segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Como discernir as verdadeiras experiências da Graça de Deus das falsas - Parte 01/02


Trecho da transcrição da palestra do Abade Arquimandrita George do Santo Mosteiro de São Gregório da Montanha Santa em Stratoni de Halkidiki, em 14 de janeiro de 1989, por convite do Reverendíssimo Nicodemus, Metropolita de Hierissou, da Montanha Santa e Ardameri. 

Original na revista "São Gregório" do Santo Mosteiro de São Gregório, da Montanha Santa

Fonte: http://www.impantokratoros.gr/2D843221.en.aspx

Tradução: Lr. Fabio L. Leite


Formas de Experiência da Graça de Deus

Quais são as experiências da graça que um cristão pode receber de forma que sua fé e vida cristã não sejam para ele algo mental e externo, mas um verdadeiro sentimento espiritual de Deus, uma comunhão com Deus, uma habitação de Deus na qual todo o seu ser participa?

É primeiro e antes de tudo uma informação interior de que através da fé em Deus, ele encontrará o verdadeiro significado da vida. Ele sente que sua fé em Cristo é uma fé que o conforta internamente; que ela dá sentido à sua vida, e o guia, que é uma luz forte que o ilumina. Quando ele percebe dessa forma a fé cristã em si, ele começa a viver a graça de Deus. Deus não é algo externo a ele.

Outra experiência da graça de Deus é recebida pelo homem quando ele ouve em seus coração o convite de Deus para arrepender-se de suas ações pecadoras e tenebrosas, para retornar ao modo cristão de vida, para confessar, para entrar no caminho que leva a Deus. Essa voz de Deus que ele ouve dentro de si é uma experiência preliminar da graça de Deus. Todos os anos que vivemos longe de Deus são anos em que não temos como entender nada.

Ele começa a se arrepender, ele confessa com seu confessor pela primeira vez na vida. Depois da confissão, ele sente uma grande paz e alegria como nunca sentiu antes. Então ele diz "Eu fui confortado". Esse consolo é a visitação da graça divina em uma alma que se arrependeu e que Deus deseja confortar.

As lágrimas de arrependimento de um cristão quando ele começa a orar e pede perdão a Deus ou quando ele confessa são lágrimas de contrição. São lágrimas muito confortadoras. Elas trazem muita paz à alma do homem. A pessoa sente então que elas são um dom e uma experiência da graça divina.

Quão mais profundo o arrependimento do homem, mais profundo será seu amor por Deus e rezará com um eros divino, quando então suas lágrimas de arrependimento tornam-se lágrimas de alegria, lágrimas de amor e de eros divino. As lágrimas que estão acima e além das lágrimas de arrependimento são também prova de uma visitação e experiência mais nobre da graça de Deus.

Nos aproximamos para comungar o Corpo e o Sangue de Cristo tendo arrependimento, confessado e com preparação espiritual através do jejum. Depois de receber a Santa Comunhão como nos sentimos? Profunda paz em nossa alma, e alegria espiritual. Também isso é uma visitação da graça divina e uma experiência de Deus.

Existem, porém, outras experiências ainda maiores de Deus. A experiência suprema de Deus é a visão da Luz Incriada. Foi essa luz que os discípulos do Senhor viram no Monte da Transfiguração. Eles viram Cristo brilhar como o sol, com uma intensa e divina luz, a qual não era uma luz material, criada, como a do sol ou de outras fontes luminosas da criação. Era a Luz Incriada, mais precisamente a Luz de Deus, a Luz da Santa Trindade. Aqueles que estão completamente limpos das paixões e pecados, e que oram com sinceridade e uma oração limpa, são os que são considerados dignos dessa grande experiência de ver a Luz de Deus ainda nesta vida. Essa é a Luz que irá brilhar na vida eterna. Eles não apenas a vêem desde já, mas também são eles mesmos vistos nessa Luz desde agora, pois essa Luz cobre os Santos. Não a vemos com nossos olhos, mas os de coração puro e os santos a vêem. O halo luminoso que é pintado ao redor da cabeça dos santos é a Luz da Santa Trindade que os iluminou e os santificou.

Na vida de São Basílio Magno, lemos que enquanto ele estava orando em sua cela, ele podia ser visto completamente envolto na Luz, e a cela inteiramente inundada pela Luz Incriada. Vemos a mesma coisa nas vidas de muitos santos.

Portanto, alguém ser considerado digno de ver a Luz Incriada, é ter uma das maiores experiências concedidas por Deus e não é dada a todos, mas a bem poucos - apenas àqueles que progrediram na vida espiritual. De acordo com Pai Isaac, em cada geração apenas uma pessoa, se tanto, chega a ver a Luz Incriada. Mesmo assim, até em nossos dias há cristãos considerados dignos dessa experiência única de Deus.

Claro que precisamos enfatizar que não basta ter visto alguma Luz para que realmente a pessoa tenha visto a Luz Incriada. O demônio pode enganar essas pessoas, e mostrar-lhes outras luzes - demoníacas ou psicológicas - enganando-os a crer que se trata da Luz Incriada, quando não é. Por essa razão, todo cristão que ouve alguma coisa, ou tem alguma experiência, não deve aceitá-la imediatamente como se viesse de Deus, porque ele pode estar sendo enganado pelo demônio. Ele deve confessar a experiência ao seu confessor que então irá dizer-lhe se é de Deus ou um engano dos demônios. É necessário muito cuidado em tais casos.

Identificando uma experiência pura da graça de Deus

Vamos examinar agora as condições que podem garantir se as diferentes experiências que temos são genuínas ou falsas.

A primeira condição é que devemos ser pessoas de arrependimento. Se não nos arrependemos de nossos pecados e nos limpamos de nossas paixões, não é possível que estejamos vendo Deus. Como o Senhor diz em suas bem-aventuranças, "Bem-aventurados os puros de coração pois eles verão a Deus". Quanto mais a pessoa purifica-se de suas paixões, se arrepende e retorna a Deus, mais ela sentirá e verá Deus.

Tentar alcançar essas experiências de Deus através de métodos e meios artificiais - como é feito no Hinduísmo, Yoga, etc, é um erro. Essas experiências não vem de Deus. São experiências alcançadas por meios psicológicos.

Os Santos Padres nos dizem: "Dê seu sangue para receber o espírito". Em outras palavras, se você não der o sangue do seu coração com seu arrependimento, oração, jejum, asceticismo, você não receberá a graça do Espírito Santo. As verdadeiras experiências espirituais são dadas aos que, por humildade, não pedem experiências espirituais mas pedem a Deus por arrependimento e salvação, são dadas aos que são humildes e dizem, "Meu Deus, não sou digno de receber a visitação da Tua graça, da Tua consolação celestial e divina, dos prazeres espirituais". Entretanto, aos que orgulhosamente pedem a Deus para lhes dar experiências, Ele não as concederá, devido ao orgulho delas. Assim, a segunda condição é humildade.

A terceira condição para receber uma verdadeira experiência espiritual é estarmos no seio da Igreja. Não fora da Igreja, porque fora dela o demônio irá nos enganar. Quando uma ovelha separa-se do rebanho, ela é devorada pelos lobos. Dentro do rebanho há segurança. O cristão só está seguro dentro da Igreja. Entretanto, quando ele abandona a Igreja, ele se expõe aos seus próprios enganos, aos enganos de outras pessoas e aos enganos do demônio. Temos incontáveis exemplos de muitas pessoas que não deram atenção à Igreja e ao seu estado espiritual e no fim caíram vítimas do engano. Elas até acreditavam terem visto Deus, ou que receberam visitações de Deus quando na verade as experiências que tiveram eram demoníacas e destrutivas. Também ajuda muitíssimo oferecer orações puras e fervorosas. A verdade é que é durante as horas de prece que Deus concede a maioria das experiências espirituais aos homens, e é por isso que os que oram amorosamente com zelo e paciência, recebem os dons do Espírito Santo e sentem a graça de Deus.

Como você talvez saiba, existe uma oração que rezamos na Montanha Santa e que você também rezar: "Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim, um(a) pecador(a)". Essa oração que se caracteriza por ser noética, sincera, incessante quando é dita com humildade, amor e persistência, traz ao coração do homem um sentimento da graça de Deus.

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