domingo, 23 de dezembro de 2012

O Mistério do Natal




Com seu nascimento em uma humilde manjedoura, o Criador de Todas as Coisas, inicia a consumação do seu amoroso plano de salvação da humanidade. Descendo da Eternidade para o mundo físico, Jesus se torna um de nós, um ser de carne e histórico. E por que o Filho de Deus faria isto? Não poderia ele em sua onipotência realizar nossa Salvação sem submeter-se às dores da carne, sem os suores, as ingratidões, infâmias, traição e morte que viriam em seguida? Não é Deus o Senhor, cuja Palavra fez existir todo o universo e um mero sopro tornou um boneco de barro em uma criatura viva e inteligente à sua própria imagem e semelhança? Qual é o mistério da Encarnação do Filho de Deus no Natal?

A resposta, meus caros, é que realmente Deus não estava e não está forçado por nenhuma necessidade ou imperativo para realizar o que fez e ainda faz hoje em dia, pois nada há maior do que Ele. Sendo assim, em absoluta liberdade para fazer outra coisa que não nos salvar, ou realizar a salvação sem dor alguma para si, Deus escolhe encarnar-se como um de nós, exclusivamente por amor. Os ensinos, o que aprendemos do exemplo, tudo isso, por importante que seja, é secundário em face da experiência intensa do amor de Deus por nós, iluminando nossos corações e almas. Deus não veio apenas para ensinar, apenas para profetizar, apenas para educar. Veio para amar. Amar os que iriam amá-lo de volta, amar os que não o compreenderiam, amar até os que iriam odiá-lo. De fato, diz-nos a Santa Escritura que Ele já nos amava quando nós o odiávamos. E odiamos a Deus quando queremos fazer as coisas a nossa maneira, quando queremos que Ele apenas subscreva a nossa vontade como se fosse um mordomo dos nossos desejos. Mas Ele nos ama primeiramente, mesmo assim, pois o Amor verdadeiro não ama virtudes, qualidades, histórias, que nada mais são que abstrações, por belas que sejam. Ama pessoas concretas, seres humanos inteiros, ama-os mais que às suas virtudes e a despeito de seus defeitos.

O Amor de Deus é o amor verdadeiro. Não é um sentimento. Não se satisfaz em sentir amor, não é uma história romântica que montada na cabeça fica aguardando as pessoas que melhor vão interpretar os papéis pré-determinados no roteiro imaginado e que, por vezes, tentamos fazer acontecer "na marra". Não é a expectativa de um bem-estar ou de conforto. O Verdadeiro Amor, como vemos no nascimento de Cristo é união, presença intensa, doação, pois ali a natureza humana e a natureza divina unem-se, sem mistura e sem perder suas peculiaridades, na pessoa de Jesus Cristo, o Qual, por isto, é chamado de completamente Deus e completamente Homem, dupla natureza que representamos com os dois dedos dobrados durante o sinal da Cruz.

Mencionei antes que o Amor verdadeiro não acontece "na marra", por mera força do querer através de ações impositivas. Deus é onipotente, porém Ele não nos obriga, nem mesmo a vivenciarmos seu Amor se não quisermos, muito menos nos força a amar outras pessoas. Sabemos disso através de outra consumação da perfeição, esta perfeição já relativa e humana, que é a presença doce, humilde e majestosa da jovem Maria, Nossa Senhora, a Teotókos. Maria ali representa toda a humanidade. Deus não a força a participar de seu plano. Deus não aparece impondo-se em toda Seu poder infinito. Ao contrário, Ele envia um amigo, um anjo, para levar à Maria um pedido: "Eu gostaria de fazer isto, por amor de todos vocês. Você me permite?" Vejam, amigos que é o "Senhor dos Exércitos", o Criador, Deus Poderoso, Luz do Mundo, Primeiro e Último, Rei das Nações, Senhor da Glória,o Sol Nascente, O Senhor dos mortos e dos vivos, O Eterno forte e poderoso, o Eterno poderoso na batalha, O Sol da justiça, O justo juiz dos vivos e dos mortos, que, diante de uma moça de 14 ou 15 anos, gentilmente pede-lhe permissão de executar a Salvação de todo o universo, simplesmente porque todo ato de amor começa com uma escolha em liberdade. Para a realização do amor, da união de Deus com a Humanidade, o "sim" livremente escolhido é a porta de entrada. Assim como pelo "não" de Eva toda a humanidade caiu, pelo "sim" de Maria todos nós fomos salvos. É o Inimigo quem tenta enredar suas vítimas com palavras e atos envolventes, forçando situações e sentimentos. É este Inimigo que busca que sua vontade e desejos realizem-se "na marra". Isto não é amor. O Amor começa com o "sim" de Maria, cresce na união, na presença, na participação na vida do amado, como Jesus participou da nossa vida, comendo, bebendo, crescendo, trabalhando, suando, ferindo-se, conhecendo nossas alegrias e nossas dores. E consuma-se, como veremos mais tarde, na entrega total da vida, novamente voluntária e por livre escolha como Jesus fez na Cruz, transfigurando assim, a própria escuridão da morte em Vida ressuscitada, luminosa e eterna.

Digamos sim com Maria para a vontade de Deus em nossas vidas, para que Cristo Deus, nasça na manjedoura de nossos corações, iluminando os animais que ali habitam e representam nossos instintos; iluminando São José, ancião protetor da jovem menina e que representa a fé, a honradez e nossas virtudes; recebendo a visita dos pastores que representam a humildade; recebendo a visita dos anjos e que representam a graça de Deus; e a visita dos Reis Magos, que representam a sabedoria, a inteligência, a riqueza e o poder que se curvam em adoração obediente perante o Menino Deus.

domingo, 9 de dezembro de 2012

A Transfiguração da Criatividade


A transfiguração da criatividade não é apenas uma espera ou prelúdio da transfiguração vindoura; é em si mesma sua precedência, seu início real. E pela força desta criatividade, dentro das fronteiras da história, o supra-histórico é alcançado, quer dizer, aquilo que ultrapassa estas fronteiras da história. Isto aplica-se em primeiro lugar à alma do homem, e realiza-se mais vividamente na adoração divina, prementemente na adoração Eucarística, na qual o tempo misteriosamente dissolve-se na eternidade. Mas, de certa forma, isto também se aplica a toda criatividade do homem.

O resultado é uma certa justificação por um tipo de indiferença às coisas terrenas que não podem e não devem possuir dimensões eternas, e que, por consequência são "vãs" e "fúteis" na perspectiva escatológica. Nisto encontra-se a antinomia fundamental da atitude cristã para com a história e a cultura. Pois o Cristianismo é essencialmente histórico, e a história lhe é um process
o sagrado. E, ao mesmo tempo, o Cristianismo pronuncia um julgamento (uma condenação), sobre a história, é em si mesmo uma abolição da história. Pois a plenitude será alcançada na abolição de toda história, através do fim do tempo. Não como resultado de uma sequência de gerações, mas através da restauração de tudo o que morreu.

Tudo isso implica na abolição de toda cultura - pelo menos em tudo que nela há de histórico - não, porém, por rusticidade ou incultura, pois, se assim fosse, significaria uma perda de energia espiritual. A cultura é abolida pelo amor de algo maior e mais alto "que não pode ser contido por orlas terrenas". Portanto a cidade "terrena" perde seu significado pois "buscamos a que está por vir". Pois o Cristianismo é "boa nova" e uma expectativa do fim, consumação e recapitulação, anastasis e apokatastasis.

Pe. George Florovsky em "Asceticism and Culture in the Later Eastern Church (Fragments)"

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Patriarca Bartolomeu I sobre o Filioque



Patriarca Ecumênico:


"Com o Filioque, novas cacadoxias, cismas e heresias foram criadas"



Fonte: "Orthodox Press" - 5/11/2010
http://www.oodegr.com/english/papismos/filioque_cacodoxies.htm



O Patriarca Ecumênico Bartolomeu realizou uma visita oficial e pacífica ao Patriarca da Romênia.


Durante sua visita, ele participou e dirigiu-se ao Santo Sínodo do Patriarcado da Romênia.



Durante sua fala, e depois de referir-se às relações do Patriarcado Ecumênico com o Patriarcado da Romênia, ele disse o seguinte entre outras coisas:



"O Santo Primeiro Sínodo Ecumênico de Niceia da Betânia foi convocado, como sabemos, com o propósito de confrontar a horrenda e blasfema heresia do Arianismo.



O território de Wallachia havia sido igualmente afligido pela calamidade ariana, e mesmo dois bispos da Wallachia - Ursacius e Valens - tinham aceito a heresia e se tornado lobos selvagens ao invés de pastores. Mas felizmente, existiam de fato bons pastores - como existiam em toda a Igreja, que permaneceram vigilantes pelo rebanho das ovelhas racionais de Cristo - e firmes defensores da fé Ortodoxa. Entre eles estava o Bispo Teófilos de Dakia, que foi um dos 318 Santos Pais do 1o. Sínodo Ecumênico e um dos signatários de suas decisões. Subsequentemente, a Igreja romena acrescentou razões para comemorar festivamente o aniversário conduzido.



Os 318 Pais não eram meros bispos ou clérigos. Eram verdadeiros portadores-de-Deus; eles tinham Cristo habitando em seus corações e o Espírito Santo completava sua existência. Eles haviam transcendido o estágio da catarse (purificação), já haviam subjugado todas as paixões repreensíveis e tinham recebido a iluminação divina, que lhes deu o potencial de discernir entre a verdade e a falsidade; entre a luz e as trevas, entre a vontade divina e a vontade do astucioso. Eles foram ricamente agraciados com os frutos do Espírito, "toda bondade, justiça e verdade"(Ef. 5:9). Eles já eram portadores-de-Deus. Era precisamente neste detalhe que eles diferiam de Ário e de todos os hereges, que queriam fazer teologia sem os pre-requisitos da santidade pessoal e que inevitavelmente naufragavam nas obscuras profundezas da ilusão, tagarelando sobre assuntos divinos e não teologando.



Quando Atanásio, o Grande, falou, ele pronunciou as palavras de Deus, O Qual habitava em seu coração. É por isso que o termo "homoousios" (consubstancial) não foi algo inventado por ele, mas uma informação inerrante dada pelo Espírito Santo. Quando Santo Espiridião realizou o milagre com o fragmento de cerâmica, foi o Deus Triuno Quem interviu. Quando São Nicolau confrontou a blasfêmia de Ário de forma veemente e militante, era o próprio Deus quem estalava a chibata da ira de Seu, normalmente desapaixonado, bispo.



É nas pessoas dos Pais que constituíram o Santíssimo Sínodo Patrístico, que temos o exemplo perenial da Teologia inerrante e do precioso arquétipo de um genuíno pai e professor. O 1o Santo Sínodo escreveu - caros irmãos - o primeiro Símbolo da Fé, o qual foi mais tarde completo pelo 2o Santo Sínodo Ecumênico de Constantinopla em 381, com seus 5 últimos artigos. Ambos os santos sínodos serviram ao mais sagrado e nobre propósito na vida dos Cristãos, que não é outro senão a unidade, a concordância na paz da Igreja.



Através de sua determinação dogmática, a qual está sucintamente cristalizada no Símbolo sagrado, eles delinearam o "básico" da fé ortodoxa, cuja transgressão coloca o que ousa perpetrá-la, fora do corpo da Igreja.



No Fanarion, no antigo hall de conferência de nosso Santo e Sagrado Sínodo do Patriarcado Ecumênico, entre outros temas representados, está artisticamente inscrito em nossas quatro paredes o Credo Niceno-Constantinopolitano, o qual claramente denota - na semelhança com um círculo de fogo - aquele "básico" que ninguém pode pensar em ignorar ou contornar.

Bastou, muito tempo depois, a adição de uma única palavra, o conhecido "filioque" para criar novas cacadoxias e cismas e heresias, as quais, até hoje aprisionam a cristandade ocidental longe do Oriente Ortodoxo.



Como observado muito inteligentemente por um teólogo contemporâneo, o Símbolo é um estandarte espiritual, e estandartes têm a missão de unir pessoas de grupos de pensamentos afins, sob ideais comuns. Nós, portanto, que reverentemente cremos em Cristo, nos encontramos sob o estandarte do sagrado Símbolo Niceno-Constantinopolitano que proclama em alto e bom som Quem é o Deus Vivo, Sua Providência por amor de nós, qual é a verdadeira Igreja e qual é a esperança daqueles que crêem.

Nos tempos antigos, o Certificado de Batismo emitido por certas províncias do Patriarcado Ecumênico costumavam ter impressas em circuferência à volta do documento, todo o Sìmbolo, que atuava como conveniente lembrança para o batizado, sobre a verdade salvífica.



E é esta fé salvífica e precisa que somos chamados, nos dias presentes, a preservar sem adulterações e sem danos como um item valioso, assim como devemos vivê-lo em nossas práticas diárias, seguindo nos passos dos Pais Portadores-de-Deus e todos os Santos ao longo dos tempos."

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A Igreja Ortodoxa e a Imaculada Conceição

Nesta entrevista, Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico de Constantinopla, comenta o dogma latino da Imaculada Conceição.





Entrevistador:


A Igreja Católica celebra neste ano o aniversário de 150 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição. Como a tradição cristã bizantina e oriental celebram a Concepção de Maria e sua completa e imaculada santidade?



Bartolomeu I:

A Igreja Católica considerou ser necessário instituir um novo dogma para a Cristandade mil e oitocentos anos depois da aparição do Cristianismo, porque ela aceitou um entendimento do pecado original – equivocada para nós Ortodoxos – segundo o qual o pecado original transmite uma mácula moral ou um responsabilidade legal aos descedentes de Adão, ao invés da abordagem reconhecida como correta pela fé Ortodoxa de que o pecado transmite a herança da corrupção, causada pela humanidade ter separado-se da graça incriada de Deus, o que o fez viver espiritualmente e na carne. A humanidade, moldada da imagem de Deus, com a possibilidade e o destino de ser semelhante a Deus ao escolher livremente o amor a Ele e a obediência aos Seus mandamentos, pode, mesmo depois da queda de Adão e Eva, tornar-se amiga de Deus em intenção; então Deus nos santifica, assim como santificou muitos dos progenitores antes de Cristo, mesmo que a plena realização do resgate da corrupção, isto é, sua salvação, tenha sido atingida depois da encarnação de Cristo e através dEle.

Consequentemente, de acordo com a fé ortodoxa, Maria, a Santíssima Mãe de Deus não foi concebida isenta da corrupção do pecado original, mas amou a Deus acima de todas as coisas e obedeceu a seus mandamentos, assim recebendo a santificação de Deus através de Jesus Cristo que encarnou-se a partir dela. Ela O obedeceu como uma dos fiéis e se dirigiu a Ele com a confiança de uma mãe. A santidade e a pureza dela não foram maculadas pela corrupção, que ela recebeu do pecado original como todo ser humano, precisamente porque ela renasceu em Cristo como todos os santos, santificada acima de todos os santos.

Sua restituição à condição anterior à da Queda não aconteceu necessariamente no momento da concepção. Acreditamos que aconteceu depois, como consequência nela do progresso da ação da graça divina incriada, na visitação do Espírito Santo, que causou a concepção do Senhor nela, purificando-a de toda mácula.

Como já dito, o pecado original manifesta-se nos descendentes de Adão e Eva como corrupção, e não como responsabilidade legal ou mácula moral. O pecado trouxe corrupção hereditária e não uma responsabilidade legal hereditária, ou uma mácula moral hereditária. Consequentemente, a Panaguia foi vítima da corrupção hereditária, como toda a humanidade, mas com seu amor por Deus e com sua pureza – compreendida como uma dedicação imperturbável e sem hesitação no amor por Deus – ele conseguiu, pela graça de Deus, santificar-se em Cristo e tornar-se digna de ser a casa de Deus, como Deus deseja que todos nós seres humanos sejamos. Portanto, nós na Igreja Ortodoxa honramos a Toda-Santa Mãe de Deus acima de todos os santos, embora não aceitemos o novo dogma da sua Imaculada Conceição.


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Comemoração da Santa e Vivificante Cruz




A Cruz, símbolo das dores e do sacrifício que passamos na vida, é chamada de Santa pela Igreja e é o ponto mais marcante da Paixão de Cristo. Existe um profundo ensinamento aí sobre o Amor e que nosso tempo esqueceu. É que o Amor verdadeiro não é estar apaixonado, estar em um sentimento de bem estar com o próximo e nem meramente desejar o bem do outro, e, rigorosamente falando, nem mesmo fazer o bem ao próximo significa necessariamente amor. Vejam que todas estas coisas estão centradas nos estados emocionais interiores da pessoa que "ama". O centro dessa coisa que hoje chamam de "amor" é na verdade aquele que sente ou pratica a tal ação. O próximo é apenas instrumento da auto-satisfação. Jesus Cristo, entretanto, ensina no Evangelho de São João que o maior amor que há é dar a vida por um amigo (S. Jo. 15:13), ou seja, é quando sacrificamos nossa própria vida pela do próximo.

É importante prestarmos atenção nisto que ele disse. Se existe um amor maior que todos os outros amores e que é dar a própria vida pelo próximo, então existem outros amores menores a esse maior. E são menores como? O que é que realmente identifica algo que é amor, e que se for maior ou menor pode dizer que o próprio amor é maior ou menor? O que identifica o amor, caríssimos, é o sacrifício, aquilo de que abdicamos para estarmos com a pessoa amada.

Deus é Todo-Poderoso, mas sacrificou isto para compartilhar de nossa fraqueza. Deus é Onisciente, mas sacrificou isto para compartilhar de nossas incertezas. Deus é a perfeita Vida,"athanatos" - Sem Morte, Amortal - como cantamos durante a Divina Liturgia, mas sacrificou isto para compartilhar conosco até mesmo da mais terrível de nossas experiências.

A "sabedoria" do mundo nos diz que quando um relacionamento - conjugal, familiar ou mesmo fraternal - nos faz mal, que devemos nos afastar, "partir para outra", "seguir em frente", "cuidar de nós mesmos". Diz que só devemos estar em uma relação com outra pessoa se for bom para os dois. Temos que estar só com gente "positiva", "alto astral". Amigos, esta é a lógica das alianças políticas, dos acordos comerciais, não do amor de Cristo. O amor verdadeiro que Ele não apenas nos ensinou, mas vivenciou exemplificando-o, é Amor que "Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." (1 Coríntios 13:7). É o Amor que abdica não só do que ruim e detestável, mas até do que é bom e desejável pelo amado. Vejam que Deus não tem nada de ruim em Suas Virtudes, mas o Cordeiro de Deus abdicou de inúmeras vantagens de Sua divindade para ser um conosco. E é também abdicando do mundo que nos tornamos um com Ele. E é aí que vemos a severidade mas também a imensa misericórdia de nosso Deus. Lembram-se da passagem do óbulo da viúva? Ela segue abaixo para rememorá-los:

E, olhando ele, viu os ricos lançarem as suas ofertas na arca do tesouro;

E viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas;

E disse: Em verdade vos digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva;
Porque todos aqueles deitaram para as ofertas de Deus do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que tinha. 
São Lucas 21:1-4 

Deus é amor. E ele sabe que amar *é* sacrificar algo pelo amado. O amor maior é sacrificar tudo que temos. Mas se tudo que temos forem apenas duas moedas, então Deus nos recebe exatamente como teria nos aceito se toda nossa fortuna fosse composta de palácios e navios. E, por outro lado, aqueles que possuem bilhões e sacrificam milhões, na verdade não sacrificam nada. Seu ato pode ser movido por qualquer coisa: vaidade, preocupações sociais, irresponsabilidade, faz a pessoa dormir de consciência tranquila. Mas não é amor. Não há sacrifício nele. Não há cruz.

Quando quiserem saber o que é realmente que uma pessoa dá valor em sua vida, investigue o que ela sacrifica para ter o quê. Aquilo pelo qual ela abdica do resto, este é o verdadeiro amor da pessoa. Aquilo pelo qual ela abdica de absolutamente tudo na sua vida, esse é o verdadeiro Deus da pessoa. E se esse Deus, não for o próprio Deus - se for dinheiro, nacionalidade, prazeres, sociedade, justiça, alguma pessoa ou ideologia, então a pessoa pratica idolatria, mesmo que não tenha nenhuma estátua de deuses pagãos na estante.

O único pelo qual o sacrifício absoluto faz sentido é o único que é Absoluto e que nos ama de forma Absoluta: Nosso Senhor Jesus Cristo na Santíssima Trindade, com o Pai e o Espírito Santo. E façam este exame, primeiramente com vocês mesmos, investigando seus corações. O que eu sacrifico em nome de que. Não pergunte para si mesmo "o que eu sacrificaria". Pergunte "o que eu sacrifiquei para conseguir o que", "o que eu sacrifico hoje para conseguir o que". As respostas serão as coisas que você, na prática ama, mesmo que não sejam as mesmas pelas quais você tem sentimentos que a modernidade chama de "amor". 

Quantas mães e pais hoje em dia sacrificam o tempo com os filhos pela carreira? Não há dúvida que os sentimentos deles estão com os filhos. Mas o amor é identificado pelo altar do sacrifício. Na mesa estão os filhos, e o ídolo sobre eles é a carreira. E este é apenas um exemplo genérico. Vejamos o quê e quem colocamos no altar do sacrifício e a imagem do quê ou quem está sobre ele. E, irmãos e irmãs, existirá cena mais terrível do que descobrirmos em nosso coração que na mesa do sacrifício colocamos o próprio Cristo, sacrificado ao ídolo de nosso conforto, de nossa vontade de nos adequarmos à sociedade, ou aos nossos vícios? E se O descobrirmos ali, invertamos rapidamente a situação, sacrificando todas aquelas coisas e colocando-O no alto como Verdadeiro Deus, implorando Seu perdão que Ele certamente e com doçura concederá.

Percebem como a contradição entre o que amamos de fato e o que imaginamos que amamos pode levar a frustrações, neuroses e finalmente à própria destruição da alma? Tudo isto se passa porque esquecemos o ensinamento da Santa Cruz, do Santo Sacrifício, que a Vida Plena da Ressurreição só ocorre através da Cruz e do Sepultamento. Amar não é um sentimento, não é uma fantasia. Amar é unir-se, estar presente e para estarmos aqui, temos que abdicar de estar em absolutamente todos os outros lugares. E abdicando de todos os outros lugares que estar aqui se torna algo vivo e real. A cruz vivifica e santifica. Por isso cantamos à Santa e Vivificante Cruz. Que a paz de Deus esteja com todos nós.

"Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á." (Mateus 16 : 25)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Dormição da Teotókos


A Dormição da Teotókos

Sua Santidade Bartolomeu I

[© Reuters/Contrasto] - http://www.30giorni.it/articoli_id_23386_l3.htm


Bartolomeu I Patriarca Ecumênico de Constantinopla, durante a festa da Dormição da Santa Mãe de Deus, no monastério de Sumela, na pronvíncia Turca de Trebizonda, 15 de agosto de 2010

A Igreja Ortodoxa venera profundamente a Mãe de Deus - ou Teotókos (parturiente de Deus) ou Panaguia (Toda Santa), como preferimos nos referir a ela - exaltando-a não como uma santa exceção mas como de fato um sólido exemplo do modo cristão de compromisso e resposta à vocação de ser discípulo de Cristo. Maria é extraordinária apenas em sua virtude humana normal, a qual somos chamados a emular e respeitar como cristãos devotos. Sua morte é comemorada no dia 15 de agosto, sendo uma das doze grande festas do calendário ortodoxo.

E, para compreender a "aliança sagrada" ou o mistério de Maria, do qual "ninguém pode aproximar-se com mãos não iniciadas", a teologia ortodoxa busca as Escrituras, e especialmente a Tradição, particularmente a liturgia e a iconografia.Os cristãos ortodoxos lembram de Maria primeiramente por seu papel na encarnação Divina, isto é como Mãe de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, a conectamos a uma longa linhagem de seres humanos, e não divinos, que compõem a continuidade da história sagrada que leva ao nascimento do Filho de Deus, Jesus de Nazeré, dois mil anos atrás. Separar Maria desta linhagem preparatória ou "econômica" a desconecta da nossa realidade e a marginaliza de nossa salvação - como todos os seres humanos; mesmo quando ela é considerada "sem pecados pessoais", ainda assim, ela estava sob o a opressão do pecado original. Embora ela seja "mais venerável que os querubins e incomparavelmente mais gloriosa que os serafins", o que é verdade a nosso respeito, também é verdade a respeito de Maria. Ela é "bendita entre as mulheres", e encarna a única coisa necessária a todos os seres humanos: a dedicação à Palavra de Deus e a rendição à vontade de Deus.

Portanto, enquanto os Cristãos Ortodoxos oram de pé na Igreja e olham para cima para o Pantokrator (ou "Soberano do Universo"), ou seja, o Cristo, que ergue-se acima de suas cabeças durante a adoração, eles encaram diretamente a Platytera (ou "A Mais Ampla"), isto é, a Mãe de Deus, que fica imediatamente na nossa frente, literalmente no amplo abside conectando o altar ao céu. Pois, em tendo dado à luz Deus, a Palavra, e "concebendo o inconcebível" em seu útero, ela foi capaz de conter o incontenível e circunscrever O que não pode ser circunscrito.

Aprendemos da Escritura que, quando nosso Senhor estava na Cruz, Ele viu Sua mãe e Seu discípulo João e, voltando-se para a Virgem Maria disse: "Mulher, eis aí teu filho!" e para João: "Eis aí tua mãe!" (S. Jo. 19:25-27). Desde aquela hora, o Apóstolo e Evangelista do Amor cuidou da Teotókos em sua própria casa. Além disso, a referência no livro de Atos (Cap. 2, v. 14) confirma que a Virgem Maria estava com os Apóstolos do Senhor na festa do Pentecostes. A tradição da Igreja mantém que a Teotókos permaneceu na casa de João em Jerusalém, onde ela continuou seu ministério em palavras e ações.

A tradição iconográfica e litúrgica da Igreja também mantém que, na época em que a Virgem Maria morreu, os discípulos estavam pregando ao redor do mundo, mas foram levados de volta a Jerusalém para prestar suas reverências à Teotókos. Exceto por S. Tomé, todos os demais, incluindo o Apóstolo Paulo, estavam reunidos em torno da cama dela. No momento de sua morte, Jesus Cristo desceu do céu para levar sua alma de volta Consigo. Após sua morte, o corpo da Teotókos foi levado em procissão para ser colocado em uma tumba perto do Jardim de Getsâmane. Quando o Apostólo Tomé chegou, três dias depois e quis ver o corpo, a tumba estava vazia. A assunção corpórea da Teotókos foi confirmada pela mensagem de um anjo e pela aparição dela aos Apóstolos. Todos estes eventos refletiam a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo.

O ícone e liturgia da grande Festa da dormição e sepultamento de Maria claramente representam um serviço de funeral, ao mesmo tempo sublinhando o ensino fundamental sobre a ressurreição do corpo de Maria. A este respeito, a morte de Maria serve como lembrança que afirma nossa fé e esperança na vida eterna. Mesmo assim, os cristãos ortodoxos referen-se a este evento como "Dormição" (Koimisis) da Teotókos, ao invés de "Assunção" (ou translado físico) ao céu. Isto ocorre porque enfatizando que Maria é humana, que ela morreu e foi enterrada como outros seres humanos, nos é dada a certeza de que - a despeito do fato de que "nem o túmulo nem a morte puderam conter a Teotókos, nossa inabalável esperança e sempre vigilante proteção"(conforme canta o Kontakion da festa) - Maria é na verdade muito mais próxima de nós do que pensamos; ela não nos abandonou. Como observa o Apolytikion da Festa: "No nascimento, preservaste tua virgindade; na morte não abandonastes o mundo, ó Theotokos. Como mãe da vida, partiste para a fonte da vida, libertando nossas almas da morte por tuas intercessões".

Para os cristãos ortodoxos, Maria não é simplesmente aquela que foi escolhida. Acima de tudo, ela é símbolo da escolha que cada um de nós é chamado a fazer em resposta à iniciativa divina da encarnação (o nascimento de Cristo em nossos corações) e de transformação (a conversão dos nossos corações do mal para o bem). Nós somos, como diz S. Simeão, o Novo Teólogo do século X, todos convidados a sermos Cristotokoi (parturientes de Cristo) e Theotokoi (parturientes de Deus).

Pelas suas intercessões, que todos nós nos tornemos como Maria, a Teotókos.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A Divina Comunhão




Quando com temor e tremendo por nossa falta de merecimentos, temos a permissão de receber os divinos e imaculados Mistérios de Cristo, nosso Rei e Senhor, é preciso mostrar ainda maiores atenção, rigor e guarda sobre nossos corações, para que o fogo divino, o corpo de nosso Senhor Jesus Cristo, possa consumir nossos pecados e manchas, grandes e pequenas. Pois quando este fogo entra em nós, imediatamente afasta os espíritos malignos de nosso coração, redime os pecados que havíamos cometido, deixando a inteligência livre de toda turbulência provocada pelos pensamentos perversos. E, se depois disto, permanecermos na entrada de nosso coração, mantendo rigorosa vigilância sobre a inteligência, quando nos for permitido recebermos mais uma vez estes Mistérios, o Corpo Divino irá iluminar nossa inteligência ainda mais e fazê-la brilhar como uma estrela.

Santo Heséquios, o Padre

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Simbologia Cristã das Cores



As cores ganham significados de acordo com a cultura e o grupo que as utiliza. Na Santa Igreja, o que definiu esta simbologia foi o uso das cores nos ícones e decorações das igrejas durante as festas, bem como as vestes litúrgicas de diáconos, padres e bispos. 

Acompanhem a seguir o significado das cores para podermos usar também, até em nosso dia-a-dia.

Branco

É a cor da simplicidade, da pureza,da verdade, da justiça, do correto, bem como do mundo que há de vir e da luz divina.

Azul

É a cor do infinito, da eternidade, do mundo espiritual e angélico, bem como da Santíssima Virgem Maria, que é a Rainha dos Céus.

Verde

É a cor da vida, da abundância, do crescimento e da fertilidade. Por isso mesmo é a cor do Espírito Santo, chamado no Símbolo da Fé de Vivificante ou Fonte da Vida e é a cor do Pentecostes.

Vermelho

É a cor da atividade, do ardor, da paixão, do amor e da energia da vida. Por isso mesmo é também a cor da Ressurreição, onde a Vida vence a morte.É também a cor do sangue dos mártires, dos seus sofrimentos, lembrando-nos que neste mundo o muito amar também significa sacrificar-se, que o caminho da nova vida da Ressurreição é a Cruz.

Dourado

Simboliza a Luz Incriada de Deus, Seu Reino onde o Sol nunca se põe e não há noite. Representa a Glória de Deus, sua Radiante Natureza Divina.

Amarelo

É entendido como uma forma apagada do dourado. Assim sendo, é um símbolo da tristeza e da doença, pois representa situações ou momentos nos quais a presença de Deus foi afastada. Surge no ícone que mostra Jesus sendo colocado na tumba e outras situações de profunda tristeza.

Púrpura

O púrpura é associado à realeza desde a Antiguidade. Durante o Império Greco-Romano, apenas o imperador podia utilizar o púrpura. Assim, nos ícones simboliza o poder, a  força, a dignidade, o domínio e a hierarquia de Deus, por vezes expressa em santos, hierarcas, reis e imperadores.

Marrom

Sendo a cor da terra e do barro, representa as coisas terrenas, passageiras e mortais. É a cor por excelência da natureza humana, aparecendo em seus tons mais claros, às vezes puxado para o bege, como a cor da pele das figuras humanas.

Preto

No seu aspecto negativo representa a total ausência de vida, o vazio e a morte. Representa mesmo a total ausência de amor à Deus, daí os demônios serem representados sempre como figuras totalmente negras. No seu aspecto positivo, o preto representa o mistério, os aspectos de Deus que não podem ser entendidos ou compreendidos e também a total renúncia das coisas do mundo.

Cinza

O cinza em todos os seus tons é a única cor proibida nos ícones. Representa a mistura da vida com a morte, do certo com o errado, das concessões que fazemos, cheios de "bons" motivos, para o que é errado. É a cor da falta de coragem em decidir-se sobre algo, em tomar uma posição. É a cor da covardia, das palavras e atitudes vagas, No livro do Apocalipse Deus diz "Seja quente, ou seja frio, mas se fordes morno eu te vomitarei de minha boca." O cinza é a cor das coisas e pessoas mornas, e por isso é completamente posto de lado.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sínodos Ecumênicos Ortodoxos





História Resumida dos Sínodos Ecumênicos Ortodoxos
Leitor Fabio L. Leite
(Ícone do I Sínodo Ecumênico - São Nicolau surpreende Ário quando um milagre explica o mistério da Trindade)
Apesar dos termos técnicos, todos os sínodos da Igreja Católica Ortodoxa versam sobre o tema "Quem é Deus?" e "Como Ele é?". Deus é um, em três pessoas. E como qualquer pessoa, tem características próprias. Temos que amá-lO como Ele é, e não como imaginamos que Ele seja. Esse é um segredo do amor entre as pessoas também. Temos que amar as pessoas como são, e não como achamos que elas deveriam ser. O amor real é assim, e por isso também se aplica a Deus. Todos os termos técnicos, toda a discussão, no fim das contas é apenas para proteger isso: o amor a Deus como Ele verdadeiramente é.
Era Apostólica

Ano 33 ou 34 DC

Primeira Reunião Apostólica
Os Apóstolos se reúnem para decidir quem tomaria o lugar de Judas. O escolhido foi Matias. Atos 1.

Entre os anos 34DC e 56DC

Segunda Reunião Apostólica
Os Apóstolos se reúnem para decidir sobre a administração financeira das doações para a Igreja (Atos 4:31-37)

Terceira Reunião Apostólica
Os Apóstolos se reúnem para decidir quem seriam os primeiros diáconos da história. (Atos 6:2)

Quarta Reunião Apostólica
Os Apóstolos se reúnem para discutir o batismo do centurião romano Cornélio e sua família. Primeira controvérsia sobre a conversão de não-judeus. Atos 11

Quinta Reunião Apostólica, Sínodo de Jerusalém
Considerado o primeiro grande sínodo da Igreja.Combateu a heresia judaizante, que defendia que os gregos que se tornassem cristãos deveriam ser circuncidados e se tornarem judeus antes de serem batizados. Presidido por São Tiago. Atos 15. Prova que um sínodo não precisa ter o nome de ecumênico para ter autoridade sobre toda a Igreja.

56DC ou 58DC

Sexta Reunião Apostólica
Reunião pastoral sobre as atividades de São Paulo, pedindo para não chocar os cristãos judeus.
Atos 21:17-16

Era Imperial

I Sínodo Ecumênico – Nicéia I – Ano 325 DC - 318 Pais – Convocado pelo imperador Constantino. Combateu Ário que negava que Cristo é consubstancial com o Pai e também os melecianos que não aceitavam o retorno para a Igreja dos que haviam renegado a fé por força de tortura; Criou a primeira metade do Símbolo da Fé (o Credo). Padronizou a data da Páscoa, utilizada até hoje pela Igreja Ortodoxa. Proclamou a primazia das Sés de Roma, Antioquia e Alexandria (todas com bispos sucessores diretos de S. Pedro). Figuras de relevo: Santo Hósio, Santo Atanásio, o Grande, São Basílio, o Grande, São Gregório de Nissa e São Gregório de Nazianzus.

II Sínodo Ecumênico – Constantinopla I – Ano 381 – 150 Pais – Convocado pelo imperador Teodósio. Combateu o Arianismo e os macedonianos, que não criam que o Espírito Santo é Deus – por isso foi acrescentada toda a parte do Símbolo da Fé sobre o Espírito Santo ("Creio no Espírito Santo..."); e combateu o milenialismo, a crença de que Jesus reinaria por mil anos na terra e adotada por alguns grupos protestantes hoje – por isso foi acrescentada no Símbolo da Fé a expressão “e Seu reino não terá fim”. Proclamou Constantinopla com a segunda em honra entre as sés patriarcais. Roma não participou deste Sínodo Ecumênico.

III Sínodo Ecumênico – Éfeso – Ano 431 – 250 Pais – Convocado pelo imperador Teodósio II. O Sínodo declarou ilegal alterar o Credo definido em Nicéia e Constantinopla. Combateu o Nestorianismo, que não aceitava o uso do termo “Theotokos” para referir-se à Virgem Maria. O Nestorianismo equivocadamente cria uma diferença radical entre o homem Jesus de Nazaré, e o Logos Divino, dizendo que Maria deu à luz a Jesus apenas e não a Deus. A Igreja percebeu o erro desta visão e insistiu no uso do termo “Theotokos”, parturiente de Deus. Além de algumas igrejas protestantes que resgataram a heresia nestoriana, as igrejas Assíria do Oriente, Siriana Caldeia e Malankara da Índia são descedentes diretas dos nestorianos, que se expandiram para a Pérsia (atual Irã), China e Índia. Também combateu a heresia pelagiana, que diz que o pecado é apenas uma questão de ordem moral, que o homem é capaz de escolher entre o bem e o mal e o papel de Cristo é apenas de ser um bom exemplo e professor, como defendido por inteletuais e e pelo Kardecismo nos dias de hoje.Agostinho partiria para o lado oposto criando a doutrina da depravação total, adotada pelos Calvinistas e alguns protestantes, e também errada e que diz que a vontade humana é absolutamente incapaz de escolher o bem. A Ortodoxia Católica foi defendida por São João Cassiano, a salvação se dá pela ação conjunta e simultânea entre homens e Deus, sendo que apenas a Graça de Deus que tem papel ativo em todo o processo. É como vemos na parábola do filho pródigo: é o pai quem vai encontrar o filho no meio do caminho, que dá novas roupas, quem prepara o banquete e recebe o filho, mas o filho teve que se arrepender, sair do meio dos porcos e andar de volta até a casa do pai. Nesta parábola o pai representa Deus e o filho, cada um de nós, pecadores.

IV Sínodo Ecumênico – Calcedônia – Ano 451 – Convocado pelo imperador Marciano. Condenou o erro do monofisitismo (uma só natureza), que acreditava que Cristo não era homem e Deus, mas apenas Deus. Além disso confirmou a posição de Constantinopla como segunda em honra, fato que Roma só aceitou com protestos em 453, e criou o sistema da Pentarquia, no qual a Igreja era governada pelas quatro cidades imperiais mais importantes Roma, Constantinopla, Alexandria e Antioquia, às quais somava-se Jerusalém por seu valor tradicional e que neste mesmo sínodo foi elevada à condição de Patriarcado. Este sínodo foi rejeitado pela Igreja Copta do Egito, pela Igreja Siriana, pela Igreja Armênia, e pela Igreja Eritreia da Etiópia, as quais equivocadamente utilizam o nome “Igreja Ortodoxa” aqui no Brasil. Juntas elas formam as chamadas “Igrejas Orientais”, ou, melhor dizendo “Igrejas Não-Calcedonianas”. Hoje, alguns alegam que tudo não passou de um problema de palavras, pois o que eles entendiam como “natureza”, é o que entendemos como “pessoa”, ou seja, Jesus é uma só pessoa. Neste caso, eles mantém-se separados apenas por se recusarem a um procedimento normal de padronização de terminologia técnica. Digno de nota é o fato que o Papa Leão I enviou um livro, conhecido como Tomo de Leão, que teve que ser examinado e aprovado antes de ser aceito, já que sua primazia nunca implicara em governo ou autoridade infalível de ensino.

V Sínodo Ecumênico – Constantinopla II – Ano 553 – 164 Pais – Convocado pelo imperador Justiniano. Reafirmou a condenação do Nestorianismo e apontou o erro do ensino de Orígenes de que todos os seres humanos serão salvos no dia do Juízo Final. O Papa Vigilius, primeiro do longo período de papas gregos aprovados pelo imperador, então residente em Constantinopla, foi convidado, mas recusou-se a participar, além de ter requisitado que o Sínodo não ocorresse. Dado que era membro do Sínodo com honras especiais, mas nenhum poder de governo, o Sínodo aconteceu mesmo assim, vindo o papa a acatar suas decisões.

VI Sínodo Ecumênico – Constantinopla III – Anos 680/681 – 151 pais - Convocado pelo imperador Constantino, o Novo, combateu as heresias do Monotelismo e Monoenergismo, que alegam erroneamente que apesar de Jesus ser Deus e homem, não existem duas vontades e duas energias nele, mas apenas uma vontade e uma energia. Se fosse assim, Jesus não seria completamente homem e completamente Deus. Nele existem a vontade humana e a vontade divina, a energia humana e a energia divina, agindo em sinergia como defendera séculos antes São João Cassiano. O sínodo condenou como herege o papa Honório I por ensinar o monotelismo.

VII Sìnodo Ecumênico – Nicéia II – Ano 787 – 350 Pais – Convocado pela imperatriz Irene, a Ateniense. Combateu a heresia iconoclasta, que ensinava o erro de que não há diferença entre veneração de ícones e adoração de ídolos, defendida por todas as igrejas protestantes hoje em dia.

Sínodos Pan-Ortodoxos Posteriores
Constantinopla IV (Considerado por alguns como VIII Sìnodo Ecumênico) – Ano 879-880 – Condenou toda alteração do Símbolo da Fé, o Credo, inclusive a adição do termo “Filioque”, que o imperador franco Carlos Magno havia forçado na Igreja Ocidental com oposição do papa. Esta expressão corrompe seriamente o entendimento sobre o Espírito Santo, sendo uma forma de semi-macedonianismo, já condenado no II Sínodo Ecumênico, pois diz que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Isto vai contra o que Jesus explicou diretamente: “o Espírito de Verdade, que procede do Pai.” Jo 15:26. Além disso, só existem dois tipos de características em Deus: as que são comuns a todas as três Pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo), e as que só existem em cada uma das pessoas para que sejam diferentes. Quando alguém diz que o Espírito procede do Pai e do Filho passa a existir uma característica que o Pai e o Filho tem a mais que o Espírito Santo, que é exatamente dar-lhe origem. Assim o Espírito seria menor, “mais fraco”, pois dEle nada procede. E o Pai e o Filho ficam absolutamente idênticos, sem distinção; se o Filioque fosse verdade, Deus não seria três, mas apenas dois: uma massa indistinta e poderosa da mistura de Pai e Filho e um fraco Espírito Santo. Como o Espírito Santo é que guia a Igreja e nos ensina a verdade (“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” Jo 14:26), ensinar, mesmo sem querer, que Ele é mais fraco, gera a necessidade de ter algo em seu lugar que ensine a verdade e nos lembre as palavras de Jesus de forma infalível e inerrante. Esta é a fonte tanto dos ensinos da infalibilidade papal dos romanos, quanto da inerrância bíblica dos protestantes, e por isso este sínodo condenou tal ensino. O sínodo também confirmou o retorno do patriarca São Fócio ao trono de Constantinopla, de onde fora tirado por questões políticas. O próprio papa da época reconheceu este sínodo como o VIII Ecumênico, bem como os Patriarcas Ortodoxos do século XIX. Roma renegou este sínodo apenas séculos depois, quando já decidira separar-se da Igreja Católica Ortodoxa.

Constantinopla V (Considerado por alguns como IX Sínodo Ecumênico) – Anos 1341-1351 – Defendeu o hesicasmo, a vivência da Paz de Cristo mencionada em diversas partes do Novo Testamento e praticada pela oração cristão ortodoxa, especialmente entre os monges. O monge racionalista Barlaam, apoiando-se no conceito de que a razão e a filosofia podem servir para fazer teologia e inspirado por Tomás de Aquino defendia que a filosofia podia levar à visão e entendimento de Deus, criticava a vida de oração dos monges que defendiam a realidade: que a vida cristã é oração e jejum e não filosofias. Além disso, o sínodo afirmou ainda: as energias de Deus, condenando o ensino errôneo de que Deus é ato puro; afirmou que a luz vista por santos e orantes é a própria luz de Deus e não uma coisa criada por Ele como sinal. O grande campeão deste Sínodo foi São Gregório Palamás, bispo de Tessalônica. A defesa de São Gregório Palamás no sínodo concedeu-lhe o título de “Pilar da Ortodoxia” e o privilégio de ser comemorado nas festas pré-pascais.
Era Moderna
Sínodo de Jerusalém – 1672 – Convocado pelo Patriarca de Jerusalém Dositheos Notaras, com participação de bispos e patriarcas de todas as Igrejas Ortodoxas. Aponta os erros das doutrinas protestantes e romanas, reconhecidas como hereges, como por exemplo, salvação apenas pela fé, uso da Bíblia como fonte única da fé, purgatório, autoridade papal, filioque e várias outras. Este foi o primeiro e único sínodo pan-ortodoxo a ocorrer depois da queda do Império Greco-Romano de Constantinopla. Não é chamado de ecumênico simplesmente porque a palavra "ecumênico" era usada para leis ou instituições que afetassem toda a "ecumene" do Império Greco-Romano. Como o Império Greco-Romano caiu no século XV com a tomada de Constantinopla, a palavra "ecumênico" caiu em desuso e retornou apenas no século XIX com significado diferente: as igrejas protestantes dos Estados Unidos, percebendo suas teologias divergentes começaram a buscar tentativas de união que colocasse a doutrina e a correção da fé em segundo plano em favor da união. Ao longo do século XX tanto Roma quanto a Igreja Católica Ortodoxa acabaram entrando em diálogo com o chamado "movimento ecumênico". No caso da Igreja Ortodoxa, sempre dando testemunho da plenitude da fé para os seguidores de Cristo fora de sua comunhão e sem tergiversar sobre fé reta herdada dos Apóstolos.

Outros documentos doutrinais ortodoxos de caráter ecumênico:
  1. Encíclica de São Fócio (867)
  2. Carta do Patriarca Miguel Cerulário para Pedro de Antioquia (1054)
  3. Encíclica de São Marco de Éfeso (1440-1441), outro que é um dos poucos que foi chamado de “Pilar da Ortodoxia”
  4. Confissão de Fé de Gennadius, Patriarca de Constantinopla (1455-1456)
  5. Respostas do Patriarca Jeremias de Constantinopla aos Luteranos (1573-1581)
  6. Confissão de Fé de Metrophanes Kritopoulos (1625)
  7. Confissão Revisada de Fé de Pedro Moghila e ratificada pelo Sínodo de Jassy (1642)
  8. Confissão de Fé de Dositheus (1672)
  9. Resposta dos Patriarcas Ortodoxos aos protestantes Non-Jurors (1718-1723)
  10. Resposta dos Patriarcas Ortodoxos ao Papa Pio IX (1848)
  11. Resposta do Sínodo de Constantinopla ao Papa Leo XIII (1895)
  12. Encíclicas do Patriarcado de Constantinopla sobre Unidade Cristã e o Movimento Ecumênico (1920,1952)