quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Teólogo Grego Critica Documento de Teor Ecumenista

Dr. Dimitrios Tselengidis

Professor da Escola Teológica da Universidade Aristóteles de Tessalônica, o Dr. Dimitrios Tselengidis enviou suas primeiras observações teológicas aos hierarcas ortodoxos de diversas Igrejas Ortodoxas Locais (incluindo, as da Grécia, Rússia, Sérvia, Geórgia, Bulgária, Alexandria, e Antioquia) a respeito do documento: "Relações da Igreja Ortodoxa com o Resto do Mundo Cristão".

Tessalônica, 03 de fevereiro de 2016

O texto demonstra recorrentes inconsistências e contradições teológicas. Assim, no primeiro artigo ele proclama a identidade eclesiástica da Igreja Ortodoxa, considerando-a, muito corretamente, como a "Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica". No artigo seis, porém, existe uma contradição com respeito à formulação no artigo acima (1). Ele registra caracteristicamente que "a Igreja Ortodoxa reconhece historicamente a existência de outras igrejas cristãs e confissões que não estão em comunhão com Ela".

Aqui surge uma razoável questão teológica: Se a Igreja é "Una", de acordo como nosso Credo e a auto-identidade da Igreja Ortodoxa (art. 1), então como pode haver menções de outras igrejas cristãs? É claro que tais igrejas são heterodoxas.

"Igrejas" heterodoxas, porém, não podem de modo algum serem chamadas de "Igrejas" pela Ortodoxia. Considerando-se as coisas por uma perspectiva dogmática, não é possível falar-se de uma pluralidade de "Igrejas" com diferentes dogmas, os quais até mesmo dizendo respeito a diferentes questões teológicas. Consequentemente, enquanto essas "Igrejas" permanecerem firmes nas crenças errôneas de suas fés, não existe justificativa teológica para conceder-lhes reconhecimento eclesiológico - e estão oficialmente - fora da "Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica".

No mesmo artigo (6), existe uma outra contradição teológica. No início do artigo o seguinte foi escrito: "De acordo com a natureza ontológica da Igreja, é impossível que Sua unidade seja quebrada". No fim desse mesmo artigo, entretanto, está escrito que, pela Sua participação no Movimento Ecumênico, a Igreja Ortodoxa tem como "sua meta objetiva a pavimentação do caminho que leva à unidade".

Fica assim posta a questão: dado que a unidade da Igreja é um fato reconhecido, que tipo de unidade das Igrejas está sendo buscado no contexto do movimento ecumênico? Será por acaso o retorno dos cristãos ocidentais para a Igreja UNA e única? Tal significado, entretanto, não surge na carta, ou no espírito de todo o texto. Ao contrário, de fato, a impressão dada é que existe uma divisão longamente estabelecida na igreja e que os prospectos dos diálogos (ecumênicos) focam na unidade perdida da Igreja.

Também provoca-se confusão teológica na ambiguidade do artigo 20, que diz: "os prospectos dos diálogos teológicos da Igreja Ortodoxa com outras igrejas e confissões cristãs será sempre determinado com base nos critérios canônicos Dela, de acordo com tradições eclesiásticas já estabelecidas (o cânone sete do Segundo Concílio Ecumênico e o cânone 95 do Concílio Quinissexto)."

Mas o cânone sete do Segundo Concílio Ecumênico e o Cânone 95 do Quinissexto tratam da recepção de hereges específicos que haviam demonstrado seu desejo de reunirem-se à Igreja Ortodoxa. Entretanto, é aparente na letra e no espírito do texto, quando analisado sob uma perspectiva teológica, que não há nenhuma discussão sobre retorno de heterodoxos à Igreja Ortodox, a única Igreja. Ao invés, no texto, o batismo dos heterodoxos é considerado como um fato aceito do inicio - e isso sem uma decisão Pan-Ortodoxa. Em outras palavras, o texto endossa a "Teologia Batismal". Simultaneamente, o texto deliberadamente ignora o fato histórico de que os heterodoxos contemporâneos do Ocidente (Romanos e Protestantes) não possuem apenas um, porém muitos dogmas que diferem da Igreja Ortodoxa (além do Filioque, graça criada nos sacramentos, o primado do Papa, infalibilidade papal, rejeição dos ícones, e rejeição de concílios ecumênicos, etc.

O artigo 21também levanta questões apropriadas, quando nota que "a Igreja Ortodoxa ... tem um ponto de vista favorável dos documentos adotados pela Comissão (referindo-se ao Comitê pela "Fé e Ordem")... para a reaproximação das Igrejas.' Aqui devemos observar que esses documentos (do Comitê) nunca foram avaliados pelos Hierarcas das Igrejas Ortodoxas locais.

Finalmente, no artigo 22, é passada a impressão de que o vindouro Santo e Grande Concílio está prejulgando a infalibilidade de suas decisões, já que considera que, "a preservação da autêntica fé ortodoxa é garantida apenas através do sistema sinodal, o qual foi sempre retestado na Igreja e o qual constitui-se o juiz final e apropriado de todas as questões da fé". Nesse artigo, é ignorado o fato histórico de que na Igreja Ortodoxa, o critério final é sempre a consciência dogmática viva da plenitude da Igreja, a qual no passado confirmou até Concílios Ecumênicos e outros como concílios "ladrões". O sistema sinodal por si só não garante mecanicamente a correção da fé ortodoxa. Isso só acontece quando o Sínodo dos Bispos têm o Espírito santo e o Caminho Hipostático, Cristo, trabalhando dentro de si, e portanto são na prática um "sy" - "odikoi", um caminhar juntos no caminho.


Avaliação Geral do Texto

Com tudo que está escrito e o que está claramente implicado no texto acima, é claro que seus iniciadores e autores estão tentando uma ratificação institucional e oficial do Sincretismo-Ecumenismo Cristão através do Sínodo Pan-Ortodoxo. Isso, porém, seria catastrófico para a Igreja Ortodoxa. Por essa razão, proponho humildemente sua completa retirada.
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Para concluir, uma observação teológica sobre o texto, "O Sacramento do Casamento e Seus Impedimentos" (ver: https://mospat.ru/en/2016/28/news127389 ). No artigo 5.i, ele anota: "O casamento de uma pessoa ortodoxa com uma heterodoxa não é permitido de acordo com a akrivia (regra) canônica (cânone 72 do Concílio Quinissexto de Trullo). Entretanto, é possível receber a benção através da condescendência e amor pelo homem sob a condição expressa de que a criança desse casamento seja batizada e criada na Igreja Ortodoxa."

Aqui, a condição expressa de que, "a criança desse casamento será batizada e criada na Igreja Ortodoxa" conflita com a garantia teológica do casamento como um sacramento da Igreja Ortodoxa. A razão para isso é que a criação dos filhos é levada a, junto com o batismo deles na Igreja Ortodoxa, a legitimar o ofício do casamento misto, algo claramente proibido pelo cânone de concílios ecumênicos (cânones 72 do Quinissexto). Em outras palavras, um sínodo que não é Ecumênico, como o vindouro Santo e Grande Concílio, explicitamente transforma uma decisão de um Concílio Ecumênico em algo relativo. Isso é inaceitável.

E finalmente isto: Se o casamento abençoado não gerar crianças, esse casamento será teologicamente legítimo simplesmente por conta da intenção do esposo heterodoxo de colocar qualquer possível na Igreja Ortodoxa?

Por questão de consistência teológica, o artigo 5.i precisa ser removido.

Tradução para o inglês do Rev. Pe. Matthew Penney, 7 de fevereiro de 2016, com ajuda do Pe. C.A. e editado pelo Pe. Peter Heers. Tradução para o português pelo Lr. Fabio L. Leite
Para o original grego, veja: http://epomeni-tois-agiois-patrasi.blogspot.gr/2016/02/blog-post_88.html

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