terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Obstáculos para tornar-se Ortodoxo
Não é incomum ouvir alguém dizendo que "se tornou ortodoxo", sendo que o a pessoa quer dizer é que passou a "fazer parte da Igreja Ortodoxa". Pois uma coisa é fazer parte da Igreja, se tornar formalmente um membro do Corpo de Cristo, mas é bem outra nos tornarmos interiormente ortodoxos, isto é, entrar profunda e verdadeiramente no espírito e modo de vida da Igreja. A maioria do clero ortodoxo não recebe as pessoas na Igreja muito rapidamente e sem um catecismo adequado, mas ainda assim deixa-se passar alguma coisa. Ao longo dos anos, por exemplo, nós vimos dúzias de pessoas se juntando à Igreja mas nunca tornarem-se ortodoxas, como pode ser confirmado por seu abandono, ou fundação de seitas, cismas, cultos ou grupos para-eclesiásticos. Além disso, já vimos acontecer isto, tragicamente, mesmo depois de décadas de participação formal na Igreja.
Não se trata apenas de quantos ingleses(*) mais tarde abandonam a Igreja Ortodoxa, passado o entusiasmo inicial, mas também de russos, gregos e outros. Assim, por exemplo, sabemos de um russo de segunda geração que mais de trinta anos atrás foi circuncidado e tornou-se judeu. Sabemos também de um professor russo de primeira geração que batizou seus filhos na igreja anglicana, pois, como ele disse, "estamos na Inglaterra agora". Por outro lado, pelo menos seis dos sacerdotes da diocese anglicana de Londres são cipriotas gregos. Tendo nascido e sido criados na Inglaterra, eles decidiram há muito que a Ortodoxia era apenas para os gregos, e já que eles eram ingleses agora, eles tinham que se tornar anglicanos. Incontáveis outros exemplos de apostasia poderiam ser citados, incluindo os russos de segunda e terceira geração na França que se tornaram católicos romanos.
Quais são, então, os obstáculos para se tornar ortodoxo no verdadeiro sentido da palavra? O que pode dar errado? Para descobrir isso, temos que analisar primeiro a questão sob a luz das quatro características da Igreja, conforme definidas em nosso Credo. Ali, a Igreja é definida como "Una, Santa, Católica e Apostólica". É nesta luz que encontraremos as respostas para nossas perguntas.
Intelectualismo versus Unidade
A unidade da Igreja é afastada pelo intelectualismo. Este perigo é particularmente forte entre os convertidos dos países ocidentais. O intelectualismo ataca a unidade da Igreja porque toda tendência intelectual é divisiva, criando tanto apoiadores quanto inimigos, que dizem que são de Paulo, de Apolos e de Cefas, mas não de Cristo (I Cor 1, 12). Não devemos esquecer que todos os grandes hereges foram intelectuais, desde os helenos e gnósticos do primeiro século, até Arius e Nestório e os neo-gnósticos modernos e renovacionistas. A influência destes últimos é particularmente forte em países com imigração russa, notavelmente na França e nos EUA, mas também na Bélgica e na Inglaterra.
A tendência intelectualista vem de fora da Igreja, do mundo heterodoxo. Ali é comumente acreditado que a fé só pode ser compreendida pela razão ou pelo intelecto. Esse racionalismo é hostil ao ethos da Igreja, onde acreditamos e sabemos por experiência que o conhecimento não vem da razão humana, mas da purificação do coração. De fato, é apenas quando o coração é purificado, através de práticas ascéticas de oração e jejum e dos sacramentos postos juntos, que a razão ou o intelecto podem ser iluminados. Por outras palavras, na Igreja, o conhecimento vem até nós através da luta contra o pecado e da batalha pela virtude, seguindo os mandamentos, e não através do vão conhecimento de livros. Este último apenas nos deixa cheios de nós mesmos, e torna suas vítimas voluntárias em vaidosos joguetes do demônio, racionalistas pretensiosos que inspiram ou o deboche ou a piedade dos outros.
O intelectualismo divide, porque seus adeptos em seus grupos e panelas trabalham contra a unidade da Igreja de Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e para sempre (Hebreus 13:8). A unidade pode ser encontrada apenas na fidelidade à Tradição, o depósito confiado aos santos e que somos chamados a guardar (1 Timóteo 6:20). Nas inovações podemos ter certeza que encontraremos o espírito intelectualista, estranho ao Deus Vivo e Sua Igreja.
Espiritualismo versus Santidade
A santidade da Igreja é afastada pelo espiritualismo. O Espiritualismo confunde o que é autenticamente espiritual com a ilusão emocional do orgulho (ilusão em eslavônico é prelest, em grego plani, em latim illusio). Esta também foi uma das grandes fraquezas da imigração russa, mas hoje também é encontrada no velho calendarismo sectário grego. Este espírito é trazido para a Igreja desde fora, de todos os tipos de teorias mundanas mas "espirituais" e de filosofias estranhas como o antroposofismo e guenonismo, sectarianismo e espírito de culto. Tudo isso forma atrações para esferas desencarnadas do ser, que são habitadas por espíritos malignos (que estão desencarnados), sob a ilusão de que são planos existenciais angélicos e não satânicos.
Talvez, o mais óbvio representante desta escola tenha sido o russo Evgraf Kovalevsy. Entretanto, ele foi apenas o caso mais claro de muitos, dessa doença espiritual, que era particularmente forte entre a imigração russa em Paris, que a havia trazido com eles desde S. Petersburgo. Muitos deles participavam na Igreja, mas eles trouxeram com eles a doença e tentavam disseminá-la na Igreja. Eles não compreendiam que um interesse em "espiritualidade" não é o mesmo que a prática da virtude. Um interesse na "espiritualidade" pode ser muitíssimo perigoso, pois o demônio é um ser espiritual. Isto é especialmente visível em caso de interesse em espiritualidade heterodoxa ou não-cristã, como o "Franciscanismo" (a qual, os santos russos do século XIX repetidamente apontavam, era a própria definição de ilusão espiritual) ou interesse em espiritualidade muçulmana, hindu ou budista.
O espiritualismo, com sua falta de foco desencarnada e neo-gnóstia, pode ser vista materializada na inconografia borrada de muitos representantes da imigração russa em Paris. A falta de clareza e definição em seus ícones assinala seu espírito desencarnado. Isto representa uma falsa santidade, que não é santidade de forma alguma, mas uma falta de habilidade de penetrar o interior da Igreja por causa de uma impureza do espírito.
Filetismo versus Catolicidade
A catolicidade da Igreja é afastada pelo filetismo, palavra baseada na equivalente grega para raça. A palavra poderia ser traduzida como racismo, mas é normalmente expressa como nacionalismo ou etnicismo. É particularmente comum entre os gregos e outros ortodoxos dos Balcãs, que suportaram o fardo Turco e seu sistema de guetos. É por isso que o filetismo foi primeiramente condenado em Constantinopla, no século XIX. Entretanto, os outros ortodoxos não estão de forma alguma imunes ao filetismo e temos visto muitos exemplos na Igreja Russa no Exílio e em outras partes da Igreja Russa. Ainda assim, ironicamente, temos encontrado o filetismo em sua forma mais virulenta entre os ortodoxos que são ex-anglicanos, entre os quais apenas o inglês é utilizado com algumas palavras em línguas estrangeiras incorretamente pronunciadas, e onde se opera uma forma sutil porém dolorosa de racismo anti-grego, anti-romeno ou anti-russo. Um exemplo recente disto é uma exigência de um recém-convertido americano para que se tenha um "patriarca americano". Isto significa alguém de cabelo curto, sem barba, nascido nos EUA e que dá sermões enquanto masca chicletes? O que todos nós precisamos em nossos respectivos países é de patriarcas santos - suas nacionalidades são radicalmente irrelevantes. Se não há santidade, como alguém pode ser salvo? A nacionalidade simplesmente não é um critério.
O filetismo, ou como poderíamos chamá-lo, racismo, exclui os ortodoxos que não pertencem à nacionalidade majoritária de uma igreja em particular. Apenas recentemente, e não longe daqui, encontramos o caso de um grupo que excluía os ortodoxos ingleses de seus ofícios e comunhão porque eles não eram "escuros o suficiente para serem um de nós". Aparentemente, cabelos loiros ou olhos azuis eram equivalentes a excomunhão. Também encontramos um outro caso no qual os não-sérvios eram proibidos de venerar um ícone de São Savas, porque "ele só pode ser venerado por sérvios". Tais casos são frequentes demais para mencionarmos aqui.
O filetismo fala e age contra a catolicidade, isto é, universalidade em todos os tempos e lugares da Igreja. Ele divide racialmente e é contra qualquer solução ao problema canônica da diáspora de múltiplas "jurisdições" ou dioceses em um mesmo território geográfico. A solução para o problema é clara - ela existia na América do Norte antes da Revolução Russa, onde múltiplas nacionalidades estavam unidas em uma diocese comum. Aqueles que quebraram esta unidade terão muito a responder no fim dos tempos.
Esteticismo versus Apostolicidade
A apostolicidade da Igreja é afastada pelo esteticismo. Isso significa que a profundidade do ensino da Igreja, pregado e expresso pelos apóstolos em sua confissão e martírio, é contrariado por uma atitude superficial para com a vida na Igreja. Aqueles que vêm à igreja para acender uma vela fazem bem, enquanto estão ali, mas ficam por apenas alguns minutos. Hoje em dia, este esteticismo é talvez o maior problema de todos, pois este mal do nominalismo afeta a maioria dos ortodoxos batizados. Aqueles que entendem a Igreja como uma peça de teatro, aqueles que vêm para serem comovidos pelo cantico ocidentalizado, ou para venerar ícones ocidentalizados, aqueles que se sentem comovidos pelo aroma do incenso, estão todos deixando de perceber o principal.
O esteticismo vê a igreja como uma experiência emocional que é boa por vinte minutos algumas vezes por ano. Ele não percebe as grandes verdades espirituais, e portanto morais, da Crucificação, Ressurreição e da Redenção. A Igreja existe por causa do sangue dos mártires e dos sofrimentos dos confessores. Sem sofrimento, não haveria Igreja. A Igreja, Corpo de Cristo, é fundada no Sangue de Cristo, a Eucaristia é fundamentada em Seu Corpo e Sangue. Uma abordagem rasa e superficial da vida na Igreja, típica do nominalismo, não leva a um estilo de vida justo, muito menos santo. E seremos julgados sobre como levamos nossa vida, e não sobre nossas emoções inevitavelmente impuras.
O esteticismo age contra a apostolicidade da Igreja, contradiz a profundeza da experiência espiritual dos apóstolos, que trabalharam e sofreram pelo benefício da humanidade, relembrando que o Chefe dos Apóstolos é o próprio Cristo, enviado pelo Pai para a redenção de toda a humanidade. O esteticismo deixa completamente de lado nosso compromisso vital com as verdades espirituais e morais que todos os ortodoxos são chamados a exemplificar em nossas vidas diárias.
Conclusão
As quatro características que definem a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica são resumidas em uma única palavra: Ortodoxa. É por isso que falamos "Igreja Ortodoxa", uma forma curta de dizermos "A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica". É por isso que, se caírmos em algum dos "ismos" acima, intelectualismo, espiritualismo, filetismo ou esteticismo, nós inevitavelmente caímos da Igreja Ortodoxa. Fiquemos em guarda, em sobriedade mantendo a vigília sobre nós mesmos contra estas quatro ilusões: "Seja sóbrio, seja vigilante, porque nosso adversário, o demônio, como um leão que ruge, caminha por aí, buscando que poderá devorar" (1 Pedro 5:8).
Arcipreste Andrew Phillips,
Colchester,
Inglaterra
3/16 Fevereiro 2009
Justos Simeão e Profetiza Ana,
S. Nicolas do Japão
(*) Nota do Tradutor: O autor do artigo é um padre que serve na Inglaterra.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
A Alma Portuguesa
A Alma Portuguesa
Autoria: Padre Andrew Phillips
Tradução: Fabio Lins
As Nações dos homens existem pelo que há de melhor no homem, e são destruídas pelo que há de demoníaco nele.
John Masefield, Gallipoli
Toda terra passa por períodos de grandeza e períodos de declínio. Os períodos de grandeza expressam o entusiasmo da terra e seu povo por algum ideal e insight espirituais, por alguma grande idéia. Nestes momentos a essência espiritual de um país, a alma de seu povo, se torna aparente. Períodos de declínio expressam a traição e a perda desse ideal em favor de uma atração fatal e decadente por uma paixão mundana por riquezas terrenas, terra e poder, e obscurecimento daquela alma nacional e sua essência espiritual. Deste modo muitos grandes impérios, tanto antigos quanto novos, ergueram-se e caíram, seja o Babilônio, o Egípcio, o Macedônio, o Romano Ocidental, o Persa, o Romano Oriental, o Zimbabwense, o Mongol, o Asteca, o Inca, o Português, o Espanhol, o Mogol, o Chinês, o Otomano, o Austro-Húngaro, o Francês, o Britânico ou o Soviético. Iremos aqui analisar a grande idéia e o ideal espiritual que flamejava na alma de Portugal e seu povo.
O primeiro período da história de Portugal, o período Ortodoxo, começa antes mesmo de Portugal como o conhecemos hoje existisse, com a missão de São Tiago Apóstolo, filho de Zebedeu e irmão de São João, aos habitantes romanizados da Península Ibérica. Até hoje sua memória é lembrada na Galícia, ao norte das atuais fronteiras de Portugal, na grande cidade de peregrinação de São Tiago - Santiago de Compostela, na qual suas santas relíquias ainda são veneradas. Tal era a fama deste lucar que em 1049 o Bispo de Compostela foi excomungado pelo recém-reformado papado por dizer a verdade: que ele também, como o Bispo de Roma, era bispo de uma Sé Apostólica. Embora hoje Santiago esteja fora das fronteiras portuguesas na Galícia – que fala um dialeto próximo ao português – a peregrinação à cidade do Santo Apóstolo Tiago marcou, como veremos, a alma portuguesa por toda a sua história.
O primeiro santo da Lusitânia e da Galícia, como Portugal era então conhecido, é do primeiro século. Trata-se de S. Basílio (23 de maio), o primeiro Bispo de Braga, aquela cidade no norte de Portugal que se tornou o coração espiritual do país, dando origem ao ditado português, “tão velho como a sé de Braga”. A ele seguiram os mártires S. Paulo, Heracleus, Secondilla e Januarius do Porto (02 de março). S. Veríssimo, Máxima e Júlia de Lisboa (01 de outubro) foram todos martirizados por volta do ano 300, e S. Vítor de Braga (12 de abril) foi batizado em seu próprio sangue recusando-se a adorar os ídolos em 303.
No quinto século, depois da invasão da Península Ibérica pelas tribos germânicas dos Suevos e dos Visigodod que adotaram o arianismo, outro mártir viria a adornar a Igreja Portuguesa: S.Pedro, Arcebispo de Braga (26 de abril). E ainda S. Mancius, Bispo de Évora (15 de março) também foi martirizado no século V d.C. . Depois destes veio o grande santo português e pai monástico, S. Martinho, Arcebispo de Braga (579), comemorado no dia 20 de março e conhecido como Apóstolo da Galícia, que converteu o rei dos suevos do arianismo para a Ortodoxia e que, junto com seus discípulo Pascanius, traduziu os Ditos dos Padres do Deserto do grego. E não podemos deixar de mencionar o nome de um outro grande pai monástico, S. Frutuoso de Braga (665), comemorado no dia 16 de abril, o qual, iluminando os visigodos, escreveu uma regra monástica. Deste período existem ainda as igrejas do século sétimo de S. Frutuoso em Montélios, perto de Braga, construída para as relíquias de S. Frutuoso na forma de uma cruz grega e de S. Pedro em Balsamão e de Santo Amaro em Beja.
Este primeiro período da história e de prosperidade espiritual portuguesa terminou em 711 com a invasão dos mouros vindos do norte da África. Eles iriam tomar a maior parte da Península Ibérica e mesmo ameaçarem os povos vivendo no território do sul da França, onde foram detidos apenas na Batalha de Poitiers em 732. É desta época que vem a famosa lenda ibérica de sete bispos que fugiram através do Atlântico para “Antilia”, a Ilha de Sete Cidades, uma lenda que iria assombrar a consciência portuguesa, como veremos, por muitos séculos. As invasões mouras provocaram um movimento de resistência cristão nos séculos 9 e 10, que lutavam para libertar o norte e o centro da Portugal atual do jugo muçulmano. Dois santos destacam-se neste período: S. Rosendus de Dume (967), santo bispo e restaurador do monasticismo na Galícia, celebrado no dia 01 de março, e sua parente, a santa abadessa Senhorinha de Basto (982), celebrada no dia 22 de abril. A época também pertencem as outras únicas igrejas Pré-Romanescas, ou Ortodoxas, de Portugal, em Lourosa, fundada em 913.
Este segundo período da história portuguesa, o do Jugo Muçulmano, começa então em 711 e irá durar na maior parte do centro de Portugal até 1064. Foi neste ano que uma reconquista iniciou-se do norte, da região livre do Porto, a qual em 1139 iria determinar as fronteiras de um novo estado independente de nome inspirado em si – Portugal. Esta Reconquista não estaria completa até o século XIII no sul de Portugal, onde a presença árabe ainda é muito lembrada pelos nomes de muitos lugares, como ‘Algarve’, o qual em árabe significa ‘o ocidente’.
Gradualmente então, depois de 600 anos, o Jugo Muçulmano fora rechaçado. Mas depois disto Portugal teria que enfrentar uma nova tragédia, pois a Reconquista de 1064 fora patrocinada por uma nova ideologia estrangeira – o Catolicismo Romano. Por volta de 1080 esta ideologia, desenvolvida pelo agressivo Papa Hildebrando e utilizando influência francesa, já havia quase que completamente suprimido o muito amado rito litúrgico Moçárabe ou Hispânico que havia conservado a antiga liturgia romana e ocidental dos primeiros séculos. Em torno de 1147, quando Lisboa finalmente foi retomada dos mouros, estava claro que a conquista litúrgica de Portugal e de toda Ibéria estava completa: a antiga espiritualidade Ortodoxa Romana-Moçárabe dos primeiros dez séculos de histórica ibérica havia desaparecido. A era do Jugo Muçulmano havia acabado, mas também a era de grandeza espiritual portuguesa. Esta fora substituída por uma nova ideologia papal disseminada por uma elite na França, uma ideologia que se tornou cada vez mais forte ao longo da Idade Média. Os fiéis portugueses se encontravam privados da fé de seus ancestrais, naquele estado de privação espiritual que tem sido a amarga herança e doença da Europa Ocidental durante todos estes longos anos desde o século XI.
No século XIII, portanto, a alma e a história de Portugal haviam sido capturadas por uma nova ideologia e surgia no povo português uma saudade por um Espírito Santo ausente, por um Paraíso perdido que seus ancestrais haviam conhecido. Assim, com o fim do Jugu Muçulmano, inciou-se o terceiro período da história portuguesa, e que atingiu seu apogeu nos séculos XV e XVI. Este é o período dos grandes exploradores, como Henrique, o Navegador, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Alfonso de Albuquerque, Pedro Álvares Cabral e Fernão Magalhães, quando a influência portuguesa se espalhava não apenas da África ao Brasil, mas também até a China e o Japão. Este período de grandes descobertas iria terminar no século XVI quando Portugal inicia seu súbito e enigmático declínio, o quarto de sua história. O enigma do quarto período, seu declínio, só pode ser compreendido em contraste com o seu terceiro período, o de grandeza mundana. O que é que movera os exploradores portugueses e mesmo não-portugueses envoltos neste mesmo espírito, a navegar de Portugal em busca do desconhecido e assim lançar os fundamentos de um império colonial? Para compreender o espírito destes exploradores e porque partiram, não podemos fazer melhor senão observarmos o mais famoso exemplo, o de um não-português, que partiu com apoio espanhol: Cristóvão Colombo.
Nascido em 1451 em Gênova mas quase certamente de origens ibero-judaicas, Colombo ou Colón como preferia ser chamado, conhecia o Mediterrâneo muito bem como marinheiro e era um reconhecido cartógrafo. Com a idade de 25, iniciou morada em Portugal, casou-se com uma portuguesa e viveu por algum tempo na recém-descoberta ilha de Madeira, em cujas praias ele comumente encontrava plantas e madeiras que vinham flutuando de algum país misterioso ao oeste. De Madeira e Portugal ele navegou para África, Inglaterra, onde os navegantes lhe falavam de Newfoundland e para Irlanda e Islândia, onde mais uma vez ouvia falar de terras ao oeste. De 1480 em diante, Colombo torna-se fascinado pela idéia de explorar o oeste, convencendo-se que não apenas encontraria uma nova terra, mas um Novo Mundo, a Jerusalém Terrena. De caráter instável, às vezes beirando a insanidade, este homem de origem judaica, se sentia escolhido por Deus como Messias para a missão de descobrir um Novo Mundo. Nisto ele era guiado por uma profecia do Livro de Isaías (11:10-12), que diz:
“Naquele dia a raiz de Jessé será posta por estandarte dos povos, à qual recorrerão as nações; gloriosas lhe serão as suas moradas.
Naquele dia o Senhor tornará a estender a sua mão para adquirir outra vez e resto do seu povo, que for deixado, da Assíria, do Egito, de Patros, da Etiópia, de Elão, de Sinar, de Hamate, e das ilhas de mar.
Levantará um pendão entre as nações e ajuntará os desterrados de Israel, e es dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra.”
Colombo foi ainda inspirado por muitos escritos e tradições, algumas das quais vinham da Grécia Antiga. Além das mais antigas, havia a bem conhecida lenda do sexto século da vida do irlandês S. Brandão, o Navegador, que havia navegado para uma terra além do Atântico, uma entrada para o Paraíso terrestre. Esta terra era chamada “Brasil”, significando em Gaélico “grande ilha”. Em segundo lugar, Colombo conhecia bem de Portugal a história de Antilia, a Ilha das Sete Cidades, para onde haviam fugido sete bispos depois da invasão dos mouros em 711. Por fim, havia o fato de quem em 1492 ( o simbólico ano de 7000 desde a Criação do Mundo, e que Colombo entendia literal e não simbolicamente), a Reconquista da Península Ibérica tinha se completado e muitos desejavam levar a Reconquista além tomando Jerusalém e assim iniciar o oitavo e último milênio no qual o mundo iria acabar.
De fato, no ano de 1492, o primeiro ano do oitavo milênio, Colombo partiu para encontrar o “Novo Mundo”, descobrindo o que hoje chamamos de Índias Ocidentais. Em 1493-4 ele retornou ao local com sete navios e mais de mil colonistas. Colombo estava convecido de que havia encontrado naquelas ilhas não apenas “Antilia”, a Ilha das Sete Cidades, mas também ‘Cipango’ (Japão) e Índia.
Foi por causa destes erros que o nome de “Índias Ocidentais” foi dado a estas ilhas e que o nome “índios” foi usado para todos os habitantes das Américas e que as Índias Ocidentais também eram conhecidas como Antilhas. Em uma terceira expedição, em 1498, Colombo descobriu a América do Sul. Tendo encontrado um enorme golfo de água doce na boca do Orinoco, ele decidiu que este seria um dos quatro rios que fluem do Paraíso, como descrito no Gênese, capítulo 02:
“10. Um rio saía do Éden para regar o jardim, e dividia-se em seguida em quatro braços: 11. O nome do primeiro é Fison, e é aquele que contorna toda a região de Evilat, onde se encontra o ouro. 12. O ouro dessa região é puro;”
Retornando a Espanha, de 1500 em diante Colombo se tornou mais e mais obcecado em encontrar este Paraíso, a Jerusalém terrena, a cuja descoberta seguir-se-ia o fim do mundo. Em 1502, ele partiu em uma quarta expedição, buscando a não-existente passagem através do que é hoje o Panamá para o que haveria depois – o Paraíso. Em 1504 Colombo iria retornar, exausto e amargamente decepcionado, sem ter encontrado o tal Paraíso. Os colonizdores que viajaram com ele revoltaram-se contra o navegador, por não terem encontrado ouro o suficiente, trucidando e explorando os povos indígenas primitivos. Colombo não viveu à altura de seu nome: Cristóforo Colón – O Colonizador Portador de Cristo.
Mesmo sem que ele mesmo tenha nascido em Portugal, Colombo ilustra bem a tragédia histórica de Portugal, o resultado de inúmeros fatores específicos. Primeiramente, como resultado da perda de sua fé Ortodoxa, Portugal perdeu o Espírito Santo, o Espírito que havia sido trazido ao território português por S. Tiago, o Apóstolo. Em segundo lugar, Portugal teve suas ambições frustradas por séculos pelo Jugo Muçulmano. E em terceiro lugar, sua posição geográfica era tal na extremidade da Europa que Portugal sempre contemplava com curiosidade o sol poente através do misterioso Oceano Atlântico, fonte de tantas lendas.
E não menor entre estas lendas é a de que a Antiga Fé de Portugal poderia ser ainda encontrada além-mar, entre os sete bispos da Ilha das Sete Cidades. A idéia nacional e o ideal espiritual da alma de Portugal, uma alma peregrina desde a época de São Tiago Apóstolo, chegou a fruir no século XV quando partiram em na jornada pelo Espírito Santo, por Jerusalém, pelo Paraíso. No entanto, privados da orientação espiritual e sem guias, confundiu o terreno e o celestial, e os que partiram não encontraram o Paraíso, mas ouro, poder e as terras de povos primitivos. Não encontraram Jerusalém, mas a Babilônia, encontraram não um Império da alma, tal como S. Martinho de Braga uma vez lhes descrevera, mas um Império da terra.
Apenas este veneno pode explicar porque, depois de dois séculos de explorações heróicas entre 1384 e 1580, Portugal entrou em rápido declínio. Portugal não encontrou o Espírito Santo, mas ouro, poder e território; encontrou não o espiritual, mas o material e assim esqueceu e abandonou sua alma peregrina, traindo sua essência e ideal espirituais, sua peregrinação celestial, tornando-se apenas um agregado material. Portugal deixou de se desenvolver, deixou de trabalhar a si mesmo, perdendo seu grande ideal, seu destino espiritual e seu insight e decaiu, tornando-se uma nação esquecida pela Europa.
E hoje, tudo isso é lembrado não apenas pela palavra portuguesa ‘saudade’, que significa um desejar nostálgico e um anseio triste de um povo cuja alma peregrina está capturada entre o céu e a terra sem o Espírito Santo, mas também no lamento melancólico e assombrado da música tradicional portuguesa, o ‘fado’. E ainda assim temos certeza que quando a alma Portuguesa despertar para sua Antiga Fé, então grande será a festa de seus peregrinos ao reencontrar a fé de S. Tiago Apóstolo e dos sete bispos da Ilha das Sete Cidades.
Todos os santos da Terra Portuguesa, orem a Deus por nós!
O tempo está correndo contra os Liberais
O tempo está correndo contra os Liberais
Retirado do site Orthodox England em 11/10/2007. Tradução de Ricardo Williams a partir do artigo original Time is against the liberals.
Como muitos sabem, a Igreja Ortodoxa jamais sofreu a maciça perda de fé que assola as denominações protestantes e católica romana, nem tampouco a resultante secularização de sua herança cristã ocorrida a partir da década de 1960. Há quarenta anos, vemos notícias diárias sobre a célere e constante descristianização da Europa Ocidental - mais do que podemos sequer imaginar. Por exemplo, na França há católicos romanos pedindo para serem "desbatizados"; na Alemanhacerca de 10.000 igrejas vazias serão postas à venda nos próximos anos devido à falta de fiéis; em uma diocese católica romana na República Tcheca, cerca de quarenta igrejas vazias estão à venda, incluindo um mosteiro de 2.000 hectares, pela bagatela de $ 120.000,00; a mribunda comunhão anglicana está dividida devido à inclusão de homossexuais assumidos e praticantes em seu clero. o Metodismo mostra-se decadente; a fé religiosa na Holanda e Escandinávia está desaparecendo; e na Bélgica há uma severa falta de padres.
No entato, segundo uma reportagem da Christian Science Monitor de 11/10/2007, o cristianismo Ortodoxo pode ser um "bálsamo para a Europa", e que as velhas previsões dos arrogantes sociólogos europeus ocidentais de que a Igreja Ortoodxa está acabada "se mostraram incorretas". A revista afirma que:
"Hoje, assim como na parábola do filho pródigo, em toda a Europa Oriental, as pessoas estão retornando em massa à Igreja Ortodoxa, e o resultado tem sido muito benigno, especialmente na esfera pública, ao contrário do que se esperava". E ainda: "Tentativas de provar que o secularismo moderno é o 'pomo dourado da democracia' ou 'ressaltar quaisquer desafios ao secularismo como exemplos depreciativos de diferenças de valores entre Ocidente e Oriente' não são mais aceitas. Com um número de fiéis que cresce exponencialmente, e dada a influência e recursos da Igreja Ortodoxa na Europa Oriental, esta é uma batalha que os Europeus Ocidentais estão fadados a perder." Segundo o autor do artigo, "é hora de repensarmos nossas velhas opiniões sobre os fiéis Ortodoxose aproveitarmos as enormes contribuições que eles podem dar à criação de um contrinente pacífico e próspero".
O discurso que o Patriarca Aleixo II fez na França na semana passada, falando sobre a moralidade e sua origem - a vida espiritual - serviram apenas para realçar o ponto de vista Ortodoxo. Segundo o autor, o relativo isolamento da Igreja Ortodoxa "deve-se ao fato de que cristãos roamnos e protestantes freqüentemente recusam-se a ouvir como iguais aqueles que deles discordam". E ainda, "com exceção da Grécia, este triste legado é responsável pela morosidade com que europeus ocidentais aceitam países com população majoritariamente Ortodoxa em instituições pan-européias. Porém, em sua expansão em deireção do leste, é inevitável que os valores e moral de instituições da Europa Ocidental sejam influenciadas cada vez mais pela visão conservadora dos cristãos Ortodoxos, e cada vez menos pelas opiniões modernas e secularizadas das democracias ocidentais do continente. Hoje, em toda a Europa, há mais Ortodoxos do que Protestantes, e segundo algumas estimativas, esse número irá ultrapassar até mesmo o de católicos romanos. Se a Europa da século XXi assumir uma identidade religiosa, esta será predominantemente Ortodoxa".
Prevendo tais fatos, o analista do Departamento de Relações Exteriores da Igreja Ortodoxa Russa, pe. Vselevod Chaplin, fez ontem o seguinte comentário: "Uma vida sem Deus leva as pessoas ao desespero, à confusão e à infelicidade, mesmo que elas possuam dinheiro, poder e armas. Valores morais eternos nunca envelhecem [...] Não há futuro sem valores morais, pois do contrário, o futuro se tornará nada além de oblívio e destruição". Pe. Vselevod disse ainda que "muitas pessoas, especialmente políticos liberais, de uma geração mais antiga, não concordam com as posições da Igreja da Rússia. [...] Mas o tempo está contra eles, e seu monopólio sobre a política e as questões sociais logo chegará ao fim".
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Atenção: todos os direitos desta tradução estão reservados a seu autor. Este texto não pode ser reproduzido integral ou parcialmente sem a prévia e expressa autorização do tradutor.
Como a Igreja Católica voltou à Igreja Ortodoxa

Santo Papa Gregório Magno
"Certamente Pedro, o primeiro dos Apóstolos, ele mesmo um membro da santa e católica Igreja, Paulo, André, João, que eram eles se não cabeças de comunidades particulares? E ainda assim membros sob uma só Cabeça?(...) os prelados desta Sé Apostólica, a qual pela providência de Deus eu sirvo, tiveram a honra oferecida a eles de ser chamada de universal pelo venerável Concílio de Calcedônia. Mas nenhum deles jamais desejou ser chamado por tal título, ou tomar este mal-fadado nome, pois em caso contrário, se em virtude do status do seu pontificado ele tomasse a si a glória da singularidade, ele estaria negando-a a todos os seus irmãos..." (Livro V, Epístola XVIII) - Santo Papa Gregório Magno
"Este nome de Universal foi oferecido pelo Santo Sínodo de Calcedônia ao pontífice desta sé apostólica a qual pela providência de Deus eu sirvo. Mas nenhum de meus predecessors jamais consentiu usar um título tão profano, posto que, se um Patriarca for chamado Universal, o nome de Patriarca no caso dos demais fica derrogado. Mas longe fique isto da mente de um Cristão: que ele deseje agarrar para si o que ele possa considerar que diminua, no menor grau que seja, a honra de seus irmãos..."(Livro V, Epístola XLIII) - Santo Papa Gregório Magno
"Agora, confiantemente digo que quem quer que chame a si mesmo, ou deseje ser chamado, de Patriarca Universal, é nesta empolgação o precursos do Anticristo, pois orgulhosamente se coloca acima de todos os outros." (Livro VII: Epístola XXXIII) - Santo Papa Gregório Magno
"Vossa Santidade... dirigi-vos a mim dizendo, 'Conforme comandais'. Esta palavra "comando", imploro-vos, remova de meus ouvidos, pois sei quem sou, e que vós sois. Pois em posição sois meu irmão, em caráter, meus pais... no prefácio da epístola que me enviaste, o que vos havia proibido, achastes adeqüado fazer uso de um título orgulhoso, chamando-me Papa Universal. Mas, imploro-vos, dulcíssima Santidade, não façais isto novamente, pois o que é conferido ao outro além do que exige a razão, é subtraído de vós mesmos... Pois se Vossa Santidade chamais-me de Papa Universal, negais que sois vós mesmos aquilo a que me atribuis universalidade." (Livro VIII: Epístola XXX) - Santo Papa Gregório Magno
O artigo abaixo é ficcional e um exercício de como poderia se dar o retorno do papismo à Santa Igreja.
Últimas notícias: 23 de setembro de 2023



O assassinato do papa Lino II ocorrido nesta manhã em Berlin chocou todo o planeta. Este Papa, que em uma geração transformou o catolicismo romano, foi morto com um único tiro disparado do revólver de um judeu fanático que acusou o Papa por seus constantes apelos por justiça aos árabes da região da Palestina.
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