quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A Natividade de Cristo: Vivendo o Natal Ortodoxo


15 de Dezembro de 2015 

O Natal está à nossa frente. Como escolhemos celebrá-lo? E o quê, afinal de contas, estamos celebrando? 

Para os cristãos, o Natal é a Grande Festa da Natividade na carne de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo. Com eloquência inspiradora, São João, o Teólogo, escreve: “No início era o Logos, e Logos estava com Deus, e o Logos era Deus” (Jo. 1:1) 

O Logos, Jesus Cristo, é o eterno Filho de Deus, e a porta do mistério de Sua Encarnação é aberta com a belíssima hinologia da Igreja. S. José, o Hinógrafo, canta: “O Filho do Pai...surgiu para nós... para dar a luz aos que estavam nas trevas e reunir os dispersos. Portanto, louvamos a gloriosa Teotókos” (A Natividade do Senhor, manuscrito bizantino, século 14, Mosteiro de Cutlumus, Monte Athos).

S. João de Damasco escreveu o hino: “Um gloriosíssimo mistério ocorre hoje: a natureza renova-se, e Deus torna-se homem. O que Ele era, continua sendo; e o que não era, chamou a Si, sem mistura ou divisão”. 

Utilizando a teologia ortodoxa como referência, podemos dar subsídios para que a celebração de Natal nos ajude a ter uma vida mais plena – uma vida no espírito (cf. Gal 5:25). 

Comecemos com o ponto fundamental que foi experienciado e transmitido pelos Pais da Igreja: que Deus tornou-se homem para que o homem se tornasse participante da natureza divina (cf 2Pedro 1:4) através da graça e adoção (cf. Efésios 1:5). A Encarnação de Cristo nos convida todos nós a sermos santos (cf 1Pedro 1:16); ser santo não é algo que Deus quer para um pequeno número de pessoas, um objetivo além da capacidade das pessoas normais – é para cada um de nós, em todos os lugares do planeta. 

A Igreja Ortodoxa não é uma ideologia, uma filosofia ou um conjunto de regras rígidas e legalísticas. Igualmente, Deus não é uma ideia abstrata, uma Pessoa sem rosto com Quem não há possibilidade de comunicação. 

A fé ortodoxa prega um Deus pessoal: Pai, Filho e Espírito Santo – Três Pessoas, uma Soberania. Deus Se revela para nós através de Jesus Cristo, o Homem-Deus (“Theantropos”, em grego). 

Em um sermão de 1990 realizado pelo abade do Santo Mosteiro de São Gregório no Monte Athos, o falecido e abençoado Arquimandrita George ecoava os Pais da Igreja: “O Deus inalcançável torna-se alcançável. O Deus desconhecido torna-se conhecido. O Deus distante torna-se familiar e um amigo”. 

No Natal, celebramos a destruição da barreira que separava o homem de Deus. E como sabemos que essa barreira foi realmente destruída? Por um lado, através dos santos da Igreja. Os santos provam que o homem pode comunicar-se pessoalmente com Deus e vê-Lo. 

“Santos”, de acordo com o renomado teólogo do século 20, Pe. John Romanides, “é o nome dado àqueles que, através da purificação e iluminação, alcançam a glorificação (teósis) e participam das glorificantes energias de Deus”. 

Assim, a Ortodoxia é uma ciência positiva, a experiência da revelação, e não especulação. É a experiência de comunicar-se com Deus através da oração, especialmente da oração noética. É a experiência de nos comunicarmos com Deus pela vivência da Sua Vontade, no jejum, nas esmolas, sendo humildes e amando-nos uns aos outros. É a experiência de comunicarmo-nos com Deus adotando um vida centrada em Cristo na Igreja, e participando nos Santos Sacramentos, especialmente a confissão/arrependimento e a comunhão eucarística. 

É a experiência de ter a verdadeira liberdade, não a pseudo-liberdade e as armadilhas que o mundo oferece. Ao contrário do que dizem muitos críticos, o Cristianismo autêntico não restringe o homem, mas ao contrário, devolve-lhe a liberdade de viver. Dá luz aos que estão nas trevas. 

Esse é um desafio para toda a vida, uma escada que subimos degrau a degrau. E como sabemos se estamos realmente progredindo, se de fato estamos vivendo no espírito? Basta vermos se cultivamos os frutos do Espírito Santo: amor, alegria, paz, perseverança, caráter, bondade, fé, serenidade e autocontrole (cf Gal 5:22-23). 

Tudo isso só é possível por causa do Natal. Escolhamos celebrá-lo corretamente.

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