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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Verdade. Beleza. Cristo.


O cristianismo ortodoxo ensina que existe uma clara diferença entre Deus, que é incriado, e o mundo, que é criado. Deus é bom, e porque Deus criou o mundo, o mundo é bom; mas o mundo também é caído, e como resultado disso surgem novas diferenças: entre o velho e o novo, morte e vida, o profano e o sagrado, todos os tons de sombras e a própria Luz. A salvação pode ser entendida como o crescimento da pessoa humana, saindo das categorias anteriores para as posteriores – do velho, do morto, do profano, e das sombras para o novo, para a vida, o sagrado e para a luz. Esta jornada de salvação nos é apresentada de modo profundo nos estilos e formas tradicionais do culto cristão.

Considere, por exemplo, o uso da língua litúrgica. A língua que utilizamos em nossos ofícios de culto contém um estilo elevado que é digno da mensagem elevada que pretende transmitir – a mensagem da salvação. Então, a língua litúrgica é feita para reforçar no adorador a percepção da distinção entre o mundo dos homens que ele deixa para trás, e o mundo de Deus que ele é chamado a entrar. E não é só a linguagem: a arquitetura da igreja, a música, a iconografia, as vestimentas, cada uma destas é, dentro da Igreja, um modo de expressão único que é divinamente inspirado.

Existem os que crêem que o ofício de culto não deveria reforçar a distinção entre o sagrado e o profano. Para eles, a estética da igreja deve imitar a estética secular – bandas de rock contemporâneas ao invés de música litúrgica, cartazes inspiracionais ao invés de ícones, “células” ao invés de sacramentos. Mas tudo isso pode ter uma conseqüência perigosa: o mundo de Deus desaparece.

Se a forma da arte da Igreja for igual à forma da arte do homem caído, então não haverá expressão material da nossa salvação, e a Igreja terá desistido do núcleo do seu testemunho na terra. Nossa salvação só é possível porque o Deus Imaterial assumiu a criação material (isto é, Deus que é Espírito, tomou sobre Si a carne e a natureza humanas). Portanto, a Igreja utiliza a criação material tanto para anunciar a verdade da Encarnação em sua plenitude, mas também para permitir nossa participação no Senhor que ascendeu ao Céu, carregando a Criação Consigo.

Os modos de expressão do homem são corrompidos, e portanto, inadequados para a tarefa de adquirir conhecimento a respeito de Deus, dado que fluem a partir de nosso estado pecaminoso. Já os modos de expressão da Igreja são divinamente inspirados e portanto um e outro não podem ser idênticos. As formas materiais particulares da Igreja não sugerem um Deus distante de nosso mundo caído, mas, ao contrário, proclamam Sua presença em nosso meio.

Considere duas realidades fundamentais da relação do homem com Deus: primeiro que caímos e ficamos longe de Deus; e em segundo lugar, que Deus veio nos restaurar para Ele. A Igreja proclama ambos, mas não o realiza amarrando Deus em nossa natureza partida, mas elevando o homem à perfeição que é Deus. O culto, para o cristão ortodoxo, não é o ato de fazer Deus ser real para nós – isto já foi realizado por Cristo – mas de fazermos nós mesmos sermos reais para Deus.

Cristo realiza a deificação do homem através de Sua participação na natureza humana criada, e o homem se apropria dessa deificação pela participação no Divino, especialmente através da vida sacramental da Igreja. Este encontro do humano com o divino é uma experiência física total, que não se limita ao intelecto, mas afeta tudo que é da natureza humana, incluindo seus cinco sentidos.  A arte secular exerce uma enorme influência na alma, precisamente porque o ser humano é uma unidade integrada de corpo e alma, do físico e do espiritual. A Igreja, então, utiliza a matéria – ou, por outra, a criação material – para produzir formas de arte espiritualizadas que adornam, expressam e clarificam os Mistérios Sacramentais da Igreja, tornando-as, assim, instrumentos da deificação do homem. A iconografia, o canto, os hinos, são Mistérios em si mesmos, porque, diferentemente da arte secular, possuem a capacidade de deificar.

Por esta razão, nossa linguagem e iconografia e canto devem ser diferentes das do mundo caído, e devemos nos conformar estritamente às normas estabelecidas pelos divinamente inspirados Pais da Igreja, cujas próprias almas estavam purificadas a ponto deles terem tornado-se límpidos canais da influência divina.

Considerando esta necessária relação entre a possibilidade da salvação e a arte sacra utlizada para proclamar esta possibilidade, podemos dizer que o modo pelo qual um grupo de cristãos cultua diz ao mundo o que ele acredita a respeito da encarnação de Cristo.

Adaptado de “The Pentecostarion”, publicado pelo Monastério da Santa Transfiguração, em Brookline, Massachusetts.

Artigo original em: http://www.antiochian.org/discover

sábado, 19 de março de 2011

O que é tão atraente na Ortodoxia?



By Rod Dreher

Tornei-me ortodoxo em 2006 e eu era um homem arrasado. Eu havia sido um devoto e convicto praticante do catolicismo romano por anos, mas minha fé foi estilhaçada em grande parte pelo que eu descobrira como jornalista cobrindo os escândalos de abuso sexual. Eu supunha que minhas convicções teológicas iriam proteger o coração da minha fé sob qualquer teste, mas o conhecimento com o qual eu lutava desgastou minha habilidade de crer nas alegações de verdade eclesiásticas da igreja Romana (eu escrevi em detalhes sobre este drama aqui: http://blog.beliefnet.com/crunchycon/2006/10/orthodoxy-and-me.html ). Para minha esposa e eu, o protestantismo não era uma opção, dado o que sabíamos a respeito de história da igreja, e dadas as nossas convicções sobre teologia sacramental. Isto fazia da Ortodoxia o único porto seguro na tempestade que ameaçava naufragar nosso cristianismo.

Na verdade, eu já aspirava à Ortodoxia por algum tempo, pelas mesmas razões que eu, quando jovem, encontrara meu caminho para a Igreja Católica. Ela me parecia uma rocha de estabilidade em um turbulento mar de relativismo que assola o cristianismo ocidental. E enquanto a igreja romana jogou fora tanto da sua herança artística e litúrgica na violência do Vaticano II, a Ortodoxia ainda mantém a dela. Muitos anos antes de entrarmos para a Ortodoxia, minha esposa e eu visitamos amigos Ortodoxos em sua paróquia em Maryland. Enquanto católicos moral e liturgicamente conservadores, nos comovemos e mesmo sentimos inveja do que vimos lá. Tínhamos que sair cedo para pegar a estrada para paróquia católica em estilo moderno dos anos 70, para atender nossas obrigações dominicais. O contraste entre os ofícios litúrgicos desconexos na paróquia de "Nossa Senhora do Pizza Hut" e o que tínhamos visto na paróquia ortodoxa, literalmente nos levou às lágrimas. Mas a feiúra, até mesmo a sensação de desolação espiritual, não se sobrepõem à verdade, e sabíamos que tínhamos que estar com a verdade - e portanto com Roma - apesar de tudo.

Se o catolicismo nos EUA fosse saudável, talvez pudéssemos ter aguentado os julgamentos por abuso sexual. Mas minha esposa e eu vínhamos nos preocupando por algum tempo sobre como iríamos criar nossos filhos como cristãos fiéis dada a moral ambígua ensinada nas paróquias romanas.  Nos considerávemos católicos ortodoxos, isto é, acreditávamos no que está no catecismo, e tentávemos viver de acordo. Falhávamos - pois todos falham - mas o ponto é que, buscávamos na Igreja uma liderança moral clara e que nos ajudasse a vivermos a nossa fé com integridade e alegria. Mas aí está o problema: existe muito pouca ortodoxia na igreja católica dos EUA, e no nível paroquiano, praticamente nenhum reconhecimento de que existem coisas como "crença correta".  Não é que eu quisesse expulsar todos os que não vivessem com exatidão o ensino católico - eu seria o primeiro a ser expulso se fosse o caso - mas eu não discernia nenhuma direção, e nenhuma convicção real de que as paróquias existiam para alguma outra coisa além de afirmar para nós mesmos que "estamos legais". Embora na época eu não tivesse palavras para descrever, eu estava cansado até os ossos dessa imitação barata de cristianismo que o sociologista Christian Smith chama de "Deísmo Terapêutico Moralista"(*). Eu me sentia tão vazio pelo desespero que isso me causava enquanto católico que quando os fortes ventos dos escândalos de abusos começou a soprar, a estrutura da minha crença católica não aguentou.

Eu digo isto não para denegrir a Igreja Católica Romana – a qual ainda amo, e perante a qual eu serei sempre grato por me apresentar ao Cristianismo antigo e sacramental – mas para mostrar porque a Ortodoxia é tão atraente para mim. Quando o entrevistei para meu livro “Crunchy Cons”, meu amigo Hugh O’Beirne, também convertido do Catolicismo para a Ortodoxia, me disse que para um católico cansado das guerras culturais acontecendo no catolicismo americano, é uma benção e um alívio descobrir que na Ortodoxia não tem esse problema. As questões que estão destruindo muitas outras igrejas nos EUA não sem nem de perto tão problemáticas na prática Ortodoxa. Seria bobagem fingir que esses conflitos não existem em absoluto nas paróquias Ortodoxas, mas eles realmente não chegam a ser uma questão relevante.

E tem a questão da liturgia e da música. Não existe nada comparável nas outras igrejas. É majestosamente belo e profundo, e é predominantemente a mesma Divina Liturgia (embora em língua vernacular) formada por S. João Crisóstomo, o patriarca de Constantinopla do século V. A beleza da Liturgia nos transporta completamente e a reverência que inspira nos dá forças. E embora eu sinta falta de alguns velhos hinos familiares (nos ofícios ortodoxos o que cantamos são orações e salmos), existe maior vantagem em não ter que aturar “On Eagle’s Wings” e outras canções bregas tão endêmicas do culto católico americano.

A principal razão pela qual a Ortodoxia é tão atraente para os convertidos, ou pelo menos para este convertido aqui, é o quão séria ela é sobre o pecado. Não digo que é uma religião de rigorismos – muito longe disso! – mas, ao invés, que a Ortodoxia trata o quebrantamento da humanidade com a devida seriedade. A Ortodoxia não vai dizer que você “está legal”. Na verdade, ela vai exigir que você chame a si mesmo, como S. Paulo o fez, “o maior dos pecadores”. E então a Ortodoxia lhe dará a Boa Nova: Jesus morreu e retornou à vida para que também você possa viver. Mas para poder viver, você mesmo terá que morrer, várias vezes. E isso não será sem dor, e não pode ser, ou não será real.

Por causa disso, por toda sua beleza dramática e rico jejum, a Ortodoxia é muito mais austera e exigente que a maior parte do cristianismo americano. As longas liturgias, as orações frequentes, os jejuns intensos – todos fazem exigências sérias para o fiel, especialmente para americanos acostumados ao conforto da classe média como eu. Ela nos chama para fora de nós e para o arrependimento. A Ortodoxia não está interessada em fazer com que você se sinta confortável nos seus pecados. Ela não quer nada menos que você seja um santo.
É comum ouvir entre os convertidos americanos que os homens são atraídos para a Ortodoxia primeiro, e que suas esposas os seguem. Não é difícil ver porquê. Muitos homens estão cansados de um Cristianismo molenga e burguês que não exige muito deles, porque não pede muito para eles. Homens adoram um desafio, e é exatamente isso que a Ortodoxia lhes dá.

Não se engane. A Ortodoxia não é, fundamentalmente sobre regras e práticas. Quanto mais eu progrido em minha Ortodoxia, mais claro fica para mim que a Ortodoxia é, acima de tudo, um caminho. Não é uma instituição, um conjunto de doutrinas, ou uma coleção de rituais, embora ela contenha tudo isso. Ao invés, é um modo de ver o mundo, e o nosso lugar nele, e um mapa para a santidade que é paradoxalmente antigo e surpreendentemente novo, pelo menos para sensibilidades ocidentais. É o caminho da liberdade.

É verdade que é possível encontrar paróquias na Ortodoxia americana com vidas espirituais secas, normalmente entre as paróquias mais antigas e centradas na questão étnica, pois se vêem como pouco mais do que a tribo se juntando para rezar. E porque as igrejas Ortodoxas estão cheias de pessoas americanas comuns, também estão cheias de problemas americanos comuns. Qualquer um que venha para uma paróquia Ortodoxa esperando a perfeição ficará desapontado. O que você encontrará, entretanto, é a Verdade e o Belo apresentados de uma forma que pode ser de tirar o fôlego para americanos modernos, e um Caminho antigo fundamentado na estabilidade doutrinária, na realidade sacramental, e em misticismo cristão prático – um misticismo que foi marginalizado na maioria das outras igrejas americanas.

Eu encontrei na Ortodoxia aquilo que eu achei que iria encontrar quando me tornei católico. Como meu santo patrono, eu escolhi S. Benedito de Núrsia, querido por ambas as igrejas, e um símbolo da unidade que já tivemos e que poderemos vir a ter um dia. A Igreja Católica precisa se tornar mais Ortodoxa e a igreja Ortodoxa precisa se tornar mais católica. Eu oro, realmente oro, que eu veja esta unidade ainda em vida. Até lá, porém, sou grato a Deus por Ele ter me dado uma segunda chance na Ortodoxia, e me mostrado o Caminho pelo qual eu busquei toda a minha vida. Quando entrei por essa porta, eu estava espiritualmente acabado, e achava que seria impossível para mim aprender a aturar essas liturgias longas, as orações intensas, estas prostrações, o jejum estrito, e – como dizê-lo? – a esquisitice do Cristianismo Ortodoxo em um contexto americano. Cinco anos depois, eu não consigo imaginar como foi que eu vivi tanto tempo sem tudo isso. Não dá para entender a Ortodoxia lendo. Você tem que vir e ver por si mesmo.

Rod Dreher é um escritor da Filadélfia, Estados Unidos.

(*) Deísmo terapêutico moralista – Segundo a Wikipedia,
Deísmo terapêutico moralista é uma expressão criada no livro “Soul Searching: As Vidas Espirituais e Religiosas dos Adolescentes Americanos” (2005 por Christian Smith e Melinda Lundquist Denton. A expressão é utilizada para descrever o que os autores consideram ser as crenças religiosas comuns à juventude americana. O livro é o resultado de um projeto de pesquisa chamado “Estudo Nacional da Juventude e Religião”, financiado pela organização privada Lilly Endowment.

Os autores descobriram que muitos jovens acreditam em diversas afirmações morais não exclusivas de qualquer das grandes religiões do mundo. É esta combinação de crenças que eles rotularam de Deísmo Terapêutico Moralista:

1 – Existe um dues que criou e ordenou o mundo e que guarda a vida humana na terra;
2 – Esse Deus quer que as pessoas sejam boas, gentis e justas umas com as outras, como ensinado na Bíblia e na maioria das religiões do mundo;
3 – O principal objetivo da vida é ser feliz e sentir-se bem a respeito de si mesmo;
4 – Deus não precisa estar envolvido de forma particular na vida de ninguém, exceto quando Deus é necessário para resolver algum problema;
5 – As pessoas boas vão para o céu quando morrem;

Estes pontos de crença foram compilados a partir de entrevistas com aproximadamente 3.000 adolescentes.

Análises dos autores:

Os autores dizem que o sistema é “moralista” porque “é sobre inculcar uma abordagem moral da vida. Ele ensina que o ponto central da vida é viver bem e feliz e que para isso é necessário ser uma pessoa boa e moral”. Os autores descrevem o sistema como sendo “sobre prover benefícios terapêuticos aos seus aderentes”, em contraposição com coisas como “arrependimento do pecado, manter o Sábado, ou viver como um servo de uma divindade soberana, ou persitir em orações, ou observar fielmente dias santos, ou construir o caráter através do sofrimento..” e além disso, como “crença em um tipo particular de Deus: um que existe, criou o mundo, e que define nossa ordem moral geral, mas não um que seja envolvido de forma particular na vida das pessoas – especialmente aqueles que se preferiria que Deus não se involvesse”.

O afastamento de Deus neste tipo de teísmo explica a palavra “deísmo”, embora “o Deísmo aqui seja uma revisão da sua versão clássica do século 18, qualificada pelo seu atributo ‘terapêutico’, fazendo de Deus seletivamente disponível para cuidar de nossas necessidades”. Deus é visto como “um tipo de combinação de um Mordomo Divino e um Terapêuta Cósmico: está sempre a nosso serviçoo, toma conta de todos os problemas que surgem, ajuda profissionalmente as pessoas a se sentirem melhor com elas mesmas, e não se envolve pessoalmente demais nos processo”.

Os autores acreditam que “uma parcela significativa do cristianismo nos Estados Unidos é apenas tenuamente cristão em qualquer sentido da palavra que esteja seriamente ligado à tradição histórica cristã, mas que seja algo substancialmente modificado nesse primo de terceiro grau mal-gerado que é o Deísmo Terapêutico Moralista Cristão.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Obstáculos para tornar-se Ortodoxo

Introdução

Não é incomum ouvir alguém dizendo que "se tornou ortodoxo", sendo que o a pessoa quer dizer é que passou a "fazer parte da Igreja Ortodoxa". Pois uma coisa é fazer parte da Igreja, se tornar formalmente um membro do Corpo de Cristo, mas é bem outra nos tornarmos interiormente ortodoxos, isto é, entrar profunda e verdadeiramente no espírito e modo de vida da Igreja. A maioria do clero ortodoxo não recebe as pessoas na Igreja muito rapidamente e sem um catecismo adequado, mas ainda assim deixa-se passar alguma coisa. Ao longo dos anos, por exemplo, nós vimos dúzias de pessoas se juntando à Igreja mas nunca tornarem-se ortodoxas, como pode ser confirmado por seu abandono, ou fundação de seitas, cismas, cultos ou grupos para-eclesiásticos. Além disso, já vimos acontecer isto, tragicamente, mesmo depois de décadas de participação formal na Igreja.

Não se trata apenas de quantos ingleses(*) mais tarde abandonam a Igreja Ortodoxa, passado o entusiasmo inicial, mas também de russos, gregos e outros. Assim, por exemplo, sabemos de um russo de segunda geração que mais de trinta anos atrás foi circuncidado e tornou-se judeu. Sabemos também de um professor russo de primeira geração que batizou seus filhos na igreja anglicana, pois, como ele disse, "estamos na Inglaterra agora". Por outro lado, pelo menos seis dos sacerdotes da diocese anglicana de Londres são cipriotas gregos. Tendo nascido e sido criados na Inglaterra, eles decidiram há muito que a Ortodoxia era apenas para os gregos, e já que eles eram ingleses agora, eles tinham que se tornar anglicanos. Incontáveis outros exemplos de apostasia poderiam ser citados, incluindo os russos de segunda e terceira geração na França que se tornaram católicos romanos.

Quais são, então, os obstáculos para se tornar ortodoxo no verdadeiro sentido da palavra? O que pode dar errado? Para descobrir isso, temos que analisar primeiro a questão sob a luz das quatro características da Igreja, conforme definidas em nosso Credo. Ali, a Igreja é definida como "Una, Santa, Católica e Apostólica". É nesta luz que encontraremos as respostas para nossas perguntas.

Intelectualismo versus Unidade

A unidade da Igreja é afastada pelo intelectualismo. Este perigo é particularmente forte entre os convertidos dos países ocidentais. O intelectualismo ataca a unidade da Igreja porque toda tendência intelectual é divisiva, criando tanto apoiadores quanto inimigos, que dizem que são de Paulo, de Apolos e de Cefas, mas não de Cristo (I Cor 1, 12). Não devemos esquecer que todos os grandes hereges foram intelectuais, desde os helenos e gnósticos do primeiro século, até Arius e Nestório e os neo-gnósticos modernos e renovacionistas. A influência destes últimos é particularmente forte em países com imigração russa, notavelmente na França e nos EUA, mas também na Bélgica e na Inglaterra.

A tendência intelectualista vem de fora da Igreja, do mundo heterodoxo. Ali é comumente acreditado que a fé só pode ser compreendida pela razão ou pelo intelecto. Esse racionalismo é hostil ao ethos da Igreja, onde acreditamos e sabemos por experiência que o conhecimento não vem da razão humana, mas da purificação do coração. De fato, é apenas quando o coração é purificado, através de práticas ascéticas de oração e jejum e dos sacramentos postos juntos, que a razão ou o intelecto podem ser iluminados. Por outras palavras, na Igreja, o conhecimento vem até nós através da luta contra o pecado e da batalha pela virtude, seguindo os mandamentos, e não através do vão conhecimento de livros. Este último apenas nos deixa cheios de nós mesmos, e torna suas vítimas voluntárias em vaidosos joguetes do demônio, racionalistas pretensiosos que inspiram ou o deboche ou a piedade dos outros.

O intelectualismo divide, porque seus adeptos em seus grupos e panelas trabalham contra a unidade da Igreja de Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e para sempre (Hebreus 13:8). A unidade pode ser encontrada apenas na fidelidade à Tradição, o depósito confiado aos santos e que somos chamados a guardar (1 Timóteo 6:20). Nas inovações podemos ter certeza que encontraremos o espírito intelectualista, estranho ao Deus Vivo e Sua Igreja.

Espiritualismo versus Santidade

A santidade da Igreja é afastada pelo espiritualismo. O Espiritualismo confunde o que é autenticamente espiritual com a ilusão emocional do orgulho (ilusão em eslavônico é prelest, em grego plani, em latim illusio). Esta também foi uma das grandes fraquezas da imigração russa, mas hoje também é encontrada no velho calendarismo sectário grego. Este espírito é trazido para a Igreja desde fora, de todos os tipos de teorias mundanas mas "espirituais" e de filosofias estranhas como o antroposofismo e guenonismo, sectarianismo e espírito de culto. Tudo isso forma atrações para esferas desencarnadas do ser, que são habitadas por espíritos malignos (que estão desencarnados), sob a ilusão de que são planos existenciais angélicos e não satânicos.

Talvez, o mais óbvio representante desta escola tenha sido o russo Evgraf Kovalevsy. Entretanto, ele foi apenas o caso mais claro de muitos, dessa doença espiritual, que era particularmente forte entre a imigração russa em Paris, que a havia trazido com eles desde S. Petersburgo. Muitos deles participavam na Igreja, mas eles trouxeram com eles a doença e tentavam disseminá-la na Igreja. Eles não compreendiam que um interesse em "espiritualidade" não é o mesmo que a prática da virtude. Um interesse na "espiritualidade" pode ser muitíssimo perigoso, pois o demônio é um ser espiritual. Isto é especialmente visível em caso de interesse em espiritualidade heterodoxa ou não-cristã, como o "Franciscanismo" (a qual, os santos russos do século XIX repetidamente apontavam, era a própria definição de ilusão espiritual) ou interesse em espiritualidade muçulmana, hindu ou budista.

O espiritualismo, com sua falta de foco desencarnada e neo-gnóstia, pode ser vista materializada na inconografia borrada de muitos representantes da imigração russa em Paris. A falta de clareza e definição em seus ícones assinala seu espírito desencarnado. Isto representa uma falsa santidade, que não é santidade de forma alguma, mas uma falta de habilidade de penetrar o interior da Igreja por causa de uma impureza do espírito.


Filetismo versus Catolicidade

A catolicidade da Igreja é afastada pelo filetismo, palavra baseada na equivalente grega para raça. A palavra poderia ser traduzida como racismo, mas é normalmente expressa como nacionalismo ou etnicismo. É particularmente comum entre os gregos e outros ortodoxos dos Balcãs, que suportaram o fardo Turco e seu sistema de guetos. É por isso que o filetismo foi primeiramente condenado em Constantinopla, no século XIX. Entretanto, os outros ortodoxos não estão de forma alguma imunes ao filetismo e temos visto muitos exemplos na Igreja Russa no Exílio e em outras partes da Igreja Russa. Ainda assim, ironicamente, temos encontrado o filetismo em sua forma mais virulenta entre os ortodoxos que são ex-anglicanos, entre os quais apenas o inglês é utilizado com algumas palavras em línguas estrangeiras incorretamente pronunciadas, e onde se opera uma forma sutil porém dolorosa de racismo anti-grego, anti-romeno ou anti-russo. Um exemplo recente disto é uma exigência de um recém-convertido americano para que se tenha um "patriarca americano". Isto significa alguém de cabelo curto, sem barba, nascido nos EUA e que dá sermões enquanto masca chicletes? O que todos nós precisamos em nossos respectivos países é de patriarcas santos - suas nacionalidades são radicalmente irrelevantes. Se não há santidade, como alguém pode ser salvo? A nacionalidade simplesmente não é um critério.

O filetismo, ou como poderíamos chamá-lo, racismo, exclui os ortodoxos que não pertencem à nacionalidade majoritária de uma igreja em particular. Apenas recentemente, e não longe daqui, encontramos o caso de um grupo que excluía os ortodoxos ingleses de seus ofícios e comunhão porque eles não eram "escuros o suficiente para serem um de nós". Aparentemente, cabelos loiros ou olhos azuis eram equivalentes a excomunhão. Também encontramos um outro caso no qual os não-sérvios eram proibidos de venerar um ícone de São Savas, porque "ele só pode ser venerado por sérvios". Tais casos são frequentes demais para mencionarmos aqui.

O filetismo fala e age contra a catolicidade, isto é, universalidade em todos os tempos e lugares da Igreja. Ele divide racialmente e é contra qualquer solução ao problema canônica da diáspora de múltiplas "jurisdições" ou dioceses em um mesmo território geográfico. A solução para o problema é clara - ela existia na América do Norte antes da Revolução Russa, onde múltiplas nacionalidades estavam unidas em uma diocese comum. Aqueles que quebraram esta unidade terão muito a responder no fim dos tempos.

Esteticismo versus Apostolicidade

A apostolicidade da Igreja é afastada pelo esteticismo. Isso significa que a profundidade do ensino da Igreja, pregado e expresso pelos apóstolos em sua confissão e martírio, é contrariado por uma atitude superficial para com a vida na Igreja. Aqueles que vêm à igreja para acender uma vela fazem bem, enquanto estão ali, mas ficam por apenas alguns minutos. Hoje em dia, este esteticismo é talvez o maior problema de todos, pois este mal do nominalismo afeta a maioria dos ortodoxos batizados. Aqueles que entendem a Igreja como uma peça de teatro, aqueles que vêm para serem comovidos pelo cantico ocidentalizado, ou para venerar ícones ocidentalizados, aqueles que se sentem comovidos pelo aroma do incenso, estão todos deixando de perceber o principal.

O esteticismo vê a igreja como uma experiência emocional que é boa por vinte minutos algumas vezes por ano. Ele não percebe as grandes verdades espirituais, e portanto morais, da Crucificação, Ressurreição e da Redenção. A Igreja existe por causa do sangue dos mártires e dos sofrimentos dos confessores.  Sem sofrimento, não haveria Igreja. A Igreja, Corpo de Cristo, é fundada no Sangue de Cristo, a Eucaristia é fundamentada em Seu Corpo e Sangue. Uma abordagem rasa e superficial da vida na Igreja, típica do nominalismo, não leva a um estilo de vida justo, muito menos santo. E seremos julgados sobre como levamos nossa vida, e não sobre nossas emoções inevitavelmente impuras.

O esteticismo age contra a apostolicidade da Igreja, contradiz a profundeza da experiência espiritual dos apóstolos, que trabalharam e sofreram pelo benefício da humanidade, relembrando que o Chefe dos Apóstolos é o próprio Cristo, enviado pelo Pai para a redenção de toda a humanidade. O esteticismo deixa completamente de lado nosso compromisso vital com as verdades espirituais e morais que todos os ortodoxos são chamados a exemplificar em nossas vidas diárias.

Conclusão

As quatro características que definem a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica são resumidas em uma única palavra: Ortodoxa. É por isso que falamos "Igreja Ortodoxa", uma forma curta de dizermos "A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica". É por isso que, se caírmos em algum dos "ismos" acima, intelectualismo, espiritualismo, filetismo ou esteticismo, nós inevitavelmente caímos da Igreja Ortodoxa. Fiquemos em guarda, em sobriedade mantendo a vigília sobre nós mesmos contra estas quatro ilusões: "Seja sóbrio, seja vigilante, porque nosso adversário, o demônio, como um leão que ruge, caminha por aí, buscando que poderá devorar" (1 Pedro 5:8).

Arcipreste Andrew Phillips,
Colchester,
Inglaterra

3/16 Fevereiro 2009
Justos Simeão e Profetiza Ana,
S. Nicolas do Japão



(*) Nota do Tradutor: O autor do artigo é um padre que serve na Inglaterra.

sábado, 13 de novembro de 2010

A Importância da Doutrina Correta

Amigos,

o texto abaixo é a tradução de um podcast realizado por um padre ortodoxo americano. Para os que não conhecem, podcasts são como programas de rádio só que transmitidos pela internet. Este padre realizou toda uma série de podcasts comparando a fé ortodoxa com as demais fés religiosas e este texto faz parte da introdução. Abaixo encontrarão também o link para a série original, sendo que ela é em inglês.

Espero que aproveitem!

A Importância da Doutrina Correta

Padre Andrew Stephen Damick
Tradução: Fabio L. Leite

http://ancientfaith.com/podcasts/orthodoxyheterodoxy

Na maior parte das áreas de nossas vidas, nos preocupamos com a verdade. Um caixa tem que saber quanto de troco terá que dar. Uma enfermeira tem que aplicar a quantidade correta do medicamento no paciente. Um matemático checa e confere suas provas. Um júri escuta todos os fatos para encontrar a verdade em um julgamento. O professor de história tem que conhecer os nomes e datas corretos.O cientista publica seu trabalho para ser conferido por seus pares, de modo a garantir que todos estejam obtendo os mesmos resultados. Em todos estes casos e mais, o que importa não é a opinião, é a verdade.

Mesmo assim, parece que quando chegamos nas questões religiosas e espirituais, e nas questões morais que as acompanham, aí nos tornarmos relativistas. Ao invés de perguntarmos o que Deus realmente é, perguntamos, "O que é Deus para mim?" Ao invés de perguntarmos qual o significado de Deus ter se tornado homem, nós sugerimos que "tá bom se algumas pessoas acreditarem porque elas querem". Ao invés de perguntarmos se Deus espera algo de nós, nós jugamos as expectativas religiosas pelo que nós mesmos queremos. A busca da objetividade é atirada pela janela, e a subjetividade reina.

Este problema fundamental é piorado por causa da falta de familiaridade com as ferramentas do conhecimento espiritual; isto é, as pessoas não estão fazendo o que é necessário para ver a verdade. Se um astrônomo recusa-se a utilizar um telescópio, ou se um biólogo não quisesse utilizar um microscópio, nos diríamos que eles, na melhor das hipóteses, possuem um conhecimento incompleto de seus campos. De um ponto de vista cristão, o que está faltando é pureza de coração; como Jesus disse: "Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus".Também está faltando a orientação para alcançarmos esta pureza, que deveria vir daqueles que viram Deus e passam a experiência à frente para a próxima geração.

Platão definiu o mesmo problema quando escreveu A República e utilizou a famosa alegoria da caverna. Nesta alegoria, prisioneiros acorrentados em uma caverna por todas as suas vidas acreditam que toda a realidade é definida pelas sombras que vêem na parede. Se um dos prisioneiros escapasse, encontrasse a saída e visse o sol e toda a realidade como ela é, como ele poderia descrever a sua experiência para pessoas cuja realidade consiste de sombras? Quando ele retornasse à caverna, tentando reajustar-se à vida na escuridão, os que ali permaneceram provavelmente iriam ridicularizá-lo como tendo enlouquecido pela sua experiência ao invés de iluminado. Tal é o fardo de muitos fiéis hoje.

Eu sugiro que a grande batalha espiritual de nossa época não é entre crentes e ateístas; ao invés, é uma luta entre o orgulho e a humildade. Esperamos e exigimos humildade em quase todas as áreas da vida: o que importa é o que é objetivamente verdadeiro, não o que cada um de nós por acaso acha que é verdade. Não são nossos gostos que são importantes. Mas quando se trata das questões mais importantes, deixamos a humildade de lado e nos colocamos no centro do universo. Esta tentação do orgulho é comum, mesmo entre os crentes em Deus.

Uma das pressuposições básicas desta série de podcasts é que a verdade não é relativa, e que o Cristianismo Ortodoxo representa a plenitude da verdade - o locus da revelação de Deus em Cristo. Desta posição básica, analisaremos vários grupos religiosos e seus ensinamentos, vendo o que temos em comum e o que temos de diferente. Porque a verdade não é relativa, todos os seres humanos devem estar dispostos a colocar de lado o que preferiríamos que fosse verdade e aceitar o que realmente é verdadeiro, mudando a nós mesmos, nossas atitudes, e nossas crenças sempre que necessário.

Se tornou politicamente incorreto em nosso tempo falar-se como se uma crença em particular fosse verdade e outra falsa. E mesmo assim, eu consigo lembrar bem claramente em minha própria história de vida que vários grupos religiosos em nossa cultura costumavam achar que suas próprias crenças eram verdades e, então, concluir pela lógica que as outras deveriam ser falsas.

Hoje, porém, esta conclusão - e, acima de tudo, expressá-la publicamente, é vista como sendo não caridosa, não amorosa. De fato, em nosso tempo, discordâncias públicas sobre religião são entendidas como ofensivas. Porque vivemos em uma época do politicamente correto, recebemos alguns mandamentos de teologia cultural que dizem:

Todas as religiões são basicamente a mesma coisa;

O que importa é viver uma vida boa;

Todos adoramos o mesmo Deus;

Religião é uma questão privada;

Não imponha suas crenças sobre os outros;

Nenhuma religião está certa em tudo;

Nós vamos descobrir o todo da verdade quando chegarmos no Céu;

Pensamentos como os acima possuem uma idéia comum por trás deles: que as crenças sobre Deus e sobre a natureza da realidade não são muito importantes. Por isso é que não deveriam ser discutidas em público. Por isso é que os detalhes de cada uma delas não seriam tão importantes. Por isso é que não deveríamos tentar converter as pessoas para nossa fé. Não existe esse negócio de "verdade absoluta". Tudo é relativo - exceto, talvez, o fato de que tudo é relativo.

E mesmo assim, para quase tudo na vida - seja na política, na saúde, ou mesmo nas tabelas de pontos de nossos times de futebol - nós exigimos seriedade, detalhe, precisão. Distraída por estas coisas transientes, nossa cultura conseguiu ignorar um silogismo básico:

Se realmente existe um Deus, então quem Ele é e o que Ele pode querer de nós são mais importantes do que tudo no universo.

Como pessoas que acreditam em Deus, nosso negócio não é "ser agradável". Nosso negócio é a verdade. O propósito destes podcasts é examinar as diferenças entre a fé da Igreja Ortodoxa e as fés de outras comunhões cristãs e não-cristãs.

Evidentemente, como um padre ortodoxo, é minha crença que a fé cristã ortodoxa é a única verdadeira. Eu não seria ortodoxo se eu não acreditasse que a Igreja Ortodoxa é a verdade revelada por Deus em seu filho Jesus Cristo. Minha fé é tal que, se eu encontrar uma parte da fé ortodoxa que não faça sentido para mim ou me parecesse incorreta, então sou eu que preciso ser reformado, e não a Igreja.

De fato, esta é a visão de todas as religiões tradicionais, clássicas, ao contrário do estilo consumista moderno de compreensão da fé que é popular em nossa cultura - que cada pessoa é o árbitro final do que é verdadeiro ou falso, que ela pode ficar escolhendo que pedacinhos de cada espiritualidade ou crença ela quer para si, em um tipo de buffet religioso.

A natureza da verdade, entretanto, é ser verdade independente do que qualquer um pensa a respeito. Em face da verdade, não há opiniões. A maioria das pessoas acredita nisso, mas não costumam aplicar isso na questão que mais importa: quem é Deus, e o que Ele quer de mim?

Existe o bem e existe o mal. Existe a verdade e existe a falsidade. Estas pressuposições básicas, fundamentadas em nossa existência do dia-a-dia, deveriam ser a base de todos os nossos pensamentos e ações relacionadas à verdade suprema.

Se você já visitou o site Facebook (Nota do Tradutor: um site como o Orkut, mais utilizado por americanos), você provavelmente sabe que os usuários podem montar seus perfis detalhando com várias pequenas informações sobre quem são e o que fazem. Um dos detalhes que podem ser especificados é rotulado "Visão religiosa". É isso que a maioria das pessoas pensa quando tratam de religião, que é uma questão de "visão", que religião é uma opinião que você tem, algo que você acha. Repare que o Facebook nem mesmo usa o termo "crença".

Para as religiões mais tradicionais, entretanto, a fé não é meramente um conjunto de visões; ao contrário, a fé religiosa é todo um modo de vida, uma forma de viver com propósito que, no seu cerne, possui objetivos que fundamentam tudo no modo como vivemos.

Assim, o Facebook representa uma filosofia secularista, a qual não é tanto uma negação das verdades espirituais, mas divide em compartamentos isolados os elementos da vida, em categorias elegantes nas quais uma nada tem a ver com a outra. Nesta caixa eu guardo minhas visões econômicas. Nesta outra estão minhas opiniões sobre a televisão à cabo. Nesta aqui estão minhas preferências de leituras, e nesta eu mantenho minha religião. Até a palavra religião - que eu não gosto de utilizar em relação à Igreja Ortodoxa - significa algo bem diferente. A palavra latina "religio" significa reconexão. Construir e reconstruir relações.

Aquilo com o qual você está tentando se relacionar varia de uma religião para outra, mas o ponto comum é que existe algo acontecendo de fato. Não é simplesmente algo que você acha ou concorda e não é apenas sobre você: existe um Outro.

Isso é verdade para tudo na vida. Meu irmão é um engenheiro químico. Minha irmã é bióloga. Dá para tentar imaginar o que foi que deu em mim de virar padre. Mas eles sabem que é assim, que não é sobre opinião. Se não acredita neles, pergunte a um médico, um físico ou psicólogo. Pergunte a um pedreiro, a um faxineiro. Eles vão te dizer que o que você acredita e o que você faz fazem diferença. Se você crê ou faz algo diferente, vai obter resultados diferentes.

O que me preocupa é que normalmente não aplicamos este princípio básico ao que mais importa na vida humana. No contexto religioso, esta verdade fundamental significa que religiões diferentes - porque crêem e praticam coisas diferentes - vão chegar a resultados diferentes.

Às vezes, estes resultados diferentes são todos jogados sob o mesmo rótulo de salvação. Mas o que significa ser salvo? Para o hindu que pratica yoga, a salvação significa ser liberado do corpo físico e ser absorvido no esquecimento do universo; para o Budista é a aniquilação da personalidade individual no Nirvana. Eu te garanto que não é isso que a salvação significa para um batista. Mas o que um batista quer dizer com salvação e o que um ortodoxo quer dizer, também não são a mesma coisa. Assim, os membros das diferentes fés possuem diferentes métodos de chegar aonde eles querem chegar.

Além disso, porque existem a verdade e a falsidade, e porque a maioria das religiões tradicionalmente alegam que suas fés são verdadeiras e as outras são pelo menos de alguma forma falsas, isso significa que alguns crentes religiosos estão fundamentalmente errados sobre suas crenças e práticas. Isto significa que eles não irão obter os resultados que pensam que terão.

Na fé cristã ortodoxa, nosso único propósito na vida é nos tornarmos mais como Jesus Cristo. Se vamos para o céu depois de morrermos é apenas um elemento de um quadro muito maior. Este quadro maior é, em útima instância, a Santa Trindade.

A vida do cristão ortodoxo tem um objetivo: união com a Santíssima Trindade - o Pai, o Filho e o Espírito Santo - o Deus Uno que criou todas as coisas. O caminho para esta união é Jesus Cristo, o Deus-Homem, a segunda Pessoa da Santa Trindade. A Salvação é a obtenção da vida eterna.

Em João 17, em sua oração ao Pai antes de Sua crucificação, Jesus define o que isso significa. Ele disse: "E isto é a vida eterna: que eles Te conheçam, o único verdadeiro Deus, e Jesus Cristo, o qual Tu enviastes." Conhecer Deus - isso é o que a vida eterna significa, e não simplesmente viver para sempre.

Ele ora assim depois: "E a glória que Tu me entregastes, Eu entreguei a eles. Para que sejam um, como Nós somos um; Eu neles, e Tu em Mim, para que eles sejam feitos perfeitos em Um, e que o mundo possa saber que Tu Me enviastes, que Tu os amastes como amastes a Mim."

Assim, na fé cristã ortodoxa, ser salvo - ter a vida eterna - significa amar a Deus em Jesus Cristo. Também significa receber de Jesus a glória que Ele recebeu de Seu Pai. Na realidade, a salvação é muito, muito mais do que escapar do inferno quando morrermos. É um conhecimento profundo e íntimo de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo.

Neste conhecimento profundo - o qual é experiência mais do que acumulação de fatos - aqueles que estão sendo salvos recebem a própria glória de Deus. Ir para o céu ou para o inferno no momento da morte significa simplesmente que nossa experiência de Deus durante esta vida continua na próxima, embora muito amplificado. Se amamos a Deus e o conhecemos profundamente, nossa experiência será de infinita e intensa felicidade. Se rejeitamos a Deus nesta vida - ou simplesmente O ignoramos - nossa experiência deste amor nos será completamente estranha e sentida como sofrimento. Ele derrama o mesmo amor sobre todos. Alguns querem, outros não.

É por isso que a doutrina correta importa. É por isso que heresias são tão perigosas. Toda a nossa doutrina está orientada para termos um conhecimento íntimo de Deus, porque o tipo do conhecimento que tivermos dele vai determinar nosso destino eterno, nossa existência perpétua na vida que há de vir. Este conhecimento depende da nossa vontade de vivenciar a doutrina correta em nossas vidas diárias.

Vamos supor que espalhassem por aí que sou um homossexua praticante. Não é verdade, mas porque algumas pessoas acreditariam, isso afetaria suas relações comigo. Porque sou um padre, poderia afetar até as relações entre os membros da paróquia. Muitas relações como muitas pessoas seriam quebradas. Algumas pessoas certamente aceitariam e tentariam se aproximar, mas também estas relações seriam baseadas em uma realidade distorcida. Algumas pessoas de fora da paróquia poderiam ouvir esta fofoca e nunca nos visitarem ou considerarem a conversão. Aqueles mais próximos de mim - minha esposa e família - teriam suas vidas grandemente perturbadas se acreditassem nesta mentira. Destruíria a minha vida familiar, o que iria reverberar por nossos parentes, amigos, a unidade da paróquia e assim por diante - tudo por causa de uma crença errada a respeito de quem sou.

Talvez a fofoca não fosse tão séria. Suponhamos que dissessem que eu tenho um problema com bebidas. Os efeitos provavelmente seriam tão sérios quanto, embora não tão escandalosos. De toda forma, todas as relações seriam afetadas, não de acordo com a moral de cada um, isto é, não dependeria de se eles praticaram o bem ou o mal, mas dependeria daquilo que eles acreditavam sobre mim e como reagiram a essa crença.

Agora aumente muito este efeito aplicado à adoração e conhecimento do próprio Deus do universo. Algumas doutrinas falsas sobre Ele, podem causar uma destruição espiritual inimaginável. Outras podem até ter um efeito menor. Mas todas elas, em um grau ou outro, nos afastam da verdade, do puro conhecimento do único e verdadeiro Deus. Isto irá afetar como e se receberemos a glória de Deus, e como iremos experienciá-lO na próxima vida.

Viver uma vida moral de acordo com a lei Deus é realmente fundamental para a nossa vida em Cristo, mas não é suficiente. A religião não é apenas a ética. Devemos conhecer Deus conforme Ele realmente é. É por isso que a doutrina correta importa.

domingo, 16 de maio de 2010

O Que Sobrou da Religião



OLAVO DE CARVALHO | 16 MAIO 2010 
ARTIGOS - CULTURA

É tudo uma profecia auto-realizável: se a evidência avassaladora da percepção extracorporal é negada, não é só porque as pessoas não acreditam nela - é porque se tornaram realmente incapazes de vivenciá-la de maneira consciente.
Se há neste mundo um fato bem comprovado, é a percepção extra-sensorial durante o estado de morte clínica. Um corpo inerte, sem batimentos cardíacos ou qualquer atividade cerebral, desperta de repente e descreve, com riqueza de detalhes, o que se passava durante o seu transe, não só no quarto onde jazia, mas nos outros aposentos da casa ou do hospital, que de onde estava ele não poderia ver nem se estivesse acordado, bem de saúde e com os olhos abertos.
Isso já se repetiu tantas vezes, e foi atestado por tantas autoridades científicas idôneas, que só um completo ignorante na matéria pode teimar em permanecer incrédulo. Mas mesmo alguns daqueles que reconhecem a impossibilidade de negar o fato relutam em tirar a conclusão que ele impõe necessariamente: os limites da consciência humana estendem-se para além do horizonte da atividade corporal, inclusive a do cérebro.
A relutância em aceitar isso mostra que o "homem moderno" - o produto da cultura que herdamos do iluminismo - se identificou com o seu corpo ao ponto de sentir-se amedrontado e ofendido ante a mera sugestão de que sua pessoa é algo mais. É evidente que aí não se trata só de uma convicção, de uma idéia, mas de um transe auto-hipnótico incapacitante, de um bloqueio efetivo da percepção.
Esse estado é implantado nas almas pela tremenda pressão anônima da coletividade, que as mantém em estado de atrofia espiritual mediante a ameaça do escárnio e o temor - imaginário, mas nem por isso menos eficiente - da exclusão. Infinitamente multiplicado e potencializado pelo sistema educacional e pela a mídia , o que um dia foi mera idéia filosófica, ou pseudofilosófica, incorpora-se nas personalidades individuais como reflexo de autodefesa e, na mesma medida, restringe a autopercepção de cada qual ao mínimo necessário para o desempenho nas tarefas imediatas da vida socio-econômica. É tudo uma profecia auto-realizável: se a evidência avassaladora da percepção extracorporal é negada, não é só porque as pessoas não acreditam nela - é porque se tornaram realmente incapazes de vivenciá-la de maneira consciente. Vivem alienadas da sua experiência psíquica mais profunda e constante, encerradas num círculo de banalidades no qual o triunfalismo "cultural" e "científico" da mídia popular infunde uma ilusão de riqueza e variedade.
O "mundo real" no qual essas pessoas acreditam viver é o dualismo galilaico-cartesiano, já totalmente desmoralizado pela física de Einstein e Planck, mas que a mídia e o sistema escolar continuam impondo à alma das multidões como verdade definitiva: tudo o que existe nesse mundo são as "coisas físicas" e, em cima delas, o "pensamento humano", as "criações culturais". De um lado, a realidade dura da matéria regida por leis supostamente inflexíveis, nas quais se fundamenta a autoridade universal e inquestionável da "ciência"; de outro, a pasta mole e dúctil do "subjetivo", do arbitrário, onde toda opinião vale o mesmo. Dessa esfera "subjetiva" faz parte a "religião", que é o direito de crer no que bem se entenda, com a condição de não proclamá-lo jamais verdade objetiva ou valor universal.
Nessas condições, o próprio exercício da religião torna-se uma caricatura grotesca. Tanto quanto o ateu, o homem religioso de hoje em dia acredita piamente na existência de uma esfera material autônoma, regida por leis próprias que a ciência enuncia, só de vez em quando rompidas pela interferência do "milagre", do "inexplicável", do "divino". Por mais que a filosofia esculhambe com o "Deus dos hiatos" (aquele que só age por entre as brechas do conhecimento científico), ele é o único que restou no altar das multidões de crentes. Oficializada pelo establishmentgovernamental, universitário e midiático, a rígida separação kantiana de "conhecimento" e "fé" tornou-se verdade de evangelho para a maioria das almas religiosas, embora ela seja, em si, perfeitamente herética à luz da doutrina católica, interpondo um abismo infranqueável entre dimensões cuja interpenetração, ao contrário, é a própria essência da concepção cristã do cosmos. É novamente a profecia auto-realizável em ação: à percepção mutilada do eu individual corresponde uma religião mutilada, e vice-versa.
Quando digo percepção mutilada, estou afirmando, taxativamente, que a imagem do eu como algo que reside no corpo ou se identifica com ele é fantástica, ilusória, doente. Ela impõe à consciência limitações que não são de maneira alguma naturais, muito menos necessárias. Todas as tradições espirituais do mundo, todas as disciplinas sapienciais começam pela constatação óbvia de que o eu não é o corpo, não "está" no corpo mas de certo modo o abrange como o supra-espacial transcende e abrange o espacial (este é balizado por certas relações matemáticas que, em si, não estão em parte alguma do espaço). Mas uma coisa é compreender isso por pura lógica, outra bem melhor é poder constatá-lo no fato vivo da percepção extra-sensorial em casos de morte clínica. Bastaria, a rigor, um único episódio desse tipo para dar por terra com a balela de que o cérebro, isto é, o corpo, "cria" a cognição, o pensamento, a consciência. Mas os episódios são milhares, e o desinteresse dos crentes por esse tipo de fenômenos (mais estudados por ateus, adeptos da New Age e budistas do que por católicos, protestantes, ou mesmo judeus crentes) denota que a mente religiosa já se conformou com um estado de existência diminuída, em que a alma supracorporal, condição fundamental do acesso a Deus, só passará a existir no outro mundo, por alguma transmutação mágica da psique corporal, em vez de constituir já nesta vida a nossa realidade pessoal mais concreta, mais substantiva e mais verdadeira, presente e atuante nos nossos atos mais mínimos como nas nossas vivências mais elevadas e sublimes.
Durante milênios cada ser humano, ao pronunciar a palavra "eu", referia-se de maneira imediata e automática à sua alma imortal, a única que podia orar e responder por seus próprios atos ante o altar da divindade. Dessa alma, a psique corporal era uma parte e função menor, voltada ao meio material e social tão-somente, alheia a todo senso do eterno e, a rigor, incapaz de pecado ou santidade, apenas de delitos e virtudes socialmente reconhecidos. A partir do momento em que a psique corporal foi assumida como realidade autônoma, cada indivíduo só se enxerga a si mesmo como membro de uma espécie animal e como "cidadão", amputado daquela dimensão que fundamenta o senso último de responsabilidade e cultivando, em lugar dele, o mero instinto da adequação social, adornado ou não de "moral religiosa". Imaginem a diferença que isso faz, por exemplo, na compreensão que você tem da Bíblia: se você não a lê com sua alma imortal, talvez fosse melhor não lê-la de maneira alguma, porque a lê com a carne e não com o espírito.

Diário do Comércio, 12 de maio de 2010

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Confissão de Fé contra o ecumenismo



Confissão de Fé contra o ecumenismo


Emitida pela convenção dos clérigos e monges Ortodoxos da

Grécia, abril de 2009

Tradução por Ricardo Williams / Revisão por Fábio L. Lins

Original em grego

Versão em inglês

Nós que, pela Graça de Deus, recebemos os dogmas da compaixão, e que em tudo seguimos a Igreja Uma, Santa, Católica e Apostólica, cremos que:


O único caminho para a salvação da humanidade [i] é a fé na Santíssima Trindade, a obra e os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu seguimento dentro de Seu Corpo, a Santa Igreja.


Cristo é a única luz verdadeira [ii]; não há outras luzes que nos iluminem, ou outros nomes pelos quais somos salvos: “E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos.” [iii].


Todas as outras crenças ou religiões que ignoram e não confessam “que Jesus Cristo veio em carne” [iv] são criações humanas e obras do diabo [v], que não trazem o verdadeiro conhecimento de Deus, nem o renascimento através do santo Batismo – ao contrário, enganam os homens e os levam à perdição.


Como cristãos, professamos nossa fé na Santíssima Trindade e afirmamos que nosso Deus não é o mesmo de outras religiões – nem mesmo das outras supostas religiões monoteístas, como o judaísmo e o maometanismo, que não crêem na Santíssima Trindade.


Por dois mil anos, a Igreja, fundada por Cristo e guiada pelo Espírito Santo, permaneceu firme e inabalável na verdade salvífica que nos foi ensinada por Cristo, legada aos Apostólos e preservada pelos seus Santos Pais. Durante seus três primeiros séculos, ela não cedeu sob as perseguições dos judeus ou dos pagãos; pelo contrário, ela nos deixou uma multidão de mártires e se fez vitoriosa, provando assim sua origem divina.


Conforme nos ensinou São João Crisóstomo, de maneira tão bela: “Nada é mais forte que a Igreja... se lutares contra um homem, irás conquistá-lo ou serdes conquistado. Mas se tu lutares contra a Igreja, não será possível sair-se vitorioso, pois mais forte é Deus”. [vi]


Após o fim das perseguições e seu triunfo sobre seus inimigos externos – isto é, judeus e pagãos – os inimigos internos da Igreja multiplicaram-se e fortaleceram-se. Surgiram diversas heresias, mas com um só objetivo: usurpar ou adulterar a fé que nos foi legada, a fim de confundir os fiéis e abalar sua confiança no Evangelho e na Tradição Apostólica.


Quando São Basílio Magno descreveu a situação eclesiástica contemporânea criada pela heresia de Ário, inclusive no âmbito administrativo, ele disse: “Os dogmas dos Pais da Igreja são ignorados, a tradição apostólica fenece, observam-se nas igrejas as invenções dos mancebos; as pessoas buscam inovações ao invés de buscarem a teologia; a sabedoria do mundo parece superar a glória da Cruz. Os pastores são expulsos, e em seu lugar são colocados lobos que dispersam o rebanho de Cristo”. [vii]


O que ocorreu com os inimigos externos – as religiões – também ocorreu com os internos – as heresias. Através de suas grandes luminárias, os Pais da Igreja, ela afirmou e solidificou a fé ortodoxa através das decisões de sínodos locais e concílios ecumênicos, visando esclarecer certos ensinamentos dúbios, mas sempre pelo consenso de todos os Pais, em todas as questões de fé.


Portanto, temos plena segurança ao seguir os Santos Pais e respeitarmos os limites por eles traçados. As expressões “seguir nossos Santos Pais” e “respeitar os limites que eles traçaram” são um caminho seguro e reto, e uma “válvula de segurança” para a fé e o modo de vida ortodoxos. Assim sendo, demonstramos as posições básicas de nossa Confissão:



1) Nós afirmamos, integralmente e sem alteração, tudo aquilo que os santos sínodos e os pais da Igreja proclamaram. Aceitamos tudo aquilo que eles aceitaram, e condenamos tudo aquilo que eles condenaram; e também cessamos relações com aqueles que inovam em matéria de fé.


Não adicionamos, removamos ou alteramos ensinamento algum. Pois o teóforo Santo Inácio de Antioquia já havia escrito que: “aquele que afirma algo em contrário ao que foi proclamado – mesmo que seja confiável, mesmo que pratique o jejum, mesmo que seja celibatário, mesmo que faça milagres – é um lobo em pele de cordeiro, que visa corromper o rebanho”.


São João Crisóstomo, ao interpretar as palavras de São Paulo em Gálatas I : “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema”, ele observa que o Apóstolo “não disse ‘se tentarem proclamar algo contrário’ ou ‘se tentarem mudar tudo’, mas que se alguém pregar outro evangelho, por menor que seja a diferença, mesmo que meramente sugerido, seja anátema”. [viii]


Ao anunciar suas resoluções contra os iconoclastas ao clero de Constantinopla, o VII Concílio Ecumênico afirmou: “seguimos as tradições da igreja católica, e não omitimos ou nos repetimos mas, sendo educados à moda dos Apóstolos, guardamos as tradições que nos foram dadas, aceitando e respeitando tudo que a Igreja recebeu desde seu início, seja oralmente ou por escrito [...] pois o julgamento legítimo e honesto da Igreja não permite alterações em seu meio, ou tentativas de subtrair coisa alguma.


Nós, portanto, seguindo as leis de nossos Pais, tendo recebido a graça do Espírito, preservamos de modo correto todas as coisas da Igreja, sem inovações ou subtrações”. [ix]


Juntamente com os Santos Padres e os Sínodos, também rejeitamos e anatematizamos todas as heresias surgidas durante toda a história da Igreja. Das velhas heresias que sobrevivem até os dias de hoje, condenamos o arianismo (que perdura nos testemunhas de Jeová) e o monofisismo – tanto na forma extrema de Êutiques, quanto nas formas mais moderadas de Dióscoro e Severo de Antioquia – conforme as decisões do IV Concílio Ecumênico de Calcedônia, os ensinamentos cristológicos de nossos Santos Pais e Teólogos, como São Máximo o Confessor, São João Damasceno, São Fócio Magno e nossos ofícios e liturgias.



2) Nós proclamamos que o papismo é o berço das heresias e falácias. A doutrina do “filioque” – ou seja, que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho – é contrária à tudo aquilo que o próprio Cristo nos ensinou sobre o Espírito Santo.


O consenso dos Pais da Igreja, tanto nos sínodos quanto individualmente, considera o papismo uma heresia, pois além do filioque ele gerou uma legião de falácias, como a primazia e a infalibilidade do Papa; uso de ázimos (hóstia); o purgatório; a imaculada conceição da Theotokos; graça criada; venda de absolvição (indulgências); entre outros, além de alterar todo o ensinamento e prática pertinente ao Batismo, Crisma, Eucaristia e demais sacramentos, além de fazer da igreja uma nação secular.


O papismo contemporâneo produziu desvios nos ensinamentos da Igreja ainda maiores que o papismo medieval, a ponto de não podermos mais considerá-lo sucessor da antiga Igreja Latina.


Dentre estes erros estão uma infinidade de exageros em sua “mariologia”, como a doutrina de que a Theotokos é co-redentora da humanidade; o incentivo ao “Movimento Carismático” de grupos de orientação “Pentecostal”; além das contínuas inovações à prática litúrgica, como o uso de danças e instrumentos musicais; além, também, de reduzir – e arruinar – sua tradição litúrgica.


No campo do ecumenismo, o papismo lançou as bases da “pan-religiosidade” no “Concílio Vaticano II”, ao reconhecer a “espiritualidade” dos praticantes de outras religiões. O minimalismo dogmático levou à depreciação moral à custa do elo entre dogma e moral, resultando na decadência moral da hierarquia e no aumento de desvios morais tais como homossexualismo e pedofilia entre o clero [x].


E com seu contínuo apoio ao uniatismo – uma caricatura proselitista e danosa da Ortodoxia – o Papismo sabota qualquer tentativa de diálogo e contradiz suas inteções de união supostamente sinceras.


De modo geral, o Papismo sofreu uma mudança radical após o “Vaticano II”, voltando-se ao Protestantismo e até mesmo adotando vários movimentos “espirituais” da “Nova Era”. Segundo São Simeão de Tessalônica, o Mistagogo, o Papismo causou mais dano à Igreja do que todas as heresias e cismas juntas.


Nós, Ortodoxos, afirmamos nossa comunhão com os papas do primeiro milênio e celebramos a memória de muitos papas em nosso calendário santoral. Mas os papas do “pós-cisma” são hereges; deixaram de ser sucessores da Sé de Roma; e não possuem mais sucessão apostólica pois perderam sua fé nos Apóstolos e nos Pais da Igreja.


Por esses motivos, com relação aos papas do pós-cisma “não temos comunhão e afirmamos que é um herege”. Devido à sua blasfêmia contra o Espírito Santo proclamada com o filioque, eles perderam o Espírito Santo e, portanto, tudo que vem deles é desprovido de graça.


São Simeão também afirma que eles não possuem sacramentos legítimos: “Estes inovadores se põem longe do Espírito Santo por suas blasfêmias contra Ele; portanto, tudo o que vem deles é desprovido de Graça, pois violaram e degradaram a Graça do Espírito ... por esse motivo o Espírito Santo não se encontra entre eles, e não há nada espiritual dentre os mesmos, pois tudo que é seu é incipiente, alterado e contrário à tradição divina”. [xi]



3) O mesmo se aplica, com maior intensidade, ao Protestantismo que, sendo filhote do Papismo, não só herdou muitas de suas heresias como criou muitas outras: rejeitou a Tradição, aceitando somente a Bíblia (“sola scriptura”), que ainda assim interpreta de modo distorcido; aboliu o sacerdócio sacramental, assim como a veneração aos Santos e aos santos ícones; caluniou a Theotokos; rejeitou o monasticismo; dentre os Sacramentos aceita somente dois – Batismo e Eucaristia – embora também adultere o ensinamento e a práxis da Igreja; também ensina a predestinação (no calvinismo) e a justificação somente pela fé (“sola fide”).


Além disso, seus ramos mais “progressistas” introduziram o ministério feminino e o casamento entre homossexuais – que são aceitos em seu clero. Mas, acima de tudo, o Protestantismo é desprovido de eclesiologia, pois a noção de Igreja conforme afirmada pela Ortodoxia lhes é inexistente.



4) A única maneira de restaurar nossa comunhão com os hereges é através do arrependimento e de sua renúncia a todas as falácias, a fim de que possa haver união e concórdia verdadeiras; uma união com a Verdade, e não com a falácia e a heresia.


Na recepção de hereges na Igreja, a precisão canônica (“acribéia”) exige o Batismo. O “batismo” anterior, ministrado fora da Igreja sem imersão tríplice do neófito em água santificada, ou realizado por um ministro heterodoxo não é, de modo algum, um Batismo. Tais “batismos” são desprovidos da Graça do Espírito Santo – que inexiste entre cismáticos e hereges.


Portanto, conforme afirma São Basílio Magno, não temos nada em comum que nos une: “Sobre aqueles que se separaram da Igreja, estes não mais possuem a Graça do Espírito Santo sobre si, pois a Graça não é transmitida entre aqueles que interromperam a sucessão ... aos sacerdotes que se separaram, e agora são leigos, eles não têm mais autoridade sequer para batizar, ou ordenar pela imposição de mãos, já que não podem mais transmitir a Graça do Espírito Santo, da qual se separaram”. [xii]


Deste modo, as tentativas dos ecumenistas de criar a ilusão de que partilhamos de um mesmo batismo com hereges, ou suas afirmações de que é possível basear a unidade da Igreja nesta “unidade batismal” inexistente é falaciosa e não se sustenta [xiii]. Para se tornar membro da Igreja não basta qualquer “batismo” – é necessário um único e legítimo Batismo, ministrado por sacerdotes que fazem parte do clero Igreja.



5) Enquanto os hereges teimarem em afirmar suas falácias, rejeitamos qualquer tipo de comunhão com os mesmos, especialmente a oração em comum. Os cânones da Igreja proíbem completamente não somente a oração ou celebração comum em templos, mas também as orações comuns feitas em particular.


Esta posição estrita da Igreja com relação aos hereges se deve à caridade legítima e preocupação sincera por sua salvação – além do cuidado pastoral para que seus fiéis não sejam iludidos por heresias. Aquele que ama o próximo revela a Verdade e não permite que ele fique imerso na mentira; do contrário, esse qualquer amor ou concórdia seria falso ou hipócrita.


Podemos afirmar que o conceito de boa guerra e paz ruim é verdadeiro, pois “...uma guerra digna é superior a uma paz que nos separa de Deus”, diz São Gregório Teólogo [xiv]. E São João Crisóstomo: “Se virdes devoção desvirtuada, não prefira a harmonia em detrimento da verdade, mas guardai-a até a morte...” E também nos recomenda: “Não aceite nenhum falso dogma sob pretexto de caridade” [xv]


Esta posição dos Pais da Igreja também foi adotada por um dos maiores defensores da Ortodoxia contra os erros dos papistas, São Marcos de Éfeso, que encerrou sua proclamação de fé em Florença com as seguintes palavras: “Todos os pais da Igreja, seus sínodos e a sagrada escritura nos dizem para nos afastarmos daqueles que professam outra fé, e abstermos-nos de ter comunhão com eles. Devo, portanto, ignorar tudo isso e seguir aqueles que, sob pretexto de uma paz fabricada, buscam a união? Aqueles que adulteraram a Profissão de Fé e inovaram ao afirmar que o Filho é e segunda causa do Espírito Santo? Que isso nunca nos aconteça, ó abençoado Paráclito, e que eu jamais me desvie do caminho da retidão e que, seguindo Teus ensinamentos e dos Santos que por Vós foram inspirados, eu possa me juntar a meus pais e levar, no mínimo, a compaixão” [xvi]



6) Até o início do século XX, a Igreja manteve uma posição firme e irredutível de condenação a todas as heresias, conforme expresso claramente no Synodikon da Ortodoxia, que é proclamado anualmente no Domingo da Ortodoxia.


Heresias e hereges são anatematizados individualmente; além disso, para garantir que nenhum herege fique de fora da lista, há um anátema geral ao final do texto que proclama: “Que todos os hereges sejam anátema!”


Infelizmente, esta posição universal e resoluta foi abandonada gradativamente nas primeiras décadas do século passado, logo após a publicação da encíclica patriarcal de 1920, “A todas as igrejas de Cristo”, o Patriarcado Ecumênico, pela primeira vez, caracterizou as heresias como “igrejas” que não estão alienadas da Igreja, mas que lhe são familiares e com as quais a Igreja possui relação. Esta mesma encíclica recomenda que “o amor entre as igrejas deve ser, acima de tudo, reavivado e reforçado; não podemos mais considerar uns aos outros como estranhos, mas em termos de nossa relação com Cristo, e como co-participantes e co-recebedores das promessas de Deus em Cristo” (ver I. Karmiris “The Dogmatic and Symbolic Monuments of the Orthodox Catholic Church”, vol 2, pg. 958).


Foi, então, aberto o caminho dentro da Igreja Ortodoxa para a adoção, construção e desenvolvimento de uma invenção Protestante, que hoje conta com o aval papal: a heresia do ecumenismo. Esta pan-heresia, que aceita e legitima todas as formas de heresias como “igrejas”, é uma afronta ao dogma da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.


E este novo dogma, esta nova eclesiologia, vem sendo desenvolvida, ensinada e impingida por bispos e patriarcas. Segundo esta nova doutrina, nenhuma Igreja tem direito de tomar exclusivamente para si a característica de Igreja plena e verdadeira. Ao invés disso, cada uma constitui uma parte, um fragmento da Igreja, e não sua plenitude; juntas, todas compõem a Igreja.


Todos os limites traçados pelos Pais da Igreja foram desconsiderados; não há mais distinção entre a Igreja e as heresias, entre Verdade e falácia. Agora, as heresias são chamadas de “igrejas” – e muitas delas, como o papismo, agora são consideradas “igrejas irmãs”, às quais Deus confiou, juntamente conosco, a salvação da humanidade. [xvii]


Agora a Graça do Espírito Santo também existe em meio às heresias e, portanto, seus “batismos” – assim como todos os seus “sacramentos” – são considerados “válidos”. Todos que foram batizados, seja onde for, agora são considerados membros do Corpo de Cristo, a Igreja. As condenações e anátemas dos Sínodos foram consideradas inválidas, e deveriam ser retiradas dos livros litúrgicos.


Acima de tudo, agora estamos alojados no “Conselho Mundial das Igrejas” o que constitui, em essência – mesmo com a mera participação – traição à nossa consciência eclesiástica. Ignoramos o dogma da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica – o dogma de “um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”. [xviii]



7) Este sincretismo inter-cristão tornou-se, hoje, um sincretismo inter-religioso, que iguala todas as religiões à genuína reverência a Deus, ao conhecimento de Deus e modo de vida cristão, que nos foi revelado por Deus através de Cristo.


Conseqüentemente, não apenas o dogma eclesiástico da relação da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica com as heresias é atacado, mas também o dogma fundamental de uma única Revelação e da salvação do homem através de Jesus Cristo. E esta é a pior das falácias, a maior de todas as heresias.



8) Nós cremos e confessamos que somente em Cristo existe a possibilidade da Salvação.


Todas as religiões e heresias do mundo levam à perdição.


A Igreja Ortodoxa não é meramente a Igreja verdadeira – ela é a única Igreja.


Ela, e somente ela, permaneceu fiel ao Evangelho, aos Concílios e aos Pais da Igreja e, portanto, somente nela subsiste a legítima Igreja católica de Cristo.


De acordo com São Justino Popovich, ecumenismo é o denominador comum das pseudo-igrejas da Europa Ocidental; seu nome, na verdade, é “pan-heresia”. [xix]


Esta pan-heresia tem sido aceita por inúmeros patriarcas, arcebispos, bispos, monges, membros do clero e leigos. Eles a apóiam desavergonhadamente; eles a impõem na prática, estabelecendo comunhão com hereges de todos os modos possíveis: com orações comuns, com visitas mútuas, com colaboração pastoral, excluindo-se, assim da comunhão da Igreja.


Nossa postura, de acordo com as decisões canônicas da Igreja e o exemplo dos Santos, é óbvia: cada um de nós deve assumir suas responsabilidades.



9) Também há, é claro, responsabilidades coletivas – principalmente na consciência ecumenista de nossos hierarcas e teólogos, com relação ao corpus Ortodoxo e – e individuais, para com seus rebanhos.


A eles, declaramos com temor a Deus e amor que sua posição receptiva a todas as atividades ecumenistas são condenáveis em todos os aspectos, porque:

  • na prática, constituem uma traição a nossa Fé e Tradição Patrística Ortodoxa;
  • semeam dúvidas nos corações dos fiéis e perturbam muitos deles, além de ser causa de divisões e cismas;
  • elas enganam parte de nosso rebanho Ortodoxo com falácias e, conseqüentemente, desastre espiritual.


Dessa forma declaramos, pelas razões expostas acima, que aqueles que estão agindo com irresponsabilidade ecumenista, seja qual for a posição que possuírem dentro da Igreja, estão se opondo à tradição de nossos Santos – e, dessa forma, aos próprios Santos.


Por esse motivo, a posição ecumenista deve ser condenada e rejeitada pela totalidade dos hierarcas e fiéis.


Notas:

[i] Genádio II Escolário, Patriarca de Constantinopla – Sobre o único caminho da salvação da humanidade, em "The complete extant works - Oevres Completes de Georges Scholarios". Volumes I-VII, Paris 1928-1936, publ. L. Petit - X. Siderides - M. Jugie, Vol. III, 434-452;

[ii] São João 8:12 "Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida." São João 3:19: "A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más."

[iii] Atos 4:12

[iv] I São João 4:2-3 "e todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo. Filhinhos, vós sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo".

[v] "Ensinamentos" de São Cosme de Etólia, por I. Menounos "Cosmas of Aetolia teachings and biography", Tinos publications, Athens, Didache A1, 37, pg. 142: "Todas as outras fés são falsas, errôneas, obras do diabo. E afirmo, como algo verdadeiro, divino, celeste, correto e perfeito, pelas minhas palavras e pelas suas: que a fé dos piedosos cristãos ortodoxos é boa e santa, e devemos crer e sermos batizamos em nome do Pai, do Filho e do Espírto Santo".

[vi] "Homilia antes do exílio" 1, Ε

ΠΕ 33, 186.

[vii] Epístola 90 "Aos santíssimos irmãos e bispos do Ocidente" 2, Ε

ΠΕ 2, 20.

[viii] Gálatas 1:9. "Homilia sobre a Epístola aos gálatas", capítulo 1, PG 61, 624.

[ix] Mansi, XIII, 409-412

[x] A decadência e negligência moral, mesmo entre os membros do clero, fora comentada no início do século XV por São Simeão de Tessalônica (q.v. "Epístola Dogmática" em D. Balfour , de S. Simeão de Tessalônica, 1416/17-1429) "Theological Works", Vlatades gleanings 34, Tessalônica 1981, pg. 218: "And furthermore, that they did not regard fornication at all entailing Hell, not even among their priests, but instead, they would unscrupulously have concubines and youths for fornication and would every day officiate". Ibid 15, pg. 216: "They also do not follow an evangelical lifestyle; for, every kind of luxury and fornication to them is not a reprehensible matter, nor anything else that is forbidden for Christians". A decadência moral observada atualmente mesmo entre o clero Ortodoxo é resultado direto do liberalismo e secularismo do ecumenismo.

[xi] Diálogo 23, PG 155, 120-121. Epístola sobre a bem-aventurança V, em D. Balfour , Simeão Arcebispo de Tessalônica (1416/17-1429), "Theological Works", Vlatades gleanings 34, Tessalônica 1981, pg. 226.

[xii] Epístola Canônica "Para Anfilóquio de Icônio", Cânone A

[xiii] A IX Assembléia Geral do Conselho Mundial das Igrejas, ocorrida em Porto Alegre , Brazil, em 2006, publicou um texto intitulado "Chamado para ser uma só igreja", aceito pelos representantes Ortodoxos presentes no encontro, cujo parágrafo 8o afirma: "Todos aqueles batizados em Cristo estão unidos em seu nome". No parágrafo 9o: "Que todos pertencemos a Cristo através do batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo abra a possibilidade às igrejas e as convida a caminhar juntas, mesmo quando não há comum acordo. Asseguramos que há um só batismo assim como só há um corpo e um Espírito, uma só esperança em nosso chamado, um só Senhor, uma só Fé, um só Deus, Pai de todos nós (ver Efésios 4:4-6)". O Metropolita de Pérgamos, Dom João Zizioulas, em seu artigo "Eclesiologia Ortodoxa e o Movimento Ecumênico", Sourozh Diocesan Magazine (Inglaterra, Agosto 1985, vol.21, pg. 23) abriu o caminho para esta posiç ão, ao afirmar: "No batismo, mesmo quando há uma ruptura, divisão ou cisma, ainda podemos falar em Igreja... Em meu entendimento particular, os Ortodoxos participam do movimento ecumênico como um movimento de cristãos batizados, que estão divididos pois não podem expressar a mesma fé conjuntamente. No passado, isso ocorria devido à falta de caridade que agora, graças a Deus, está desaparecendo".

[xiv] Apologética na viagem para Ponto 82, ΕΠΕ 1, 176.

[xv] Aos romanos, Homilia 22, 2, PG 60, 611. Aos filipenses, Homilia 2,1, PG 62, 119.

[xvi] Confissão de fé apresentada em Floreça. Documents relatifs au Concile de Florence, II, Oeuvres anticonciliaires de Marc d'Ephèse, par L. Petit, Patrologia Orientalis 17, 442.

[xvii] Veja declaração conjunta do Papa João Paulo II e do Patriarca Bartolomeu I durante a visita deste à Roma em 29 de junho de 1995. Essa afirmação fora proclamada anteriormente pelo Comitê Teológico Misto para o diálogo entre Ortodoxos e Papistas, em Balamand, Líbano, em 1993.

[xviii] Eféios 4:5.

[xix] Arq. Justino Popovich, "A Igreja Ortodoxa e o ecumenismo", Tessalônica, 1974, pg. 224

Esta confissão de fé foi assinada por:

(nota: o original em grego possui ainda mais assinaturas)

Metropolita de Piraeus, Seraphim

Metropolita of Gortyna e Megaloupolis, Jeremiah

Metropolita de Kythera e Antikythera, Seraphim

Arquimandrita Joseph, Abade do Santo Mosteiro de Xiropotamos, Monte Athos

Protopresbítero George Metallinos, Professor Emérito da Athens University School of Theology

Protopresbítero Theodore Zisis, Professor Emérito da Thessaloniki University School of Theology

Arquimandrita Mark Manolis, Superintendente Espiritual da “União Ortodoxa Pan-Helênica”

Arquimandrita Athanasius, Abade do Santo Mosteiro de Stavrovounion, Chipre

Arquimandrita Timothy Sakkas, Abade do Santo Mosteiro de Paraclete, Oropos

Arquimandrita Cyril Kehayioglou, Abade do Santo Mosteiro do Pantocrator, Melissohori, Langadas

Arquimandrita Sarandis Sarandos, Pároco da Igreja da Dormição da Theotokos, Amarousion

Arquimandrita Maximus Karavas, Abade do Santo Mosteiro de Santa Parásqueva, Milochori, Ptolemais

Arquimandrita Gregory Hadjinikolaou, Abade do Santo Mosteiro da Santíssima Trindade, Ano Gazea, Volos

Arquimandrita Athanasius Anastasiou, Abade do Santo Mosteiro de Grande Meteora.

Arquimandrita Theocletus Bolkas, Abade Santo Eremitério de Santo Arsênio da Capadócia, Chalkidike

Arquimandrita Chrysostomos, Abade do Santo Cenóbio de São Nicodemo, Pentalofos, Goumenissa

Arquimandrita Theodore Diamantis, Abade do Santo Mosteiro da Panaghia Molyvdoskepasti, Konitsa

Arquimandrita Palamas Kyrillides, Abade do Santo Mosteiro da Natividade da Theotokos, Kallipetra, Veria

Arquimandrita Lavrentios Gratsias, Metropolia de Florina, Prespae e Eordaia

Arquimandrita Meletios Vadrahanis, Metropolia de Florina, Prespae e Eordaia

Arquimandrita Paul Dimitrakopoulos, Santo Mosteiro da Transfiguração do Salvador, Moutsiala, Veria

Arquimandrita Ignatius Kalaitzopoulos, Santo Mosteiro de Santa Parásqueva, Milochori, Ptolemais

Arquimandrita Simeon Georgiades, Santo Mosteiro da Santíssima Trindade, Ano Gazea, Volos

Arquimandrita Augustine Siarras, Santo Mosteiro da Santíssima Trindade, Ano Gazea, Volos

Arquimandrita Ambrose Gionis, Santo Mosteiro da Santíssima Trindade, Ano Gazea, Volos

Ancião Gregory, Hieromonge, Eremitério danielita, Katounakia, Monte Athos

Ancião Efstratios, Hieromonge, Santo Mosteiro da Grande Lavra, Monte Athos

Ancião Philippos, Hieromonge, Retiro de Santo Atanásio, Mosteiro Menor de Sant’Ana, Monte Athos

Hieromonge Athanasius, Eremitério danielita, Katounakia, Monte Athos

Hieromonge Nicodemus, Eremitério danielita, Katounakia, Monte Athos

Hieromonge Nephon, Eremitério danielita, Katounakia, Monte Athos

Hieromonge Chrysostom Kartsonas, Retiro de São Jorge, Mosteiro Menor de Sant’Ana, Monte Athos

Hieromonge Onuphrios, Retiro do Precursor, Santo Mosteiro de Santa Ana, Monte Athos

Hieromonge Chrysanthos, Retiro do Precursor, Santo Mosteiro de Santa Ana, Monte Athos

Hieromonge Azarias, Retiro do Precursor, Santo Mosteiro de Santa Ana, Monte Athos

Hieromonge Gabriel, Santo Retiro da Panaghia Gorgoepikoos, Santo Mosteiro do Pantocrator, Monte Athos

Hieromonge Pandeleimon, Santo Retiro de São Pantaleão, Santo Mosteiro de the Pantocrator, Monte Athos

Hieromonge Tychon, Santo Retiro do Pantocrator, Melissohori

Protopresbítero Lambros Fotopoulos, Pároco da Igreja de São Cosme de Aitólia, Amarousion, Província de Ática

Protopresbítero John Fotopoulos, Pároco da Igreja de Santa Parásqueva, Província de Ática

Protopresbítero Athanasios Menas, Loutraki, Província de Corinto

Protopresbítero Eleftherios Palamas, Igreja de São Cristóvão, Ptolemais

Protopresbítero Constantine Mygdalis, Pároco da Igreja de São Constantino, Volos

Protopresbítero Photios Vezynias, Professor, Metropolia de Lagadas

Protopresbítero Anthony Bousdekis, Pároco da Igreja de São Nicolau, Nikaia, Pireus

Padre Dionysios Tatsis, Professor, Konitsa

Padre Demetrios Psarris, Pároco da Igreja dos Santos Arcanjos, Sesklon, Aesonia

Padre Efthimios Antoniades, Metropolia de Láris

Padre Anastasios Gotsopoulos, Pároco da Igreja de São Nicolau, Patras

Padre George Papageorgiou, Metropolia de Demetrias

Padre Peter Hirsch, Petrokerasa, Chalkidike

Padre Theophanes Manouras, Pároco da Igreja de Santo Atanásio, Velestino, Província de Magnésia

Diácono Theologos Kostopoulos, Santo Mosteiro da Santíssima Trindade, Ano Gazea, Volos

Padre Paschalis Ginoudis, Metropolia de Larisa

Padre George Diamantopoulos, Lavrion, Metropolia de Mesogaia

Padre Basili Kokolakis, Pároco da Igreja da Santa Cruz, Holargos, Attica