terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Breves Reflexões sobre a situação da Ortodoxia na América do Sul



Cada um de nós ortodoxos vive em seu próprio mundo e pratica sua fé dentro de um vácuo, um vazio. Lutando para sobreviver, não se pode ocupar-se muito da vida espiritual e comunitária dentro da Igreja. Usamos muitoa a "economia"(1) - um dispensação especial - para acomodar os fiéis e suas necessidades e assim poder superar os problemas; por isso quando chegamos a um problema de força maior, canônico e significativo, nos encontramos em dificuldade. Ecumenicamente, com a Igreja Católica Romana temos as melhores relações e tratamos de criar espaços de cooperação. Com as igrejas protestantes tradicionais e clássicas temos relações fraternais, dentro do âmbito ecumênico que nos concede o Conselho Mundial de Igrejas - CMI, e a Comissão Ecumênica de Igrejas Cristãs da Argentina -- CEICA, organizações nas quais participa o nosso patriarcado e nossa arquidiocese respectivamente. 

Nosso rebanho está cada vez mais distante da fé e da tradição ortodoxa. Não sabem como viver sua fé ortodoxa, não porque nós do clero não estamos presentes, ou porque não os assistimos pessoalmente, mas porque falta uma relação mais verdadeira com Deus, com Cristo, e com a igreja institucional. Isto não é um problema particular dos Ortodoxos, mas sim de todas as religiões institucionais. Os problemas e escândalos que açoitam o corpo de Cristo e que são produzidos por falta de testemunho destes mesmos clérigos, são também causa deste distanciamento dos nossos fiéis. É um sinal dos tempos que devemos aprender a superar com muito trabalho, profundo testemunho e sacrifício, e com muita disciplina para viver dignamente e com zelo nossa fé ortodoxa, ou de outra maneira não conseguiremos continuar a existir por muito tempo na América Latina. 

Não vivemos mais em pequenos povoados: vivemos em grandes cidades e absorvidos em uma profunda globalização. Assim mesmo as coletividades possuem grandes dificuldades para se identificarem com a Ortodoxia, e também a Ortodoxia não sabe como identificar-se (modificar-se), com eles. É por isso que em geral não apóiam a Igreja e não compreendem porque deveriam apoiá-la. Não obstante, continuam requisitando os serviços eclesiásticos através de sacerdotes bem preparados, capazes e de grande experiência e nível pastoral, embora a Igreja não tenha como resolver o problema da formação dos sacerdotes de maneiro local, nem, consequentemente, estabelecer programas de catequese e pastoral para satisfazer convenientemente a nosa gente, que por uma lado parace estar perdida ou nem mesmo interessada, e por outro tem muita sede, sede que apenas a Ortodoxia - acreditamos - pode saciar, se é que verdadeiramente somos a religião do III milênio como disse Sir Steven Runciman. 

Tudo isto no coloca em uma época que está cheia de desafios: cabe a nós querer enfrentá-los com coração, mente e espírito abertos e observando os sinais e símbolos dos tempos e dos céus. 

(1) Nota do Tradutor - Sua Eminência está se referindo aqui aos conceitos de "akribéia" e "economia" conforme existem na Igreja. A akribéia é a exatidão do ensinamento e regra da Igreja e a economia é a sua flexibilização em face de algum evento particular. Por exemplo, pela exatidão (akribéia), todos os não Ortodoxos que se convertam à Ortodoxia deveriam ser batizados, venham de que igreja venham. Por economia, entretanto, aqueles que vem de igrejas nas quais é realizado um rito com água, evocação do Pai, do Filho e do Espírito santo, com imersão ou aspersão, costumam ser aceitos apenas com o crisma. A akribéia é como ter uma refeição perfeita, que supra todas as nossas necessidades alimentares. A economia é como ter uma refeição um pouco mais pobre em termos nutricionais, mas é "o que dá pra fazer".

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