Padre Andrew Barakos
27 de dezembro de 2010
A palavra ministério tem muitas conotações. Normalmente, está associada apenas com os trabalhos ou deveres do padre. Estudando a tradição da Igreja, entretanto, fica claro que não existe outro ministério na Igreja que não seja o ministério de Cristo. Isso significa que todo aspecto da vida da Igreja é o ministério de Cristo. As implicações óbvias são que tanto o clero quanto os leigos são vocacionados para cumprir o ministério de Cristo no mundo.
O padre João Zizoulas, como professor de teologia, uma vez disse, "O Espírito Santo realiza o ministério de Cristo na forma do ministério da Igreja".
A realização do ministério de Cristo dentro de uma certa comunidade tem muito a ver com a disposição dos membros em se engajarem nele. Todos nós recebemos por virtude de nossa entrada sacramental no Corpo de Cristo um chamado de trazer o ministério de Cristo ao mundo. Os ministérios que Cristo nos capacita a realizar são o fruto de morrermos para nós mesmos e permitirmos que o Espírito Santo guie nossos corações. Tendo retirado o "ego" da jogada (nunca podemos dizer "meu ministério é..."), permitimos que Cristo trabalhe através de nós - o orgulho e agendas pessoais maculam a pureza de nossos bons trabalhos. Em resumo, cada membro da Igreja é um servo do ministério de Cristo.
A questão da falta de estímulo
A falta de estímulo é uma armadilha para qualquer paroquiano, e é resultado de se perder de vista o fato de que a energia para realizarmos o ministério de Cristo vem sempre dEle, nunca de nós. Quando as coisas não vão bem na Igreja e a pessoa se sente abandonada, se não mantivermos Criso no centro de nossa vida, escapar vai parecer ser a solução. Provas, aflições e tribulações são parte de ser um discípulo de Cristo. Sem Sua Graça e Poder, as provas podem sobrecarregar os paroquianos e eles saem de uma comunidade para outra. Permanecer e continuar trabalhando mesmo nas aflições permite um crescimento espiritual que muitos optam por não realizar. Cristo é o Ungido e nós nos tornamos coparticipantes nesta unção, unindo-nos ao Seu Corpo (Pe. Alexander Schmemann). É isto que nos energiza a nos tornarmos vitoriosos e não vítimas. Cristo fez de nós reis e sacerdotes perante Deus e Seu Pai (Apo. 1:6), o que significa que nunca somos deixados a sós para lutar o bom combate. Quando fomos crismados (ungidos), recebemos o Espírito Santo enquanto um Dom, o que faz de nós templos de Deus; consequentemente, o propósito de nossa vida é partilhar de Sua vida, Sua pureza e Sua santificação. Compartilhamos estes dons com o mundo para efetuarmos o ministério dEle, não o nosso.
Cristo faz de nós reis que são chamados a morrer todos os dias
No Jardim do Édem, Adão e Eva governavam a criação permanecendo obedientes a Deus. Na queda, eles desobedeceram Deus e perderam seu papel como reis e se tornaram escravos. Cristo restaura em nós a nossa realeza, através do batismo, e fazendo-nos coparticipantes na morte e ressurreição de Cristo. Carregando nossa cruz diariamente e seguindo o exemplo de Cristo, nossa realeza nEle é cumprida - Ele nos guia de modo que nós guiemos outros. Somos chamados a morrer diariamente para a noção de que este mundo é um fim nele mesmo, e somos chamados a focar todas as nossas decisões em viver para o Reino o qual está presente na igreja e virá em sua plenitude quando Cristo retornar. Seu Reino está presente *agora* na Igreja, e é, de fato, o dom da Igreja.
O Domingo é o Dia do Senhor
Nos domingo, nos reunimos como Igreja para manifestar-nos como reis súditos do Rei. Deve-se tomar muito cuidado para que as distrações cotidianas de nossas vidas não nos tirem de sintonia com o precioso dom de nossa atenção exclusiva na Divina Liturgia, como ela merece. O domingo é o "dia do Senhor" e pertence a Ele e requer de nós o maior respeito. Por algum motivo se tornou aceitável chegar a qualquer hora na Liturgia - isso é fundamentalmente errado. O texto da Liturgia implica que estejamos presentes para dar o nosso "Amém!" às primeiras palavras do padre: "Bendito seja o Reino do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, agora e sempre e na era das eras." Se estivermos em qualquer outro lugar que não na Igreja em um domingo, nós permitimos que o mundo nos tenha escravizado e feito de nós seus servos.
Criso faz de nós Sacerdotes
Outra consequência de nossa entrada sacramental na Igreja é que Cristo restaura em nós nossa natureza sacerdotal. Como Cristo demonstrou, a natureza sacerdotal de uma pessoa se realiza através de oferendas e sacrifícios. Na cruz, Cristo ofereceu a Si mesmo como sacrifício de uma vez por todas. Seus discípulos são chamados também a se tornarem sacrifícios vivos. Esta oferenda deve ser feita comunalmente e plenamente como na Liturgia: "Entreguemos nós mesmos e um ao outro e toda a nossa vida a Cristo, nosso Deus". Toda decisão da vida pessoal e da vida comunal da Igreja se torna sujeita à vontade de Deus. Consequentemente, cresce nossa preocupação em compartilhar e testemunhar a verdade de Cristo para os outros porque não mais somos cristãos mundanos seguindo suas próprias vontades.
A "Geração-Eu"
O Padre Schmemann utilizou a palavra "consumidor" como a melhor expressão da *NÃO* realização de nosso sacerdócio em Cristo. Adão foi o primeiro consumidor ao tomar aquilo que não lhe fora oferecido. Da mesma forma, adultos e crianças são levados por empresas de marketing a se tornarem os "melhores" consumidores possíveis. A mentira sendo contada por marqueteiros é que a posse de coisas leva à felicidade. A verdadeira felicidade, plenitude, paz e amor encontram-se em Deus e não em falsos deuses do consumismo. Deus nos convida à Sua mesa para termos tudo que Ele tem a oferecer, e nos previne a evitarmos a mesa da comida que perece. A ética rasa do consumismo produziu uma "Geração- Eu" que é caracteristicamente ególatra, egoísta, orgulhosa e consumista. Deus não nos criou para sermos consumidores das coisas do mundo, mas consumidores de Sua Graça que apenas depois de aceitá-la podem oferecer Cristo de volta para os que estão à sua volta.
Cristo faz de nós Profetas
O Profeta é aquele que conhece a vontade de Deus, que discerne os eventos e situações da vida com Sabedoria divina, e não é enganado pelas farsas do mundo e do pecado. O papel profético dos membros da igreja é realizado em termos os "olhos de Cristo" para ver as injustiças do mundo e as "pernas" para colocar as soluções em práticas. Injustiças como as da pobreza, da orfandade, das viúvas e dos sem-teto se tornam preocupações centrais para Igreja com "olhos de ver". Nos tornamos proféticos tendo os "ouvidos de Cristo" para ouvir as dores e batalhas uns dos outros de modo que escutando nós carregamos os fardos uns dos outros. Nos tornamos proféticos tendo a "boca de Cristo", aprendendo o auto-controle, e ao invés de acender incêndios com nossas bocas, a graça divina é ouvida extinguindo a ânsia dos outros. Nos tornamos proféticos tendo a "mente de Cristo", e assim direcionando nossos talentos pessoais para a construção do Reino de Deus. Nosso tempo, nosso talento e riqueza finalmente tornam-se dons que devolvemos a Cristo na medida em que permitimo-nos realizar o ministério de Cristo no mundo.
A Ele toda Glória, honra e adoração. Amém.
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Tradução: Fabio L. Leite
http://www.pravmir.com/article_1191.html
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