerância e pluralidade religiosa, neutralizar a influência das grandes religiões; o principal alvo é o cristianismo, bem como fortalecer idéias como o controle populacional, uma “ética global” coletivista, e reduzir as religiões à mera militância em prol “de um mundo melhor”, ao mero ativismo social.

O livro de Lee Penn, False Dawn, traz praticamente tudo o que é necessário saber a respeito da URI, e logo se percebe porque eventos como a Rio+20 são como são.
A nova espiritualidade global é uma espiritualidade sem Deus; é uma espiritualidade onde não há pecado, nem pecadores, mas tão somente semi-deuses “iluminados” e “libertos”, partícipes da ”nova consciência universal” definida de antemão pelos novos Concílios Ecumênicos, formados pela ONU e pelas ONGs (cujos líderes são como patriarcas que representam a massa dos fiéis da sociedade civil global).
2. Aborto para a sustentabilidade
A legalização do aborto por todos os cantos do mundo é um dos objetivos mais caros da agenda da Nova Ordem Mundial.
O aborto em escala global é defendido e patrocinado por diversos atores da Nova Ordem Mundial (ONU[6], OMS[7], Fundação Ford[8], etc.).  
A Rio+20 – conforme fora destacado no artigo anterior – faz parte da agenda da Nova Ordem Mundial. Por essa razão, as ONGs, as representantes da “sociedade civil global” na Rio+20, defenderam a legalização do aborto como uma medida necessária para a promoção do desenvolvimento sustentável[9].
A defesa do aborto por ONGs visa dar a impressão de que é a sociedade que almeja a prática “sustentável” do aborto.
Essa postura das ONGs na Rio+20 não deve causar espécie. As ONGs globalistas, muito bem financiadas por fundações bilionárias, estão fazendo o que foram pagas para fazer; estão atendendo, pavlovianamente, ao chamado de seus senhores.
Doravante, já se pode falar em “aborto verde”, “aborto sustentável” ou, quiçá, “bioaborto”.
3. “Governança Mundial”   
A soberania dos Estados é um óbice para a construção de uma Nova Ordem Mundial e de um Governo Mundial. Os globalistas não se cansam de criar estratégias para superar o conceito “retrógrado” de soberania. Em novilíngua, é preciso “avançar”...
O globalismo de cepa ocidental é sofisticado, sedutor, e forjado com muita paciência. Esse globalismo não é propriamente uma novidade[10], no entanto, sua efetiva articulação é mais recente.
Da década de 1950 para cá é possível se constatar o fortalecimento e a aceitação do discurso globalista. Contudo, a propositura de um Governo Mundial propriamente dito só surge na década de 1990[11].
Para tornar palatável a ideia de um Governo Mundial os globalistas inventaram a expressão eufemística “Governança Global”.
Como tentáculos da Nova Ordem Mundial, as melancias totalitárias reunidas na Rio+20 promovem abertamente a dita “governança global”.
Os mentores do governo mundial viram na questão ambiental um meio eficaz para legitimar a criação de um poder global centralizado. Para tanto, exploram-se até a exaustão problemas transfronteiriços (p. ex.: chuva ácida, questão dos refugiados ambientais, etc.) e ou regionais com vistas a transformá-los em problemas globais que demandam soluções globais. Assim, foram elaborados uma série de documentos enfatizando a “necessidade” de uma Governança Global para se proteger o meio ambiente e se promover o desenvolvimento sustentável.
Porém, antes de defenderem enfaticamente um Governo Mundial os planejadores globais destacaram a importância de haver uma Organização Mundial para o desenvolvimento sustentável. Assim, em 2002, o relatório International Sustainable Development Governance.The Question of Reform: Key Issues and Proposals da Universidade das Nações Unidas já defendia a centralização política da questão ambiental na World Environment Organisation (WEO).
Na esteira desse relatório foram elaborados outros relatórios: em 2008, o International Institute for Sustainable Development (IISD) publicou um texto chamado Governança Ambiental Global: Quatro Passos para Coerência segmentada: Uma Abordagem Modular e em 2010, o Instituto Fritjof Nansen publicou o relatório International Environmental Governance; também 2010 o Stakeholder Forum elaborou, já visando a Rio+20, o Artigo de Discussão 1: Governança Internacional para o Desenvolvimento Sustentável e Perspectiva Iniciais para Rio +20.

Superada a fase preparatória, os globalistas já se permitem falar em Governança Global sem, contudo, os usuais e limitantes subtítulos. Nesse sentido, merecem destaque as Propostas Para uma Nova Governança Mundial, as quais foram elaboradas tendo em vista a Conferência Rio+20[12]. Dentre as propostas vale destacar a instituição de um Tribunal Internacional do Meio Ambiente e a constituição de uma força armada mundial independente dos Estados.

Por fim, merece destaque o texto Caminhos e Descaminhos para a Biocivilização  disponibilizado pelo Portal Rio+20. O texto propõe uma transformação no paradigma civilizatório no sentido de se criar uma Biocivilização. O texto fala em “desprivatização da família”, critica uso de carros, manifesta indignação com os sistemas de segurança e vigilância dos prédios e condomínios (vistos como meios de exclusão social), traz a propriedade privada intelectual como um elemento “negador de humanidade”, defende que o “princípio da propriedade individual da terra” deve ser posto radicalmente em questão e, por fim, defende “o diálogo intra e inter movimentos que permita sínteses novas combinando tudo o que significa o bem viver dos povos indígenas,com o cuidado das feministas (???), o conhecimento compartilhado das plataformas do software livre e do copyleft, da agroecologia e economia solidária, sem contar o que vem da ecologia profunda e a ética ecológica”. O diálogo entre os diversos “sujeitos coletivos” é tido como “um novo modo de fazer política”; um “mosaico dinâmico e de múltiplas possibilidades da nascente cidadania planetária”.
4. Declaração final da Rio+20 – “The future we want”
A declaração final da Rio+20, The future we want, por ser uma declaração oficial, adota, ardilosamente, um tom leniente. A Declaração, de forma estratégica e sedutora aponta a necessidade de se erradicar a pobreza, coloca o ser humano no centro do desenvolvimento sustentável e reafirma a importância da liberdade, da segurança, do estado de direito e dos direitos humanos, dando assim, a impressão de que se trata de um evento voltado tão somente para resolução de problemas e para a valorização da vida humana. Isso é só estratégia discursiva.
A Declaração Final da Rio +20 reafirma os princípios da Rio 92 e os planos de ação anteriores, ou seja, reafirma a agenda novordista que a precedeu. Destarte, traz novamente o discurso da necessidade e urgência de se enfrentar as mudanças climáticas e, alinhada com as propostas anteriores de redução da população mundial, enfatiza a promoção do planejamento familiar e dos direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e jovens:

Reafirmamos nuestro compromiso con la igualdad entre los géneros y la protección de los derechos de la mujer, los hombres y los jóvenes a tener control sobre las cuestiones relativas a su sexualidad, incluido el acceso a la salud sexual y reproductiva, y decidir libremente respecto de esas cuestiones […].
A defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres é uma forma sofisticada de se promover a agenda abortista.
Quanto à promoção de direitos sexuais aos jovens, vale dizer que há aí a tentativa de retirar a autoridade dos pais sobre seus filhos. O objetivo é fazer com que os jovens exerçam, precocemente e sem quaisquer impedimentos, a sexualidade. Eis aí uma aplicação concreta da “desprivatização” da família.
Ademais, a Declaração reconhece a importância internacional da expressão “Mãe Terra” (“Madre Tierra”).  
Conclusão:Tal como Hitler, Stálin e Mao, as melancias totalitárias propõem um novo homem e uma nova civilização.
A Rio+20 não é um evento espiritualmente neutro, afinal a ONU não é, e a existência da URI é prova disso. Ela está alicerçada num projeto que visa construir uma nova espiritualidade global.
Nessa espiritualidade, o ser humano é colocado no mesmo plano das galinhas e das árvores. Na Nova Era, a morte de um ser humano é análoga a uma espinha que estoura, ao furúnculo que é expelido. É por isso que as ONGs defenderam o aborto como uma prática sustentável. Matar bebês no ventre de suas mães, nesses tempos de duplipensar, não é violência é “não violência”, é paz.
Os biocidadãos new agers se postam contra as guerras e promovem uma cultura de “paz” e “não violência”, o que parece ser uma coisa bonita, pois afinal, quem é que gosta de guerra, dor e sofrimento? Contudo, a sustentabilidade new ager, “gaiana”, não dispensará o uso da força para se impor. Um exército mundial certamente será o braço armado da solução ambiental global que marchará contra os povos, as religiões e os Estados não dispostos a se prostrar perante um poder temporal, global, ilegítimo e antidemocrático.   
A despeito de eventuais propostas bem intencionadas e razoáveis, a Rio+20 é um evento enraizado numa cosmovisão desumanizadora e totalitária.
O espetáculo de bom mocismo e engajamento cidadão da Rio+20 é falsa luz é falsa paz. É a paz sem Deus; é a paz da Nova Ordem Mundial; é a paz do Governo Mundial.  

Notas:
[1] Para se ter uma ideia do grau de infiltração da Nova Era dentro do Cristianismo – e também no Judaísmo, diga-se – basta notar que há uma organização chamada National Religious Partnership for the Environment, uma coalisão inter-religiosa que envolve judeus, católicos, protestantes e ortodoxos em torno da “causa” do meio ambiente. Já há quem denuncie que a organização está tentando inculcar nas pessoas o culto a Gaia. Outro exemplo trágico é a Campanha da Fraternidade de 2011, cujo hino oficial chama a Terra de “Nossa mãe” e, incorporando plenamente o conceito de Gaia trazido por Lovelock, diz que a Terra é uma “criatura viva” que “respira, se alimenta e sofre”.
[2] Recentemente James Lovelock admitiu que suas projeções alarmistas estavam equivocadas.
[3] Cf. HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. São Paulo: Iluminuras, 2007.
[4] Eric Voegelin provavelmente enxergaria esse processo como um processo de “rebaixamento da substância de ordem do logos, na hierarquia ontológica, para o nível das substâncias orgânicas e dos impulsos” (VOEGELIN, Eric. Bases morais necessárias à comunicação numa democracia. Caderno de Ciências Sociais Aplicadas, Curitiba, n. 5, 2002, p. 09-10). 
[6] A título de exemplo, vale a pena conferir o seguinte documento: Human Rights Committe - Second Periodic Report - CCPR/C/BRA/2004/2 - 11 April 2005. Disponível em: http://www.unhchr.ch/tbs/doc.nsf/0/1cfb93fe59fa789ec125703c0046a987/$FILE/G0541019.pdf
[7] Cf. ESSIG, Andrew M. The World Health Organization’s Abortion Agenda. New York: IORG, 2010.
[8] A própria Fundação Ford reconhece seus financiamentos ao movimento pró-aborto. Para conferir isso, basta procurar pelos relatório anuais dessa fundação (Ford Foundation Annual Report) e fazer uma busca com as expressões “abortion” e “reproductive rights”.
[9] Cf.: http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/na-rio20-ongs-estrangeiras-defendem-legalizacao-do-aborto.html
[10] Kant, em seu opúsculo dedicado À Paz Perpétua, já propunha no segundo artigo para a paz perpétua que “o direito internacional deve fundar-se em um federalismo de Estados livres”, o “Estado dos povos, que por fim viria a compreender todos os povos da terra”[11]. Ora, o “Estado dos povos”, de todos eles, reunidos sob um “federalismo de Estados livres”, em uma ordem internacional só pode significar uma Federação Mundial que demanda necessariamente um Governo Mundial (Cf. KANT, Immanuel. À paz perpétua. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008, p. 31 e 36).
[11] Um dos primeiros discursos abertos e, por assim dizer, “oficiais” (no âmbito da ONU), no sentido de se construir um Governo Mundial é o texto de Jan Tinbergen encontrado no Human Development Report 1994. Nesse texto Tinbergen diz: “Mankind’s problems can no longer be solved by national governments. What is needed is a World Government. This can best be achieved by strengthening the United Nations system” (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME. Human development report 1994. Disponível em: http://hdr.undp.org/en/media/hdr_1994_en_chap4.pdf).
[12] IBASE/FÓRUM PARA UMA NOVA GOVERNANÇA MUNDIAL. Propostas para uma Nova Governança Mundial. Disponível em:  http://rio20.net/wp-content/uploads/2011/07/Propuestas_nueva_Gob_mundial_PT.pdf

Rio+20 e a Nova Ordem Mundial


De 13 a 22 de junho de 2012, o Rio de Janeiro abrigará a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Por se tratar de um evento inserido em uma agenda que visa transformar a cosmovisão de toda humanidade, fundar uma nova economia e aprofundar a agenda da Nova Ordem Mundial, cabe aos conservadores e às pessoas dotadas de bom senso refletir sobre o mesmo.
O evento Rio+20 recebe esse nome porque marca os vinte anos da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a chamada Rio 1992.

site da Rio+20 destaca que o evento “deverá contribuir para definir aagenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas”. Mas o que seria o desenvolvimento sustentável?
Até meados de 1960, o desenvolvimento era sinônimo de crescimento econômico e industrialização: desenvolvidos eram os países industrializados e subdesenvolvidos aqueles que não possuíam uma atividade industrial significativa ou que apresentavam uma industrialização tardia. A aferição da riqueza e, portanto, do desenvolvimento, não levava em conta a realidade sobre o acesso da população a determinados bens (materiais e culturais), mas dava-se pelo Produto Interno Bruto de um país em relação à sua distribuição abstrata per capita.

A distinção entre o desenvolvimento e o crescimento econômico só começou a ganhar corpo com a consolidação da industrialização dos países ricos e com a industrialização, tardia, das nações mais pobres, a partir do que se desenvolveram estudos - amiúde intoxicados pelo dependentismo e pela ortodoxia marxista - no sentido de comparar as diferenças existentes entre os países de industrialização precoce e os países de industrialização tardia no tocante ao acesso dos pobres a determinados bens materiais e culturais (saúde e educação, etc.).

O tratamento sinonímico entre desenvolvimento e crescimento econômico permaneceu até meados da década de 1960.

O subdesenvolvimento passou a ser identificado pela presença das seguintes características: insuficiência de renda per capita anual; subalimentação de parte significativa da população; altas taxas de mortalidade infantil; alto índice de analfabetismo; baixo nível de indicadores que caracterizam a economia moderna (v.g. geração de energia elétrica, consumo de aço, etc.); falta de líderes[1]; baixos padrões médios de consumo e de qualidade de vida; mau funcionamento das instituições políticas[2].

Em 1990, criou-se, por meio da ONU, um índice que consolidou alguns critérios para a verificação do desenvolvimento: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Desde o IDH, praticamente abandonou-se a ideia de que o desenvolvimento significa tão somente crescimento econômico. O IDH leva em conta três critérios, a saber: educação, renda e longevidade. O IDH não exclui a ideia de crescimento econômico, mas passou a tratá-lo como um meio a serviço do desenvolvimento.

Vale destacar que as variáveis não econômicas do desenvolvimento ganharam novo vigor e novos contornos com a obra Development as freedom de Amartya Sen, lançada em 1999. Sen lançou uma nova dimensão sobre as variáveis não econômicas, mormente pela construção teórica das liberdades instrumentais. A instrumentalidade da liberdade na obra de Sen faz com que o desenvolvimento seja visto para além do IDH. Sen destaca o papel das instituições e dos direitos humanos, reforçando a ideia de que o desenvolvimento não pode ser reduzido ao crescimento econômico, sob pena de se acabar relativizando as instituições democráticas e de se desconsiderar a importância das liberdades e dos direitos civis para o progresso econômico[3].

Na concepção de Sen, portanto, o desenvolvimento se caracteriza por um processo de remoção das fontes de privação de liberdade, tais como a negação das liberdades civis, econômicas e políticas por regimes tirânicos, a pobreza extrema, a carência de oportunidades econômicas, negligência e(ou) insuficiência dos serviços públicos (v. g. saneamento básico, assistência médica e segurança pública)[4].

O termo “sustentável” por sua vez, decorre do desenvolvimento teórico da ideia de sustentabilidade, a qual implica, segundo José Eli da Veiga, no “duplo imperativo ético de solidariedade sincrônica com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras”[5].

A noção primeira de sustentabilidade surgiu com o Relatório Brundtland (também chamado de Our Common Future), publicado em 1987. O Relatório conceitua desenvolvimento sustentável como sendo “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”[6].

Vale destacar que o termo sustentabilidade ganhou maior notoriedade com a ideia do tripé da sustentabilidade (ou triple bottom line), surgida em 1994 com a obra Cannibals with Forks: the Triple Bottom Line of 21st Century Business de John Elkington. Nessa obra, Elkington propõe que as organizações devem buscar criar valor em três dimensões: a econômica, a social e a ambiental. Na esteira de John Elkington, José Eli da Veiga afirma que a sustentabilidade busca “soluções triplamente vencedoras (Isto é, em termos sociais, econômicos e ecológicos), eliminando o crescimento selvagem obtido ao custo de elevadas externalidades negativas, tanto sociais quanto ambientais”[7].


Poderia se pensar que o desenvolvimento sustentável une o desenvolvimento (entendido sob o prisma de Amartya Sen e do IDH) e a ideia de sustentabilidade. Pensar assim, no entanto, demanda uma construção teórica a parte, um estudo propositivo. Em verdade, o conteúdo que a expressão desenvolvimento sustentávelpaulatinamente vem ganhando parece distanciar-se cada vez mais da valorização do ser humano, das liberdades civis e econômicas e da busca honesta pela resolução de problemas sociais e ambientais como o analfabetismo, a falta de saneamento básico (um dos mais graves problemas ambientais!) e a miséria. As liberdades públicas, as propostas de combate à miséria e a resolução de problemas básicos que afetam a humanidade até fazem parte da “agenda” do desenvolvimento sustentável, mas cada vez mais servem como “bois-de-piranha” para a passagem uma “boiada” de conceitos, valores e políticas globalistas.
Para um intérprete incauto a expressão desenvolvimento sustentável soa como uma coisa boa, pois, afinal, quem há de se opor ao desenvolvimento econômico aliado a uma melhoria das condições sociais e de quebra preservando o meio ambiente? Ademais, tendo em vista que a expressão tornou-se um mantra, repetido em todo lugar, torna-se difícil para o cidadão comum ver aí qualquer coisa ruim.

Ocorre, no entanto, que o discurso do desenvolvimento sustentável pouco preza pela harmonização dos “pés” da sustentabilidade. O discurso muda conforme o auditório. Para um público composto por empresários, ruralistas, estudantes de administração, economia, engenharia e direito ainda há certa moderação e, por isso mesmo, ainda subsiste um discurso que diz que o desenvolvimento sustentável deve harmonizar fatores econômicos, sociais e ambientais. Para os cientistas sociais e para todos aqueles que ainda bebem na fonte do marxismo ortodoxo o “pé” mais importante ainda é o social: a degradação ambiental é um detalhe no meio da opressão social causada pelo capitalismo. Para as demais pessoas prevalece o “pé” do meio ambiente. A existência de um discurso moldável ao público a que se destina mostra, por si só, que há uma distorção na suposta harmonização de variáveis alegada pelos defensores mais honestos da sustentabilidade.     
Os discursos intelectualmente honestos nas propostas de desenvolvimento sustentável só atingem um público pequeno e por serem raros, não surtem um efeito neutralizador em relação ao hegemônico discurso ambientalista.           
Recentemente o filósofo Olavo de Carvalho trouxe à tona o conceito jornalístico do termo suíte. Na linguagem jornalística, há o suíte quando um jornal ou diversos jornais dão prosseguimento a um assunto noticiado, ou seja, quando há repercussão. Assim, de nada adianta a Band entrevistar Luiz Carlos Molion ou o Programa do Jô entrevistar Ricardo Augusto Felício, permitindo que esses cientistas apresentem argumentos contrários à hipótese do aquecimento global antropogênico e ao ambientalismo radical, se os argumentos aí mostrados não serão repercutidos e colocados na pauta do debate público. Prevalece a hipótese aquecimentista e o falatório ambientalista.

Os programas de TV, as campanhas e as políticas pró-sustentabilidade, e a educação infantil sobre a sustentabilidade privilegiam o meio ambiente e colocam a humanidade como uma espécie de vírus que assola o planeta. Mas por que isso acontece? Por causa das teorias globalistas, novordistas e new agers que são, quase que necessariamente, o preâmbulo de toda discussão sobre o desenvolvimento sustentável.
           
O discurso moderno da sustentabilidade encontra suas raízes no Clube de Roma, que foi fundado em 1968. O Clube de Roma reúne celebridades políticas, acadêmicas e empresariais para debater temas como política, economia e meio ambiente. O Clube ganhou notoriedade em 1972, com a publicação do relatório intitulado The limits of growth (Os Limites do Crescimento) ou Relatório do Clube de Roma. Dentre os temas abordados pelo relatório estão: energia, poluição, saneamento, saúde, meio ambiente, tecnologia e crescimento populacional. O relatório trabalha contra dois tipos de crescimento, o econômico (no sentido industrial) e o populacional, o quais levariam a um esgotamento dos recursos e a níveis de poluição que a Terra não seria capaz de suportar.
           
No mesmo ano em que se publicou o Relatório do Clube de Roma realizou-se, por meio da ONU, a Conferência de Estocolmo, que versou sobre a relação entre a humanidade e a natureza, adotando um discurso contrário à industrialização.
           
Também em 1972, o químico James Lovelock apresentou ao mundo a Hipótese de Gaia, a qual resgata oconceito pagão da deusa-mãe, a Mãe Natureza, a Mãe Terra, e concebe a Terra como um ser vivo que busca seu equilíbrio, por assim dizer, “homeostático”. Na obra de Lovelock a humanidade é colocada como elemento desestabilizor desse equilíbrio.  
           
Sete anos após a publicação do Relatório do Clube de Roma foram erigidas as famosas Pedras Guia da Geórgia, um monumento que traz uma espécie de decálogo novordista escrito em oito idiomas. Dentre os mandamentos vale destacar o primeiro e o décimo. Alinhado com o Relatório do Clube de Roma, o primeiro mandamento diz “Maintain humanity under 500,000,000 in perpetual balance with nature”. Já o décimo mandamento traz todo o desprezo dos planejadores globais pela humanidade, pois vê em cada ser humano um câncer potencial: “Be not a cancer on the earth - Leave room for nature”.
           
Os passos seguintes foram o Relatório Bruntland e a Rio-92 (também chamada de Cimeira da Terra), a qual globalizou de vez a questão ambiental.
           
Não se pode negar que o Relatório Bruntland defende medidas interessantes, como a reciclagem de materiais reaproveitáveis, incentivo ao planejamento urbano (no sentido de proteger mananciais e diminuir os impactos negativos das atividades industriais sobre a sua vizinhança) e adoção de políticas governamentais que atendam necessidades básicas da população. Contudo, o Relatório também propôs a limitação do crescimento populacional, o banimento das guerras e concebeu a ONU como protagonista e coordenadora de um programa global de desenvolvimento sustentável.

A Rio 92, por sua vez, resultou numa série de documentos e convenções, tais como a Carta da Terra, a Convenção Sobre Mudanças Climáticas e a Agenda 21. A Carta da Terra exulta o surgimento de uma sociedade civil global que servirá para “construir um mundo democrático e humano” e, alinhada com a espiritualidade da Nova Era, propõe a promoção de uma “cultura de tolerância, não-violência e paz” (para tanto, propõe, por exemplo, a desmilitarização dos sistemas de segurança nacional[8]). A Carta da Terra ainda enfatiza a necessidade de se “adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num mundo finito” (quem definirá esse “estilo de vida”?). Já a Convenção Sobre Mudanças Climáticas preparou o terreno para a elaboração do Protocolo de Kyoto e para o fortalecimento da hipótese do aquecimento global antropogênico. E a Agenda 21, por sua vez, estabelece que o desenvolvimento sustentável deve ser arquitetado em âmbito global com o apoio dos países. Embora cada país tenha sua própria Agenda 21, as diretrizes para a elaboração da agenda vêm da cúpula globalista.     

De certa forma, a construção teórica do desenvolvimento conseguiu neutralizar as propostas revolucionárias dateoria da dependência e o discurso anti-industrialização do Clube de Roma. Já o desenvolvimento sustentável, por ser parte de uma agenda globalista, dificilmente se afastará do radicalismo ambientalista, das pretensões novordistas e do seu elemento, por assim dizer, “espiritual”, o movimento da Nova Era.

A precariedade de abordagens sinceras sobre a relação entre economia, sociedade e meio ambiente e a preferência pelos referenciais teóricos globalistas e neopagãos torna a defesa do desenvolvimento sustentável uma mera engrenagem de um projeto globalista.

Os totalitaristas sabem que não podem implantar a Nova Ordem Mundial de supetão, por isso se valem de propostas aparentemente bem intencionadas para camuflar seus mais macabros projetos. O processo de justificação da Nova Ordem Mundial está em marcha e conta com o apoio da mídia, de governos, de diversas empresas, de ONGs e de inúmeras instituições renomadas de ensino superior.

O evento Rio+20 não é apenas a continuação da Rio-92. As raízes da Rio+20 são bem mais profundas; é a continuidade de uma estratégia lançada pelo Clube de Roma.
Embora a Rio+20 se proponha a “definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas”, cumpre destacar que essa agenda já existia e o evento, na verdade, é apenas mais um item dessa agenda. A agenda na qual a Rio+20 se insere é chamada de agenda do desenvolvimento sustentável, mas na verdade é a agenda da Nova Ordem Mundial, a qual propõe uma espiritualidade anti-cristã, o abortismo, a supressão gradual das liberdades civis e da soberania dos Estados.


Referências:

[1] BARRE, Raymond. Economia política vol. 1. Rio de Janeiro – São Paulo: Difel, 1978, p. 100-102.
[2] Cf. NUSDEO, Fábio. Curso de economia. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 347.
[3] SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 19-20.
[4] Idem, p. 17-18.
[5] VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento Sustentável – o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2005, p. 171.
[6] Our Common Future, Chapter 2: Towards Sustainable Development. Disponível em: http://www.un-documents.net/ocf-02.htm#I
[7] VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento Sustentável..., p. 171-172.
[8] Recentemente a ONU solicitou a extinção da Polícia Militar brasileira.


Saulo de Tarso Manriquez
 é mestre em Direito pela PUC-PR.