quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Entrevista do Patriarca Bartolomeu I

O Patriarca Ecumênico Bartolomeu em entrevista para o Cafebabel:
"Antes do Grande Cisma de 1054, toda a Europa era Ortodoxa"

Nós o encontramos em seu escritório no Fanar, Istambul, em um tarde nublada de sábado. Esta foi a primeira entrevista conjunta para o Cafebabel Grécia e o Cafebabel Instambul. Estamos um pouco ansiosos, ficamos revisando as perguntas juntos com Ozcan e Angelina. Não sabíamos o que esperar. Estamos antes surpresos que o Patriarca Ecumênico estivesse prestes a conceder uma entrevista para o Cafebabel. Bem, entrevistar o "Papa Oriental", o líder espiritual de mais de 350 milhões de ortodoxos não parecia muito fácil. Toda essa agonia passou quando ele nos saudou. Sorridente, ele nos ofereceu doces tradicionais e café. É como entrevistar o seu avô. Ele vai falar com você sobre tudo: de Halki e o meio-ambiente até a juventude européia, ciência e Chris Spyrou.


O líder da Igreja Católica Romana, o Papa, recentemente visitou o Reino Unido, e, bem antes, o Fanar. Considerando-se que o Patriarcado Ecumênico foi o primeiro a liderar o diálogo entre igrejas cristãs, sendo um dos membros fundadores do Conselho Mundial de Igrejas, o senhor considera a união das igrejas factível?

Desde o tempo de meus predecessores, Atenágoras e Dimitrios, o Patriarcado Ecumênico tem liderado o diálogo entre denominações cristãs. De fato, estamos na liderança do que é chamado "movimento ecumênico". Durante a visita do Papa ao Patriarcado Ecumênico, nós assinamos a declaração conjunta e ele recitou o "Pai Nosso" durante o ofício ortodoxo. Além disso, o Patriarcado Ecumênico participa na Conferência das Igrejas Européias. Nós apoiamos o diálogo,embora o lapso da divisão seja grande, já que estivemos separados por dez séculos. Agora estamos discutindo a questão do primado do Papa, examinando como ele se parecia no primeiro milênio de nossa senda comum e porque ele mudou. Junto com o filioque, esta é a questão mais difícil que nos divide. A estrada para a união é longa, mas não nos desencorajamos. Ao contrário, fazemos todo o possível para construir pontes.

Em agosto, o senhor realizou uma liturgia histórica no Monastério de Sumela, perto de Trebizonda, e poucas semanas atrás, uma liturgia foi oficiada na Igreja Armênia da Santa Cruz, no Lago Van, Turquia. O senhor acredita que tais ações ajudam o entendimento mútuo e o respeito pelas liberdades religiosas no país? Será que o próximo passo pode ser a reabertura da Escola Teológica de Halki (Heybeliada)?

Estamos muito contentes com tais desenvolvimentos, tanto no Monastério de Sumela (Trebizonda), e pelos armênios. Eles revelam uma mudança de atitude da Turquia. O que aconteceu em Panagia Sumela prova que o lugar (o qual oficialmente é um museu) também pode ser utilizado uma vez por ano como local de adoração, como indica a permissão oficial que recebemos. Isto é benéfico para todos. O estado Turco compreende que não somos uma ameaça, mas, ao contrário, que amamos e trabalhamos para para o bem do país. Além dos benefícios materiais para o país resultantes dos peregrinos, tais ações são evidência de que o respeito da liberdade religiosa está crescendo na Turquia. É uma questão de princípios e valores em relação aos direitos humanos básicos.

No que tange a Escola Teológica de Halki, estamos muito otimistas.Acreditamos que a questão será resolvida no ano 2011, quando completam-se 40 anos do fechamento da escola. Nós estamos prontos para operar imediatamente com o fim de acomodar estudantes da Turquia e de fora, assim como no passado. Estaremos prontos para treinar nosso clero em todos os níveis necessários para o funcionamento do Patriarcado Ecumênico, o qual, como vocês sabem, tem dioceses em muitas partes do mundo, tais como Estados Unidos, Europa Ocidental e Oriental, Austrália, Coréia, Hong Kong, América do Sul e Central e assim por diante.

Como o senhor sente pessoalmente o peso histórico de sentar no trono de S.João Crisóstomo, do Patriarca Fócio e do Patriarca Genadios?

É um enorme peso histórico. Estas pessoas foram titãs da fé e do conhecimento. Claro que pessoalmente não podemos chegar ao nível deles. Mas este trono é uma cruz, que cada patriarca é obrigado e chamado a carregar. Nós somos a voz de uma instituição vibrante que tem existido nesta cidade, Istambul, por dezessete séculos e assim irá permanecer com a graça de Deus.

A Turquia parece estar gradualmente reconhecendo que o Patriarcado Ecumênico não é simplesmente uma diocese local dos gregos de Constantinopla, mas uma instituição universal, e que não restringindo, mas, ao contrário, apoiando suas atividades, o país tem muito a ganhar. O senhor compartilha desta visão e tem alguma evidência de que o estado turco esteja mudando sua política?

Veja, podemos resumir a posição do governo turco até hoje com uma única palavra: contra-producente.

É contra-producente não apenas para nós, mas primeiramente e acima de tudo para o interesse nacional da própria Turquia. Entretanto, os desenvolvimentos atuais são positivos. É compreendido que não temos, nunca tivemos e não teremos, nenhuma aspiração ou interesse político. Às vezes, alguns argumentos nem um pouco sérios tem sido expressos, isto é, de que estaríamos tentando criar um segundo Vaticano no Fanar. Que venham e mostrem onde estas tentativas se encontram. Tais argumentos não são sérios.

O fato é que vemos uma mudança de atitude, e a nova Lei de Fundações de Minorias também destacam esta mudança. Ela não resolve todos os nossos problemas, mas certamente dá mais liberdade de movimento para as minorias. Recentemente um ortodoxo rume (um cidadão turco de origem grega) foi eleito como membro da Comissão de Estado para a Administração de todas as Vakif (fundações) em Ankara, e que tem reuniões quinzenais. Estes são desenvolvimentos sem precedentes para nós aqui, e estamos muito felizes com eles. Além disso, o Primeiro-Ministro Erdogan visitou o orfanato grego em Büyükada antes que a CEDH (Corte Européia de Direitos Humanos) anunciasse sua decisão, que justificava nossos direitos sobre a propriedade. Este foi um corajoso ato político da parte do Primeiro-Ministro, cheio de poderoso simbolismo.

A autoridade do Patriarcado Ecumênico na Igreja Ortodoxa ao redor do mundo é imensa, algo que é benéfico para a Turquia. Nossos esforços de construir a paz e promover o respeito entre os povos de toda fé são bem conhecidos, e isto é confirmado pelo fato de que todo político que vem à Turquia sempre visita o Patriarcado Ecumênico. Estamos otimistas, então, e insistimos sobre estes direitos. 

O que o senhor pensa da nova reaproximação do governo turco com as minorias?

Isto é uma questão política e não podemos silenciar sobre a questão. Não é segredo algum que estamos realmente felizes sobre estes passos do governo turco. Apoiamos esta abordagem.Esperamos que continue no futuro. Além disso, como dissemos antes, acreditamos que tais negociações irão deixar a Turquia mais democrática como um país, e é precisamente por esta razão que apoiamos a total participação da Turquia na UE.

Um grupo greco-americano liderado pelo Sr. Chris Spyrou queria organizar uma cerimônia religiosa em Hagia Sophia, em Istambul, mas cancelaram seu plano. O senhor esteve envolvido nas tentativas de cancelar os planos deles?

Não conhecemos esta pessoa. Não sabemos como seria possível organizar uma cerimônia religiosa sem nos consultar em nossa competência como o Arcebispo local da cidade e sem obter a permissão do governo turco. Nós objetamos e eles cancelaram seus planos. Ninguém pode conduzir um cerimônia cristã ortodoxa em Hagia Sophia sem uma permissão tanto do Patriarcado Ecumênico quanto do governo turco. Nem mesmo nós podemos conduzir cerimônias religiosas em outros países sem a permissão das igrejas locais nesses países e das autoridades locais.


O senhor tem sido chamado de "Patriarca Verde" por causa de sua sensibilidade ambiental. O senhor acha que líderes religiosos são capazes de afetar, se não os governos, pelo menos a consciência ambiental dos fiéis?

É quase impossível influenciar governos. Interesses financeiros estão pressionando tanto que não é possível para os políticos mesmos concordarem, e nós encaramos essa situação em Copenhagen. Mas, sim, nós achamos que somos capazes de cultivar entre os fiéis uma sensibilidade no que diz respeito às questões ambientais.

Esta crise global é primariamente conceitual; ela trata de valores. Temos que entender que somos responsáveis por passar o planeta para as próximas gerações. Não podemos continuar a desperdiçar recursos mas, ao invés, permitir que as gerações futuras se beneficiem do que nos foi dado por Deus.

A palavra "ecologia" vem do grego "eco" e "logos", onde "eco"(oikos) significa nosso lar. Para que isso seja compreendido, temos que primeiro apreender que não somos donos, mas gerentes do mundo, o qual Deus nos confiou. Portanto, temos que cuidar deste mundo com o fim de passá-lo para a próxima geração. O Patriarcado Ecumênico tomou a liderança neste esforço para desenvolver consciência ecológica através do seu Simpósio Ecológico Internacional.

 É fácil combinar o estilo de vida moderno de consumismo com a frugalidade advogada pelo Cristianismo? Muitos argumentam que os dois modelos são incompatíveis.

É essencial mudarmos a mentalidade atual e abandonar o estilo de vida de excesso de consumo e ganância que inevitavelmente levam à injustiça social e a desigualdade. O Apóstolo Paulo ensina que a ganância nos leva à idolatria dos bens materiais, e a idolatria é o maior dos pecados. A Igreja não ensina ganância mas "oligarkeia" (isto é, viver uma vida simples, lacônica). O Evangelho diz que quem quer que possua duas roupas dê uma para quem não tem nenhuma. Infelizmente, chegamos em um ponto no qual tentamos tirar de nosso próximo até suas próprias vestes.

O que podem dar à juventude da Europa a fé e o testemunho ortodoxos? É fácil adotar conceitos e valores ortodoxos para um europeu ocidental com um histórico católico ou protestante?

Como eu disse antes, todos os assuntos estão interligados uns com os outros - socialmente, economicamente, e ideologicamente. Os jovens sentem-se inseguros. A Igreja Ortodoxa tem a oferecer a fé original como ela existiu durante os dez primeiros séculos de nossa estrada comum com o Ocidente. Isso quer dizer, a fé e a Igreja como o verdadeiro Corpo de Cristo. Antes do Grande Cisma de 1054, toda a Europa era Ortodoxa. Portanto, o que a Igreja é chamada a oferecer é a simplicidade e a autenticidade da fé cristã. Ensinamos a autenticidade, a moralidade e a espiritualidade ascéticas. Todas estas estão faltando nas igrejas protestantes e católico-romanas.

O Ocidente separou-se destes valores, e é precisamente isto que justifica a nostalgia manifesta hoje em dia. Recentemente, mais e mais livros litúrgicos da Igreja Ortodoxa tem sido traduzidos e publicados em países estrangeiros. Além dos livros teológicos, pode-se encontrar orientação espiritual em livros tais como a Filokalia, que de grande interesse para povos não-ortodoxos. Além disso, na fé ortodoxa, existe muita atenção para a devoção e a adoração; e existe uma ênfase maior no coração do que no intelecto. É por isso que pode-se dizer que a Ortodoxia compreende a tradição, a experiência e a sabedoria condensada.

O senhor teme a globalização? Muitos argumentam que com tantos elementos sendo bombardeados por todos os lados a tendência é que tudo se torne uma "aktarma" (mistura sem forma).

A globalização tem alguns elementos positivos que apoiamos. Ela oferece compreensão entre povos e cria uma base para as pessoas cooperarem e viverem pacificamente. Entretanto, como o Arcebispo Christodoulos costumava dizer, existe também o perigo de nos tornarmos como "carne moída". Isso certamente não é desejável.
Nós defendemos que todos os povos mantenham um registro de sua cultura, língua, etc. que os preservem distintos. Estes elementos contribuem para a individualidade de um povo. Entretanto, ao mesmo tempo, devemos ser criativos e não manter estes elementos em um "jarro fechado" e reduzi-los a uma forma de auto-admiração.

Os missionários Cirilo e Metódio, no século VI, foram comissionados como delegados do Patriarcado Ecumênico para pregar o Evangelho aos eslavos. Como resultado, eles criaram o alfabeto cirilico. Isso foi fonte de acusação do Patriarcado por parte do historiador grego Paparigopoulos, alegando que os missionários não converteram os eslavos à ortodoxia grega. Dizemos isso porque o Patriarcado Ecumênico via esses povos como eslavos; acreditamos que devemos respeitá-los e pregar para eles em sua própria língua, mas não mudá-los. Desta forma, protegemos tanto a identidade grega quanto a identidade eslava. Então agora todos os povos eslavos - russos, búlgaros e sérvios - são gratos à Igreja Mãe de Constantinopla.

Finalmente, a ciência e a fé são incompatíveis ou simplesmente possuem recipientes e conteúdos diferentes? Recentemente, Stephen Hawking causou certa comoção com sua declaração de que o universo pode existir sem um Criador. O senhor considera estas afirmativas como significativas? Qual é a resposta da Igreja?

Eu não considero que a fé e a ciência sejam opostos, mas sim vias paralelas. Elas são complementares porque levam ao mesmo objetivo da Verdade. Einstein uma vez disse: "A ciência não tem um Deus, mas os cientistas sim."
A Igreja Ortodoxa não é contra a ciência. Na verdade, existe evidência histórica de que nossos bispos estiveram entre os mais eminentes cientistas. Os monastérios ortodoxos preservaram os manuscritos gregos e os disponibilizaram para o Ocidente. São Gregório Palamás estudou a filosofia de Aristóteles. Além disso, nossa Igreja tem um santo chamado Epistimi (que significa "ciência" em grego) e um santo Ypomoni (que significa "paciência"). Não tivemos nenhum Galileu.

Afirmações como as de Stephen Hawking são respeitáveis mas não são mandatórias para ninguém. Entretanto são provacadoras e no fim apenas dividem as pessoas. Nossa abordagem é que todo o universo criado que vemos a nossa volta - o céu, os oceanos, as plantas - não poderia ter sido gerado por acaso e de fato tem um Criador. Poucos dias atrás, eu passeava pelo jardim com amigos. Quando peguei uma flor, reparei quão perfeita e bela ela era e quão sabiamente ela era construída por milhares de florezinhas que eram uma festa de se contemplar. Isso não pode ter acontecido por acaso. 

http://athens.cafebabel.com/en/post/2010/11/17/The-Ecumenical-Patriarch-Bartholomew-speaks-to-Cafebabel:-Before-the-Great-Schism-of-1054,-all-of-Europe-was-Orthodox2

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Obstáculos para tornar-se Ortodoxo

Introdução

Não é incomum ouvir alguém dizendo que "se tornou ortodoxo", sendo que o a pessoa quer dizer é que passou a "fazer parte da Igreja Ortodoxa". Pois uma coisa é fazer parte da Igreja, se tornar formalmente um membro do Corpo de Cristo, mas é bem outra nos tornarmos interiormente ortodoxos, isto é, entrar profunda e verdadeiramente no espírito e modo de vida da Igreja. A maioria do clero ortodoxo não recebe as pessoas na Igreja muito rapidamente e sem um catecismo adequado, mas ainda assim deixa-se passar alguma coisa. Ao longo dos anos, por exemplo, nós vimos dúzias de pessoas se juntando à Igreja mas nunca tornarem-se ortodoxas, como pode ser confirmado por seu abandono, ou fundação de seitas, cismas, cultos ou grupos para-eclesiásticos. Além disso, já vimos acontecer isto, tragicamente, mesmo depois de décadas de participação formal na Igreja.

Não se trata apenas de quantos ingleses(*) mais tarde abandonam a Igreja Ortodoxa, passado o entusiasmo inicial, mas também de russos, gregos e outros. Assim, por exemplo, sabemos de um russo de segunda geração que mais de trinta anos atrás foi circuncidado e tornou-se judeu. Sabemos também de um professor russo de primeira geração que batizou seus filhos na igreja anglicana, pois, como ele disse, "estamos na Inglaterra agora". Por outro lado, pelo menos seis dos sacerdotes da diocese anglicana de Londres são cipriotas gregos. Tendo nascido e sido criados na Inglaterra, eles decidiram há muito que a Ortodoxia era apenas para os gregos, e já que eles eram ingleses agora, eles tinham que se tornar anglicanos. Incontáveis outros exemplos de apostasia poderiam ser citados, incluindo os russos de segunda e terceira geração na França que se tornaram católicos romanos.

Quais são, então, os obstáculos para se tornar ortodoxo no verdadeiro sentido da palavra? O que pode dar errado? Para descobrir isso, temos que analisar primeiro a questão sob a luz das quatro características da Igreja, conforme definidas em nosso Credo. Ali, a Igreja é definida como "Una, Santa, Católica e Apostólica". É nesta luz que encontraremos as respostas para nossas perguntas.

Intelectualismo versus Unidade

A unidade da Igreja é afastada pelo intelectualismo. Este perigo é particularmente forte entre os convertidos dos países ocidentais. O intelectualismo ataca a unidade da Igreja porque toda tendência intelectual é divisiva, criando tanto apoiadores quanto inimigos, que dizem que são de Paulo, de Apolos e de Cefas, mas não de Cristo (I Cor 1, 12). Não devemos esquecer que todos os grandes hereges foram intelectuais, desde os helenos e gnósticos do primeiro século, até Arius e Nestório e os neo-gnósticos modernos e renovacionistas. A influência destes últimos é particularmente forte em países com imigração russa, notavelmente na França e nos EUA, mas também na Bélgica e na Inglaterra.

A tendência intelectualista vem de fora da Igreja, do mundo heterodoxo. Ali é comumente acreditado que a fé só pode ser compreendida pela razão ou pelo intelecto. Esse racionalismo é hostil ao ethos da Igreja, onde acreditamos e sabemos por experiência que o conhecimento não vem da razão humana, mas da purificação do coração. De fato, é apenas quando o coração é purificado, através de práticas ascéticas de oração e jejum e dos sacramentos postos juntos, que a razão ou o intelecto podem ser iluminados. Por outras palavras, na Igreja, o conhecimento vem até nós através da luta contra o pecado e da batalha pela virtude, seguindo os mandamentos, e não através do vão conhecimento de livros. Este último apenas nos deixa cheios de nós mesmos, e torna suas vítimas voluntárias em vaidosos joguetes do demônio, racionalistas pretensiosos que inspiram ou o deboche ou a piedade dos outros.

O intelectualismo divide, porque seus adeptos em seus grupos e panelas trabalham contra a unidade da Igreja de Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e para sempre (Hebreus 13:8). A unidade pode ser encontrada apenas na fidelidade à Tradição, o depósito confiado aos santos e que somos chamados a guardar (1 Timóteo 6:20). Nas inovações podemos ter certeza que encontraremos o espírito intelectualista, estranho ao Deus Vivo e Sua Igreja.

Espiritualismo versus Santidade

A santidade da Igreja é afastada pelo espiritualismo. O Espiritualismo confunde o que é autenticamente espiritual com a ilusão emocional do orgulho (ilusão em eslavônico é prelest, em grego plani, em latim illusio). Esta também foi uma das grandes fraquezas da imigração russa, mas hoje também é encontrada no velho calendarismo sectário grego. Este espírito é trazido para a Igreja desde fora, de todos os tipos de teorias mundanas mas "espirituais" e de filosofias estranhas como o antroposofismo e guenonismo, sectarianismo e espírito de culto. Tudo isso forma atrações para esferas desencarnadas do ser, que são habitadas por espíritos malignos (que estão desencarnados), sob a ilusão de que são planos existenciais angélicos e não satânicos.

Talvez, o mais óbvio representante desta escola tenha sido o russo Evgraf Kovalevsy. Entretanto, ele foi apenas o caso mais claro de muitos, dessa doença espiritual, que era particularmente forte entre a imigração russa em Paris, que a havia trazido com eles desde S. Petersburgo. Muitos deles participavam na Igreja, mas eles trouxeram com eles a doença e tentavam disseminá-la na Igreja. Eles não compreendiam que um interesse em "espiritualidade" não é o mesmo que a prática da virtude. Um interesse na "espiritualidade" pode ser muitíssimo perigoso, pois o demônio é um ser espiritual. Isto é especialmente visível em caso de interesse em espiritualidade heterodoxa ou não-cristã, como o "Franciscanismo" (a qual, os santos russos do século XIX repetidamente apontavam, era a própria definição de ilusão espiritual) ou interesse em espiritualidade muçulmana, hindu ou budista.

O espiritualismo, com sua falta de foco desencarnada e neo-gnóstia, pode ser vista materializada na inconografia borrada de muitos representantes da imigração russa em Paris. A falta de clareza e definição em seus ícones assinala seu espírito desencarnado. Isto representa uma falsa santidade, que não é santidade de forma alguma, mas uma falta de habilidade de penetrar o interior da Igreja por causa de uma impureza do espírito.


Filetismo versus Catolicidade

A catolicidade da Igreja é afastada pelo filetismo, palavra baseada na equivalente grega para raça. A palavra poderia ser traduzida como racismo, mas é normalmente expressa como nacionalismo ou etnicismo. É particularmente comum entre os gregos e outros ortodoxos dos Balcãs, que suportaram o fardo Turco e seu sistema de guetos. É por isso que o filetismo foi primeiramente condenado em Constantinopla, no século XIX. Entretanto, os outros ortodoxos não estão de forma alguma imunes ao filetismo e temos visto muitos exemplos na Igreja Russa no Exílio e em outras partes da Igreja Russa. Ainda assim, ironicamente, temos encontrado o filetismo em sua forma mais virulenta entre os ortodoxos que são ex-anglicanos, entre os quais apenas o inglês é utilizado com algumas palavras em línguas estrangeiras incorretamente pronunciadas, e onde se opera uma forma sutil porém dolorosa de racismo anti-grego, anti-romeno ou anti-russo. Um exemplo recente disto é uma exigência de um recém-convertido americano para que se tenha um "patriarca americano". Isto significa alguém de cabelo curto, sem barba, nascido nos EUA e que dá sermões enquanto masca chicletes? O que todos nós precisamos em nossos respectivos países é de patriarcas santos - suas nacionalidades são radicalmente irrelevantes. Se não há santidade, como alguém pode ser salvo? A nacionalidade simplesmente não é um critério.

O filetismo, ou como poderíamos chamá-lo, racismo, exclui os ortodoxos que não pertencem à nacionalidade majoritária de uma igreja em particular. Apenas recentemente, e não longe daqui, encontramos o caso de um grupo que excluía os ortodoxos ingleses de seus ofícios e comunhão porque eles não eram "escuros o suficiente para serem um de nós". Aparentemente, cabelos loiros ou olhos azuis eram equivalentes a excomunhão. Também encontramos um outro caso no qual os não-sérvios eram proibidos de venerar um ícone de São Savas, porque "ele só pode ser venerado por sérvios". Tais casos são frequentes demais para mencionarmos aqui.

O filetismo fala e age contra a catolicidade, isto é, universalidade em todos os tempos e lugares da Igreja. Ele divide racialmente e é contra qualquer solução ao problema canônica da diáspora de múltiplas "jurisdições" ou dioceses em um mesmo território geográfico. A solução para o problema é clara - ela existia na América do Norte antes da Revolução Russa, onde múltiplas nacionalidades estavam unidas em uma diocese comum. Aqueles que quebraram esta unidade terão muito a responder no fim dos tempos.

Esteticismo versus Apostolicidade

A apostolicidade da Igreja é afastada pelo esteticismo. Isso significa que a profundidade do ensino da Igreja, pregado e expresso pelos apóstolos em sua confissão e martírio, é contrariado por uma atitude superficial para com a vida na Igreja. Aqueles que vêm à igreja para acender uma vela fazem bem, enquanto estão ali, mas ficam por apenas alguns minutos. Hoje em dia, este esteticismo é talvez o maior problema de todos, pois este mal do nominalismo afeta a maioria dos ortodoxos batizados. Aqueles que entendem a Igreja como uma peça de teatro, aqueles que vêm para serem comovidos pelo cantico ocidentalizado, ou para venerar ícones ocidentalizados, aqueles que se sentem comovidos pelo aroma do incenso, estão todos deixando de perceber o principal.

O esteticismo vê a igreja como uma experiência emocional que é boa por vinte minutos algumas vezes por ano. Ele não percebe as grandes verdades espirituais, e portanto morais, da Crucificação, Ressurreição e da Redenção. A Igreja existe por causa do sangue dos mártires e dos sofrimentos dos confessores.  Sem sofrimento, não haveria Igreja. A Igreja, Corpo de Cristo, é fundada no Sangue de Cristo, a Eucaristia é fundamentada em Seu Corpo e Sangue. Uma abordagem rasa e superficial da vida na Igreja, típica do nominalismo, não leva a um estilo de vida justo, muito menos santo. E seremos julgados sobre como levamos nossa vida, e não sobre nossas emoções inevitavelmente impuras.

O esteticismo age contra a apostolicidade da Igreja, contradiz a profundeza da experiência espiritual dos apóstolos, que trabalharam e sofreram pelo benefício da humanidade, relembrando que o Chefe dos Apóstolos é o próprio Cristo, enviado pelo Pai para a redenção de toda a humanidade. O esteticismo deixa completamente de lado nosso compromisso vital com as verdades espirituais e morais que todos os ortodoxos são chamados a exemplificar em nossas vidas diárias.

Conclusão

As quatro características que definem a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica são resumidas em uma única palavra: Ortodoxa. É por isso que falamos "Igreja Ortodoxa", uma forma curta de dizermos "A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica". É por isso que, se caírmos em algum dos "ismos" acima, intelectualismo, espiritualismo, filetismo ou esteticismo, nós inevitavelmente caímos da Igreja Ortodoxa. Fiquemos em guarda, em sobriedade mantendo a vigília sobre nós mesmos contra estas quatro ilusões: "Seja sóbrio, seja vigilante, porque nosso adversário, o demônio, como um leão que ruge, caminha por aí, buscando que poderá devorar" (1 Pedro 5:8).

Arcipreste Andrew Phillips,
Colchester,
Inglaterra

3/16 Fevereiro 2009
Justos Simeão e Profetiza Ana,
S. Nicolas do Japão



(*) Nota do Tradutor: O autor do artigo é um padre que serve na Inglaterra.

ENCÍCLICA PASTORAL por ocasião da celebração do Nascimento, na Carne, de Nosso Senhor Jesus Cristo, nascido em um Presépio, para a salvação do mundo



PROT. Nº 1663
† TARASIOS
PELA MISERICÓRDIA DE DEUS,
ARCEBISPO METROPOLITANO DE BUENOS AIRES,
PRIMAZ E EXARCA DA AMÉRICA DO SUL
A TODO O CLERO E A TODA GREI DA SACRA ARQUIDIOCESE
DE BUENOS AIRES E AMÉRICA DO SUL:
Que a Graça, a misericórdia e o amor de Cristo Salvador,
nascido em Belém, estejam com todos vós.


«Preparai um plano, e ele malogrará; dai ordens e elas não serão executadas, porque Deus está conosco. » (Is. 8,10)
PROÊMIO
A realidade deste tempo, destes santos doze dias, se dá a conhecer de maneira clara pelo Nome daquele Menino nascido em Belém; “Emanuel”, Deus conosco. Com efeito, toda a realidade deste mistério salvífico que comemoramos nestes dias se condensa no nome de seu homenageado, Jesus Cristo: Deus que se faz homem para que os homens possam ser libertos da maldição do pecado dos primeiros pais.
AS CRISES COMO CONSEQÜÊNCIAS DA QUEDA
Assim, queridos filhos, desejamos interpretar todos os eventos que envolvem a Natividade, pela ótica de seu Nome. Estamos vivendo tempos complexos, tempos de crise, tempos de incertezas, tempos de conflitos nos quais, em muitos lugares deste mundo, torna-se até mesmo difícil visualizar um futuro promissor. A crise está generalizada, mas em alguns lugares da Europa, tão caros a nós como a Grécia, ela se apresenta mais aguda, ganhando dimensões desafiadoras. A crise econômica gera outras crises de diversas naturezas, transformando o cenário em um complexo quebra-cabeça, em fatores e vicissitudes de difíceis resoluções. Não obstante, por causa da globalização, esta crise chega até nós e nos influencia em nossa realidade, direta ou indiretamente.
Como bem sabemos, as crises existem tanto quanto os homens. As crises, em todos os âmbitos, são conseqüências dos processos involutivos ou evolutivos, marcando hiatos na história do homem que oscila entre a evolução e a involução, entre a perfeição e a perdição, entre a salvação e o nada. As crises são realidades próprias do homem caído, do homem afastado de Deus, resultado da ação dos primeiros pais Adão e Eva. Desde então, a humanidade, mergulhada na profunda ambivalência, se encontra transitando em crises de toda espécie, interior e exterior, espiritual, religiosa, ética e moral; crise social e cultural, econômica, enfim, em todas as facetas da existência.
As crises refletem determinados sintomas e apontam para certas patologias. A patologia do homem é o afastamento de Deus. Quando a criação se distancia de maneira consciente e voluntária de seu Criador, as conseqüências são o pecado, a corrupção e a morte. Nós, filhos dessa humanidade, suportamos as conseqüências do pecado dos primeiros pais e, conseqüentemente, estamos submersos na voraz crise, própria do homem nesta situação. Este distanciamento adâmico adquire dimensões que repercutem em toda natureza do homem. Não é apenas uma falta moral, não se trata de um simples erro provocado por uma tentação de caráter ético; é muito mais grave. Desde aquele momento, o homem começou a conhecer e a experimentar em sua própria existência, a dor, o sofrimento, o pecado, a solidão e, por fim, a morte. A queda de Adão é o início de todas as crises do homem. É o hiato que marca um antes e um depois na história da relação do homem com Deus na História da Divina Providência. A partir deste momento, o homem afastado de Deus começa uma história de dramas e tragédias, um desterro em sua própria terra.
UM MENINO: A PROMESSA QUE PÕE FIM À CRISE DO HOMEM
Contudo, Deus em sua imensa misericórdia, promete a sua humanidade que sofre crises entre crise por causa da maldição de Adão:


«Então o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão juntos, e um menino pequeno os conduzirá». (Is. 11,6)
A promessa é um Menino «Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor. {Sua alegria se encontrará no temor ao Senhor.} Ele não julgará pelas aparências, e não decidirá pelo que ouvir dizer; mas julgará os fracos com eqüidade, fará justiça aos pobres da terra, ferirá o homem impetuoso com uma sentença de sua boca, e com o sopro dos seus lábios fará morrer o ímpio. A justiça será como o cinto de seus rins, e a lealdade circundará seus flancos» (Is.11, 2-5). Este Menino é Deus feito homem, é o Emanuel, Deus conosco.
Com efeito, Deus ad-viene “vem até nós”, desce até nossa fragilidade e a toma em sua carne para poder curá-la em sua natureza divina. Deus está pois conosco. Mais ainda, Deus está em nós.
Emanuel é o nome de Deus que “desce até nós” e se faz visível, pobre e quase imperceptível para que nós não permaneçamos mais  nesta crise perene que produz outros desajustes em todo ambito da vida. Emanuel é o Deus que vem curar, libertar, desatar, pacificar, unir, perdoar, salvar, redimir. Emanuel é o Deus que ama e que se faz vitima por amor a sua Criação que sofre.
Este Menino é o enviado que tornar-se-á o Mediador entre o Criador e os homens; Ele é o princípio do diálogo; é a promessa de salvação feita realidade; a ponte que nos leva a Deus; a boca de Deus; o perdão e a remissão encarnada; a saúde do gênero humano realizada na carne da própria condecendência divina; o autor  e ator de nossa perfeição, paradigma, exemplo e axioma da vida reconstituída, elevada e unida à natureza divina.
Este é o Emanuel, o Menino-Promessa; é o Deus conosco!
EXORTAÇÃO FINAL E DESPEDIDA
Queridos Filhos,
Enviamos a todos esta mensagem de esperança neste tempo de graça: Sim, Deus está conosco! Não temamos os planos dos poderosos da terra; não temamos as circustâncias que nos cercam; não temamos o futuro incerto; não temamos a nada e nem a ninguém, porque Deus está conosco!
Assim, exortamo-vos do fundo de nosso coração: voltemos a Deus, voltemos a nosso Pai, como  o filho pródigo, arrependidos, compungidos, com plena certeza do perdão. Não temamos retornar, não temamos revelar e confessar nossas faltas, não temamos o castigo; ao contrário, esperemos em sua misericórdia, em seu perdão, em seu auxílio, em seu amor.
Conclamamo-vos fervorosa e intensamente que a Natividade seja festejada de maneira austera, simples, com devoção e arrependimento: nada disso tirará o clima festivo da ocasião, ao contrário, marcará profundamente o quanto estaremos colocando em prática o mandato de Quem festejamos o nascimento.
Assim mesmo, pedimos que a oração seja o centro destes doces dias; rezemos para que Deus mostre sua misericórdia por nossas faltas, por nossos erros e conceda-nos o dom do arrependimento, a paz na alma, a pacificação das nações, e que faça justiça a todos e, em última instância, se revele uma vez mais e nos mostre o caminho que devemos seguir e que se cumpra outra vez a profecia:
«Naquele tempo, o rebento de Jessé, posto como estandarte para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será a sua morada». (Is 11,10)
Com esta mensagem de esperança e de plena certeza de que Deus de amor uma vez mais nos visitará em sua comiseração, nos despedimos de todos vós, filhos amados no Senhor, invocando sobre todos a Misericórdia, a Graça e o amor de Jesus Cristo, Deus e Homem, nascido segundo a carne em Belém da Judéia; a Ele sejam dadas a glória,a honra e a adoração, pelos séculos dos séculos.

Da Sede Arquidiocesana, Natividade de 2010.
O METROPOLITA
† T A R A S I O S
Arcebispo de Buenos Aires
Primaz e Exarca da América do Sul

Breves Reflexões sobre a situação da Ortodoxia na América do Sul



Cada um de nós ortodoxos vive em seu próprio mundo e pratica sua fé dentro de um vácuo, um vazio. Lutando para sobreviver, não se pode ocupar-se muito da vida espiritual e comunitária dentro da Igreja. Usamos muitoa a "economia"(1) - um dispensação especial - para acomodar os fiéis e suas necessidades e assim poder superar os problemas; por isso quando chegamos a um problema de força maior, canônico e significativo, nos encontramos em dificuldade. Ecumenicamente, com a Igreja Católica Romana temos as melhores relações e tratamos de criar espaços de cooperação. Com as igrejas protestantes tradicionais e clássicas temos relações fraternais, dentro do âmbito ecumênico que nos concede o Conselho Mundial de Igrejas - CMI, e a Comissão Ecumênica de Igrejas Cristãs da Argentina -- CEICA, organizações nas quais participa o nosso patriarcado e nossa arquidiocese respectivamente. 

Nosso rebanho está cada vez mais distante da fé e da tradição ortodoxa. Não sabem como viver sua fé ortodoxa, não porque nós do clero não estamos presentes, ou porque não os assistimos pessoalmente, mas porque falta uma relação mais verdadeira com Deus, com Cristo, e com a igreja institucional. Isto não é um problema particular dos Ortodoxos, mas sim de todas as religiões institucionais. Os problemas e escândalos que açoitam o corpo de Cristo e que são produzidos por falta de testemunho destes mesmos clérigos, são também causa deste distanciamento dos nossos fiéis. É um sinal dos tempos que devemos aprender a superar com muito trabalho, profundo testemunho e sacrifício, e com muita disciplina para viver dignamente e com zelo nossa fé ortodoxa, ou de outra maneira não conseguiremos continuar a existir por muito tempo na América Latina. 

Não vivemos mais em pequenos povoados: vivemos em grandes cidades e absorvidos em uma profunda globalização. Assim mesmo as coletividades possuem grandes dificuldades para se identificarem com a Ortodoxia, e também a Ortodoxia não sabe como identificar-se (modificar-se), com eles. É por isso que em geral não apóiam a Igreja e não compreendem porque deveriam apoiá-la. Não obstante, continuam requisitando os serviços eclesiásticos através de sacerdotes bem preparados, capazes e de grande experiência e nível pastoral, embora a Igreja não tenha como resolver o problema da formação dos sacerdotes de maneiro local, nem, consequentemente, estabelecer programas de catequese e pastoral para satisfazer convenientemente a nosa gente, que por uma lado parace estar perdida ou nem mesmo interessada, e por outro tem muita sede, sede que apenas a Ortodoxia - acreditamos - pode saciar, se é que verdadeiramente somos a religião do III milênio como disse Sir Steven Runciman. 

Tudo isto no coloca em uma época que está cheia de desafios: cabe a nós querer enfrentá-los com coração, mente e espírito abertos e observando os sinais e símbolos dos tempos e dos céus. 

(1) Nota do Tradutor - Sua Eminência está se referindo aqui aos conceitos de "akribéia" e "economia" conforme existem na Igreja. A akribéia é a exatidão do ensinamento e regra da Igreja e a economia é a sua flexibilização em face de algum evento particular. Por exemplo, pela exatidão (akribéia), todos os não Ortodoxos que se convertam à Ortodoxia deveriam ser batizados, venham de que igreja venham. Por economia, entretanto, aqueles que vem de igrejas nas quais é realizado um rito com água, evocação do Pai, do Filho e do Espírito santo, com imersão ou aspersão, costumam ser aceitos apenas com o crisma. A akribéia é como ter uma refeição perfeita, que supra todas as nossas necessidades alimentares. A economia é como ter uma refeição um pouco mais pobre em termos nutricionais, mas é "o que dá pra fazer".

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Proclamação de Natal do Patriarca Ecumênico Bartolomeu I

Prot. No. 1338

BARTOLOMEU
Pela Misericórdia de Deus, Arcebispo de Costantinopla-Nova Roma,
e Patriarca Ecumênico
à Totalidade da Igreja
Graça, Paz e Misericórdia de Cristo Salvador, nascido em Belém


*   *   *
 Amados irmãos concelebrantes e amados filhos no Senhor,
        Dentro da atmosfera sóbria que recentemente tem prevalecido no mundo
em função das muitas aflições das crises financeira, social, moral e
especialmente espiritual, a qual tem provocado crescentes frustrações,
amargura, confusão, ansiedade, desapontamentos e medo entre as pessoas
em relação ao futuro, a voz da Igreja ressoa docemente:

Venham, ó fiéis, ergamos nossas mentes às coisas divinas e
contemplemos a compaixão celestial que nos apareceu do alto em
Belém...
(Hino da 6ª Hora, Natal)

        A fé inabalável dos cristãos é que Deus não se limita a observar
indiferentemente do alto a jornada dos seres humanos, os quais Ele
pessoalmente criou segundo Sua imagem e semelhança. É por este motivo
que a encarnação de Seu unigênito Filho e Palavra foi, desde o início,
sua “Boa-Vontade”, Sua intenção original. Sua “vontade pré-eterna” era
precisamente assumir em Sua pessoa, em um ato de extremo amor, a
natureza humana que Ele criara com o fim de torná-la “participante da
natureza divina” (2  Pedro 1:4). De fato, Deus já planejara isto antes
mesmo da queda de Adão e Eva, antes mesmo da própria criação deles!
Como consequência da “queda” de Adão e Eva, a “vontade pré-eterna” da
Encarnação abraçou a Cruz, a Sagrada Paixão, a Morte Vivificante, a
Descida ao Hades, e a Ressurreição depois de três dias. Deste modo, o
pecado que infiltrara a natureza humana infectando tudo e a morte que
subrepticiamente penetrara a vida foram completa e definitivamente
destruídos, enquanto a humanidade pôde usufruir a plenitude da herança
eterna do Pai.
         
        Entretanto, a divina compaixão do Natal não está restrita às coisas
relacionadas à eternidade. Ela também está relacionada à nossa jornada
terrena. Cristo veio ao mundo para espalhar as boas novas do Reino do
Céu e para iniciar-nos neste Reino. Ele veio também para socorrer e
curar a fraqueza humana. Ele miraculosa e repetidamente alimentou as
multidões que escutaram Sua palavra; ele curou os leprosos;   apoiou
os paralíticos;  Ele concedeu luz ao cego, audição ao surdo e fala ao
mudo; Ele livrou o possesso dos espíritos impuros, ressuscitou os
mortos, apoiou os direitos dos oprimidos e abandonados; Ele condenou a
riqueza ilegal, a indiferença em relação aos pobres, a hipocrisia e a
“hubris” nas relações humanas; Ele ofereceu a si mesmo como um exemplo
de sacrifício auto-esvaziante voluntário por amor do próximo!

        Talvez seja essa a dimensão da mensagem da encarnação divina que
deva ser particularmente enfatizada neste ano. Muitos de nossos amigos
e colegas tem experimentado terríveis provações na crise atual.
Existem incontáveis pessoas desempregadas, novos pobres, sem-teto,
jovens com sonhos dilacerados. Entretanto, Belém é traduzida como
“Casa do Pão”. Portanto, como cristãos fiéis, devemos a todos os
nossos irmãos e irmãs com problemas, não apenas o “pão essencial” –
isto é,  Cristo, enrolado em faixas  na simples majedoura de Belém –
mas também o pão tangível da sobrevivência e tudo que “é necessário à
vida corporal” (Tiago 2:16). Agora é a hora para a aplicação prática
da mensagem do Evangelho com um dignificado senso de responsabilidade!
Agora é a hora para uma implementação clara e exata das palavras do
Apóstolo: “Mostre-me a tua fé com trabalhos!” (Tiago 2:18). Agora é a
hora e oportunidade para nós “elevarmos nossas mentes às coisas
divinas”, na altura da virtude majestática do Amor, a qual nos deixa
mais próximos de Deus.

        Isto é o que proclamamos a todos os filhos do Patriarcado Ecumênico
desta sagrada e martírica Sé, a Igreja dos Pobres de Cristo, e
invocamos sobre todos vocês a compaixão divina e a infinita
misericórdia, assim como a paz e a graça do Filho Unigênito e Palavra
de Deus, que por amor de nós encarnou-se do Espírito Santo e da Virgem
Maria. A Ele pertencem a glória, o poder, honra e adoração, com o Pai
e o Filho e o Espírito, na era das eras. Amém.

No Fanar, Santo Natal 2010
+ BARTOLOMEU de Constantinopla
Seu fervente intercessor perante Deus
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Ἀριθμ. Πρωτ. 1338
Β Α Ρ Θ Ο Λ Ο Μ Α Ι Ο Σ
ΕΛΕΩι ΘΕΟΥ
ΑΡΧΙΕΠΙΣΚΟΠΟΣ ΚΩΝΣΤΑΝΤΙΝΟΥΠΟΛΕΩΣ – ΝΕΑΣ ΡΩΜΗΣ
ΚΑΙ ΟΙΚΟΥΜΕΝΙΚΟΣ ΠΑΤΡΙΑΡΧΗΣ
ΠΑΝΤΙ Τῼ ΠΛΗΡΩΜΑΤΙ ΤΗΣ ΕΚΚΛΗΣΙΑΣ
ΧΑΡΙΝ, ΕΙΡΗΝΗΝ ΚΑΙ ΕΛΕΟΣ ΠΑΡΑ ΤΟΥ ΕΝ ΒΗΘΛΕΕΜ ΓΕΝΝΗΘΕΝΤΟΣ ΣΩΤΗΡΟΣ
ΧΡΙΣΤΟΥ
Ἀγαπητοὶ ἀδελφοὶ συλλειτουργοὶ καὶ τέκνα ἐν Κυρίῳ εὐλογημένα,
Μέσα εἰς τὴν ἀνὰ τὸν κόσμον ἐπικρατοῦσαν τελευταίως σκοτεινὴν
ἀτμόσφαιραν τῆς σοβούσης ποικίλης κρίσεως, οἰκονομικῆς, κοινωνικῆς,
ἠθικῆς καί, κυρίως, πνευματικῆς, ἡ ὁποία πολὺν θυμόν, πολλὴν πικρίαν,
πολλὴν σύγχυσιν, πολλὴν ἀγωνίαν, πολὺ ἄγχος, πολλὴν ἀπογοήτευσιν καὶ
πολὺν φόβον διὰ τὴν αὔριον προξενεῖ εἰς τοὺς ἀνθρώπους, γλυκεῖα
ἀκούεται ἡ φωνὴ τῆς Ἐκκλησίας:
«Δεῦτε, πιστοί, ἐπαρθῶμεν ἐνθέως καὶ κατίδωμεν συγκατάβασιν θεϊκὴν
ἄνωθεν ἐν Βηθλεὲμ πρὸς ἡμᾶς ἐμφανῶς...»
(Ἰδιόμελον ΣΤ΄ Ὥρας Χριστουγέννων).
Πίστις ἀκλόνητος τῶν Χριστιανῶν εἶναι ὅτι ὁ Θεὸς δὲν παρακολουθεῖ ἀφ’
ὑψηλοῦ καὶ ἀδιαφόρως τὴν πορείαν τοῦ κατ’ εἰκόνα καὶ ὁμοίωσίν Του ὑπὸ
τοῦ ἰδίου, αὐτοπροσώπως, πλασθέντος ἀνθρώπου. Τούτου ἕνεκα καὶ ἡ
ἐνανθρώπησις τοῦ Μονογενοῦς Υἱοῦ καὶ Λόγου Του ἦτο ἀπ’ ἀρχῆς ἡ
«εὐδοκία» Του, τὸ πρώτιστον θέλημά Του, ἡ «προαιώνιος βουλή» Του. Νὰ
ἀναλάβῃ ὁ Ἴδιος, ἐξ ὑπερβολῆς ἀγάπης, τὴν ἀνθρωπίνην φύσιν ποὺ ἔπλασε,
καὶ νὰ τὴν καταστήσῃ «θείας φύσεως κοινωνόν» (Β΄ Πέτρ. 1: 4). Καὶ
τοῦτο, πρὸ τῆς πτώσεως τῶν Πρωτοπλάστων, πρὸ καὶ αὐτῆς τῆς πλάσεώς
των! Μετὰ τὴν πτῶσιν τῶν Πρωτοπλάστων, ἡ «προαιώνιος βουλὴ» τῆς
Σαρκώσεως περιέλαβε τὸν Σταυρόν, τὸ Ἄχραντον Πάθος, τὸν Ζωοποιὸν
Θάνατον, τὴν εἰς Ἅιδου Κάθοδον, τὴν Τριήμερον Ἔγερσιν, ὥστε ἡ
παρείσακτος ἁμαρτία, ποὺ ἐδηλητηρίασε τὰ πάντα, καὶ ὁ λαθρεπιβάτης τῆς
ζωῆς θάνατος νὰ τεθοῦν τελείως καὶ ὁριστικῶς ἐκποδών, καὶ ὁ ἄνθρωπος
νὰ ἀπολαύσῃ ἀκεραίαν τὴν Πατρικὴν κληρονομίαν τῆς αἰωνιότητος.
Ἀλλ’ ἡ θεϊκὴ συγκατάβασις τῶν Χριστουγέννων δὲν περιορίζεται μόνον εἰς
τὰ τῆς αἰωνιότητος. Ἀφορᾷ καὶ εἰς τὰ τῆς ἐπὶ γῆς πορείας ἡμῶν. Ὁ
Χριστὸς ἦλθεν εἰς τὸν κόσμον διὰ νὰ εὐαγγελισθῇ τὴν Βασιλείαν τῶν
Οὐρανῶν καὶ νὰ μᾶς εἰσαγάγῃ εἰς αὐτήν, ἀλλ’ ἦλθεν ἐπίσης εὐεργετῶν καὶ
ἰώμενος τὴν ἀνθρωπίνην ἀσθένειαν. Ἐχόρτασε θαυματουργικῶς κατ’
ἐπανάληψιν τὰ πλήθη τῶν ἀκροατῶν τοῦ λόγου Του, ἐκαθάρισε λεπρούς,
ἐστερέωσε παραλύτους, ἐχάρισε τὸ φῶς εἰς τυφλούς, τὴν ἀκοὴν εἰς κωφοὺς
καὶ τὴν ὁμιλίαν εἰς ἀλάλους, ἀπήλλαξε δαιμονισμένους ἀπὸ τὰ ἀκάθαρτα
πνεύματα, ἀνέστησε νεκρούς, ὑπεστήριξε τὸ δίκαιον τῶν ἀδικουμένων καὶ
λησμονημένων, ἐστηλίτευσε τὸν ἀθέμιτον πλουτισμόν, τὴν πρὸς τοὺς
πτωχοὺς ἀσπλαγχνίαν, τὴν ὑποκρισίαν καὶ τὴν «ὕβριν» εἰς τὰς ἀνθρωπίνας
σχέσεις, ἔδωκεν ἑαυτὸν ὑπόδειγμα ἐθελουσίου κενωτικῆς χάριν τῶν ἄλλων
θυσίας! Ἴσως ἡ διάστασις αὕτη τοῦ μηνύματος τῆς θείας ἐνανθρωπήσεως
πρέπει νὰ προσεχθῇ περισσότερον κατὰ τὰ σημερινὰ Χριστούγεννα. Πολλοὶ
συνάνθρωποι καὶ συγχριστιανοὶ δοκιμάζουν φοβερὸν πειρασμὸν ἐκ τῆς
σοβούσης κρίσεως. Εἶναι ἀναρίθμητοι αἱ στρατιαὶ τῶν ἀνέργων, τῶν
νεοπτώχων, τῶν ἀστέγων, τῶν νέων μὲ τὰ «ψαλιδισμένα ὄνειρα». Ἀλλά,
Βηθλεὲμ ἑρμηνεύεται «Οἶκος Ἄρτου»! Χρεωστοῦμεν, λοιπόν, οἱ πιστοὶ εἰς
πάντας τοὺς ἐμπεριστάτους ἀδελφοὺς ὄχι μόνον τὸν «Ἐπιούσιον Ἄρτον»,
δηλαδὴ τὸν Χριστόν, ὁ Ὁποῖος εὑρίσκεται ἐσπαργανωμένος εἰς τὴν
πενιχρὰν φάτνην τῆς Βηθλεέμ, ἀλλὰ καὶ τὸν καθημερινὸν ἐπιτραπέζιον
ἄρτον τῆς ἐπιβιώσεως, καὶ ὅλα τὰ «ἐπιτήδεια τοῦ σώματος» (Ἰακ. 2: 16).
Εἶναι ἡ ὥρα τῆς πρακτικῆς ἐφαρμογῆς τοῦ Εὐαγγελίου, ἐν ὑψηλῷ αἰσθήματι
εὐθύνης! Ἡ ὥρα, κατὰ τὴν ὁποίαν ἀκούεται ἐντονώτερος καὶ
ἀπαιτητικώτερος ὁ ἀποστολικὸς λόγος: «Δεῖξον μοι τὴν πίστιν σου ἐκ τῶν
ἔργων σου» (Ἰακ. 2: 18)! Ὁ καιρός, δηλ. ἡ εὐκαιρία, νὰ «ἐπαρθῶμεν
ἐνθέως» εἰς τὸ ὕψος τῆς οἰκειούσης ἡμᾶς μὲ τὸν Θεὸν βασιλικῆς ἀρετῆς
τῆς Ἀγάπης.
Ταῦτα ἀπὸ τῆς ἁγίας καὶ μαρτυρικῆς καθέδρας τῆς Ἐκκλησίας τῶν τοῦ
Χριστοῦ Πενήτων εὐαγγελιζόμενοι πρὸς τὰ ἀνὰ τὸν κόσμον τέκνα τοῦ
Οἰκουμενικοῦ Πατριαρχείου, ἐπικαλούμεθα ἐπὶ πάντας τὴν θεϊκὴν
συγκατάβασιν, τὸ ἄπειρον ἔλεος, τὴν εἰρήνην καὶ τὴν χάριν τοῦ δι’ ἡμᾶς
ἐκ Πνεύματος Ἁγίου καὶ Μαρίας τῆς Παρθένου ἐνανθρωπήσαντος Μονογενοῦς
Υἱοῦ καὶ Λόγου τοῦ Θεοῦ, Ὧι ἡ δόξα, τὸ κράτος, ἡ τιμὴ καὶ ἡ
προσκύνησις, σὺν Πατρὶ καὶ Πνεύματι, εἰς τοὺς αἰῶνας τῶν αἰώνων. Ἀμήν.
Φανάριον, Χριστούγεννα ,βι’
+ Ὁ Κωνσταντινουπόλεως
Διάπυρος πρὸς Θεὸν εὐχέτης πάντων ὑμῶν

Qual é o ministério da Igreja?

Padre Andrew Barakos

27 de dezembro de 2010

Fonte: The Orthodox Oasis: Boletim da Paróquia Greco-Ortodoxa da Assunção





A palavra ministério tem muitas conotações. Normalmente, está associada apenas com os trabalhos ou deveres do padre. Estudando a tradição da Igreja, entretanto, fica claro que não existe outro ministério na Igreja que não seja o ministério de Cristo. Isso significa que todo aspecto da vida da Igreja é o ministério de Cristo. As implicações óbvias são que tanto o clero quanto os leigos são vocacionados para cumprir o ministério de Cristo no mundo.

O padre João Zizoulas, como professor de teologia, uma vez disse, "O Espírito Santo realiza o ministério de Cristo na forma do ministério da Igreja".
A realização do ministério de Cristo dentro de uma certa comunidade tem muito a ver com a disposição dos membros em se engajarem nele. Todos nós recebemos por virtude de nossa entrada sacramental no Corpo de Cristo um chamado de trazer o ministério de Cristo ao mundo. Os ministérios que Cristo nos capacita a realizar são o fruto de morrermos para nós mesmos e permitirmos que o Espírito Santo guie nossos corações. Tendo retirado o "ego" da jogada (nunca podemos dizer "meu ministério é..."), permitimos que Cristo trabalhe através de nós - o orgulho e agendas pessoais maculam a pureza de nossos bons trabalhos. Em resumo, cada membro da Igreja é um servo do ministério de Cristo.

A questão da falta de estímulo

A falta de estímulo é uma armadilha para qualquer paroquiano, e é resultado de se perder de vista o fato de que a energia para realizarmos o ministério de Cristo vem sempre dEle, nunca de nós. Quando as coisas não vão bem na Igreja e a pessoa se sente abandonada, se não mantivermos Criso no centro de nossa vida, escapar vai parecer ser a solução. Provas, aflições e tribulações são parte de ser um discípulo de Cristo. Sem Sua Graça e Poder, as provas podem sobrecarregar os paroquianos e eles saem de uma comunidade para outra. Permanecer e continuar trabalhando mesmo nas aflições permite um crescimento espiritual que muitos optam por não realizar. Cristo é o Ungido e nós nos tornamos coparticipantes nesta unção, unindo-nos ao Seu Corpo (Pe. Alexander Schmemann). É isto que nos energiza a nos tornarmos vitoriosos e não vítimas. Cristo fez de nós reis e sacerdotes perante Deus e Seu Pai (Apo. 1:6), o que significa que nunca somos deixados a sós para lutar o bom combate. Quando fomos crismados (ungidos), recebemos o Espírito Santo enquanto um Dom, o que faz de nós templos de Deus; consequentemente, o propósito de nossa vida é partilhar de Sua vida, Sua pureza e Sua santificação. Compartilhamos estes dons com o mundo para efetuarmos o ministério dEle, não o nosso.

Cristo faz de nós reis que são chamados a morrer todos os dias

No Jardim do Édem, Adão e Eva governavam a criação permanecendo obedientes a Deus. Na queda, eles desobedeceram Deus e perderam seu papel como reis e se tornaram escravos. Cristo restaura em nós a nossa realeza, através do batismo, e fazendo-nos coparticipantes na morte e ressurreição de Cristo. Carregando nossa cruz diariamente e seguindo o exemplo de Cristo, nossa realeza nEle é cumprida - Ele nos guia de modo que nós guiemos outros. Somos chamados a morrer diariamente para a noção de que este mundo é um fim nele mesmo, e somos chamados a focar todas as nossas decisões em viver para o Reino o qual está presente na igreja e virá em sua plenitude quando Cristo retornar. Seu Reino está presente *agora* na Igreja, e é, de fato, o dom da Igreja.

O Domingo é o Dia do Senhor

Nos domingo, nos reunimos como Igreja para manifestar-nos como reis súditos do Rei. Deve-se tomar muito cuidado para que as distrações cotidianas de nossas vidas não nos tirem de sintonia com o precioso dom de nossa atenção exclusiva na Divina Liturgia, como ela merece. O domingo é o "dia do Senhor" e pertence a Ele e requer de nós o maior respeito. Por algum motivo se tornou aceitável chegar a qualquer hora na Liturgia - isso é fundamentalmente errado. O texto da Liturgia implica que estejamos presentes para dar o nosso "Amém!" às primeiras palavras do padre: "Bendito seja o Reino do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, agora e sempre e na era das eras." Se estivermos em qualquer outro lugar que não na Igreja em um domingo, nós permitimos que o mundo nos tenha escravizado e feito de nós seus servos.

Criso faz de nós Sacerdotes

Outra consequência de nossa entrada sacramental na Igreja é que Cristo restaura em nós nossa natureza sacerdotal. Como Cristo demonstrou, a natureza sacerdotal de uma pessoa se realiza através de oferendas e sacrifícios. Na cruz, Cristo ofereceu a Si mesmo como sacrifício de uma vez por todas. Seus discípulos são chamados também a se tornarem sacrifícios vivos. Esta oferenda deve ser feita comunalmente e plenamente como na Liturgia: "Entreguemos nós mesmos e um ao outro e toda a nossa vida a Cristo, nosso Deus". Toda decisão da vida pessoal e da vida comunal da Igreja se torna sujeita à vontade de Deus. Consequentemente, cresce nossa preocupação em compartilhar e testemunhar a verdade de Cristo para os outros porque não mais somos cristãos mundanos seguindo suas próprias vontades.

A "Geração-Eu"

O Padre Schmemann utilizou a palavra "consumidor" como a melhor expressão da *NÃO* realização de nosso sacerdócio em Cristo. Adão foi o primeiro consumidor ao tomar aquilo que não lhe fora oferecido. Da mesma forma, adultos e crianças são levados por empresas de marketing a se tornarem os "melhores" consumidores possíveis. A mentira sendo contada por marqueteiros é que a posse de coisas leva à felicidade. A verdadeira felicidade, plenitude, paz e amor encontram-se em Deus e não em falsos deuses do consumismo. Deus nos convida à Sua mesa para termos tudo que Ele tem a oferecer, e nos previne a evitarmos a mesa da comida que perece. A ética rasa do consumismo produziu uma "Geração- Eu" que é caracteristicamente ególatra, egoísta, orgulhosa e consumista. Deus não nos criou para sermos consumidores das coisas do mundo, mas consumidores de Sua Graça que apenas depois de aceitá-la podem oferecer Cristo de volta para os que estão à sua volta.

Cristo faz de nós Profetas

O Profeta é aquele que conhece a vontade de Deus, que discerne os eventos e situações da vida com Sabedoria divina, e não é enganado pelas farsas do mundo e do pecado. O papel profético dos membros da igreja é realizado em termos os "olhos de Cristo" para ver as injustiças do mundo e as "pernas" para colocar as soluções em práticas. Injustiças como as da pobreza, da orfandade, das viúvas e dos sem-teto se tornam preocupações centrais para Igreja com "olhos de ver". Nos tornamos proféticos tendo os "ouvidos de Cristo" para ouvir as dores e batalhas uns dos outros de modo que escutando nós carregamos os fardos uns dos outros. Nos tornamos proféticos tendo a "boca de Cristo", aprendendo o auto-controle, e ao invés de acender incêndios com nossas bocas, a graça divina é ouvida extinguindo a ânsia dos outros. Nos tornamos proféticos tendo a "mente de Cristo", e assim direcionando nossos talentos pessoais para a construção do Reino de Deus. Nosso tempo, nosso talento e riqueza finalmente tornam-se dons que devolvemos a Cristo na medida em que permitimo-nos realizar o ministério de Cristo no mundo.

A Ele toda Glória, honra e adoração. Amém.

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Tradução: Fabio L. Leite
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