quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O Que A Igreja Ortodoxa Não É - Parte 01/11


por Sua Eminência Jeremias (Foundas) de Gortyna e Megalópolis (Grécia)

O Estudo Correto dos Santos Pais Demonstra o Que a Igreja É
Próximo: Não Para a Terminologia dos Franco-Latinos

Começarei minha fala com os Santos Pais primeiro. Nós, os ortodoxos, temos Pais, e glorificamos nosso Deus como "Deus de nossos Pais". Toda reunião (sinaxis) de adoração assim como nossas orações pessoais, todas terminam com "Pelas orações de nossos Santos Pais". Muitos anos se passaram desde que o slogan "retorno aos Pais" foi primeiramente criado; e muitos estudos e projetos patrísticos ocorreram desde então e continuam a acontecer. Entretanto, a compreensão profunda dos Pais só é alcançada por aqueles que seguem o método e modo de vida desses Santos Pais em suas vidas. E isso tem lógica: o santo compreende o Santo. Não é possível compreender as experiências e teologia dos Santos Pais através de métodos científicos, porque suas vidas portadoras de Deus (assim como as teóptias* dos Santos Pais e a teologia que emana deles), transcendem os potenciais da lógica e da ciência, e por esse motivo não pertencem ao campo do estudo científico. Nem podemos interpretar os Santos Pais com a ajuda da psicologia, pois a teósis, o estado existencial em que os Santos Pais viviam, não é nem física nem contra a natureza, para que a psicologia tenha relevância, mas é um estado sobrenatural do ser humano. Por isso, repetimos que um conhecimento profundo dos Pais só é alcançado por aqueles que vivem como os Santos Pais viveram e possui vivência das experiências daquele modo de vida. São muito belas as palavras do sempre memorável professor e grande teólogo de nosso século Pe. John Romanides:

"Teósis (deificação ou glorificação) ou Teoria Divina (Contemplação Divina) é uma energia incriada de Deus, transcedendo todos os categoremas criados, na qual apenas os cheios de graça Profetas, Apóstolos e Santos tomam parte. Apenas aqueles que passam por essa experiência que analisamos é entendido por outro tendo a mesma experiência e nunca por qualquer outra pessoa, particularmente heterodoxos ou alguém que não possui um conhecimento interior da teologia bíblica-patrística da vida mística da Igreja em Cristo" (1)

Mesmo assim, os heterodoxos também conduzem estudos patrísticos e de fato acreditam que podem compreender profundamente a tradição patrística e até melhor do que os que nela foram iniciados, ou seja, nós ortodoxos. Isso é causado pela percepção orgulhosa dos franco-latinos de que o intelectual pode, através de sua poderosa lógica e erudição, penetrar os meandros da tradição patrística e compreende-la totalmente, mesmo se ele for exterior a ela. O problema é que essa arrogância dos intelectuais ocidentais também persiste em alguns círculos ortodoxos, com o resultado de não mantermos entre nós uma correta compreensão dos Pais, por não mantermos as pressuposições espirituais corretas dentro de nós, isto é, realizarmos a batalha pela limpeza do coração de suas paixões e da chegada da Graça do Espírito Santo dentro dele. Em outras palavras, realizamos estudos teológicos sem primeiro termos realizado a pressuposição patrística de limparmos nossos corações de nossas paixões.

Os acadêmicos heterodoxos que estudam os Pais têm pressuposições gravemente errôneas em seus estudos; são pressuposições teológicas e filosóficas estranhas à teologia bíblica-patrística dos Sínodos Ecumênicos. Por essa razão, não são capazes de realizar uma apresentação correta de nossos Santos Pais. Não nos impressionemos nem um pouco por seus estudos patrísticos porque são, repetimos, errôneos, pois estudam os Pais segundo o modo de análise do Abençoado Agostinho. O Pe. Romanides nos diz:

"Quando os francos finalmente adquiriram uma certa familiaridade com os textos patrísticos helenísticos, eles submeteram a teologia patrística aos categoremas da teologia agostiniana, exatamente como fizeram no século 13 com a filosofia aristotélica. Assim vemos os trabalhos dos Pais Romanos de língua helênica traduzidos para o latim sob o prisma de Agostinho" (2)

(*) Significados de "teoptia":

(a) a teologia inerrante e mística daqueles que alcançaram teoptia (a "visão" de Deus), que falam de sua experiência pessoal e comunhão com Deus,

(b) a teologia amante da sabedoria daqueles que não têm nenhuma experiência pessoal da teoptia, mas que humildemente aceitam as experiências e as teoptias daqueles que a atingiram, e teologizam de acordo com eles, e

(c) a teologia moderna (recém-descoberta e inovadora) de teólogos insolentes que teologizam dialeticamente, na base de seus próprios princípios filosóficos e que rejeitam as experiências dos santos.

(1) Pe. John Romanides no seu livro "Romans or Roman Fathers of the Church", p.52

(2) Ibid., p. 55-56. p. 104

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