quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O Que a Igreja Ortodoxa Não É - 06/11

Alexei Khomiakov



por Sua Eminência Jeremias (Foundas) de Gortyna e Megalópolis (Grécia)

Não ao Misticismo Russo e ao Anti-Hesicasmo Grego
Próximo: Não à Tese da Influência dos Filósofos Gregos sobre os Pais Gregos


Durante a metade do século 19, alguns intelectuais russos ficaram muito impressionados pelo hesicasmo ortodoxo da Montanha Santa (Monte Athos), que havia chegado na Rússia. Entretanto, eles não apreenderam sua profundidade, pois a incorporaram nas suas teorias de superioridade eslava. Isto é, eles diziam que o hesicasmo do tipo “gerondico” era uma característica sua e que era uma característica da tradição e mentalidades russas, e não pertenciam ao Cristianismo Latino ou ao Grego, como o chamavam. (15)

Dessa forma, os russos acreditavam que haviam superado os “gregos” e seu escolaticismo; haviam superado com seu hesicasmo russo. Graças à intensa propaganda russa no Ocidente, essa ideia de uma superioridade do escolaticismo e hesicasmo russos tornou-se parte da consciência heterodoxa, mas também em nossa terra, Grécia. Como resultado, temos a ignorância e mesmo deboche, mesmo na Grécia, por parte de algumas pessoas contra a teologia patrística e o hesicasmo ortodoxo. E chegamos na situação na qual até teólogos gregos buscam os estrangeiros para ter orientação porque eles, supostamente devido à sua identidade natural e idiossincrasias, entenderiam de teologia e hesicasmo melhor do que nós. Era exatamente isso que os eslavófilos proponentes de Alexis Khomiakov propagandeavam em altos brados: que eles, eslavos, devido a idiossincrasias e mentalidade naturais, tinham entedido o Cristianismo melhor do que os “Latinos” e os “Gregos”!

Errado! Os Pais Aguioritas (provindos do Monte Athos) entraram na Rússia através da Moldávia e levaram o hesicasmo para eles. Esses missionários eram Romanos de língua grega e não eslavos. Além disso, a Graça de Deus, que nos santifica e glorifica (teósis), não tem nenhuma relação com chauvinismos nacionalistas, mas ao invés, visita e fortalece todo homem que busca Deus, qualquer que seja sua nação, para que ele viva o Mistério de nossa fé e alcance a santidade. O que o professor Pe. John Romanides escreve sobre isso é muito bonito:

“O alicerce do hesicasmo é a teósis (deificação/glorificação), que triunfa sobre a natureza e torna os homens divinos pela graça. Tal é a fonte da mais alta compreensão possível da teologia, que transcende a natureza do logos (fala, razão) e do nous do homem . Ela não tem nada a ver com chauvinismos nacionalistas. O fato de que a maioria dos glorificados (os que atingiram a teósis) durante o curso histórico da Ecclesia terem sido Pais e Santos romanos de língua grega não significa que os fiéis de outras línguas e nacionalidades não podem igualmente tornarem-se portadores de Deus; mas também não significa que eles podem tornarem-se maiores teologicamente e espiritualmente. Certamente encontramos estágios mais avançados de Teósis tais como Ellamcis (iluminação), Thea (Visão), e Synechis Thea (Visão Continua); mas eles nada têm a ver com idiossincrasias étnicas. Os Apóstolos no Monte Tabor e durante o Pentecostes receberam a teósis no mais alto grau possível nesta vida, enquanto Moisés contemplou (teoria) a glória de Cristo no Monte Sinai por quarenta dias e noites. Não eram gregos, nem latinos, mas também não eram eslavos” (16).

O mesmo se aplica a Plevris (um conhecido politico nacionalista grego que renega o Velho Testamento porque é um “trabalho de judeus”), no que se refere às coisas blasfemas e não históricas que ele diz e escreve. Mas iremos lidar com tais blasfêmias não históricas em um estudo especial nosso.

Claro, teólogos gregos modernos não aceitaram o hesicasmo russo de forma absoluta, o assim chamado “misticismo russo”, e reagiram contra ele. Entretanto, ao invés de se voltarem para o verdadeiro e real hesicasmo de nossa Ecclesia, eles voltaram-se maravilhados, como uma contra-reação ao misticismo russo, para uma tradição que imaginavam ser não-hesicasta, e supostamente não ascética de grandes Pais que viveram antes de Fócios, e que imaginavam terem sido homens de ação e de contemplação filosófica (estocasmo) e não de misticismo. E esses lamentáveis gregos modernos acreditavam que pensando e agindo dessa forma estavam lutando contra o, de fato, equivocado misticismo russo; e que por outro lado estavam voltando para os Pais, os quais, porém, eles blasfemavam já que, por um lado davam por encerrada a era patrística com Fócio, o Grande, e por outro, já que tais gregos modernos não tinham experiência do hesicasmo, apresentavam os Pais como não-hesicastas, como homens sociais, homens de ação com estocasmo filosófico, mas certamente não como... monges inativos!

E o grande teólogo de nosso século, Pe. John Romanides, lamenta tal situação dizendo:

“Como resultado dos eventos acima completamente destrutivos para a Ortodoxia, temos que a teologia moderna dos russos e dos gregos modernos não apenas não contribui para integrar os jovens no monasticismo hesicasta tradicional, mas ao invés contribuiu para que alguns gregos modernos seguissem os russos no seu desprezo pelo monasticismo tradicional e na admiração pelas ordens monásticas francas. Dessa forma, as irmandades religiosas surgiram (na Grécia) com fortes sentimentos de inferioridade em relação ao Cristianismo Ocidental, cujos trabalhos eles traduziam e espalhavam entre a população ortodoxa helênica. A coisa estranha é que as irmandades religiosas reagiam instintivamente contra a teologia acadêmica dos gregos modernos, amava os Pais, mas ao mesmo tempo continuavam vítimas da percepção modernista dos Pais como apresentados acima, e imitavam uma imagem que tinham criado em suas mentes sobre eles, imagem que divergia do monasticismo hesicasta dominante durante a Turcocracia de uma maneira essencial. E isso acontecia porque eles aceitavam a questão da distinção entre os grandes Pais e os santos ascéticos de depois de Fócio, o grande, que supostamente não eram Pais.”(17)


15 Para entender melhor a importância da distinção feita por europeus e russos entre os cristianismos "latino" e "grego", veja o estudo do Pe. John Romanides "Romanity, Romania, Rumeli" Thessalonica 1975, Capítulo I.

16  Ibid p. 83

17 Ibid. p. 87, 88

Melancolia, Tristeza e Ansiedade - Terapia Espiritual Ortodoxa

Dia de São Porfírio - 2 de dezembro


Autor: São Porfírio (1906-1991)

O ponto crucial é entrarmos para a Igreja – nos unirmos aos nossos irmãos, às alegrias e tristezas de todos, sentir suas circunstâncias como se fossem as nossas, orar por todos, nos doermos pela salvação deles, esquecermos de nós mesmos, fazermos tudo pelos outros, como Cristo fez por nós. Na Igreja nos tornamos um com cada pessoa triste, com cada sofredor, com cada pecador. Ninguém pode planejar salvar-se sozinho, sem a salvação dos outros. É errado rezarmos pedindo para nos salvarmos. Devemos amar os outros e orar para que ninguém se perca, para que todos entrem para a Igreja. É isso que importa. E é com tal desejo que se deve sair do mundo para ir para um mosteiro ou para o deserto. 

Na igreja, que possui os mistérios (sacramentos) que salvam, não há desespero. Podemos até ser extremamente pecadores, mas confessamos, o padre lê a oração sobre nós e assim somos perdoados e caminhamos para a imortalidade, sem ansiedade, sem medo. 

Quem vive em Cristo, torna-se um com Ele, com Sua Igreja. É uma coisa louca! É uma vida diferente da vida humana. É alegria, luz, escuridão, é um impulso. Isso é que é a vida da Igreja, a vida do Evangelho, do Reino de Deus. “O Reino de Deus está dentro de vós” (S. Lucas 17:21). Cristo veio em nós e nós estamos nEle. E somos assim como um pedaço de ferro que se coloca no fogo se tona fogo e luz; e fora do fogo, novamente torna-se ferro negro, escuridão. 

Os que culpam a Igreja pelos erros de seus representantes, buscando supostamente ajudar em sua correção, estão grandemente enganados. Não amam a Igreja, e nem a Cristo, com certeza. Nós amamos a Igreja, quando em oração, abraçamos todas as suas partes, assim como Cristo faz. Nos sacrificamos, ficamos alertas, fazemos tudo exatamente como ele, Aquele “que, quando insultado não insultava de volta, quando sofria, não respondia com ameaças” (1 Pedro 2:23). 

Temos que prestar atenção também ao que é básico. Temos que viver os mistérios, especialmente o mistério da Santa Comunhão. É neles que a Ortodoxia é encontrada. Cristo é ofertado à Igreja através dos mistérios e primariamente através da Santa Comunhão. 

Entretanto, para muitos, nossa religião é um sofrimento, agonia e ansiedade. Por essa razão muitas pessoas “religiosas” são consideradas infelizes, pois os outros vêem o seu mal estar. De fato, se a pessoa não consegue ver a profundidade da religião e não a vive, a religião acaba sendo uma doença e das mais terríveis. Tão terrível, que a pessoa perde o controle de suas ações, torna-se de vontade fraca e impotente, fica em agonia e estressada, e comporta-se sob a influência de um espírito do mal (significando uma energia demoníaca). Ele prostra-se, chora, berra, é supostamente humilde e toda essa humildade é um teatro satânico. Para algumas dessas pessoas a religião é um tipo de inferno. Na Igreja prostram-se, fazem o sinal da cruz, dizem “somos pecadores indignos” e assim que saem, começam a blasfemar contra o que é santo assim que algo os perturba minimamente que seja. É claro que tem um demônio no meio dessa história. 

Na realidade, o Cristianismo transforma a pessoa e a cura. O pré-requisito mais importante, porém, para termos percepção e discernirmos a verdade é a humildade. O egoísmo escurece a mente, a confunde, a leva a enganos, a heresias. É muito importante que sejamos capazes de compreender a verdade. 

Todos os confusos estão indo para grupos heréticos – crianças confusas de pais confusos. 

Normalmente, nem obras, nem arrependimento, nem o sinal da cruz atraem a graça. O mais importante é evitar formas e ir direto à substância. Tudo que acontece deve acontecer com amor. 

Quando você não vive com Cristo, vive com a melancolia, a tristeza, o estresse, a aflição. Você não vive corretamente. Então muitas anomalias aparecem no seu corpo. O corpo é afetado, as glândulas endócrinas, o fígado, o baço, o pâncreas, o estômago. E te dizem: “Para ficar saudável, você deve tomar leite de manhã, um ovo, manteiga e pães torrados.” E porém, se você vive corretamente, se você ama Cristo, você fica bem com uma maçã e uma laranja. O maior de todos os remédios é oferecer toda sua vida em devoção a Cristo. Tudo é curado. Tudo funciona adequadamente. O amor de Deus transforma tudo; Ele altera, santifica, corrige, ele transforma, modifica; Ele muda tudo. 

Nada é comparável ao amor de Cristo. Ele não acaba, e mais é sempre melhor. Ele transmite vida, dá força, dá saúde, sempre doando tudo. Enquanto o amo humano pode desgastar uma pessoa ou enlouquece-la, quanto mais Ele se doa, mais queremos amá-Lo. Quando amamos Cristo, todos os outros amores retrocedem. Os outros amores têm um ponto de saturação. O amor de Cristo não. O amor carnal tem um ponto de saturação. Pode causar ciúme, reclamações e até assassinato. Pode transformar-se em ódio. Já o amor a Cristo não se deteriora. O amor mundano pode ser preservado por um tempo, mas então aos poucos se apaga, enquanto o amor divino continua crescendo e se aprofundando. Todos os outros amores podem levar a pessoa ao desespero. Mas o amor divino, nos eleva ao domínio de Deus, nos dá serenidade, alegria, completude. Outros prazeres nos cansam enquanto esse nunca é demais. É um prazer insaciável, do qual ninguém nunca se cansa. É o maior dos bens. 

Quando você ama Cristo apesar de suas fraquezas e até de ter consciência de todas elas, você tem a certeza de ter superado a morte, porque você reside na comunhão do amor de Cristo. 

Temos que sentir Cristo como nosso amigo. Ele é nosso amigo. Ele mesmo o confirma quando disse: “Vocês são meus amigos...” (S. João 15:14). Temos que olhar para Ele, e nos aproximarmos dEle como um amigo. Caímos? Pecamos? Devemos correr para Ele com um sentiment de familiaridade, com amor e confiança; não com medo de punições mas com a coragem que só um sentimento de amizade dá. E temos que dizer para Ele: “Senhor, eu fiz de novo, eu caí, me perdoe”. Mas ao mesmo tempo temos que sentir que Ele nos ama, que é com ternura e amor que Ele nos aceita de volta e nos perdoa. Não temos que ficar separados de Cristo por causa do pecado. Quando acreditamos que Ele nos ama e nós O amamos, não nos sentiremos isolados e divididos, mesmo quando pecamos. Temos segurança do amor dele, e não importa como nos comportemos, Ele nos ama. 

O Evangelho com certeza afirma simbolicamente que o injusto se encontrará onde há “choro e ranger de dentes”; é assim que é estar longe de Deus. E os pais népticos(*) da nossa Igreja podem falar de medo da morte e do inferno. Eles dizem “mantenha a morte na sua lembrança”. Se examinarmos essas palavras de perto, elas criam um medo do inferno. Quando o homem tenta evitar o pecado, ele traz esses pensamentos à mente para que sua alma se detenha por medo da morte, do inferno e do demônio. 

Todos têm seu significado, hora e ocasião. O medo, enquanto conceito, é bom durante os estágios iniciais. É para os iniciantes, para aqueles nos quais seu velho eu ainda vive. O iniciante, não tendo sido refinado ainda é contido do mal pelo medo. E o medo é necessário enquanto nós somos ainda materiais e decaídos. Mas é um estágio, um grau baixo de relacionamento com o divino. O tomamos como uma troca, de modo que possamos ganhar o paraíso e escapar do inferno. Quando o homem avança e entra no amor de Deus, que necessidade há do medo? Tudo que ele faz, ele faz em amor, e isso é de muito mais valor. Tornar-se bom por medo de Deus e não por amor é de pouco valor. 

Quem quer tornar-se um Cristão deve primeiro tornar-se um poeta. Se a alma é esmagada e torna-se indigna do amor de Deus, Cristo deixa de Se relacionar, porque Ele não quer almas grosseiras perto de Si. 

Deixe que ninguém te dê atenção, ninguém entenda seus gestos de devoção para com o divino. Faça tudo em particular, em segredo, como os ascetas. Lembra-se do que eu falei sobre o rouxinol? Ele gorjeia no bosque sem que ninguém ouça. E daí que ninguém esteja ouvindo, elogiando? Que belo chilrear no mato! Reparou como sua laringe se infla? É isso que acontece com aquele que ama o Cristo. Se amam, “sua garganta se enche, eles são tomados, sua língua não sabe parar”. Eles vão para uma caverna, um vale e vivem Deus em segredo, em “suspiros silenciosos”. 

Desprezem suas paixões, não se preocupem com o demônio. Voltem-se para Cristo. 

A graça divina nos ensina nosso dever. Para atraí-la, precisamos de amor, desejo ardoroso. A graça de Deus precisa de amor divino. O amor é suficiente, para nos deixar “em forma” para a oração. Cristo irá se derramar sobre nosso coração, desde que Ele possa encontrar as coisas que O agradam: boa intenção, humildade e amor. Sem essas coisas, não temos como dizer, “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. 

Até o menor resmungo contra seu próximo afeta negativamente sua alma e o deixa incapaz de orar. Quando o Espírito Santo encontra a alma nesse estado, Ele não ousa se aproximar. 

Temos que pedir que se faça a vontade de Deus. Isso é o mais benéfico, o mais seguro para nós e para aqueles por quem rezamos. Cristo irá conceder-nos tudo abundantemente. Quando existe até uma pequena gota de egoísmo, nada acontece. 

Quando Deus não nos dá aquilo que pedimos persistentemente, Ele tem seus motivos. Deus tem Seus segredos também. 

Se você não é obediente (ao seu pai espiritual) e não tem humildade, a oração (isto é, “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim” não terá efeito e há que se temer ilusões. 

Não deixe a oração “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim” tornar-se um trabalho tedioso. Pressão demais pode trazer uma reação interna e causar dano. Muitas pessoas adoeceram com oração porque se pressionaram demais. Certamente você pode fazê-lo, quando se torna algo tedioso, mas não é saudável. 

Não é necessário concentrar-se de modo especial para dizer a oração. Você não tem que por esforço nisso quando tem amor divino. Onde quer que esteja, em um banquinho, numa cadeira, num carro, em qualquer lugar, na rua, na escola, no escritório, no trabalho, você pode dizer a oração “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”, suavemente, sem pressão, sem forçar. 

O que é importante na oração não é a duração, mas a intensidade. Ore mesmo que por cinco minutos, mas dê a Deus todo seu amor e seu desejo. Uns podem orar toda a noite, e no entanto esses cinco minutos serem superiores. É um mistério, mas é assim que é. 

Uma pessoa de Cristo transforma tudo em oração. Ela transforma a dificuldade e a tristeza em oração. Tudo que lhe acontece, ela imediatamente diz: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. A oração beneficia tudo, até as menores coisas. Por exemplo, se você sofre de insônia, não pense no sono. Se levante, vá lá fora, volte para seu quarto, deite-se novamente como se fosse pela primeira vez, sem preocupar-se se vai dormir ou não. Concentre-se, diga a doxologia e então três vezes “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim” e conseguirá dormir. 

Tudo dentro de nós, instintos e tudo mais, clamam por realizar-se. Se não os realizamos, eles se vingam de nós, a menos que os redirecionemos para outro lugar, para o mais alto, para Deus. 

Você não se torna santo caçando o mal. Esqueça o mal. Olhe para Cristo e Ele irá salvá-lo. Ao invés de ficar do lado de fora da porta para expulsar o inimigo, ignore-o. O mal está vindo nessa direção? Gentilmente vá na outra. Quer dizer, se o mal vem ataca-lo, dedique sua força interna para o bem, para Cristo. Implore “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. Ele sabe como ter piedade de você, de que modo. E quando você estiver cheio com o bem, você não mais se voltará para o mal. Você se tornará bom por si mesmo, pela Graça de Deus. Como o mal encontraria terreno? Ele desaparece. 

Alguma fobia ou decepção tomam conta de você. Volte-se para Cristo. Ame-O com simplicidade, com humildade, sem exigências e Ele irá libertá-lo. 

Não escolha modos negativos de se corrigirem. Vocês não tem que ter medo do diabo, do inferno, de nada. Isso só cria reflexos. Eu também tenho alguma experiência nessas coisas. O ponto é não sentarmos, nos batendo ou forçando a nós mesmos a melhorar. O ponto é viver, estudar, orar, avançar no amor, no amor de Cristo, no amor da igreja. 

Abandone toda sua fraqueza para que o espírito inimigo (o diabo) não se dê conta dela e o mergulhe nela e o mantenha na aflição. Não faça nenhum esforço para se libertar delas. Empenhe-se com gentileza e simplicidade, sem forçar e sem ansiedade. Não diga para si mesmo: “Agora eu vou me forçar, eu vou orar e vou obter amor, vou conseguir me tornar bom, etc”. Não é bom forçar-se e se bater para se tornar bom. Dessa forma você só vai ter mais reações. Tudo deve acontecer de uma forma suave, livremente, sem pressa. Também não diga: “Deus me libertou”, por exemplo da raiva, ou da tristeza. Não é bom pensar e/ou orar sobre uma paixão em particular. Algo acontece na sua alma e ela se enrola mais ainda. Atire-se a superar uma paixão e verá que ela te envolverá, te agarrará e você não conseguirá fazer nada. 

A liberdade não pode ser conquistada, se não nos libertamos internamente da confusão de nossas paixões. 

É isso que nossa Igreja é, nossa alegria, isso é tudo para nós. E é isso que o homem busca hoje em dia. E ele toma venenos e drogas para entrar em mundos felizes, mas é uma alegria falsa. Ele sente algo naquele momento em particular, mas no dia seguinte está arrasado. Uma coisa o fere, o devora, o esmaga e o queima. Enquanto a outra, que é doar-se para Cristo, o vivifica, o alegra, faz com que aproveite a vida, sinta-se forte e magnífico. 

A habilidade de santificar a alma é uma grande arte. Podemos nos tornar santos em qualquer lugar. Até na Omonia (a mais importante praça pública de Atenas) podemos nos santificar, se quisermos. Vocês podem se tornar santos no trabalho, não importa qual seja – com serenidade, paciência e amor. Cada dia deve ser um novo começo, um novo clima, com entusiasmo e amor, oração e silêncio – mas não com estresse e um coração pesado. 

Trabalhe atentamente, com simplicidade, gentileza, sem ansiedade, com alegria e leveza, com bom ânimo. Então a graça divina vem. 

Todas as coisas desagradáveis que ficam na sua alma e te estressam, podem se tornar mais um motivo para adorar a Deus e assim pararem de te machucar. Confie em Deus. 

Não existe motivo para ficar tentando forte demais e se forçar. Todo seu esforço deve estar focado em olhar para a luz, alcançar a luz. Dessa forma, ao invés de se voltar para a aflição que não é um espírito de Deus, você deve se voltar para o louvor a Deus. 

A aflição mostra que não confiamos nossa vida à Deus. 

Quando a comunicação com Cristo acontece de forma simples, suave, sem pressão, ela faz com o que o demônio fuja. Satanás não foge da pressão, do estresse. Ele se distancia da serenidade e da oração. Ele retrocede quando vê que a alma o ignora e se volta para Cristo com amor. Ele não consegue aceitar a indiferença porque é arrogante. Mas o espírito do mal entende quando vocês se forçam, e consegue dar combate. Não ligue para o diabo, nem mesmo fique pedindo que ele se vá. Quanto mais você pede, mais ele te enreda. Ignore o diabo. Não lute diretamente com ele. Quando você, por cabeça-dura, luta com o demônio, ele ataca de volta como um tigre, um gato selvagem. Quando dá tiros nele, ele joga de volta uma granada. Quando você joga uma bomba, ele atira de volta um míssil. Não olhe para o mal. Olhe para os braços de Deus, se deixe cair em Seus braços e siga em frente. 

Uma pessoa humilde está consciente do seu estado interior, e não importa o quão feio ele seja, ela não perde sua personalidade, nem seu equilíbrio. O contrário acontece com o egoísta, com quem tem sentimentos de inferioridade. No início, ele parece uma pessoa humilde. Mas se for tentando só um pouco, ele já perde sua paz, se irrita e fica com raiva. 

Quando a pessoa vive sem Deus, sem paz, sem confiança, em ansiedade, depressão, falta de esperança, acaba desenvolvendo doenças físicas e psicológicas. Doenças psicológicas, neurológicas, são estados demoníacos. Também é demoníaco falar buscando demonstrar humildade. É um tipo de sentimento de inferioridade. A humildade verdadeira não busca se mostrar, não se dá ares de humildade, mas pensa “sou pecador, indigno, o menor de todos”. Uma pessoa humilde tem medo de cair na vanglória, pois Deus não se aproxima de tais coisas. Em contraste, a graça de Deus pode ser encontrada onde há verdadeira humildade, perfeita confiança em Deus, e dependência dEle. 

A pessoa que se vangloria aliena sua ama da vida eterna. Em última análise, o egoísmo é uma tolice completa! A vanglória nos deixa ocos. Quando nos submetemos a ficar aparecendo, acabamos completamente vazios. Temos que fazer o que for necessário para agradar a Deus; altruisticamente, sem vanglória, sem orgulho, sem ego, sem, sem... 

Nossa alma não deve se rebelar e dizer: “por que Deus fez isso, por que Deus fez aquilo daquele jeito, Ele não poderia ter feito diferente?” Tudo isso indica pequenez de coração e resistência. Mostra que temos nossa opinião em alta conta, assim como nosso orgulho e nosso grande ego. Esses “por ques” torturam a pessoa, criam o que é chamado de “complexos”. Por exemplo, “por que tenho que ser tão alto?” ou o contrário “por que tão baixinho?”. Isso fica guardado dentro de nós. E podemos até rezar e fazer vigílias, e ainda assim só conseguir o efeito contrário. E vamos sofrer e nos desesperar de forma sem sentido. Enquanto com Cristo, com a graça, tudo isso desaparece. Continua essa “alguma coisa” lá no fundo, perguntando “por que”, mas a graça de Deus cobre o homem e enquanto a raiz pode ser complexa, uma roseira cresce sobre ela com belas rosas, e quanto mais for regada através da fé, amor, paciência e humildade, mas o mal perde seu poder e deixa de existir; quer dizer, ele não desaparece, mas diminui. Quanto menos regamos a roseira, mais ela murcha, sexa, desaparece e os espinhos crescem. 

Nós tentamos Deus quando pedimos algo para Ele, mas nossa vida está longe dEle. Nós O tentamos quando pedimos algo, mas nossa vida não está de acordo com Sua vontade, isso é, pedimos por coisas contra Deus: estresse e ansiedade por um lado, mas por outro ficamos suplicando coisas. 

Seu pai spiritual pode te dizer: “Como eu queria estar em um lugar mais calmo, livre de preocupações e escutar sobre a sua vida desde o início, de quando você começou a perceber a própria existência, todas as coisas que você se lembra e o modo como você lidou com elas, não só as desagradáveis mas também as agradáveis, não apenas os pecados, mas também as coisas boas, os sucessos e os fracassos. Tudo, tudo que é parte da sua vida”. 

Eu apliquei esse tipo de confissão gera muitas vezes e tenho vistos milagres acontecerem. Enquanto você fala com o confessor, a graça divina vem para te aliviar de toda provação, de todos os ferimentos e traumas psicológicos, e de toda culpa; porque, enquanto você fala, seu confessor ora com sinceridade pela sua libertação. 

Não fiquemos repetindo os pecados que confessamos. A lembrança dos pecados fere. Não pedimos por perdão? Está acabado. Deus perdôou tudo através da confissão. Eu também acredito que peco. Não estou no caminho certo. Mas se algo me incomoda, logo rezo sobre isso; não deixo ficar dentro de mim. Eu vou conversar com meu pai espiritual. Eu confesso, e acabou! Não vamos andar para trás e ficar falando do que não fizemos. O que é importante é o que faremos agora, desse momento em diante. 

Desespero e decepção são o que há de mais terrível. São armadilhas de Satanás, para fazer a pessoa perder seu interesse por coisas espirituais e leva-la à desesperança. 

Quase todas as doenças são por causa de falta de confiança em Deus e isso causa estresse. O estresse é causado pela ausência de sentimentos religiosos. Se você não sente amor por Cristo, se você não se ocupa com as coisas santas, com certeza vai acabar se ocupando com a melancolia e com o mal. 

Something that can also help the depressed is an occupation, interest for life. The garden, plants, flowers, trees, the country, a walk outdoors, a hike, all this can bring a person out of idleness and create other interests for him. They act like medicine. Occupying oneself with art, music, etc is very beneficial. But I attach the greatest value to the Church, to studying the Holy Scripture, to the services. By studying God's word, one is healed without being aware of it. 

São percamos a esperança, ou nos apressemos, nem julguemos de acordo com coisas externas e superficiais. Se, por exemplo, você vê uma mulher nua ou vestida de forma provocante, não se fixe na imagem externa, mas pense na sua alma. Ela pode ser uma alma muito boa que tem questões existenciais, as quais ela manifesta através dessa aparência extrema. Ela tem uma força interior, a força da projeção, ela quer que as pessoas olhem para ela. Entretanto, em sua ignorância, ela distorceu as coisas. Imagine se ela encontrasse Cristo. Ela iria crer, e direcionar todo esse ardor para Cristo. Ela faria de tudo para agradar a Deus. Ela se tornaria uma santa. 

Normalmente, por causa de nossas ansiedades e medos, de nosso estado espiritual ruim, sem sabermos ou querermos, ferimos outras pessoas, mesmo as que amamos muito, mesmo uma mãe em relação ao filho. A mãe pode transmitir ao filho todo seu estresse sobre a vida, a saúde, o progresso dele, mesmo sem nunca falar sobre essas coisas com ele diretamente ou sem expressar o que sente. Esse amor, esse amor natural pode feri-lo alguma hora. Isso não acontece, porém, com o amor de Cristo, que está ligado à oração e a santidade da vida de cada um. Esse amor santifica a pessoa, a pacifica, porque Deus é amor. 

Fonte (em grego): Life and Words, pub. Holy Monastery of Chrisopigi of Chania
2003, Ancião Porphyrios

Traduzido para o inglês por: Holy Monastery of Pantokrator (  http://www.impantokratoros.gr/melancholy-sadness-anxiety.en.aspx )

Traduzido para o português por: Lr.Fabio L. Leite


(*) Pais Népticos, aqueles que possuem Nepsis: (do grego νῆψις). Nepsis é um estado de perpétua atenção e consciência, de perfeita sobriedade e discernimento que é típico dos santos após longo período de purificação.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Que a Igreja Ortodoxa Não É - 05/11


"O Triunfo de São Tomás Aquinas"


por Sua Eminência Jeremias (Foundas) de Gortyna e Megalópolis (Grécia)

Não à Teologia Escolástica
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Mas, se de acordo com os francos a era patrística terminou com São João Damasceno ou com Fócio, o Grande, o que viria em seguida? Os francos nos oferecem sua teologia escolástica e chegando a alegar que ela superou a encerrada teologia patrística! Aqueles dentre os nossos ortodoxos que aceitam o fim da tradição patrística sugerem como seu substituto estudos catequéticos-dogmáticos mal escritos, imitados dos francos, assim como outros trabalhos teológicos escolásticos. Entretanto, como já dissemos antes, a Ecclesia sempre teve seus Pais, mesmo duranto o período difícil da Turcocracia.

A crença de que os francos escolásticos superaram os Santos Pais tem sua principal fonte a opinião do Abençoado Agostinho de que o ensino do Filioque constitui uma solução para um problema teológico que (alegadamente) não teria sido resolvido pelos Pais do Segundo Sínodo Ecumênico. 

Em uma de suas falas em 393 diante do Santo Sínodo da África a respeito do Símbolo do Segundo Sínodo Ecumênico, Agostinho relatou aos bispos a seguinte estranha e equivocada informação: que a propriedade hipostática do Espírito Santo é, diferentemente do Pai e do Filho, um problema para a Eclesia, um problema que permanecia irresolvido no Segundo Sínodo Ecumênico. Sem ter aprendido grego, como ele mesmo nos informa em outros momentos, nem tendo estudado os trabalhos latinos de seu tempo sobre a Santíssima Trindade, ele não sabia que a questão não era um problema, muito menos algo não-resolvido. Ainda assim, vivendo em isolamento teológico, sem o auxílio dos trabalhos patrísticos relevantes ao assunto, ele dedicou todos os seus esforços por 35 anos buscando uma resposta. E a encontrou através de contemplação baseada em filosofia neo-platônica (estocasmo): o filioque!

Tal "solução" do Abençoado Agostinho foi redescoberta pelos francos no século 8 e acrescentada ao Símbolo da Fé. E junto com o filioque, os francos adotaram a também equivocada opinião de Agostinho de que a Eclesia, com o passar do tempo, é levada com a ajuda de "pensadores" ("estocastas") a uma melhor compreensão dos dogmas, dado que ele supostamente encontrara a solução que a Eclesia buscara a respeito da propriedade hipostática do Espírito Santo, uma solução que os Pais do Segundo Concílio Ecumênico não teriam tido condições de encontrar.

Quando os russos, como os francos antes deles, adotaram o método teológico escolástico e a língua latina como a língua teológica oficial (no século 18), eles também adotaram a crença de que haviam superado os romanos (ortodoxos) do Império Otomano. O que é estranho é que alguns teólogos neo-helênicos, gregos modernos,que, influenciados pelos francos e pelos russos, ficaram desculpando-se por vários anos aos francos e à Rússia "francizada" por não terem recebido uma teologia escolástica e sistemática do tipo encontrado na Europa ocidental. Eles prometiam, entretanto, que iriam se esforçar para também criar uma tal teologia, de modo que pudessem logo alcançar as alturas intelectuais da Europa ocidental. Hoje, porém, quando a teologia ocidental foi quase inteiramente desmembrada, muitos teólogos europeus retornam á tradição patrística. E assim também muitos gregos modernos fazem o mesmo caminho em imitação deles. Mas o Pe. John Romanides repara:
"Infelizmente, ao invés de tentarem teologizar dentro da tradição hermenêutica dos Pais, eles utilizam a chave hermenêutica de seus professores ocidentais. Em outras palavras, eles interpretam os Pais baseados nas pressuposições da teologia ocidental e seu método de solucionar problemas, e portanto, não compreendem nem a teologia nem a espiritualidade dos Pais. A razão disto é que a teologia e a espiritualidade patrística, como aparecem nos escritos dos Pais, é percebida somente por aqueles que tiveraam a mesma experiência espiritual deles.(13) Essa teologia é um mistério oculto, exatamente como a teologia da Samta Escritura é um mistério. É inacessível para métodos acadêmicos. Apenas aqueles que possuem a Graça compreendem a Graça, a qual eles recebem através de jejum e oração sob a orientação de um pai espiritual que tenha a Graça da teoria (contemplação divina) (14)


13. Cf.o grande estudo do Professor Stylianos Papadopoulos "Concept, Importance and Authority of the Father and Teacher in his Patrology" livro I, p. 17-19.

14. Ibid. p. 81

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Desvarios Progressistas e a Mentalidade Teórica



Autor: S. Teófano, o Recluso: (10 de Janeiro de 1815 – 06 de Janeiro de 1894)

Quanto mais amo a humanidade em geral, menos amo cada homem em particular. Quanto mais odeio os homens individualmente, mais amo a humanidade - Fyodor Dostoyevsky, Os Irmãos Karamazov

Fonte: http://www.aoiusa.org/st-theophan-the-recluse-progressive-ravings-and-the-theoretical-mindset/



do livro "The Spiritual Life" Capítulos 16 e 17



O que aconteceu com você? Que tipo de perguntas é esse? "Não sei o que fazer com a minha vida. Deveria estar fazendo algo em particular? Tenho que definir um propósito específico para mim mesmo?" Eu li isso e fiquei chocado. De onde poderiam vir tais pensamentos? De fato, você já definiu tudo isso quando expressou seu desejo de manter-se no nível da dignidade humana.

Eu diria que você deve ter entre seus amigos alguns que são pensadores progressistas, ou que entrou em sociedade com tais pessoas, e que elas desintegraram o seu bom senso. Tais pessoas é que costumam falar essas barbaridades.


Parece-me que tudo isso é muito claro e simples e não existe razão para você ficar se torturando com problemas difíceis. Você tem que tirar da sua mente quaisquer planos sobre atividades "abrangentes, de múltiplos benefícios, em comum para toda a humanidade", das quais tanto tagarelam os progressistas.


Frases como "o bem da humanidade" e "o bem do povo" estão sempre nas línguas deles... os progressistas sempre têm em mente toda a humanidade ou pelo menos todo o povo ajuntado. Você, provavelmente, depois de escutar tantos ideias "profundas", se deixou cativar por elas e quando voltou os olhos para a realidade, percebeu com ressentimento que tinha parasitado o seu círculo familiar sem benefício ou propósito. Ah, se pelo menos alguém tivesse aberto seus olhos!

O fato é que a "humanidade" ou "o povo" não existem como uma pessoa por quem você pode fazer algo agora mesmo. Eles consistem de pessoas individuais e ao fazer algo por uma pessoa, o fazemos já dentro da massa geral da humanidade.


Se cada um de nós fizéssemos o que dá para fazer por quem quer que esteja na frente de nossos olhos, ao invés de fixar nossa visão ao longe na comunidade dos seres humanos, ou em todo o povo, estaríamos em cada momento fazendo o que é necessitado pelos que têm necessidade, e satisfazendo suas necessidades, estabeleceríamos o bem-estar de toda a humanidade, que afinal se constitui dos que têm e dos que não têm, dos fracos e dos fortes. Mas os que mantêm seus pensamentos no bem-estar de toda a humanidade, distraidamente por causa disso, deixam passar o que está na frente de seus olhos. Porque eles não têm a oportunidade de realizar o trabalho geral, deixam passar a oportunidade de realizar o trabalho particular, e assim, não realizam nada do seu propósito na vida.

Eu ouvi falar de algo assim em São Petersburgo. Havia um tipo de encontro de jovens que eram defensores do bem-estar universal - esse era o ápice de seus delírios progressistas. Um cavalheiro fazia um discurso apaixonado sobre o amor pela humanidade e pelo povo. Todos estavam encantados.


Mas quando ele voltou para casa, seu mordomo não abriu a porta rápido o suficiente, pois não tinha visto o chefe chegar. Também não soube entregar-lhe a lâmpada tão rápido quanto esperado e algo acontecera com o cachimbo que sumira, além de estar frio demais naquele cômodo. Nosso filantropo não pôde aguentar tais coisas e repreendeu com aspereza seu empregado. E ali estava, aquele sujeito bacana, cheio de amor pela humanidade, mas que não conseguia se portar adequadamente nem mesmo com uma só pessoa em sua casa.


Também no ponto alto dos desvarios progressistas, tinham algumas moças bonitas entregando-se ao trabalho de confecção de livros, as quais tinham deixado suas mães sem uma migalha de pão. Também elas, imaginavam que estavam de alguma forma avançando e ajudando a estabelecer a felicidade da humanidade.


Todos os problemas vêm de uma atitude mental que é abrangente demais. É melhor olharmos humildemente para nossos próprios pés, e vermos que passo vamos dar ali. Esse é o caminho mais verdadeiro.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O Diálogo Ecumênico do Século 21: Uma Pista de Obstáculos?



Caríssimos,


É comum ouvirmos no Brasil que já foram feitos certos documentos e acordos de união entre as igrejas católicas Ortodoxa e Romana, que existiriam documentos permitindo ortodoxos frequentarem e mesmo comungarem na Igreja Romana, em suma, que seriam basicamente a mesma igreja e que a união seria um fato quase consumado.

Tais informações são rigorosamente falsas.

Confirmaremos isso na exposição do Protopresbítero Pe. Georgio Tsetsis, representante do Patriarcado Ecumênico no Conselho Mundial de Igrejas e veterano de diálogos ecumênicos.


Sobre todos acordos, documentos e declarações conjuntas já realizados, afirma o Protopresbítero:



A agenda das conversas bilaterais é muito cheia. Ela cobre uma gama de questões teológicas, eclesiológicas e pastorais, relacionadas, por exemplo, com fé e dogma, as fontes da revelação divina, tradição apostólica, cristologia, a natureza da missão da Igreja, a unidade da Igreja, os sacramentos, a autoridade da Igreja, a vocação de São Pedro, o testemunho do Cristianismo no mundo moderno e até questões pastorais sobre casamentos inter-religiosos.


Nessa altura, dada a confusão que reina sobre os objetivos dos diálogos e a natureza dos "Documentos Conjuntos" que são escritos nesses encontros, pode ser útil sublinhar uma coisa: que esses diálogos não são "concílios de unidade", e que os textos que publicam não possuem natureza de "acordos", muito menos de "uma confissão comum de fé", como muitos acreditam e persistentemente repetem. 


Como o Pe. Theodoros Zisis muito competentemente afirmou na 3a. Conferência Pré-Conciliar, quando ainda era um professor leigo, 
"qualquer um que estude as atas dos Sínodos Ecumênicos perceberá que antes de os pais do sínodo chegarem no ponto de formularem os termos, houve um longo período durante o qual os problemas foram esmiuçados e analisados , posicionamentos e estudos foram investigados e então, com base em tal preparo, o sínodo define a formulação dos termos." 
(...)

Devemos enfatizar quantas vezes forem necessárias que esses encontros são de natureza exploratória e que os textos preparados neles não são mais que "textos de trabalho" enviados por aqueles que os escreveram para as Igrejas que representam para avaliação e comentário. E naturalmente em ad referendum para o Grande e Santo Sínodo. São meramente textos de apoio na estrada para a unidade cristã, textos que as igrejas têm a liberdade de rejeitar, como já foi demonstrado na prática.

(...)

A questão óbvia que surge quanto a esse ponto é se, e até que ponto, os bispos, padres, professores e teólogos que tomam parte nesses diálogos realmente representam a "linha" oficial de suas respectivas igrejas e até onde o que expressam é meramente suas próprias ideias teológicas pessoais, e com as quais será impossível que as igrejas que os escolheram como representantes se identifiquem. A solução desse problema ajudará muito na prevenção de mal-entendidos quanto a natureza das conversas e do papel que os delegados das igrejas têm nelas.

(...)

O que nossas contrapartes devem cuidadosamente evitar em conversas entre eles, é expressar pontos de vista diametralmente opostos aos que formulam quando conversam com os Ortodoxos. O diálogo ecumênico deve, acima de tudo, ser um "diálogo em verdade". Pelo menos, esse é o sentido que foi entendido pelos Ortodoxos quando, cerca de 35 anos atrás, através de uma decisão Pan-Ortodoxa, inauguramos conversas com várias igrejas heterodoxas, tendo como objetivo uma estrada comum de cristãos em direção a união.


Mas quando nessas conversas, posições contraditórias são expressas por questões de "cortesia ecumênica" ou meramente para que em dado momento haja alguma empatia com a tradição teológica do interlocutor, então não apenas a verdade não foi manifestada, mas também não há promoção da jornada comum pela unidade cristã, que é precisamente o principal objetivo das conversas em primeiro lugar.



Fontes:


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A Vida do Justo São José, o Noivo, Primeiro Devoto de Maria






Os grandes santos anulam seu ego, sua identidade, sua imagem decaída para exaltar o Cristo.



É o que vemos em S. João Batista quando este diz: “É necessário que Ele (Jesus) cresça e eu diminua” (João 3:29,30) e também S. Paulo declarando seu processo de teosis/santificação, isto é, resgate da imagem e semelhança plena de Deus: “Não sou mais eu que vivo, mas é o Cristo que vive em mim” (GI 2,20).



São Paulo e São João Batista estabelecem, portanto, o plano completo de nossa salvação com estas suas palavras. S. João Batista nos mostra o meio da salvação (que a imagem do “eu” diminua para que Cristo tome a alma e resgate nela sua própria imagem) e S. Paulo nos mostra o efeito final e conclusão do processo; depois de diminuído a imagem decaída, esta morre e Jesus Cristo é que vive em nós e não nossas falsas concepções a respeito de nós mesmos e do mundo.



Esta breve introdução a respeito da humildade santa – que como visto é muito diferente da humildade “social” – é necessária para que compreendamos em sua total amplitude a figura do Venerando e Justo São José, o Noivo. De forma geral sabemos apenas que ele foi carpinteiro, que aceitou após um período de dúvidas ser o pai adotivo de Nosso Senhor Jesus Cristo e que em algum ponto entre os 12 e 30 anos de idade do seu filho ele deve ter falecido. Entretanto, esse santo que parece manter-se propositadamente à sombra de Maria e de Jesus Cristo guarda muitos ensinamentos para todos nós.

A Igreja Ortodoxa, sendo a Igreja criada por Jesus Cristo e transmitida pelos Apóstolos, preserva em seus registros escritos (dentre os quais, além das escrituras, o testemunho de historiadores cristãos primitivos que moravam ou iam nos locais santos buscar informações adicionais), culturais e pictóricos uma série de outras informações úteis a respeito dele e todas estas informações estão resumidas no título Justo São José, o Noivo.



O título de “Noivo” é dado pela relação que ele tinha com a Virgem Maria, que era expressão da relação que tinha com Deus. Para compreender a relação que ele tinha com a Virgem, devemos estudar quem era José pouco antes de conhece-la e onde ela estava quando foi entregue a ele.


Maria vivia de alguma forma dedicada ao Templo, provavelmente prestando serviços de tecelagem como outras jovens faziam. Tornando-se moça por volta dos 14 anos, pelos costumes da época, tinha que ser entregue em casamento para alguém.

Santíssima Virgem Maria,
modelo de vida consagrada


Dizem os primeiros historiadores da Igreja que Maria fizera um voto de permanecer virgem a vida toda, o que gerava um problema pois, tendo atingido a adolescência, tinha que ser desposada. Ao mesmo tempo, os sacerdotes do Templo se admiravam com a devoção sincera da mocinha e não queriam passar por cima do seu voto, o que seria inevitável se ela se casasse. Naquele tempo ainda não existia a instituição das freiras, que era a clara inclinação da jovem Maria.


A solução encontrada pela sua santa família foi precisamente entregá-la em noivado sem consumação do matrimônio a um viúvo idoso, igualmente religioso e que compreendesse a situação, que se comprometeria a cuidar dela pelo pouco que restasse de sua vida, de modo que ela pudesse ser fiel a seu voto e ao mesmo tempo atendesse às prerrogativas sociais de uma época sem mosteiros e que exigiam que ela se casasse.


Segundo os registros, José era um homem de idade extremamente avançada, ao contrário do jovem que filmes e certas imagens sugerem. De fato, a tradição de mostrar José como um idoso nas imagens era comum ao Ocidente e o Oriente até o século 17, quando na Espanha começam a aparecer imagens de um José mais jovem. Até ali, em toda a Cristandade, a Sagrada Família era a família de Nossa Senhora, constituída por Santa Ana, São Joaquim e sua santa filha, a Virgem Maria. Eles eram o exemplo de família devota e piedosa, cuja educação correta conduz os filhos à santidade. Já Santa Maria era vista à luz de sua condição especial de Virgindade Devota e Miraculosa Mãe, e São José como devotado a Maria e a Deus.



De toda forma, segundo a tradição da Igreja, José teria 80 anos ao ter conhecido Maria e teria falecido por volta dos 110 anos, ou seja, logo antes de Jesus iniciar seu ministério aos 30 anos. Essas idades são extraordinárias mas possíveis e ainda que sejam números imprecisos (seu valor simbólico sugerem que sejam), o fato estabelecido é que com certeza já passara da terceira idade. Era viúvo de um casamento de aproximadamente 40 anos, com uma mulher chamada Salomé, que era prima de João Batista apesar da diferença de idades, e que dera a José sete filhos: Tiago, Judá, Simão e José eram os filhos e Salomé, Ester e uma terceira cujo nome é incerto, eram as filhas. Tiago é o que seria mais tarde chamado Irmão do Senhor e seria o primeiro bispo de Jerusalém e autor da Liturgia de S. Tiago. Esta Salomé, filha de José, seria mais tarde a mãe de um outro Tiago, nomeado provavelmente em homenagem ao tio, e que era irmão de São João Teólogo, autor do quarto evangelho e portanto sobrinho de Jesus.


São José foi então sorteado entre os viúvos piedosos da cidade para ser noivo da jovem Maria. No Judaísmo da época não existia propriamente um noivado, mas um contrato de comprometimento, no qual as partes, através de seus pais, ou como no caso de José, por sua assinatura mesmo, se comprometiam a morar juntos durante algum tempo e a relação sexual após a cerimônia do casamento representaria a consumação do casamento. Como a jovem estava noivando com um idoso com o fim de manter seu desejo de devoção total a Deus, a ideia era provavelmente desde o início que o casamento jamais fosse consumado, mas a sociedade fosse apaziguada pelo contrato de noivado.


Tem-se registrado que S. José teria hesitado em receber a jovem devido à diferença de idades e mesmo teria dito que seria ridículo já que ele tinha filhos mais velhos do que ela (Maria deve ter-lhe sido entregue tendo por volta de 14 anos). Mas vendo a piedade da moça e compreendendo que esse noivado iria protegê-la, ele resolve aceitar e recebê-la como sua protegida.


Tendo aceitado-a, teria deixado a jovem em sua casa em Nazaré, acompanhada de 5 outras virgens para auxiliá-la, enquanto ia preparar uma casa definitiva longe dali. Essa mudança é outro sinal de que o contrato de noivado servia mais para proteger a vocacionada Maria de uma sociedade que não tinha ainda freiras ou mosteiros. Ao retornar, José encontrou-a grávida e raciocinou segundo os padrões normais, supondo que ela teria se deitado com algum homem.

S. José, o primeiro devoto de Maria

O interessante é que os registros deixam claro que mesmo em suas lamentações ele não fala como um homem traído e sim como um “protetor” que falhou em sua missão. De fato, tudo parece indicar que José tinha o entendimento de que a jovem virgem lhe havia sido entregue mais como alguém a ser protegida do que como esposa de fato. É apenas com a visitação do Arcanjo Gabriel em sonhos que o Justo José começa a compreender o que se passara. Que o seu comprometimento, vai muito além de cuidar de uma jovem devota, mas de proteger o próprio Filho de Deus que virá através dela.


S. José então relê as Escrituras judaicas e confirma que tudo está ocorrendo de acordo com as profecias. A partir daí, resolve assumir a jovem como noiva, ainda que não tencione consumar o matrimônio, já que esse não era o objetivo inicial e ele compreende que a Virgem Maria é a própria Arca da Nova Aliança, o Santíssimo, inexpugnável e no qual quem tocar morre; todos estes atributos eram relegados ao local onde Deus habitava no Antigo Testamento. De fato, era proibido tocar na Arca da Aliança e José, compreendendo que a Virgem Maria era a Nova Arca pois o Incontenível estava contido em seu útero jamais a tocaria.


Após nascido o Salvador, somos informados que Herodes manda matar os bebês com menos de dois anos e a São José recebe aviso para fugir para o Egito. O ícone que embeleza o início deste artigo representa tal fuga. Nele podemos ver São José, a Santíssima Maria, o Menino Jesus e São Tiago, já citado filho mais velho de São José com sua primeira esposa, Salomé.


Em sua terceira idade, este homem devoto toma a si o encargo de guiar sua jovem noiva, e o Filho de Deus através de uma viagem que seria longa e cansativa mesmo para um jovem. Viverão em um país estrangeiro onde terá que sustentá-los com seu ofício desgastante de carpinteiro. Retornam para Israel três anos mais tarde e então veremos José pela última vez nos Evangelhos no evento do Templo, quando o jovem Jesus, com 12 anos, dá lições aos sacerdotes. Neste meio tempo, José cumpriu perante Ele, perante a sociedade e perante Maria todas as obrigações e sacrifícios de pai e noivo, de forma total e completa. Por isso ele é chamado de S. José, o Noivo, não apenas porque nunca consumou o casamento com Maria, mas porque a virtude principal de um noivo é a fidelidade ao compromisso. São José era comprometido com Maria, e com a missão que Deus lhe outorgou e a cumpriu integralmente.


Vale citar ainda, o outro título de José: que ele era Justo. Este título, na religião judaica era mais que um adjetivo sinônimo de “honesto” ou de alguém com um senso de “justiça humana” aguda. Ser um Justo era o objetivo final da vida místico-religiosa judaica assim como ser santo o é do Cristianismo. O Justo (Tsadic) judeu é alguém que alcançou o Amor absoluto à Deus, o nível de ahava beta'anugim - "deleite amoroso".


Outros dois homens bíblicos que são chamados Justos são Noé e o José do Velho Testamento. Segundo o site Beit Chabad:

Um tsadic (o justo consumado) é alguém tão completamente devotado a D'us que nunca se considera como uma entidade separada ou individual. Sim, sua observância da Torá e dos mandamentos está repleta da intenção de aderir e tornar-se unido a D'us, cumprindo Sua vontade, e vivencia a Divindade com amor e temor. Mesmo assim, atribui tudo à infinita graça e providência de D'us. Como dizem nossos Sábios (Ética dos Pais 3:7): "Dê (i.e., atribua) a Ele tudo que Lhe pertence, pois você e tudo que é seu pertencem a Ele. (...)O serviço do tsadic a D'us é sem nenhum interesse. Seu desejo incondicional de servir e tornar-se um com Ele obstrui qualquer preocupação com o recebimento de uma recompensa, mesmo aquela do Mundo Vindouro."
E ainda outra fonte judaica sobre o que é ser um "Justo":
O Tsadic (O Justo)
Segundo a opinião do Tanya, uma pessoa que passou por testes de força moral e de caráter, e não sucumbiu ao pecado em pensamento, palavra e ação não é exatamente o significado do termo tsadic. Este também não descreve a essência de um tsadic. Ao contrário, o título tsadic refere-se a uma pessoa que triunfou sobre sua alma animalesca. Esta vitória significa que ele expulsou, ou transformou em bem, o mal inerente a seu coração desde o momento em que nasceu.
No capítulo dez do Tanya, Rabi Shneur Zalman explica que há duas categorias gerais de tsadic.
Um tsadic imperfeito ou incompleto é alguém que conseguiu banir ou eliminar o mal dentro de si por meio de seu serviço Divino, como alude o versículo: "E erradicarás o mal de dentro de ti." Um tsadic perfeito ou consumado é alguém que não somente baniu qualquer traço de mal dentro de si, como também conseguiu transformar o mal em bem.
Conforme já destacamos, na sabedoria chassídica há uma distinção entre a faculdade do desejo da alma animalesca, e as "vestes imundas" nas quais a alma animalesca se veste. O poder do desejo não é necessariamente mau. Ele tem em si o potencial de ser atraído na direção do bem ou do mal. As "vestes imundas" nas quais a alma se veste são o produto da indulgência nos deleites físicos deste mundo. Assim como uma pessoa pode mudar de roupas à vontade, assim também pode tirar as vestes imundas que cobrem sua alma.
Banir e eliminar o mal
Deveria ser enfatizado que a transformação do poder do desejo da alma animalesca em amor a D’us caminha de mãos dadas com mudar completamente as vestes imundas. Devido a isto, o tsadic imperfeito, que não conseguiu transformar o mal em bem, também não conseguiu eliminar o mal dentro de si próprio. É por este motivo que o tsadic incompleto é também chamado "um tsadic que conhece o mal", ou "um tsadic no qual existe o mal", pois algum minúsculo vestígio do mal ainda permanece dentro dele, no lado esquerdo de seu coração. No entanto, em seu favor, devemos dizer que o vestígio do mal nunca é expresso em pensamento, palavra ou ação, pois "em razão de sua pequenez, é subjugado e anulado para o bem."
Rabi Shneur Zalman enfatiza que o nível de "um tsadic que conhece o mal" na verdade abrange miríades de níveis, que são classificados segundo a quantidade e a potência do mal que permanece dentro dele. Em um tsadic imperfeito, um vestígio do mal originário do elemento Ar permanece. Em outro, um traço do mal do elemento Terra sobrevive, e assim por diante. Em um tsadic incompleto, o mal é anulado pelo bem na proporção de um para sessenta. Em outro tsadic imperfeito, o mal é anulado na proporção de um para mil, ou dez mil, etc. Estas várias subdivisões na categoria do tsadic imperfeito são os níveis dos numerosos tsadikim encontrados em todas as gerações. Segundo o Tanya, este é o significado da declaração de Nossos Sábios, que "dezoito mil tsadikim ficam de pé perante o Eterno, bendito seja."
O mal não é sentido
O rei David declarou sobre si mesmo: "Meu coração está vazio (chalal) dentro de mim." Isso sugere que seu coração estava vazio da consciência da má inclinação. E a razão para isso está declarada no Talmud Yerushalmi: "pois ele o tinha matado através do jejum." A palavra chalal significa também um cadáver, implicando assim que depois que o Rei David tinha jejuado a tal ponto que destruiu sua má inclinação, tudo de que tinha consciência era o "cadáver" do yetser hará (yetser hará=inclinação para o mal) dentro dele. Este status é atingido por todo "tsadic que conhece o mal" na guerra contra a alma animalesca.
O tsadic imperfeito destruiu seu yetser hará, e cumpriu o versículo "erradicarás o mal de seu meio", embora às vezes o vestígio do mal que permanece dentro dele (o "cadáver" de seu yetser hará) demonstre sua presença. Mesmo assim, não tem efeito sobre ele (permanece um corpo sem vida, por assim dizer) e não pode perturbá-lo em seu serviço Divino ou impedi-lo de apegar-se a D’us.
Em contraste, o yetser hará do benoni (o sujeito que não é mais um pecador inveterado, mas não é um tsadic ainda) é passível de incomodá-lo ao máximo. Mesmo quando o benoni está ocupado com seu serviço Divino, e em meio a seu apego por D’us, maus pensamentos podem perturbá-lo. Para superar estes maus impulsos ele deve ir à guerra. No tsadic incompleto, porém, a aparência do mal é apenas transitória, e pode imediatamente ser ordenado a fugir sem qualquer luta. 
http://www.chabad.org.br/tora/cabalaterapia/cab125.html




Vemos, portanto que José é um homem que recebe três títulos honrosos: ele é Santo que é um  reconhecimento de avançado estágio de aproximação de Deus segundo os critérios Cristãos, garantindo que ele fora salvo por seu Filho, algo que está acima de ser Justo. Mas ele também é um Justo,  o que, como vimos, é também o nome de uma forma de santidade no judaísmo em reconhecimento do pleno cumprimento da Vontade de Deus por parte de José. Este octogenário conseguiu nada mais, nada menos do que cumprir tanto o que Deus exigia no Velho Testamento quanto o que exigia no Novo. É Santo e Justo.


Finalmente, é chamado também "o Noivo" porque ele obteve tais virtudes pelo comprometimento com Deus que realizou através do noivado com sua Santíssima Mãe Maria, superando a vergonha do escárnio da sociedade por ser visto como "traído" por uma moça mais nova. Com profunda fé em Deus e fidelidade a missão recebida, São José foi o primeiro devoto consagrado a Maria, o primeiro homem que entregou sua vida integralmente a Deus através do serviço constante à Sua Santíssima Mãe, relacionando-se com ela com a reverencial piedade de um devoto e não como marido - lembramos mais uma vez que tradicionalmente a figura exemplo da Sagrada Família, de santidade no casamento e na criação dos filhos é a família de Nossa Senhora e seus pais, Santa Ana e São Joaquim, com muitos e luminosos exemplos de fé, paciência, e alegria, gerando uma filha santa.



Portanto, São José é um homem de estatura espiritual singular e magnífica e que ainda assim manteve suficiente silêncio humilde a respeito de si mesmo para que não se destacasse diante daqueles a quem devia servir, entre os quais o próprio Deus. Diminui-se para que Deus fosse glorificado, entregou até o último suspiro de suas forças ao Plano de Deus, servindo assim de exemplo para todos nós e merecendo ser chamado o Justo São José, o Noivo. 

A Sagrada Família Tradicional:
São Joaquim, exemplo de pai, Santa Ana, exemplo de mãe,
e a Virgem Maria, exemplo de filha, símbolos do casamento e da família cristã

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Divina Liturgia: Como Aproveitar Melhor



Traduzido e adaptado do original do Pe. Dimitri Cozby





Todo padre recebe perguntas sobre como aproveitar melhor a Divina Liturgia, o que deve ser feito para mostrar o devido respeito no templo do Senhor e o que pode ser feito para termos uma participação mais significativa nos ofícios. Este artigo buscará tratar de algumas das perguntas mais comuns, fundamentando-se em fontes diversas. Não deve ser tratado como leis que exigem obediência, mas como auxílios para alcançarmos uma postura espiritual, uma certa mentalidade que fará a adoração em nossa igreja mais significativa para cada um de nós.



Sempre que entramos ou saímos do templo, devemos fazê-lo da forma mais serena possível, para não perturbarmos as orações de nossos irmãos e irmãs, assim como gostaríamos de fazermos nossas orações sem interrupções ou distrações.



Também ao entrarmos ou sairmos do templo, devemos ficar de frente para o altar e fazer o sinal da cruz. Antes de irmos para nosso lugar, veneramos o ícone do santo padroeiro ou da festa que comemoramos e que estará no centro do templo, e veneramos os ícones de nosso Senhor e da Teotókos - tudo isso depois de comprarmos e acendermos velas se assim quisermos.



É melhor evitar ficar entrando e saindo da igreja durante os ofícios. Especialmente não entre enquanto a igreja estiver senso incensada, durante as procissões do Evangelho e do pão e vinho que serão consagrados, nem durante o sermão; são momentos que exigem concentração e movimentações provocam distração. Chegar atrasado na Liturgia é uma falta comum entre ortodoxos de todas as origens, mas não é algo de que devemos nos orgulhar. Sair mais cedo sem uma razão muito boa é tão ruim quanto.



Dentro do templo, devemos buscar manter uma atitude de oração e um espírito de humildade, como o do coletor de impostos do Evangelho (S. Lucas 18:10-14). Nosso propósito ao irmos a igreja é nos aproximarmos de nosso Senhor e Rei na companhia de nossos irmãos e irmãs; nos juntamos para constituir a Igreja de Deus. Esses fatos devem governar todas as nossas atitudes e comportamentos.

É melhor evitar conversas na igreja mesmo se o ofício não começou ainda. Devemos aproveitar o tempo antes dos ofícios nos preparando para a adoração; conversas necessárias devem ser conduzidas serenamente para não perturbar a meditação dos outros.



Aproveitamos melhor o que a Liturgia oferece se orarmos ao invés de meramente estarmos presentes. Deixe que os hinos entrem no seu coração, e faça com que as palavras ditas sejam as suas próprias como se você as dissesse de sua própria boca com toda sinceridade. Lembre-se que a Liturgia não é o momento das orações particulares, que podem ser feitas em casa em nosso canto de ícones, mas ela é o momento da oração comum da Igreja.



Para ajudar na oração do coração, ore com o seu corpo além da sua mente. A piedade ortodoxa é rica em ações que permitem que tudo em você glorifique a Deus, inclusive seus gestos e postura corporal. Devemos fazer o sinal da cruz nas horas adequadas: sempre que se fala na Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, e em qualquer oração ou petição que te afete pessoalmente. Quando o padre incensa ou abençoa o povo, o correto é fazer uma curvatura de reverência. Nesse momento não é necessário fazer o sinal da cruz, mas também não é errado fazê-lo. Durante a Quaresma, existem momentos quando nos ajoelhamos ou fazemos prostrações; siga o padre e os auxiliares do altar nessas questões. Se ajoelhar aos domingos não é adequado, pois todo domingo é uma festa da Ressurreição, uma Páscoa semanal e a posição do corpo que melhor expressa nossa alegria e salvação é estarmos de pé, especialmente após a Comunhão. A participação penitencial, de joelhos, pode ser feita nos outros dias. Os leitores e cantores podem não fazer vários desses gestos para não perturbarem a harmonia do ofício.



Lembremos sempre e acima de tudo que o templo deve estar cheio de uma atitude de amor mútuo e respeito. Estamos reunidos para compartilharmos na adoração da Igreja, para nos unirmos uns aos outros e com nosso Deus, para sentir já um pouco da alegria que teremos quando reunidos no Seu Reino. Nossas atitudes uns para com os outros devem ser reflexo da atitude do Senhor, que ama a todos nós e só deseja o nosso crescimento espiritual e nossa salvação.