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domingo, 1 de maio de 2011

A Bíblia Ortodoxa


Algumas vezes as pessoas me perguntam se existe uma "Bíblia ortodoxa", já que ouvem falar em "Bíblia Católica" e "Bíblia Protestante". A resposta é *sim*, existe.

A Bíblia ortodoxa é constituída dos livros do Novo Testamento (Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse) conhecidos, porém é baseada na versão em grego do Velho Testamento, chamada Septuaginta, que foi utilizada por Cristo, pelos Apóstolos, por toda a Igreja até o século IV, por toda a era do Império Romaico e até os dias de hoje é lida na Liturgia grega.

Três séculos antes de Cristo, a cultura grega já havia se espalhado pelo mediterrâneo e o grego era a língua "internacional". Muitos judeus já haviam esquecido o hebraico, sua língua original, e, ou falavam dialetos locais como o aramaico, ou, em locais como Egito, Roma e Grécia, falavam grego. Isso fazia com que muitos não pudessem ler as Escrituras, pois já não entendiam a língua em que estavam escritas.

Foi obra de um faraó egípcio de ascendência grega, Ptolomeu II, filho de Ptolomeu I, que fora general de Alexandre, o Grande. Ele ordenou que 72 sábios judeus, que conheciam tanto o hebraico quanto o grego, traduzissem as Escrituras (que hoje chamamos de Antigo Testamento) para o grego. Isso as tornou legíveis para os judeus de sua época e para todo o mundo que quisesse conhecê-las. Eles foram reunidos em Alexandria, cada um em um quarto e quando terminaram suas traduções combinavam perfeitamente.

A Septuaginta é a versão do Antigo Testamento mais citada por Nosso Senhor Jesus e pelos Apóstolos no Novo Testamento. É a versão mais utilizada pelos Pais da Igreja e era a referência também no Ocidente onde existia uma tradução para o Latim da Septuaginta. Jerônimo rompe com a tradição ortodoxa ocidental no século 4 e refaz a tradução, predominantemente a partir de textos judaicos. Estes haviam sido retraduzidos para o hebraico a partir da própria Septuaginta, com maior ou menor influência dos originais em cada capítulo. Essa tradução para o Latim, conhecida como Vulgata Latina é que é a referência para a igreja romana até hoje, e a retradução para linguas vernáculas daqueles textos judaicos retraduzidos (chamada versão Massorética) é a tradição protestante até hoje.

Finalmente, existem trechos e livros inteiros na tradicional Bíblia ortodoxa que não se encontram na romana ou na protestante. Vejam a tabela comparativa abaixo:
Antigo Testamento
Nome em PortuguêsNome CatólicoNome Protestante





A Lei








Γένεσις
GênesisGênesisGênesis
Ἔξοδος
ÊxodusÊxodusÊxodus
Λευϊτικόν
LevíticoLevíticoLevítico
Ἀριθμοί
NúmerosNúmerosNúmeros
Δευτερονόμιον
DeuteronômioDeuteronômioDeuteronômio










História








Ἰησοῦς Nαυῆ
JosuéJosuéJosué
Κριταί
JuízesJuízesJuízes
Ῥούθ
RuteRuteRute
Βασιλειῶν Αʹ
I ReinosI ReisI Samuel
Βασιλειῶν Βʹ
II ReinosII ReisII Samuel
Βασιλειῶν Γʹ
III ReinosIII ReisI Reis
Βασιλειῶν Δʹ
IV ReinosIV ReisII Reis
Παραλειπομένων Αʹ
I ParalipomenonI CrônicasI Crônicas
Παραλειπομένων Βʹ
II ParalipomenonII CrônicasII Crônicas





Ἔσδρας Αʹ
I EsdrasNão TemNão Tem
Ἔσδρας Βʹ
II EsdrasI EsdrasEsdras



II EsdrasNeemias
Obs.: O livro "II Esdras" Ortodoxo contém em si os que os romanos chamaram de I e II Esdras, e os



que os protestantes chamaram de "Esdras" e "Neemias". O "I Esdras" Ortodoxo não existe nas Bíblias romanas ou protestantes.








Τωβίτ
TobiasTobiasNão Tem
Ἰουδίθ
JuditeJuditeNão Tem
Ἐσθήρ
EsterEsterEster


(Completo)(Completo)(Incompleto)
Obs.: O livro "Ester" Ortodoxo e Romano é completo, possuindo partes faltantes das Bíblias protestantes tradicionais.








Μακκαβαίων Αʹ
I MacabeusI MacabeusNão Tem
Μακκαβαίων Βʹ
II MacabeusII MacebeusNão Tem
Μακκαβαίων Γʹ
III MacabeusNão TemNão Tem





Sabedoria








Ψαλμοί
SalmosSalmosSalmos
Ψαλμός ΡΝΑʹ
Salmo 151Não TemNão Tem
΄Ωδαὶ
Odes(*)Não TemNão Tem
Προσευχὴ Μανάσση
Oração de ManassésNão TemNão Tem
Ἰώβ
Παροιμίαι
ProvérbiosProvérbiosProvérbios
Ἐκκλησιαστής
EclesiastesEclesiastesEclesiastes
Ἆσμα Ἀσμάτων
CânticoCânticoCântico


dos Cânticosdos Cânticosdos Cânticos
Σοφία Σαλoμῶντος
SabedoriaSabedoriaNão Tem
Σοφία Ἰησοῦ Σειράχ
Sabedoria de JesusEclesiásticoNão Tem


Filho de Sirach

Ψαλμοί Σαλoμῶντος
Salmos de SalomãoNão TemNão Tem










Profetas








ΔώδεκαOs Doze







Ὡσηέ Αʹ
HoséiasHoséiasHoséias
Ἀμώς Βʹ
AmósAmósAmós
Μιχαίας Γʹ
MiquéiasMiquéiasMiquéias
Ἰωήλ Δʹ
JoelJoelJoel
Ὀβδίου Εʹ
ObadiasObadiasObadias
Ἰωνᾶς Ϛ'
JonasJonasJonas
Ναούμ Ζʹ
NaumNaumNaum
Ἀμβακούμ Ηʹ
HabacuqueHabacuqueHabacuque
Σοφονίας Θʹ
SofoniasSofoniasSofonias
Ἀγγαῖος Ιʹ
AgeuAgeuAgeu
Ζαχαρίας ΙΑʹ
ZacariasZacariasZacarias
Ἄγγελος ΙΒʹ
MalaquiasMalaquiasMalaquias










Ἠσαΐας
IsaíasIsaíasIsaías
Ἱερεμίας
JeremiasJeremiasJeremias
Βαρούχ
BaruqueBaruqueNão Tem
Θρῆνοι
LamentaçõesLamentaçõesLamentações
Επιστολή Ιερεμίου
Epistola de JeremiasBaruqueNão Tem
Obs. Na Bíblia romana o livro "Baruque" une os livros chamados "Baruque" e "Epístola de Jeremias" na Bíblia Ortodoxa.



Ἰεζεκιήλ
EzequielEzequielEzequiel
Δανιήλ
DanielDanielDaniel


(Completo)(completo)(Incompleto)





Apêndice








Μακκαβαίων Δ' Παράρτημα
4 MacabeusNão TemNão Tem
-- 



(*) O livro "Odes" constitui uma compilação de canções que se encontram no Antigo e no Novo Testamento, incluindo a "Oração de Manassés". A rigor, não é um livro do Antigo Testamento ou do Novo Testamento, mas um "Hinário Bíblico".


As canções do livro Odes são:


Primeira Ode de Moisés (Êxodus 15:1-19)


Segunda Ode de Moisés (Deuteronômio 32:1-43)


Oração de Ana, mãe de Samuel (1 Reinos 2:1-10)


Oração de Habacuque (Habacuque 3:2-19)


Oração de Isaías (Isaías 26:9-20)


Oração de Jonas (Jonas 2:3-10)


Oração de Azarias (Daniel 3:26-45, na versão completa)


Canção dos Três Jovens (Daniel 3:52-88, na versão completa)


O Magnificat; Oração de Maria, a Theotokos (S. Lc 1:46-55)


Benedictus, Canção de Zacarias (S. Lc 1:68-79)


Cântico de Isaías (Isaías 5:1-9)


Oração de Ezequias (Isaías 38:10-20)


Oração de Manassés, Rei de Judá quando cativo na Babilônia(ref. em 2 Paralipomenon 33:11-13 e na íntegra aqui)


Nunc dimittis; Oração de Simão (S. Lc 2:29-32)


Gloria in Excelsis Deo; Cântico da Manhã (trechos de S.Lc 2:14, Sl.144:2 e Sl 118:12)

sábado, 19 de março de 2011

O que é tão atraente na Ortodoxia?



By Rod Dreher

Tornei-me ortodoxo em 2006 e eu era um homem arrasado. Eu havia sido um devoto e convicto praticante do catolicismo romano por anos, mas minha fé foi estilhaçada em grande parte pelo que eu descobrira como jornalista cobrindo os escândalos de abuso sexual. Eu supunha que minhas convicções teológicas iriam proteger o coração da minha fé sob qualquer teste, mas o conhecimento com o qual eu lutava desgastou minha habilidade de crer nas alegações de verdade eclesiásticas da igreja Romana (eu escrevi em detalhes sobre este drama aqui: http://blog.beliefnet.com/crunchycon/2006/10/orthodoxy-and-me.html ). Para minha esposa e eu, o protestantismo não era uma opção, dado o que sabíamos a respeito de história da igreja, e dadas as nossas convicções sobre teologia sacramental. Isto fazia da Ortodoxia o único porto seguro na tempestade que ameaçava naufragar nosso cristianismo.

Na verdade, eu já aspirava à Ortodoxia por algum tempo, pelas mesmas razões que eu, quando jovem, encontrara meu caminho para a Igreja Católica. Ela me parecia uma rocha de estabilidade em um turbulento mar de relativismo que assola o cristianismo ocidental. E enquanto a igreja romana jogou fora tanto da sua herança artística e litúrgica na violência do Vaticano II, a Ortodoxia ainda mantém a dela. Muitos anos antes de entrarmos para a Ortodoxia, minha esposa e eu visitamos amigos Ortodoxos em sua paróquia em Maryland. Enquanto católicos moral e liturgicamente conservadores, nos comovemos e mesmo sentimos inveja do que vimos lá. Tínhamos que sair cedo para pegar a estrada para paróquia católica em estilo moderno dos anos 70, para atender nossas obrigações dominicais. O contraste entre os ofícios litúrgicos desconexos na paróquia de "Nossa Senhora do Pizza Hut" e o que tínhamos visto na paróquia ortodoxa, literalmente nos levou às lágrimas. Mas a feiúra, até mesmo a sensação de desolação espiritual, não se sobrepõem à verdade, e sabíamos que tínhamos que estar com a verdade - e portanto com Roma - apesar de tudo.

Se o catolicismo nos EUA fosse saudável, talvez pudéssemos ter aguentado os julgamentos por abuso sexual. Mas minha esposa e eu vínhamos nos preocupando por algum tempo sobre como iríamos criar nossos filhos como cristãos fiéis dada a moral ambígua ensinada nas paróquias romanas.  Nos considerávemos católicos ortodoxos, isto é, acreditávamos no que está no catecismo, e tentávemos viver de acordo. Falhávamos - pois todos falham - mas o ponto é que, buscávamos na Igreja uma liderança moral clara e que nos ajudasse a vivermos a nossa fé com integridade e alegria. Mas aí está o problema: existe muito pouca ortodoxia na igreja católica dos EUA, e no nível paroquiano, praticamente nenhum reconhecimento de que existem coisas como "crença correta".  Não é que eu quisesse expulsar todos os que não vivessem com exatidão o ensino católico - eu seria o primeiro a ser expulso se fosse o caso - mas eu não discernia nenhuma direção, e nenhuma convicção real de que as paróquias existiam para alguma outra coisa além de afirmar para nós mesmos que "estamos legais". Embora na época eu não tivesse palavras para descrever, eu estava cansado até os ossos dessa imitação barata de cristianismo que o sociologista Christian Smith chama de "Deísmo Terapêutico Moralista"(*). Eu me sentia tão vazio pelo desespero que isso me causava enquanto católico que quando os fortes ventos dos escândalos de abusos começou a soprar, a estrutura da minha crença católica não aguentou.

Eu digo isto não para denegrir a Igreja Católica Romana – a qual ainda amo, e perante a qual eu serei sempre grato por me apresentar ao Cristianismo antigo e sacramental – mas para mostrar porque a Ortodoxia é tão atraente para mim. Quando o entrevistei para meu livro “Crunchy Cons”, meu amigo Hugh O’Beirne, também convertido do Catolicismo para a Ortodoxia, me disse que para um católico cansado das guerras culturais acontecendo no catolicismo americano, é uma benção e um alívio descobrir que na Ortodoxia não tem esse problema. As questões que estão destruindo muitas outras igrejas nos EUA não sem nem de perto tão problemáticas na prática Ortodoxa. Seria bobagem fingir que esses conflitos não existem em absoluto nas paróquias Ortodoxas, mas eles realmente não chegam a ser uma questão relevante.

E tem a questão da liturgia e da música. Não existe nada comparável nas outras igrejas. É majestosamente belo e profundo, e é predominantemente a mesma Divina Liturgia (embora em língua vernacular) formada por S. João Crisóstomo, o patriarca de Constantinopla do século V. A beleza da Liturgia nos transporta completamente e a reverência que inspira nos dá forças. E embora eu sinta falta de alguns velhos hinos familiares (nos ofícios ortodoxos o que cantamos são orações e salmos), existe maior vantagem em não ter que aturar “On Eagle’s Wings” e outras canções bregas tão endêmicas do culto católico americano.

A principal razão pela qual a Ortodoxia é tão atraente para os convertidos, ou pelo menos para este convertido aqui, é o quão séria ela é sobre o pecado. Não digo que é uma religião de rigorismos – muito longe disso! – mas, ao invés, que a Ortodoxia trata o quebrantamento da humanidade com a devida seriedade. A Ortodoxia não vai dizer que você “está legal”. Na verdade, ela vai exigir que você chame a si mesmo, como S. Paulo o fez, “o maior dos pecadores”. E então a Ortodoxia lhe dará a Boa Nova: Jesus morreu e retornou à vida para que também você possa viver. Mas para poder viver, você mesmo terá que morrer, várias vezes. E isso não será sem dor, e não pode ser, ou não será real.

Por causa disso, por toda sua beleza dramática e rico jejum, a Ortodoxia é muito mais austera e exigente que a maior parte do cristianismo americano. As longas liturgias, as orações frequentes, os jejuns intensos – todos fazem exigências sérias para o fiel, especialmente para americanos acostumados ao conforto da classe média como eu. Ela nos chama para fora de nós e para o arrependimento. A Ortodoxia não está interessada em fazer com que você se sinta confortável nos seus pecados. Ela não quer nada menos que você seja um santo.
É comum ouvir entre os convertidos americanos que os homens são atraídos para a Ortodoxia primeiro, e que suas esposas os seguem. Não é difícil ver porquê. Muitos homens estão cansados de um Cristianismo molenga e burguês que não exige muito deles, porque não pede muito para eles. Homens adoram um desafio, e é exatamente isso que a Ortodoxia lhes dá.

Não se engane. A Ortodoxia não é, fundamentalmente sobre regras e práticas. Quanto mais eu progrido em minha Ortodoxia, mais claro fica para mim que a Ortodoxia é, acima de tudo, um caminho. Não é uma instituição, um conjunto de doutrinas, ou uma coleção de rituais, embora ela contenha tudo isso. Ao invés, é um modo de ver o mundo, e o nosso lugar nele, e um mapa para a santidade que é paradoxalmente antigo e surpreendentemente novo, pelo menos para sensibilidades ocidentais. É o caminho da liberdade.

É verdade que é possível encontrar paróquias na Ortodoxia americana com vidas espirituais secas, normalmente entre as paróquias mais antigas e centradas na questão étnica, pois se vêem como pouco mais do que a tribo se juntando para rezar. E porque as igrejas Ortodoxas estão cheias de pessoas americanas comuns, também estão cheias de problemas americanos comuns. Qualquer um que venha para uma paróquia Ortodoxa esperando a perfeição ficará desapontado. O que você encontrará, entretanto, é a Verdade e o Belo apresentados de uma forma que pode ser de tirar o fôlego para americanos modernos, e um Caminho antigo fundamentado na estabilidade doutrinária, na realidade sacramental, e em misticismo cristão prático – um misticismo que foi marginalizado na maioria das outras igrejas americanas.

Eu encontrei na Ortodoxia aquilo que eu achei que iria encontrar quando me tornei católico. Como meu santo patrono, eu escolhi S. Benedito de Núrsia, querido por ambas as igrejas, e um símbolo da unidade que já tivemos e que poderemos vir a ter um dia. A Igreja Católica precisa se tornar mais Ortodoxa e a igreja Ortodoxa precisa se tornar mais católica. Eu oro, realmente oro, que eu veja esta unidade ainda em vida. Até lá, porém, sou grato a Deus por Ele ter me dado uma segunda chance na Ortodoxia, e me mostrado o Caminho pelo qual eu busquei toda a minha vida. Quando entrei por essa porta, eu estava espiritualmente acabado, e achava que seria impossível para mim aprender a aturar essas liturgias longas, as orações intensas, estas prostrações, o jejum estrito, e – como dizê-lo? – a esquisitice do Cristianismo Ortodoxo em um contexto americano. Cinco anos depois, eu não consigo imaginar como foi que eu vivi tanto tempo sem tudo isso. Não dá para entender a Ortodoxia lendo. Você tem que vir e ver por si mesmo.

Rod Dreher é um escritor da Filadélfia, Estados Unidos.

(*) Deísmo terapêutico moralista – Segundo a Wikipedia,
Deísmo terapêutico moralista é uma expressão criada no livro “Soul Searching: As Vidas Espirituais e Religiosas dos Adolescentes Americanos” (2005 por Christian Smith e Melinda Lundquist Denton. A expressão é utilizada para descrever o que os autores consideram ser as crenças religiosas comuns à juventude americana. O livro é o resultado de um projeto de pesquisa chamado “Estudo Nacional da Juventude e Religião”, financiado pela organização privada Lilly Endowment.

Os autores descobriram que muitos jovens acreditam em diversas afirmações morais não exclusivas de qualquer das grandes religiões do mundo. É esta combinação de crenças que eles rotularam de Deísmo Terapêutico Moralista:

1 – Existe um dues que criou e ordenou o mundo e que guarda a vida humana na terra;
2 – Esse Deus quer que as pessoas sejam boas, gentis e justas umas com as outras, como ensinado na Bíblia e na maioria das religiões do mundo;
3 – O principal objetivo da vida é ser feliz e sentir-se bem a respeito de si mesmo;
4 – Deus não precisa estar envolvido de forma particular na vida de ninguém, exceto quando Deus é necessário para resolver algum problema;
5 – As pessoas boas vão para o céu quando morrem;

Estes pontos de crença foram compilados a partir de entrevistas com aproximadamente 3.000 adolescentes.

Análises dos autores:

Os autores dizem que o sistema é “moralista” porque “é sobre inculcar uma abordagem moral da vida. Ele ensina que o ponto central da vida é viver bem e feliz e que para isso é necessário ser uma pessoa boa e moral”. Os autores descrevem o sistema como sendo “sobre prover benefícios terapêuticos aos seus aderentes”, em contraposição com coisas como “arrependimento do pecado, manter o Sábado, ou viver como um servo de uma divindade soberana, ou persitir em orações, ou observar fielmente dias santos, ou construir o caráter através do sofrimento..” e além disso, como “crença em um tipo particular de Deus: um que existe, criou o mundo, e que define nossa ordem moral geral, mas não um que seja envolvido de forma particular na vida das pessoas – especialmente aqueles que se preferiria que Deus não se involvesse”.

O afastamento de Deus neste tipo de teísmo explica a palavra “deísmo”, embora “o Deísmo aqui seja uma revisão da sua versão clássica do século 18, qualificada pelo seu atributo ‘terapêutico’, fazendo de Deus seletivamente disponível para cuidar de nossas necessidades”. Deus é visto como “um tipo de combinação de um Mordomo Divino e um Terapêuta Cósmico: está sempre a nosso serviçoo, toma conta de todos os problemas que surgem, ajuda profissionalmente as pessoas a se sentirem melhor com elas mesmas, e não se envolve pessoalmente demais nos processo”.

Os autores acreditam que “uma parcela significativa do cristianismo nos Estados Unidos é apenas tenuamente cristão em qualquer sentido da palavra que esteja seriamente ligado à tradição histórica cristã, mas que seja algo substancialmente modificado nesse primo de terceiro grau mal-gerado que é o Deísmo Terapêutico Moralista Cristão.

sábado, 22 de maio de 2010

Primazia, Colegialidade e Unidade da Igreja - II

Saudação do Arquimandrita Atanásios Anastasiou,
Abade do Santo Monastério de Meteora,
à Conferência: "Primazia, Colegialidade e Unidade da Igreja"


Fonte:http://www.impantokratoros.gr/Greeting-abbot_meteora.en.aspx
Tradução: Fabio L. Leite

Pireus, 28 de abril de 2010

Vossa Eminência, reverendos Padres, ilustres Professores,
Cristo Ressuscitou.

É uma benção excepcional para nós termos recebido o convite de Sua Eminência Metropolita Serafim para comparecermos nesta conferência e realizarmos nosso humilde comentário monástico. Esta conferência, a qual ele organizou com particulares cuidado e atenção aos detalhes, mais uma vez demonstra a sinceridade de sua confissão, sua compreensão da luta e seu testemunho inspirado.

Nossa presença aqui esta noite é um testemunho consciencioso e importante contra o grande problema do ecumenismo, o qual apresenta um sério perigo para nossa Igreja e para o progresso espiritual dos fiéis, além de ter profundas ramificações soteriológicas e espirituais.

É um testemunho de apoio e participação na saudável preocupação e desconforto de todos os presentes - os organizadores, palestrantes e ouvintes - mas também de tantos outros fiéis em nossa Igrea, que estão feridos e indignados com os avanços ecumênicos de hoje em dia, e que expressam seu extremo desgosto e aflição.

É nosso compartilhado testemunho, resoluto e inquebrantável, que nos recusamos a aceitar estes "eventos inevitáveis", que são os frutos que a Nova Era e a Nova Ordem Mundial criam e buscam impor na esfera dos diálogos ecumênicos e da união com os heterodoxos; e isto, em face dos tempos difíceis para nossa terra-natal (N.T.: Grécia) e povo, os quais agora vivem tragicamente as consequências destes mesmos frutos em uma tempestade de escárnio universal, falta de confiança, decadência, subjugação e submissão.

Exatamente as mesmas coisas estão sendo realizadas na esfera da fé através no insalubre e grotesco ambiente do ecumenismo, onde ocorrem ruinosas e inadmissíveis concessões, relativismos, falsificações, alterações, modificações e contemporizações que ocorrem sob a máscara do pacifismo, coexistência, troca de experiências, fraternidade e em um clima de um discurso verborrágico, insípido e melífluo.

Entretanto, a verdade de nossa fé é e sempre será a mesma, genuína e sem inovações. Nossa fé Ortodoxa é sempre será inegociável. Não existe a menor necessidade de mecanismos de apoio, pactos de estabilidade, contratos de supervisão, tutelagem internacional. Ela não pode ser limitada, debilitada, zombada; ela não tem medo dos especuladores, pois não pode ir a falência!

Esta nossa santa fé Ortodoxa, que nos foi transmitida pelos Apóstolos, a fé viva e salvífica de nossos Santos Pais - pela Graça de nosso Senhor Ressuscitado, de nossa Panagia e de nossos Santos, salvará nossa amada pátria e nos guiará a nossa pátria futura nas alturas, isso a despeito dos ataques ferozes e das maquinações que ela suporta da parte de pessoas dentro e fora de seus muros, dos combatentes visíveis e invisíveis.

Nossa mensagem é clara e simples: não há espaço para reduções e contemporizações em questões de fé. Em questões de fé, não há governados e governantes, superiores e subordinados, ditadores e seguidores. Não obedecemos por conta de intimidações e ameaças. Não aceitamos ultimatos e argumentos de fato consumado. Recusamo-nos a abandonar a fé salvífica e a santa tradição de nossa Igreja Ortodoxa para sermos guiados por trilhas de falsas uniões e adesões uniatas, que ficam de fora da Igreja.

Vossa Eminência,

gostaríamos de agradecer e congratulá-lo por seu testemunho confessional na questão do ecumenismo. Sua presença como um líder, em face da falta de liderança episcopal nesta questão em particular, nos dá conforto e forças. Também queremos agradecê-lo e parabenizá-lo pela coordenação da conferência desta noite sobre o bem-escolhido e pertinente tema: "Primazia, Colegialidade e Unidade da Igreja", sobre o qual os mais notáveis palestrantes falarão.

domingo, 25 de outubro de 2009

São Serafim e São Francisco - A Palavra dos Santos


Caros leitores,

o trecho abaixo foi traduzido pelo amigo Felipe Ortiz. É de grande importância em tempos de ecumenismo, pois é um testemunho de como Deus vê a questão da união das comunidades cristãs. Trata-se de uma visão em sonho que uma fiel protestante teve e na qual um santo romano e um santo ortodoxo lhe trazem a palavra de Deus. E não quaisquer santos, mas São Francisco e São Serafim,  os santos que talvez sejam os mais venerados na era moderna respectivamente entre os latinos e na Santa Igreja. Meditemos sobre a palavra de Deus revelada a nossa irmã através de seus santos.

Em Cristo,
      Fabio.

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São Serafim e São Francisco
Introdução e tradução: Felipe Ortiz


Por mais improvável que pareça, o encontro entre o católico italiano Francisco de Assis (1181/2-1226) e o ortodoxo russo Serafim de Sarov (1754-1833) chegou a acontecer.

E sua testemunha, surpreendentemente, foi uma protestante devota, na França, por volta do ano de 1925.

O trecho abaixo faz parte do livro São Serafim de Sarov -- Biografia Espiritual, escrito por um dos grandes ascetas e missionários ortodoxos do séc. XX, o Arquimandrita Lázaro (Moore), inglês convertido à ortodoxia (1902-1992).

Este livro, publicado postumamente, é considerado uma das melhores biografias de São Serafim. Na minha edição, que é a primeira, o trecho que traduzo abaixo está nas p. 239 a 243.

Esse livro já está esgotado, mas felizmente está prestes a ser reeditado, com outro nome, numa edição que aliás parece que será muito bonita: http://anaphorapres s.com/music/ pre-release- sale/


************ ********* ********* ********* ********* *


O evento que relatamos abaixo nos foi comunicado verbalmente em agosto de 1931 pelo Sr. K., que mais tarde o escreveu em uma carta dirigida a nós. É dessa carta que faremos uso aqui.

É de conhecimento geral que São Serafim sabia por experiência e disse mais de uma vez que o Cristianismo estava preservado em toda a sua plenitude e pureza na Igreja Ortodoxa. E o que é mais impressionante e convincente é sua própria sublime virtude e a abundância da graça que habitava nele com tal "poder" (Mc 9:1) que raramente se viu até nos santos antigos. É suficiente mencionar apenas a conversa de N. A. Motovilov com o santo (durante a qual ele se transfigurou miraculosamente, como o Senhor no Monte Tabor) para firmar, sem a menor dúvida, que a Ortodoxia ainda retém de fato a sua pureza, vitalidade, plenitude e perfeição originais. Mas citemos suas próprias palavras:

"Nós temos a fé ortodoxa, que não tem a mínima mácula."

"Rogo-vos e suplico-vos", disse ele em certa ocasião a alguns veterorritualistas, "ide à Igreja Greco-Russa. Ela está em toda a glória e poder de Deus. Ela é dirigida pelo Espírito Santo."

Isso também foi testemunhado por uma adepta de outra confissão. Aqui estão os fatos.

"Um amigo meu", escreve o Sr. K., "encaminhou-me uma carta escrita em francês na qual uma senhora alsaciana pede a ele para enviar-lhe alguma coisa sobre a Igreja Ortodoxa Russa -- um livro de orações ou algo do gênero. Se não me engano, foi no ano de 1925. Algo foi-lhe enviado como resposta à carta e, por algum tempo, a coisa ficou nisso.

"Em 1927, eu estava naquela localidade e tentei entrar em contato com ela; mas ela estava em viagem, nas férias de verão, e eu só pude conhecer a sua sogra, uma velha senhora de grande caridade cristã e pureza de coração.

"Ela me contou que sua família pertencia a uma antiga e nobre linhagem da Alsácia, os N.N.s, e que eles eram protestantes. Devo dizer que naquele distrito da Alsácia os aldeões são de religião mista: metade são católicos romanos e a outra metade protestantes. Eles compartilham a mesma igreja, na qual celebram seus ofícios em revezamento. Nos fundos da igreja há um altar católico com imagens e todos os demais apetrechos. Quando os protestantes celebram um culto, eles puxam uma cortina em frente ao altar católico, deslizam sua mesa até o meio e rezam. Recentemente tem havido um movimento entre os protestantes da Alsácia a favor da veneração dos santos. Isso aconteceu depois da publicação do livro de Sabatier sobre Francisco de Assis. Apesar de protestante, ele se deixou cativar pelo modo de vida desse santo depois de uma visita a Assis. A família de meus amigos também caiu sob os encantos deste livro. Embora tivessem permanecido no protestantismo, eles ainda assim se sentiam insatisfeitos; particularmente, empenhavam-se pela restauração dos sacramentos e da veneração dos santos. Além disso, foi típico deles que, quando o pastor realizou a sua cerimônia de casamento, eles pediram-lhe para não puxar a cortina sobre o altar católico, a fim de que pudessem pelo menos ver as imagens dos santos. Seu coração procurava a Verdadeira Igreja.

"Certa vez, a jovem esposa estava doente, sentada no jardim, lendo uma vida de Francisco de Assis. O jardim estava em plena floração. O silêncio do campo a envolvia. Enquanto lia o livro, ela caiu num sono leve.

"'Eu mesma não sei como foi que aconteceu', ela me disse mais tarde. 'De repente eu vi o próprio Francisco vindo em minha direção e, com ele, um velhinho semelhante a um patriarca, recurvado mas radiante', disse ela, indicando dessa forma a velhice e a aparência venerável dele. Ele estava todo de branco. Ela se apavorou, mas eles chegaram bem perto dela e Francisco disse: 'Minha filha, tu buscas a verdadeira Igreja. Ela está ali, onde ele está. Ela apoia todos e não exige o apoio de ninguém.'

"O ancião branco permaneceu calado e apenas sorriu em aprovação às palavras de Francisco. A visão terminou. A mulher como que tornou a si. E de algum modo ocorreu-lhe o pensamento: 'Isso tem ligação com a Igreja Russa.' E a paz desceu à sua alma. Depois dessa visão, foi escrita aquela carta a que me referi no começo.

"Dois meses mais tarde, eu estava de novo em sua casa, e dessa vez fiquei sabendo de mais um detalhe através da própria vidente. Eles haviam contratado um empregado russo. Quando ela entrou no quarto dele para ver se ele estava acomodado confortavelmente, ela viu ali um pequeno ícone e reconheceu nele o ancião a quem havia visto, durante seu sono leve, com Francisco. Perplexa e alarmada, ela perguntou: 'Quem é ele, esse velhinho?'

"'São Serafim, nosso santo ortodoxo', respondeu o empregado. Então ela compreendeu o significado das palavras de Francisco sobre a verdade estar na Igreja Ortodoxa."